'Teses sobre a Bolchevização dos Partidos do Comintern' (Camarada Moura)

Por Camarada Moura para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Nota do tradutor

Salve, camaradas!

Recentemente escrevi uma tribuna chamada “Vem um novo período revolucionário?”, em que busquei mostrar que nossa conjuntura é de esgotamento da estabilização parcial do capitalismo, o que nos abre possibilidades revolucionárias. Dessa forma, há a necessidade urgente de reconstrução do nosso partido frente a agudização das contradições do capitalismo e a intensificação da luta de classes. Com muito entusiasmo vejo nossos camaradas debruçando-se sobre as dificuldades de construir o Partido Comunista que irá construir nossa Revolução Brasileira. Porém, na história recente do nosso partido, acabamos por contrair uma série de desvios pequeno-burgueses estranhos ao marxismo-leninismo que sabotam nossas capacidades revolucionárias. Como expurgar esses antigos vícios? Com o intuito de enriquecer nossos debates rumo ao XVII Congresso do PCB, trago hoje a primeira parte de um documento redigido pela III Internacional com todas as experiências históricas dos comunistas sobre a construção de um partido de tipo Bolchevique formuladas até o ano de 1925. Felizmente, não somos os primeiros a enfrentar essa tarefa, então que a gente beba da experiência dos nossos camaradas! Evidentemente, há grandes diferenças históricas que diferenciam 1925 do presente, mas espero que esse texto possa nos nortear nessa encruzilhada.

Saudações revolucionárias,

Camarada Moura

Parte 1: Apresentação da questão

1. A resolução do Segundo Congresso Mundial do Comintern sobre o Papel do Partido na Revolução Proletária

A resolução do Segundo Congresso Mundial do Comintern sobre o papel do Partido na revolução proletária, elaborada com a estreita colaboração do camarada Lenin, é um dos documentos mais importantes da Internacional Comunista que manteve a sua importância inalterada até hoje. Esta resolução foi redigida num momento em que a Internacional Comunista estava em processo de formação e quando ainda incluía nas suas fileiras grupos semi-sindicalistas e semi-anarquistas; quando a Internacional Comunista acabava de delinear

as 21 condições e estava conduzindo negociações com os Independentes Alemães e outras organizações semi-social-democratas para a sua filiação. Esta resolução descrevia o carácter e o papel do partido nas revoluções proletárias em geral. No momento atual, em que a Internacional Comunista tomou forma definitiva, quando realizou um trabalho sério contra tendências de direita e de ultra-esquerda, quando em vários países se formaram e consolidaram partidos comunistas de massas, surge a necessidade de formular a política da Internacional Comunista, não só sobre a questão do papel do Partido Comunista nas revoluções proletárias em geral, mas também sobre o que deve ser feito para transformar os nossos partidos, no mais curto prazo possível, em partidos bolcheviques plenamente desenvolvidos.

Não se deve esquecer que em 1919-1920 tivemos na Alemanha e na Itália partidos filiados no Comintern, mas esses Partidos não foram capazes de enfrentar as tarefas com que a história os confrontou, apesar dos tremendos e espontâneos movimentos das massas, apenas porque não eram completamente Partidos bolcheviques.

2. O Desaceleramento da Revolução Mundial e a Palavra de Ordem da Bolchevização

Já no Terceiro Congresso Mundial do Comintern, ficou claro que estávamos às vésperas de um desenvolvimento mais ou menos prolongado da revolução mundial. Este fato tornou-se ainda mais evidente no Quinto Congresso.

Com o desaceleramento e o prolongamento do ritmo de desenvolvimento da revolução, a palavra de ordem da bolchevização ganha em vez de importância.

Um bolchevique não é aquele que entra para o Partido quando a onda revolucionária está no seu auge. Um bolchevique é aquele que participa no trabalho de construção de um Partido Comunista durante longos anos e, se necessário, décadas, em anos de depressão e em anos de lento desenvolvimento da revolução. Isto não significa que os camaradas que entram no Partido quando a maré revolucionária está subindo sejam inferiores àqueles que já entraram no Partido anteriormente.

Um partido bolchevique não surge de repente quando a onda revolucionária já atingiu o seu clímax. Um partido bolchevique participa em todas as lutas e forma-se durante o processo de tais lutas. A ala direita e os elementos vacilantes no Comintern e entre os simpatizantes, são de opinião de que a palavra de ordem de Bolchevização do Partido é inoportuna, uma vez que os acontecimentos revolucionários não estão se desenvolvendo rapidamente. Não compreendem que, se o ritmo do desenvolvimento revolucionário se afrouxa, se, em conexão com isso, a vacilação entre certas seções do proletariado cresce e a tendência a favor da social-democracia contrarrevolucionária cresce, então a necessidade da palavra de ordem da Bolchevização do Partido torna-se ainda mais atual. É precisamente nestas condições que os comunistas devem trabalhar com maior perseverança para criar um baluarte contra esta vacilação, para conservar os melhores elementos da vanguarda do proletariado nas nossas fileiras, aumentar o seu número, segurar alto a bandeira da revolução proletária e, deste modo, em circunstâncias muito difíceis, ser capazes de reunir um núcleo proletário capaz de preparar e organizar a revolução proletária em todas e quaisquer condições. O Partido Comunista deve ser suficientemente flexível para passar à clandestinidade, quando as circunstâncias o exijam, de forma ordenada e sem pânico, não abdicar facilmente da sua legalidade, deve ser capaz de combinar o trabalho ilegal com o trabalho legal, de utilizar todas as, até a mais insignificante, lacuna “legal” para ultrapassar as limitações do trabalho clandestino, deve tomar a dianteira nos movimentos públicos de massas, preparando o caminho para a revolução, mantendo-se sempre fiel às suas fundamentais tarefas revolucionárias.

Em tais circunstâncias, os Partidos Comunistas devem ter em mente dois perigos fundamentais: por um lado, o perigo de se tornarem uma pequena seita de comunistas "puros" com "excelentes" princípios, incapaz de estabelecer contato com os movimentos de massas contemporâneos dos trabalhadores. Por outro lado, o perigo de descer ao nível de um partido amorfo semi-social-democrata, quando o partido não consegue combinar a luta pela conquista das massas operárias com a manutenção da lealdade aos princípios do comunismo. Para  evitar a Scylla do sectarismo estreito e os Charibdis da amorfia e da imprecisão, significa facilitar a bolchevização do Partido. [1]

3. Perigos da Ala Direita e Desvios de Ultra-Esquerda

A palavra de ordem de bolchevizar o partido surgiu na luta contra os perigos da direita. Se o Quinto Congresso do Comintern não se tivesse oposto tão resolutamente às distorções oportunistas das táticas da Frente Única e do Governo dos Trabalhadores, estaríamos confrontados com o perigo imediato de certos partidos do Comintern degenerarem no oportunismo. A correta palavra de ordem do Terceiro Congresso - "Às Massas" - foi interpretado em vários países de forma tão incorrecta que, durante dois anos, surgiu o perigo real das táticas independentes do comunismo ser substituída por uma política de "coligação" entre os comunistas e a social-democracia contrarrevolucionária.

A bolchevização dos partidos deve, primeiramente e sobretudo, ser dirigida no futuro contra estas distorções de direita que ameaçam a missão histórica do Comintern.

Mas a bolchevização é impossível sem combater também os desvios ultra-esquerdistas que, muitas vezes, são nada mais nem menos que o oportunismo às avessas. No momento em que todos os esforços da burguesia e da social-democracia são para liquidar a "ameaça comunista" entre as massas, os desvios de ultra-esquerda ajudam objetivamente a pressão da reação social-democrata burguesa. O erro da ultra-esquerda, por exemplo, sobre a questão dos comunistas que pertencem a sindicatos reformistas ou reaccionários, pode destruir absolutamente os partidos comunistas durante anos. O bolchevismo russo também tomou forma definitiva na luta contra o oportunismo e o revolucionarismo pequeno-burguês de "esquerda".

