'Twitter: O reduto dos covardes, do individualismo e da indisciplina' (camarada Glushkovinho)
Ultimamente a covardia vem tomando formas mais arrojadas, que desembocam no desprezo completo por quem se dá o trabalho de escrever uma tribuna.
Por camarada Glushkovinho para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Para que serve o twitter?
O twitter é uma rede social assim como várias outras: facebook, instagram, youtube, etc… Ou seja, ele tem um papel a cumprir para nossos fins políticos como meio de comunicação… Mas todos sabemos que ele não é “só um meio de comunicação”.
O twitter é usado pela nossa militância como espaço principal de debate sobre qualquer coisa. Muito do que é debatido é positivo, discussões de natureza teórica, construções positivas, além do óbvio trabalho de propaganda quando não estamos falando apenas entre nossa própria bolha partidária. Todavia, o twitter também é palco para as mais deploráveis discussões e comportamentos abjetos pela militância.
Fazendo uma pequena anedota “histórica”, o twitter teve um papel importante para o processo de racha que passamos, servindo como meio para conectar os militantes que estavam sendo expulsos do PCB com o movimento do PCB-RR. E esse caráter foi extremamente útil para aglutinar os militantes no que hoje é o PCB-RR.
De toda forma, esse processo de racha já foi efetivamente concluído, e não estão mais sendo expulsos pessoas para adentrar ao PCB-RR. O twitter já não tem mais esse papel, então por que ele ainda é usado?
Atualmente o twitter é o “fórum de conversa” sobre as tribunas, polêmicas e falsas polêmicas. Ele é uma faca de dois gumes: por um lado, existem conversas e interações extremamente positivas e construtivas, por outro ele é extensamente usado para ofender, divulgar informações internas do partido publicamente, espalhar mentiras e boatos, criar falsas polêmicas e servir como veículo de todo tipo de comportamento que não permitimos entre membros do partido.
Eu não preciso dar exemplos, acho que isso é algo do conhecimento comum da militância, então eu vou citar apenas um caso ilustrativo pessoal: quando eu publiquei a tribuna “O nome do partido deve ser palmares”, cujo intuito era defender algo que eu não via muita importância (e aqui subscrevo a opinião de Lênin que o camarada Lazari expôs em sua tribuna gigantesca), minha tribuna se tornou o alvo fácil dos mais abjetos comentários, sendo a maioria de não membros do partido mas também de alguns membros do partido.
Eu fui ameaçado de morte, feito de chacota, chamado de todo tipo de ofensa possível, e alvo concentrado de muita gente que estava insatisfeita com questões raciais no partido. Sobre as questões raciais, dos camaradas que se dispuseram a ser humanos comigo e vieram conversar, eu concordo e mudei minha opinião. Foi um processo de aprendizagem, mas foi uma aprendizagem desnecessariamente traumática. Eu nunca havia experimentado esse tipo de abuso na minha vida.
E aqui eu quero focar no seguinte: olhando apenas as mensagens dos camaradas do partido, muitos deles eram irônicos, não chegavam a ofender, mas não era um comportamento de camaradagem, era um comportamento covarde e de mero recalque (lembrando que recalque é projetar num outro suas frustrações pessoais). Era um comportamento que se utilizava de um problema real no partido, as questões raciais, para se comportar sem camaradagem nenhuma. Essas pessoas não me conheciam, mas se sentiam à vontade para me menosprezar, algo que não aconteceria se isso fosse feito em pessoa. Eu optei por fazer um esforço ativo para esquecer quem eram as pessoas e perfis que escreveram essas coisas sobre mim, pois eu sei que eu não iria conseguir militar com essas pessoas se eu soubesse que foi ela que me tratou dessa maneira. Acho que consegui, pois não lembro de ninguém específico, apenas das coisas que mais me marcaram.
Esse comportamento não é caso isolado, ele se repete em quase todas as tribunas mais ou menos polêmicas que são publicadas no EDC. Ultimamente a covardia vem tomando formas mais arrojadas, que desembocam no desprezo completo por quem se dá o trabalho de escrever uma tribuna. São respostas simplistas, feitas apenas como reação imediata e com o claro intuito de menosprezar, fazer gracinha, e etc… Ou seja, servir o próprio ego e não para construir a polêmica no partido. Eu sei que as pessoas que fazem isso sabem que existe uma pessoa por trás de quem escreve cada tribuna, e mesmo assim elas escolhem ser absolutamente covardes em seus comentários.