4. Partidos Comunistas e Partidos Bolcheviques.

Em termos gerais, o comunismo, o marxismo e o bolchevismo são a mesma coisa. "Partido Comunista" e "Partido Bolchevique" são, em si mesmos, termos sinônimos. Na prática, porém, nem sempre são a mesma coisa. Várias seções importantes do Comintern tiveram, e em parte ainda têm, de passar por um processo de evolução gradual da social-democracia de esquerda (em alguns casos, da ideologia anarco-sindicalista) para o comunismo genuíno, para o bolchevismo. Em certo sentido, todo o trabalho do Comintern pode ser descrito como a Bolchevização dos Partidos Trabalhistas. A Internacional Comunista incorporou nas suas fileiras um número considerável de partidos, grupos e camaradas que anteriormente pertenciam à Segunda Internacional; isto, naturalmente, não poderia ser de outra forma. O Partido Bolchevique Russo também estava nas fileiras da Segunda Internacional, o que era inevitável. Mas, devido a uma combinação de circunstâncias, os bolcheviques russos puderam mais cedo do que outros partidos romper com a Segunda Internacional. As condições revolucionárias objetivas na Rússia ajudaram o bolchevismo russo, sob a direção do camarada Lenin, a tomar a forma de um Partido Bolchevique mais cedo do que os outros, ou seja, de um verdadeiro Partido Comunista. Ainda hoje é possível encontrar, em algumas seções do Comintern, consideráveis grupos de camaradas que se consideram comunistas, mas não bolcheviques. A Bolchevização consiste em tornar comunistas todas as Seções da Internacional Comunista e todas as suas subseções comunistas, ou seja, bolcheviques.

5. Bolchevização e as Condições Concretas de Luta

Não deve-se supor, contudo, que haja um remédio mágico adequado para a Bolchevização de todos os Partidos do Comintern. O bolchevismo genuíno exige acima de tudo uma estimativa precisa de todas as circunstâncias concretas de lugar e de tempo. Os Partidos filiados do Comintern podem ser divididos provisoriamente nos seguintes três grupos:

a) Partidos que estão apenas passando por um período predominantemente propagandístico e estão dando os primeiros passos no caminho de reunir as grandes massas em torno da bandeira do comunismo;

b) Partidos que já se encontram em zona de luta mais ou menos aguda e que têm o apoio de setores consideráveis (por vezes a maioria) das massas trabalhadoras;

c) Partidos que já conquistaram o poder político e estão no período de consolidação desse poder.

O primeiro grupo inclui um certo número de partidos que estão ainda relativamente fracos.

O segundo grupo inclui partidos como o alemão, o francês, checoslovaco, búlgaro, italiano, etc.

No terceiro grupo, até à data, apenas pertence o Partido Comunista Russo.

A bolchevização das secções do Comintern é o estudo e a aplicação das experiências do Partido Comunista Russo nas três Revoluções Russas e também, naturalmente, as experiências de todas as outras seções que se envolveram em lutas sérias. Todas as seções do Comintern devem estudar as tarefas com que se defrontam à luz destas experiências e generalizar as suas próprias experiências. Seria um erro grave, contudo, aplicar mecanicamente as experiências da Rússia aos outros países, um erro contra o qual o camarada Lenin já advertiu. Nas experiências da Revolução Russa há muita coisa que o camarada Lenin descreveu como de significado universal para os outros países (Sovietes, etc.). No seu "Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo", o camarada Lenin escreveu: "Dispomos agora de uma experiência internacional que indica, com toda a certeza, que certas características fundamentais da nossa revolução não são meramente locais, não são peculiarmente nacionais, não são meramente russas, mas de importância internacional. Falo aqui de importância internacional, não no sentido lato da palavra: não são vários, mas todas as características fundamentais e muitas secundárias da nossa revolução têm significado internacional, no sentido de que influenciaram todos os países. Não, é no sentido mais restrito da palavra, ou seja, entendendo por significado internacional a aplicação internacional, ou a repetição historicamente inevitável à escala internacional do que aconteceu na Rússia, que certas características fundamentais da nossa revolução devem ser consideradas como de importância internacional... Mas, no atual momento histórico, a situação é tal que o exemplo russo mostra a todos os países algo de muito essencial no seu inevitável e não distante futuro. Os trabalhadores progressistas de todos os países compreenderam há muito tempo, mais frequentemente não compreenderam, mas sentiram-no com o seu instinto revolucionário de classe. Assim, o "significado" internacional (no sentido restrito da palavra) do sistema soviético e também dos princípios da teoria e tática bolcheviques... É claro que há muito na experiência da Revolução Russa, que não se repetirá noutros países".

O camarada Lenin sublinhou as condições peculiares da transição do capitalismo para a ditadura do proletariado nos países, que surgem perante a peculiaridade da época atual:

“Qualquer marxista", escreveu o camarada Lenin, "se lhe perguntarem se a transição do capitalismo para a ditadura do proletariado será uniforme e igualmente harmoniosa em todos os países responderá, sem dúvida, negativamente. A uniformidade, a harmonia e a proporção nunca existiram, nem poderiam existir no mundo capitalista: cada país desenvolveu de forma proeminente uma particular ou um grupo de características próprias do capitalismo e do movimento operário" ("A Terceira Internacional e o seu Lugar na História").

Bolchevização significa a capacidade de aplicar os princípios gerais do leninismo às condições concretas de um determinado país. Bolchevização significa a capacidade de agarrar o principal "elo" pelo qual será possível arrastar toda a "corrente". Este "elo" não pode ser o mesmo em todos os países, tendo em conta a variedade dos meios e das condições políticas que neles se manifestam.A bolchevização é um processo prolongado e contínuo, que só agora foi iniciado nos melhores partidos europeus do Comintern. O trabalho que nos confronta neste domínio é enorme e exige muitos anos para a sua realização.

Parte 2: Marxismo e Leninismo

6. Marxismo e Leninismo

As seções do Comintern só podem tornar-se verdadeiros partidos comunistas na época atual se se unirem à bandeira do leninismo.

É evidente que em nenhuma circunstância o Leninismo deve ser contrastado com o Marxismo. Lenin foi o mais eminente discípulo de Marx. Sem marxismo não há leninismo.  Mas o leninismo enriqueceu o marxismo, primeiramente, com a experiência  de três revoluções russas e também com a experiência de uma série de  de outros movimentos revolucionários no período compreendido entre  entre o início do século XX e a atualidade. Acima de tudo, o leninismo enriqueceu as doutrinas gerais do marxismo com a solução das seguintes questões:

1. A teoria do imperialismo e da revolução proletária.

2. As condições e as formas de realização da ditadura do proletariado.

3. As relações mútuas entre o proletariado e o campesinato .

4. O significado da questão nacional em geral.

5. Particularmente o significado para a revolução proletária mundial dos movimentos nacionais nos países coloniais e semicoloniais.

6. O papel do Partido.

7. As táticas do proletariado na época das guerras imperialistas

8. O papel do Estado proletário no período de transição.

9. O Estado soviético como um tipo concreto de Estado proletário nesse período.

10. O problema das subdivisões sociais do proletariado como fonte da divisão do movimento operário em uma tendência oportunista e uma tendência revolucionária, etc.

11. Superar tanto as tendências social-democratas de direita e desvios de esquerda no movimento comunista (“comunismo de esquerda”).

Marx e Engels resumem sobretudo a experiência dos movimentos sociais na França, Inglaterra e Alemanha. O leninismo, que tem a sua fonte nas doutrinas de Marx e nas experiências ocidentais, lutou nas primeiras fileiras contra as distorções distorções do marxismo pela social-democracia da Europa Ocidental (a luta de Lenin contra o oportunismo em geral e contra o kautskismo em particular) utilizando o método de Marx, ele sintetizou a experiência dos grandes movimentos revolucionários no Próximo e Extremo Oriente e nas fronteiras do Oriente - na Rússia, na China, na Índia, etc.

A primeira época do marxismo: do "Manifesto Comunista" à morte de Marx.

A segunda época - a época dos epígonos do "marxismo": desde a fundação da Segunda Internacional até a eclosão da guerra imperialista. Esta época, particularmente na sua primeira metade, deu provas de algumas fases fortes: a formação de organizações proletárias de massas, um trabalho pedagógico considerável, etc. No entanto, no seu conjunto, os anos 90 representam uma época de distorção do marxismo. A partir de 1907, aproximadamente, começou a consolidar-se uma ala revolucionária internacional do movimento operário no seio da Segunda Internacional.

A terceira época - a época leninista. - o leninismo começa aproximadamente nas vésperas da primeira Revolução Russa (1903-04) e em 1917 obtém a sua primeira vitória histórica mundial.

Sem marxismo não há leninismo, mas depois do que os dirigentes da Segunda Internacional fizeram com o marxismo; depois da "revisão" do marxismo feita por Kautsky e companhia, sob a bandeira do marxismo (particularmente a luta que estes renegados do marxismo travaram contra a ditadura do proletariado na Rússia), é preciso dizer que, nas condições atuais, não pode haver marxismo revolucionário sem leninismo.

O leninismo é o marxismo da época do capitalismo monopolista, das guerras imperialistas e das revoluções proletárias. A vitória da ditadura do proletariado na Rússia, o crescimento dos movimentos proletários e camponeses em quase todo o mundo inteiro, os crescentes movimentos revolucionários de libertação dos povos coloniais e semicoloniais, tudo isso ao todo representa o início da revolução mundial.

O leninismo obteve a sua primeira vitória direta num país com uma população predominantemente camponesa (a Rússia). Mas tal como a Revolução Russa surgiu da situação internacional geral, o leninismo é um produto de todo o movimento proletário internacional. A apreciação de Marx sobre os grandes movimentos proletários do século XIX (Cartismo, Comuna de Paris) das distorções dos oportunistas, completando esta apreciação com uma crítica marxista das experiências dos novos movimentos proletários de massas em crescimento na Europa, na América e noutras partes do mundo, ponderando sobre o grande significado dos movimentos revolucionários camponeses e nacionais, que surgiram com especial força no início do século XX, - Lenin desenvolveu a doutrina de Marx a um novo nível.

O leninismo representa o desenvolvimento consistente da ideia da hegemonia do proletariado - em condições quando a ditadura do proletariado está começando a tomar o lugar da ditadura do imperialismo.

A opinião de que o marxismo é apenas teoria e de que o leninismo é apenas prática é incorreta. O leninismo é a teoria e a prática do marxismo no período do imperialismo, das guerras imperialistas e das revoluções proletárias abertas pela ditadura do proletariado na Rússia. O Comintern tem a tarefa de se tornar uma organização internacional que encarna a teoria e a prática do leninismo.

7. Bolchevização e Tradições Revolucionárias

A bolchevização não rejeita, de modo algum, a herança das gerações anteriores de revolucionários. O estudo da história da luta revolucionária no nosso próprio país e noutros países é absolutamente necessário para a atividade consciente num partido bolchevique na atualidade. Não pode acontecer de um comunista francês não conhecer as obras de Lafargue das melhores obras de Guesdes, escritas quando ele ainda era marxista. Não pode acontecer que os comunistas britânicos não sejam formados para respeitar o cartismo e ignorem os documentos mais importantes do movimento cartista. Os comunistas alemães não devem esquecer a experiência da luta conduzida pelas melhores seções da social-democracia no período das leis anti-socialistas. As melhores obras de Wilhelm Liebknecht e August Bebel devem ser usadas pelos comunistas alemães contra os social-democratas. Os comunistas russos não devem esquecer as páginas mais brilhantes da atividade de Plekhanov nos tempos em que ele ainda era marxista.

Bolchevizar o partido significa permitir-lhe conscientemente continuar tudo o que foi genuinamente revolucionário e genuinamente marxista tanto na Primeira como na Segunda Internacional - com base no leninismo.

8. Bolchevização e Certos Erros Teóricos Cometidos pelo Campo Comunista (Particularmente Erros Luxemburguistas)

A verdadeira assimilação do leninismo e a sua aplicação prática na construção dos Partidos Comunistas em todo o mundo é impossível sem ter em consideração os erros de marxistas muito destacados que se esforçaram por aplicar o marxismo às condições de uma nova época sem o conseguirem .

Entre estes erros devem ser incluídos aqueles dos comunistas de "esquerda" na Rússia, do grupo de marxistas holandeses (Gorter e Pannekoek) e também os de Rosa Luxemburgo. Quanto mais estes dirigentes políticos se aproximam do leninismo, mais perigosos são os seus pontos de vista que, sendo errados, não coincidem com o leninismo.

A situação atual é tal que um certo número de partidos do Comintern não poderão tornar-se verdadeiramente bolcheviques, a não ser que ultrapassarem, por exemplo, os erros luxemburguistas, que, devido às condições históricas, desempenham um papel importante no movimento dos respectivos países. Entre os mais importantes erros luxemburguistas de real importância na atualidade, são:

a) O método não bolchevique de apresentar a questão da "espontaneidade", da "consciência", da "organização" e da "massa". A avaliação incorreta das condições feita pelos Luxemburguistas que, no seu tempo, sob a influência da experiência do partido social-democrata alemão muitas vezes entravou o desenvolvimento revolucionário da luta de classes, são prevenidos de entender corretamente o papel do Partido na revolução.

b) A subestimação dos aspectos técnicos da preparação da revolta dificultou, e em alguns locais ainda hoje dificulta, a apresentação correta da questão da "organização da revolução".

c) O erro na questão da atitude em relação ao campesinato. No último artigo escrito por Rosa Luxemburgo, após a repressão da rebelião de Spartakus em janeiro de 1919, ela estava à beira de perceber o seu erro ao subestimar o papel do campesinato. Em vários dos seus escritos anteriores, Rosa Luxemburgo subestimou o papel do campesinato, ou seja, apresentou a questão camponesa, não no espírito bolchevique, mas fez uma série de concessões ideológicas aos social-semocratas.

Na prática, erros sociais-democratas semelhantes em relação a questão camponesa foram cometidos pelos Comunistas Húngaros enquanto no poder, pelo Partido Comunista da Polônia, pelo Partido Comunista Búlgaro em 1923, pelos maximalistas italianos, pelo Partido Trabalhista Comunista da Alemanha de pseudo-esquerda e estão sendo cometidos agora por várias seções do Comintern.

d) Igualmente graves foram os erros cometidos por Rosa Luxemburgo e por vários marxistas polacos, holandeses e russos sobre a questão nacional. O repúdio da palavra de ordem da autodeterminação das nações (o direito de formar Estados independentes) com o argumento de que, sob o imperialismo, é "impossível" solucionar a questão nacional, conduziu de fato a uma espécie de niilismo na questão nacional, o que dificultou muito o trabalho comunista em vários países.

e) A propaganda do caráter político-partidário dos sindicatos, como foi insistido durante vários anos pelo Partido Polaco, sob a direção de Rosa Luxemburgo, foi um grande erro que evidenciava a incapacidade de compreender o papel dos sindicatos como organizações que abrangem todos os trabalhadores assalariados. Este erro dificultou seriamente e ainda dificulta a abordagem correta da vanguarda em relação à classe operária como um todo. O erro que uma parte dos comunistas alemães cometeu antes do Congresso do Partido em Frankfurt, em 1924, sobre a questão dos sindicatos foi de carácter análogo.