Se você é uma dessas pessoas, que fica fazendo quotes sarcásticos e piadinhas com as ideias dos outros, saiba que você é apenas um idiota que não contribui para a construção da polêmica. Muito pelo contrário: esse tipo de comportamento é destrutivo e afasta as pessoas de querer contribuir para uma tribuna. Já passou da hora desse tipo de comportamento não ser mais permitido entre nós. Se os camaradas não têm a decência de usar um espaço como o twitter com camaradagem, então ele deve ser proibido para o militante individual (com exceções para pessoas públicas em tarefas de propaganda).
Mas quais são as causas disso?
Separando um pouco meu desprezo completo pelo militante que usa twitter, objetivamente existe uma necessidade de se ter um espaço para debater as tribunas (entre outros assuntos relacionados ao partido), e que seja mais flexível e instantâneo para que as discussões possam fluir. Ou seja, se isso está acontecendo é porque existe uma demanda para isso, e esse fator não pode ser ignorado.
Por outro lado, é preciso também levar em consideração que somos frutos de nosso ambiente. Nossas subjetividades, especialmente dos mais jovens, são moldadas com normalizações de certos comportamentos, especialmente os de uso de redes sociais. Um desses comportamentos que é extremamente deletério é o de tornar a vida pública um extensão da sua vida privada, algo completamente inapropriado para a militância pois culmina em divulgar informações do partido que não deveriam ser de conhecimento público. É preciso um esforço ativo para reduzir esse tipo de uso da rede social, talvez com um conjunto de regras para condutas em espaços públicos que se expandem para o digital (pois já temos regras para o analógico como não usar a camiseta do partido em público, ou seja, não seria absurdo pensar em coisas parecidas para o digital), junto com um esforço ativo na formação militante de reconhecer e combater certos comportamentos incompatíveis com a militância.
Coisas que eu colocaria nesse livro de regras:
- Não é permitido se identificar publicamente como membro do partido ou como militante comunista, a não ser que o militante seja uma figura pública do partido cuja imagem é submetida ao controle coletivo.
- Não é permitido divulgar fotos de membros do partido nem de material do partido, a não ser que isso seja feito através de contas sob controle coletivo.
- Não é permitido divulgar a identidade de nenhum membro do partido. Contas sob controle coletivo só podem divulgar imagens mediante a ocultação de identidade de todos os que estão na foto, a não ser que as pessoas identificáveis sejam personalidades intencionalmente públicas do partido.
- Não é permitido a discussão de assuntos do partido publicamente, salvo contas sob controle coletivo em exercício de militância.
Se você acha que essas regras são restritas demais, recomendo você pensar como seria fácil um grupo neonazista simplesmente mapear nossos militantes e começar a cometer assassinatos dessa forma, sem falar na opressão estatal. Nós só somos relaxados assim pois não somos ameaça a ninguém. O dia que formos, precisaremos proteger a identidade dos membros do partido.
Note que ofender e tratar sem camaradagem outros membros do partido nunca foi algo permitido, apenas tolerado na internet. Então você ficar fazendo gracinha no twitter deveria ser passível de punição assim como seria se fizesse em pessoa.
Como solução para esse problema da indisciplina generalizada no twitter, eu proponho que o congresso (ou a direção nacional eleita nele) aprove o seguinte:
- A proibição do uso do twitter em específico e de redes sociais em geral por militantes não autorizados. Será autorizado o uso do twitter e outras redes sociais apenas com fim estabelecido e submetido ao controle coletivo (na forma de um núcleo, coordenação regional, coordenação nacional, ou qualquer outro órgão coletivo). Exemplo disso são contas de pessoas públicas do partido e contas institucionais como a do EDC e do próprio PCB-RR.
- Encarregar a CNTI de criar um espaço digital para debate interno que almeja substituir o twitter, que seja fluído, transparente, instantâneo, monitorado e seguro, e que possibilite o controle e a arbitragem das direções sob debates e polêmicas, para que seja dada vazão à necessidade de um mecanismo de debate interno em tempo real.
- Confeccionar um manual do militante que clarifique o que é permitido e o que não é permitido em redes sociais.
- Que seja instituído um mecanismo de controle à nível de militantes de base, como por exemplo exigir que todo núcleo tenha uma secretaria de redes sociais que cumpriria um papel educativo de monitorar as redes sociais dos membros dos núcleos e de ensinar aos militantes o comportamento exigido pelo manual do militante. Essa secretaria não tem caráter punitivo e não tem poder para punir ninguém, cumpre apenas papel educativo para ensinar no dia-a-dia da militância. A punição de militantes que agem de maneira inaceitável continua sendo a instituição do processo disciplinar.
Somente assim a gente vai acabar com os comportamentos horríveis dos militantes no twitter. Tem que acabar a conversa mole e o lenga-lenga.
Abraços com camaradagem.
Viva o Partido Comunista Brasileiro - Reconstrução Revolucionária!