Ao mesmo tempo que prestava uma justa homenagem à grandeza da obra de Rosa Luxemburgo, uma das fundadoras da Internacional Comunista, o Comintern considera que estará agindo no espírito da própria Rosa Luxemburgo se agora ajudar os partidos do Comintern a tirar as lições dos erros cometidos por esta grande revolucionária.

Sem superar os aspectos errôneos do Luxemburguismo, a verdadeira bolchevização é impossível. Só o leninismo pode servir como a estrela-guia dos Partidos Comunistas de todo o mundo. Todo desvio do leninismo é ao mesmo tempo um desvio do marxismo.

É igualmente necessário combater resolutamente todos os desvios do leninismo na esfera da chamada "teoria pura" - filosofia, teoria da economia política, etc.A atenção insuficiente que alguns Partidos dedicam à teoria é o maior obstáculo à verdadeira bolchevização dos dos partidos do Comintern. Enquanto se mantiver esta atitude "tolerante" em relação aos desvios teóricos, etc., a verdadeira bolchevização do Partido está fora de questão. O trotskismo é um desvio particularmente perigoso do leninismo que é uma espécie de menchevismo que representa uma combinação de oportunismo "europeu" e de frases "radicais de esquerda", dissimulando frequentemente a sua passividade política. O trotskismo não é somente um desvio individual em direção ao menchevismo, mas um sistema  com muitos anos de existência de luta contra o leninismo. O trotskismo também não é apenas um fenômeno russo, mas um fenômeno internacional. Para realizar o leninismo no Comintern, é necessário expor o trotskismo em todos os partidos e liquidá-lo como uma tendência.

Parte 3: Bolchevização e a Conquista da Maioria da Classe Trabalhadora

9. Bolchevização e a Palavra de Ordem - “Para as Massas”

A social-democracia também criou um movimento de massas, mas esse foi um movimento de massas reformista. Reduzida a uma fórmula geral, a bolchevização pode ser definida como a criação de um movimento de massas revolucionário sob a bandeira das ideias de Marx e Lenin.

Antes de tudo e acima de tudo, um bolchevique é aquele que trabalha entre as massas. A palavra de ordem do Terceiro Congresso da Internacional, - "Para as Massas, - para ganhar a maioria das seções mais importantes do proletariado continua em pleno vigor. O Quinto Congresso não só repetiu esta palavra de ordem, mas, pelo contrário, desenvolveu-o e deu-lhe um significado mais profundo.

10. Bolchevização e o Trabalho nos Sindicatos

Os desvios na questão do trabalho dos comunistas nos sindicatos escondem os maiores perigos para o trabalho de bolchevização dos nossos partidos. Em todo o mundo capitalista, os sindicatos representam a mais importante forma de organização de massas do proletariado. Outras formas de organização de massas (conselhos de fábrica, etc.) são extremamente valiosas e têm certamente um grande futuro revolucionário; mas estas novas formas de organização de massas estão apenas começando a ganhar reconhecimento geral entre as massas dos trabalhadores. Novas formas de organização proletária de massas, como os Sovietes, só se tornaram viáveis no início da revolução. Para fomentar a crença de que os comunistas serão capazes, sob o sistema capitalista, de conceber organizações trabalhadoras de massas, para além dos sindicatos, é abandonar a realidade.

Uma das mais importantes partes integrantes da doutrina do leninismo é o axioma da necessidade dos comunistas trabalharem mesmo nos sindicatos mais reacionários. Os comunistas pagaram muito caro (o melhor exemplo é a Alemanha) por desvios a esta política. A vacilação a este respeito teve como resultado o fato de os jovens partidos comunistas de toda a Europa ainda não terem iniciado corretamente o seu trabalho nos sindicatos. Um dos componentes mais importantes da bolchevização consiste em dedicar ao trabalho os sindicatos social-democratas e outros sindicatos existentes (amarelos, nacional-socialistas, cristãos e fascistas) com cem vezes mais atenção do que foi dado até agora. Só quando isso for feito é que o monopólio nas mãos dos líderes reformistas (a burocracia laboral) nos sindicatos pode ser realmente quebrado. Só quando isso for feito é que os sindicatos serão realmente libertados da influência corruptora do reformismo, que se esforça por destruir o significado dos sindicatos como armas confiáveis na luta de classes. O mesmo argumento aplica-se, evidentemente, aos conselhos de fábrica onde eles existem ou onde quer que exista a possibilidade de os criar em grande escala.

Os comunistas aumentarão a sua influência e ganharão autoridade sobre os trabalhadores defendendo reivindicações imediatas: aumento dos salários, defesa da jornada de oito horas, luta contra o desemprego, etc., e assumindo, de forma consciente e corajosa, a liderança em todos os conflitos contra o patronato.

Esta atitude é tanto mais necessária quanto os "dirigentes" sindicais social-democratas traem sistematicamente os interesses dos trabalhadores em todos os países e não hesitam em tomar o lado dos capitalistas para sabotar ou anular os movimentos de greve iniciados apesar deles.

Para que os comunistas possam assumir uma atitude correta em todos os movimentos que colocam os trabalhadores em conflito com o capitalismo, os Partidos Comunistas devem fazer um exame cuidadoso de todos os fatores das condições concretas de todas essas lutas: a natureza da atividade da fábrica ou dos grupos de fábricas, o volume e a genuinidade das encomendas feitas, a ligação e interligação mútua das várias fábricas, sindicatos patronais e trusts, a força organizada e a capacidade de resistência dos patrões e também a força das organizações sindicais e a disponibilidade para a luta dos trabalhadores organizados e não organizados, a possibilidade de propagação da greve e as suas consequências políticas. Tudo isto é essencial para que os comunistas estejam em condições de dar orientações exatas e para garantir que tomem a dianteira em todos os confrontos do proletariado com o capitalismo.

11. Bolchevização e a Correta Tática da Frente Única

A bolchevização dos partidos do Comintern não exclui, mas pressupõe realmente a aplicação por estes Partidos das táticas da Frente Única. A capacidade de encontrar um método correto  de abordagem das massas e de ter uma visão clara das tarefas da vanguarda em relação a toda a classe - são características do bolchevismo. A tática da Frente Única foi e continua a ser um método efetivo de agitação revolucionária e de organização das massas, ou seja, um método correto de aproximação dos comunistas às massas operárias no presente estágio no movimento, quando a social-democracia ainda tem o apoio da maioria dos trabalhadores em vários países. As táticas da Frente Única não são de modo algum monopólio dos elementos da ala direita do Comintern. Estes elementos podem reivindicar apenas uma coisa: o monopólio dos erros oportunistas na aplicação das táticas da Frente Única. Estas tácticas, no entanto, pertencem total e essencialmente ao leninismo.

A luta pela unidade do movimento sindical internacional apoiado pelo Comintern será a principal luta nos próximos anos. A ideia da unidade do movimento sindical internacional começa a ganhar terreno entre amplos setores das massas operárias. O tempo não está longe,  em que esta questão se tornará a mais candente em todos os sindicatos.

O Comintern está apenas no início da aplicação das táticas da Frente Única (e particularmente a palavra de ordem do Governo dos Trabalhadores e Camponeses, tal como interpretado pelo Quinto Congresso da Internacional). O abandono das táticas da Frente Única é incompatível com a Bolchevização.

12. Bolchevização e Demandas Parciais

"O Partido Bolchevique é um Partido da Ditadura do Proletariado" e não "um partido de reivindicações parciais"; é assim que os elementos da "ultra-esquerda" apresentam por vezes a questão. O Partido Bolchevique é um Partido da Ditadura do Proletariado e, precisamente por isso, apresenta sistematicamente reivindicações parciais e liga-as às suas tarefas revolucionárias, a fim de conquistar a maioria do proletariado - esta é a resposta do leninismo. Os reformistas aproveitam todas as oportunidades para apresentar reivindicações parciais como um substituto para a verdadeira luta revolucionária. Os bolcheviques utilizam todas as reivindicações parciais para esclarecer às massas sobre a necessidade da revolução, e a fim de, através de fatos concretos, deixar claro para as massas a impossibilidade de qualquer melhoria radical e duradoura das suas condições dentro do sistema capitalista. Os bolcheviques apresentam todas as demandas concretas ao redor do qual as massas se reúnem à luz da luta pela revolução. Recusar a apresentação de reivindicações parciais em geral é o abandono das táticas da Frente Única e, mais do que isso, é um repúdio à palavra de ordem "Para as massas".

Ao mesmo tempo, os comunistas devem provar com exemplos às massas que são de fato os reformistas que sabotam toda a luta sincera por demandas parciais, que só o Partido Comunista - devido à sua orientação - é capaz de liderar os trabalhadores na luta pelos seus interesses quotidianos e de entender como proteger as massas trabalhadoras dos ataques às suas condições de vida..

O repúdio às demandas parciais é incompatível com a Bolchevização.

13. Trabalho Entre os Trabalhadores Filiados à Segunda e à Internacional de Amsterdam

Na maioria dos países, a Segunda e a Internacional de Amsterdam, de uma forma ou de outra, ainda têm nas suas fileiras setores consideráveis dos trabalhadores. A tarefa de bolchevizar os nossos partidos inclui, sem dúvida, um trabalho constante entre os proletários que ainda estão filiados nas organizações hostis a nós. Os métodos de trabalho entre estas seções do proletariado não podem, evidentemente, ser uniformes e dependem inteiramente das circunstâncias concretas que prevalecem num determinado país ou mesmo num determinado sector. Mas a obrigação de realizar esse trabalho diz respeito igualmente a todos os Partidos filiados no Comintern.

14. Bolchevização e o Movimento da Juventude

Os partidos comunistas ainda não dedicam atenção suficiente ao trabalho entre os jovens. Mesmo nos grandes partidos comunistas há dezenas de organizações locais que ainda não foram capazes de organizar grupos de jovens comunistas nas suas respectivas localidades.

Uma das tarefas relacionadas com a bolchevização é conquistar a totalidade da juventude operária em todos os países, - aquela geração da classe operária que cresceu em condições de guerras imperialistas mundiais e do início da revolução mundial. Enquanto a social-democracia se apoia principalmente nos sectores mais burgueses da aristocracia operária, que surgiu na época da paz, os Partidos Comunistas de todos os países, pelo contrário, entre as suas outras tarefas, devem esforçar-se por organizar toda a juventude proletária da nova época sob a nossa bandeira.

15. Bolchevização e o Trabalho Entre as Mulheres

Quanto mais profundo é um determinado movimento popular, mais ativas são as mulheres trabalhadoras dentro dele.

O trabalho de alistar as centenas de milhares e milhões de mulheres da classe trabalhadora na luta, é também uma das premissas mais importantes da bolchevização. Esta

Reunião do Comitê Executivo Alargado do Comintern declara que, neste domínio, o nosso trabalho é extremamente insatisfatório. O recrutamento de mulheres proletárias para o trabalho ativo e para a luta é uma das premissas para conquistar a maioria da classe operária. A nossa vitória na guerra civil é impossível se as mulheres proletárias, as mulheres trabalhadoras, não lutarem ombro a ombro conosco, tal como a construção da sociedade comunista é impossível sem a cooperação ativa e consciente das mulheres da classe operária.

O Executivo Alargado, portanto, impõe a todas as seções o dever de levar a cabo as decisões do Quinto Congresso Mundial e da Terceira Conferência das Mulheres Comunistas sobre este ponto. O trabalho entre as mulheres deve ser completamente incorporado no trabalho geral do Partido, tanto a nível organizativo como ideológico. Além disso, os órgãos ou organizações auxiliares (comitês de ação e de controle, organismos de delegados, etc.) devem ser criados para organizar as massas de mulheres sob a direção comunista, para as colocar sob a influência do Partido e para as manter em contato permanente com ele.

16. Trabalho Entre Desempregados

Os partidos comunistas de todos os países devem dedicar atenção mais séria ao trabalho entre os desempregados. Tendo em conta a atitude da burguesia e da social-democracia em relação aos milhões de desempregados, os Partidos Comunistas, dedicando atenção adequada a este trabalho, poderiam ganhar uma influência decisiva entre este sector do proletariado.

17. Bolchevização e nossa Imprensa

Uma situação como a que existe em Berlim, Paris e Milão, por exemplo, onde existe um círculo relativamente extenso de leitores comunistas, mas um número relativamente pequeno de leitores constantes da nossa imprensa, é intolerável. Uma situação análoga (e ainda pior) é evidente noutros países. A bolchevização exige que a nossa imprensa se torne uma imprensa popular no melhor sentido da palavra, ou seja, que penetre em todas as casas da classe operária e que todos os que simpatizam conosco devem ler os nossos jornais. É necessário tomar medidas de carácter organizativo e literário para que a nossa imprensa penetre no coração das massas operárias e, assim, transformá-la num instrumento de bolchevização das massas. Questões de correspondentes operários (e camponeses), a publicação de jornais de parede, jornais de fábrica, a formação de escritores proletários, etc., devem receber a mais ampla atenção.

Parte 4: Bolchevização e a Questão dos Aliados da Revolução Proletária

18. Os Aliados da Revolução Proletária

A atitude básica dos comunistas em relação à pequena burguesia como possível aliada do proletariado na revolução está exaustiva e claramente definida nas obras clássicas de Marx, Engels e Lenine - desde o "Manifesto Comunista" até às últimas obras de Lenin.

Uma das tarefas mais importantes da bolchevização consiste na aplicação correta deste princípio às condições em que um determinado partido comunista tem de levar a cabo a sua luta.

Um dos pontos mais fortes do leninismo, que assegura a vitória do bolchevismo na revolução, sempre consistiu na capacidade de descobrir um aliado concreto para uma determinada tarefa concreta: na Rússia - a aliança com todo o campesinato contra o czarismo e, posteriormente, aliança com certos setores do campesinato contra a burguesia, etc.

O leninismo sempre considerou como uma das suas principais tarefas estimar corretamente quais os estratos médios que são adequados como aliados do proletariado numa determinada fase do desenvolvimento revolucionário e quais são as principais demandas que formam um elo entre este estrato e o proletariado numa dada situação.

É precisamente porque o leninismo considera o problema da ditadura do proletariado uma tarefa prática do futuro imediato que ele dá destaque à questão dos possíveis aliados da classe trabalhadora em tempos de revolução como um dos mais importantes problemas táticos imediatos.

Basicamente, o leninismo subdivide a pequena burguesia em três grupos: alguns estratos da pequena burguesia podem e, portanto devem ser conquistados na qualidade de aliados diretos do proletariado, mesmo que temporariamente; outros estratos devem ser neutralizados; contra o terceiro estrato (a parte superior da pequena burguesia urbana e rural) deve ser travada uma luta enérgica.

Em alguns países da Europa Ocidental (por exemplo, na Alemanha), setores consideráveis dos pequenos trabalhadores urbanos de escritório - balconistas, funcionários, intelectuais técnicos, etc., sob a atual correlação de forças existente entre a burguesia e o proletariado, podem, em certa medida, tornar-se aliados do proletariado em luta. Estas seções podem, em certas circunstâncias, desempenhar mais ou menos o mesmo papel que o campesinato em certas fases da revolução proletária na Rússia.

Um dos componentes mais importantes da bolchevização é a adoção de táticas corretas e hábeis em relação às camadas intermediárias da população que vacila entre o proletariado e a burguesia, mas que, em condições definidas, podem juntar-se parcialmente à classe operária.

19. Bolchevização e Política Proletária em Relação ao Campesinato

O Partido Bolchevique é um partido de trabalhadores. A doutrina da ditadura do proletariado é o ensinamento fundamental do bolchevismo. No entanto, a questão do campesinato como a classe que está mais próxima do proletariado e como o mais importante de todos os possíveis aliados do proletariado na revolução é de importância fundamental para o bolchevismo, tanto antes como depois da conquista do do poder político pelo proletariado.

"O proletariado só se torna uma classe verdadeiramente revolucionária, verdadeiramente socialista nas suas ações, só atuando como vanguarda de todos os que trabalham e são explorados e como seu líder na luta pela derrubada dos exploradores; isto não pode ser alcançado sem levar a luta de classes às zonas rurais, sem fazer com que as massas trabalhadoras do campo se reúnam em torno do Partido Comunista do proletariado urbano,

sem que os camponeses sejam educados pelo proletariado urbano". (Teses do camarada Lenin sobre a questão agrária, adotadas no no Segundo Congresso da Internacional Comunista).

O problema parcial fundamental dos partidos comunistas pode ser resumido da seguinte forma:

1. Luta da vanguarda proletária contra os social-democratas pela conquista da maioria do proletariado.

2. Luta da classe operária contra a burguesia (imperialismo) pela conquista da maioria do campesinato - em última análise, isto constitui o problema básico da tática do Partido Comunista.

O ponto de vista leninista sobre o papel do campesinato, não só na Rússia, mas em todo o mundo, é exposta na resolução do camarada Lenin adotada pelo Segundo Congresso Mundial da Internacional Comunista. Este documento internacionaliza o ponto de vista leninista sobre o papel do campesinato. É um dos mais notáveis e insuperáveis documentos leninistas.

De acordo com esta resolução, a população rural de todo o mundo capitalista está dividida em três grupos que, no seu conjunto, constituem a maioria do campo e que podem, e devem, ser conquistados pelo proletariado.

"As massas trabalhadoras e exploradas do campo que o proletariado urbano deve levar à luta, ou pelo menos conquistar, são representadas em todos os países capitalistas pelos seguintes grupos:

Primeiro, o proletariado agrícola, os trabalhadores assalariados (por dia, por ano e por estação) que têm de ganhar a vida alugando-se a empresas agrícolas capitalistas e às empresas industriais a elas ligadas.

Em segundo lugar, os semi-proletários ou semi-camponeses, ou seja, aqueles que ganham a vida, em parte, alugando-se a empresas agrícolas capitalistas e, em parte, trabalhando num terreno próprio ou arrendado, que produz apenas uma parte dos gêneros alimentícios necessários para a manutenção da família. Este grupo da população rural da classe trabalhadora é muito numeroso em todos os países capitalistas. No entanto, os representantes da burguesia e dos socialistas que aderem à Segunda Internacional fazem tudo o que podem para ignorar a existência da posição deste grupo de trabalhadores, em parte deliberadamente enganando os trabalhadores e em parte submetendo-se cegamente aos pontos de vista pequeno-burgueses habituais e fundir este grupo com a massa geral do campesinato.

Em terceiro lugar, os pequenos camponeses, ou seja, aqueles que possuem ou arrendam pequenas parcelas de terra, que são suficientes para satisfazer as suas necessidades e eliminar a necessidade de recorrer a mão de obra contratada. Este setor da população rural tem certamente a ganhar com a vitória do proletariado.

Estes três grupos, no seu conjunto, constituem em todos os países maioria da população rural. Portanto, o sucesso final da revolução proletária está garantido não apenas nas cidades, mas também no campo..."

Uma das premissas mais importantes para a genuína bolchevização dos nossos partidos é o trabalho sistemático necessário para levar a cabo esta resolução. Em primeiro lugar, é essencial que cada trabalhador, cada comunista de base conheça e compreenda esta resolução. Além disso, cada seção do Comintern deve considerar como seu principal dever familiarizar as massas com os pontos de vista expressos nesta resolução e tomar medidas práticas para a sua realização. Temos de admitir que a maioria dos Partidos Comunistas ainda não levou a sério este trabalho.

20. Bolchevização e Política Proletária sobre a Questão Nacional

A questão nacional nos países coloniais e semicoloniais, e de modo algum apenas nestes, é em grande medida uma questão camponesa, na medida em que o campesinato constitui a maioria da população desses países. A política bolchevique na questão colonial não pode ser levada a cabo sem que a questão nacional seja corretamente apresentada. A experiência dos últimos anos demonstrou que, em vários países e em condições diversas, os comunistas cometem o mesmo erro, ou seja, subestimar a questão nacional - erro que os impossibilita de conquistar para o seu lado setores consideráveis da população, que são, por vezes, de importância decisiva. O niilismo e a indiferença em relação às questões nacionais (ou, sobretudo, concessões ao ponto de vista "imperialista" do grupo nacional dominante) prejudicaram muito o Partido Comunista Alemão e algumas seções balcânicas do Comintern, bem como a Tchecoslováquia, etc.

A resolução do Segundo Congresso Mundial sobre a questão nacional, juntamente com as decisões subsequentes da Internacional Comunista, dão orientações teóricas e táticas muito claras aos comunistas de todo o mundo sobre esta questão. Não pode haver bolchevização sem uma política correcta sobre a questão nacional.

Parte 5: Tarefas Concretas dos Vários Partidos

21. Tarefas imediatas concretas dos Vários Partidos

Estas tarefas são, aproximadamente, as seguintes: (São indicados os pontos mais importantes):

A. A URSS

Na atual conjuntura, a tarefa de bolchevização deve concentrar-se no seguinte.

1) Liquidação completa do trotskismo como tendência interna do Partido interno do Partido. Esta liquidação é uma condição primordial para garantir uma política correta para o PCR nos seguintes pontos: a) atitude em relação ao campesinato, b) supremacia completa do Partido no aparelho de Estado, nos órgãos econômicos também durante o atual período da Nep, etc.

2) Na realização da política absolutamente correta e obrigatória do Partido em relação à questão camponesa, tomar todas as medidas (entre outras, com a ajuda da Ditadura) para o desenvolvimento sistemático dos elementos da economia socialista, reforçando assim a base econômica da ditadura do proletariado e para contribuir para a transformação da Rússia de um país de Nep num país socialista.

B. Grã-Bretanha

O Partido Comunista, ao efetuar os seus primeiros esforços sérios no sentido de se tornar um partido comunista de massas, deve considerar o seguinte como a sua tarefa central na bolchevização:

1) Trabalho nos sindicatos. Atenção especial deve ser dada ao Movimento das Minorias; as massas devem ser imbuídas do ponto de vista marxista sobre a relação entre economia e política. Tendo em conta as inter-relações peculiares entre os sindicatos britânicos e o Partido Trabalhista, prevalece a ideia em muitos círculos sindicais que os sindicatos desempenham o papel principal e que os líderes do Partido Trabalhista são, por assim dizer, apenas os executores da vontade dos sindicatos, - quando, na realidade, é o contrário que acontece.

2) Agitação contra as tendências imperialistas que também se entrincheiraram na aristocracia operária britânica, (a colonial) e, em especial, uma atenção adequada à questão irlandesa.

3) Estabelecimento de uma organização centralizada e firmemente unida do Partido e liquidação dos métodos de trabalho artesanal.

4) Aplicação sistemática da tática da Frente Única.

C. França

A bolchevização na atual conjuntura implica o seguinte:

1) Campanha pela unidade sindical.

2) Criação de sindicatos com um caráter mais de massas em geral; considerando o fato de a França ter se industrializado muito durante os últimos anos e que a sua classe operária cresceu consideravelmente em força numérica. Os sindicatos existentes são, no entanto, ainda muito fracos do ponto de vista numérico.

3) Estabelecimento dos contactos mais estreitos, a todo o custo, entre o Partido e a Confederação Geral Unida do Trabalho (CGTU.), com base na tática e na política definidas pelo Comintern.

4) Apesar de todas as antigas tradições francesas, criar de um partido comunista de massas bem organizado. Quarenta a cinquenta mil novos membros devem ser acrescentados ao Partido.

5) Consolidação organizativa da influência de massas que o Partido exerce sobre os trabalhadores de Paris.

6) Esforços máximos para levar a influência do Partido os centros industriais mais importantes (Departamentos) ao nível da influência do Partido em Paris.

7) Garantir uma influência séria entre os camponeses.

8) Fazer a propaganda antimilitarista principalmente através do campesinato e da Liga dos Jovens Comunistas.

9) Atenção especial aos trabalhadores imigrantes.

10) Realização de um trabalho enérgico nas colônias.

D. Alemanha

Aqui a tarefa de bolchevização implica o seguinte:

1) Liquidação dos erros da "esquerda" sobre a questão sindical não só em teoria mas também na prática.

2) A agitação e a propaganda do partido devem ser colocadas numa base mais concreta, a fim de pôr fim a todas as vacilações quanto à admissibilidade de reivindicações parciais.

3) Aplicação da tática da Frente Única, que na atual conjuntura (denúncia da corrupção de alguns dos mais destacados dirigentes sociais-democratas, etc.) promete dar bons resultados.

4) Maior atenção ao trabalho de captação organizada das massas (não apenas campanhas agitativas na imprensa).

5) Maior atenção ao trabalho entre os pequenos funcionários, escriturários, etc.

6) Um tratamento prático da questão do trabalho entre os camponeses.

7) Propagação da palavra de ordem: "Governo Operário e Camponês" como interpretado pelo Quinto Congresso, isto é, no sentido revolucionário que exclui qualquer interpretação oportunista da palavra de ordem.

8) A adoção de todos os meios para assegurar um desenvolvimento interno sólido e normal do Partido e a eliminação de todos os efeitos dos conflitos fracionários anteriores, a manutenção firme da unidade do Partido contra qualquer nova tentativa de criar frações.

9) Continuar a luta contra todos os novos desvios agora que a política do Partido está suficientemente consolidada e organizada. Isto deve ser conseguido através de uma ampla campanha de educação ideológica e política para formar novos militantes do Partido, alargando sistematicamente os trabalhadores ativos do Partido, e através do alistamento e assimilação ainda maior das melhores forças dos antigos elementos da oposição, na medida em que estes camaradas possam ser conquistados para uma cooperação leal no espírito da resolução adoptada pelo Partido.

10) A execução da linha política do Partido, enquanto ao mesmo tempo respeitando os métodos da democracia interna do Partido e a realização de um trabalho sistemático de formação, para que através de debates, amplos setores dos membros do Partido se convença da exatidão da política adotada pelo Partido.

E. Checoslováquia.

Neste caso, o processo de bolchevização implica o seguinte:

1) O aumento da capacidade de luta do Partido, a abolição do oportunismo parlamentar-municipal e, de um modo geral, a liquidação da tendência de direita no seio do Partido, composta de pessoas do tipo Bubnik.

2) Início da campanha para a Federação de todos os sindicatos, não apenas no nome, mas na realidade.

3) O Partido deve aprender a conduzir campanhas políticas concentradas, alargando e desenvolvendo as suas palavras de ordem de acordo com o desenvolvimento do movimento.

4) Todos os esforços devem ser concentrados na obtenção da unanimidade baseada nas linhas Bolcheviques sob todas circunstâncias em organizações como as de Praga, Kladno, Brunn, etc.

5) Deve ser dada uma atenção incomparavelmente maior ao Movimento da Juventude.

6) Uma atitude mais corajosa e revolucionária em relação às questões nacionais e camponesas e mais atenção ao trabalho de organização neste domínio.

7) Atenção especial à formação de quadros do Partido treinados com um espírito verdadeiramente leninista.

F. Itália:

1) Aumento ainda maior da influência agitativa do Partido sobre as massas trabalhadoras, através da superação das limitações da atividade clandestina exigidas pelo fascismo.

2) Campanhas políticas regulares a serem conduzidas de forma mais sistemática.

3) Os sindicatos devem ser permeados mais eficazmente do que até agora e desenvolver a luta pela Unidade Sindical, apesar da atitude provocadora dos reformistas, que começaram a expulsar membros do Partido Comunista.

4) Realizar um trabalho sistemático para criar, consolidar e conquistar os comitês de fábrica e de oficina.

5) A palavra de ordem da criação de comitês camponeses não deve ser o limite, masa penetração efetiva a todo o custo nas aldeias por meio dos trabalhadores e dos camponeses progressistas.

6) Maior atenção às questões da ideologia marxista.

7) Luta contra todos os desvios ideológicos, contra as concepções doutrinárias e teóricas de Bordiga e o reformismo representado na teoria econômica de Graziadei.

G. Polônia.

1) Apesar das condições extremamente difíceis criadas pelo terrorismo e pela provocação, esforços devem ser feitos para uma permeção mais efetiva nos sindicatos e para a organização de uma campanha pela unidade sindical.

2) Adoção, de uma vez por todas, de linhas corajosas e decisivas sobre as questões "nacionais" do campesinato num verdadeiro espírito leninista.

3) Concentração de uma atenção incansável na necessidade de dar ao movimento camponês em crescente desenvolvimento um caráter revolucionário e organizado.

4) Maior atenção a ser dada ao estabelecimento de um partido único centralizado a partir das várias seções componentes - com base numa política nacional correta.

Esta tarefa também se coloca a uma série de outros países, tais como a Tchecoslováquia, a Iugoslávia, etc.

H. América.

1) É necessário desenvolver um trabalho mais intenso nos sindicatos e organizar melhor a nossa influência sobre eles (frações comunistas).

2) Fusão de todos os grupos nacionais do Partido num verdadeiro partido homogêneo.

3) Maior atenção à agitação relacionada com as condições cotidianas de vida da classe trabalhadora (aplicação das táticas da Frente Única).

I. Os Balcãs.

1) Apresentação das questões camponesas e nacionais na sua forma concreta nos Balcãs e o papel do imperialismo nos países dos Balcãs do ponto de vista leninista.

2) Utilização das experiências dos movimentos camponeses e nacionais nos Balcãs para garantir uma atitude correta em relação às organizações camponesas e nacionais.

3) Luta pela liquidação da ilegalidade dos Partidos Comunistas e das organizações da classe trabalhadora e coordenação das atividades legais e ilegais.

4) Mobilização dos partidos para a luta pelas reivindicações imediatas das massas.

5) Consolidação dos Partidos Comunistas em condições de ilegalidade. Introdução de mais elementos da classe operária nas suas fileiras e formação de lideranças unidas e enérgicas. Aumento da centralização e da disciplina rigorosa nos partidos.

6) Consolidação da influência do Partido nos sindicatos e cooperativas. Luta pela unidade sindical.

7) Liquidação da luta fracionada, estabelecendo linhas políticas corretas para a ação dos Partidos Comunistas de acordo com a IC e pela educação metódica das bases dos membros do partido (Iugoslávia).

8) Coordenação das ações dos partidos comunistas através da consolidação da Federação Comunista dos Balcãs.

22. Bolchevização e Agitação Anti-Monarquista

É errado abster-se de fazer propaganda antimonárquica com o argumento de que é a burguesia que governa de fato sob a égide da monarquia. Os comunistas devem insistir na palavra de ordem "Abaixo a monarquia na Grã-Bretanha, na Itália, nos países dos Balcãs, etc.”, mas também na Alemanha os comunistas devem ser capazes de combinar a sua agitação antimonárquica com a luta econômica e política quotidiana. O bolchevismo não significa abster-se da agitação republicano-democrática contra a monarquia, mas implica a capacidade de combinar essa agitação com as reivindicações socialistas e de explicar aos trabalhadores a transformação do movimento democrático-revolucionário em movimento socialista.

23. Crescimento Numérico de Certos Partidos Comunistas - Partidos Ilegais

Em vários países - França, Alemanha, Grã-Bretanha, Checoslováquia, Itália, Suécia, Noruega e América - os partidos comunistas trabalham atualmente em circunstâncias em que poderiam e deveriam ter aumentado consideravelmente o seu número de membros. Esse crescimento numérico (cuja importância é por vezes subestimada pelos dirigentes dos partidos), longe de impedir a bolchevização destes partidos, poderia, pelo contrário, facilitá-la.

Os partidos forçados a trabalhar em condições ilegais devem por todos os meios fazer valer a sua influência organizada sobre as massas operárias e camponesas em geral de forma sempre crescente. Se toda a ilusão constitucional - isto é, a ilusão de que a atividade legal será tolerada pela burguesia sem uma organização ilegal - é extremamente perigosa, ainda assim os partidos ilegais devem aproveitar todas as oportunidades para agrupar trabalhadores simpatizantes, mesmo que vagamente, a fim de assegurar uma base para o trabalho legal do partido nos domínios da agitação e da propaganda.

Parte 6: Bolchevização e Questões Organizativas

24. Bolchevização e Questões Organizativas

A premissa mais importante da bolchevização é uma política bolchevique correta, uma política que nos permita conquistar as massas. Nenhuma forma de organização será útil sem uma política bolchevique correta, capaz de garantir, antes de mais, relações corretas entre o Partido e o conjunto da classe, entre o Partido e os trabalhadores sem partido. Mas mesmo a melhor política de um partido comunista não será capaz de chegar a todos os membros do partido e, através deles, às massas, se o partido não tiver um aparelho organizador bem unido e adequado. Mas com base na sua experiência revolucionária, o leninismo elaborou todo um sistema de pontos de vista sobre várias questões, incluindo a questão da organização, que é da maior importância para a Bolchevização dos Partidos.

O princípio e a forma fundamental de organização de cada partido bolchevique é o núcleo do Partido na fábrica. O velho princípio de organização emprestado pelos sociais-democratas, segundo o qual o partido é construído com base em círculos eleitorais, convenientes para eleições parlamentares, não é aceitável para os comunistas. É impossível criar um verdadeiro partido bolchevique se a organização não for feita com base em núcleos de fábricas e de oficinas.

Para além dos núcleos de fábrica e de oficina do Partido em organizações como sindicatos, comitês de fábrica e de oficina, cooperativas, etc., pode-se e, de fato, deve-se proceder à criação de toda uma série de organizações auxiliares e não-partidárias: inquilinos, desempregados, ex-soldados, etc. (com núcleos comunistas). A bolchevização exige que os nossos Partidos aproveitem todas as oportunidades para tornar a rede de organizações o mais estreita e entrelaçada possível. É preciso aproveitar todos os temas importantes da atualidade para a criação de organizações auxiliares de caráter informal, desde que tenham vitalidade.

A iniciativa da criação de tais organizações deve ser tomada pelas lideranças do Partido através dos membros do Partido que devem tomar nas suas mãos a direção dessas organizações. Os comunistas devem formar frações comunistas nessas organizações, que receberão as direções das lideranças do Partido

As respectivas lideranças do Partido devem prestar especial atenção ao trabalho nos núcleos, estabelecer uma estreita ligação com eles, dar-lhes instruções, preparar e elaborar material para os núcleos e fazê-los participar da discussão e decisão de todas as questões políticas, econômicas e do Partido.

A campanha iniciada para a reorganização dos nossos Partidos numa base de núcleos de fábricas e oficinas deve ser energicamente perseguida e levada a bom termo o mais rapidamente possível.  Mas os nossos Partidos não devem esquecer que esta reorganização, por si só, não é de modo algum uma bolchevização completa. É apenas uma parte dela. Devem sobretudo ter em mente que a organização dos núcleos de fábricas e oficinas é apenas o primeiro passo, o Partido deve dar vida política a esses núcleos, provê-los de dirigentes formados que devem ser recrutados nas fábricas e oficinas para este trabalho. O núcleo deve também ser ensinado a adotar métodos de trabalho capazes de aumentar a influência do nosso Partido entre os operários empregados nas fábricas e oficinas.

25. Bolchevização e a Resolução do Terceiro Congresso da Internacional Comunista sobre as Questões Organizativas

A resolução do Terceiro Congresso Mundial sobre a questão da organização não foi, de modo algum, cumprida na sua totalidade. Um dos seus parágrafos mais importantes é o que trata da necessidade de conduzir o trabalho de tal forma que todos os militantes de base do Partido devem sentir a obrigação de trabalhar para o Partido e que todo aparelho partidário deve gradualmente atrair o maior número possível de comunistas de base para o seu trabalho. O Comitê Executivo Alargado do Comintern chama mais uma vez a atenção para este ponto da resolução e é de opinião que deve ser posto em prática como premissa para assegurar a bolchevização. O Comitê Executivo Alargado chama a atenção dos Partidos Comunistas para as resoluções adotadas pelo Quinto Congresso Mundial sobre a questão da organização. O Executivo Alargado subscreve igualmente a resolução adotada pela conferência de organização das seções da IC e recomenda a sua aplicação em todos os pormenores.

26. Bolchevização e o Problema dos Quadros do Partido

Para criar um partido bolchevique, é necessário formar, ao longo dos anos, quadros do Partido aptos para esse trabalho. Esses quadros são formados não apenas por meio de eleições organizadas, mas principalmente pela seleção de trabalhadores adequados com base na sua atividade. O processo de seleção é necessariamente lento. Desde os núcleos das fábricas e oficinas até o Comitê Central do Partido só devem ser selecionados os trabalhadores que tenham resistido à prova da atividade política e da luta para estes quadros. Uma das tarefas mais importantes de cada Partido Comunista deve consistir em selecionar muito cuidadosamente os quadros dirigentes entre os trabalhadores mais avançados que se distinguem pela sua energia, capacidade, conhecimento e devoção ao Partido. Os quadros comunistas de organizadores da classe operária devem estar imbuídos da ideia de que não estão preparando a revolução como um assunto secundário, mas que têm de se entregar de corpo e alma à luta revolucionária e devem colocar-se completamente à disposição do Partido. Um organizador comunista não deve se assemelhar a um "funcionário" social-democrata. Um organizador comunista deve viver e trabalhar entre as massas - em fábricas, oficinas e nas minas - sempre pronto a ser enviado pelo Partido para onde ele ou ela for mais necessário. Estes trabalhadores devem ser sistematicamente ajudados a tornarem-se verdadeiros organizadores de massas, dirigentes sindicais e do Partido.

A importância da vanguarda é enorme. Mas é lógico que a vanguarda e os quadros do Partido, para fazer jus à sua tarefa histórica, devem realmente entrar em contato com as massas não partidárias. Um Partido Comunista que se esquece disso e se mantém afastado, deixa de ser uma vanguarda.

É indispensável dar um caráter mais operário às instituições dirigentes do partido. Os líderes da classe operária devem ser tratados com paciência e cuidado e encorajados a trabalhar para a sua própria melhoria, dando-lhes oportunidades de provar o seu valor através da atribuição de tarefas mais importantes e cada vez mais responsáveis.

27. Bolchevização, Democracia Interna do Partido e Disciplina

O Partido Bolchevique não considera a democracia interna do Partido como um "princípio" abstrato, mas apresenta a questão de forma concreta. Os Partidos Comunistas da Estônia ou da Bulgária, por exemplo, não podem aplicar a democracia interna do partido como os Partidos Comunistas francês e britânico. O Partido Comunista Alemão não pode atuar de acordo com os métodos de limpeza do partido e as condições de aceitação no partido adotadas pelo Partido Comunista Russo. As formas de organização interna do partido devem estar subordinadas aos interesses fundamentais da luta pela ditadura do proletariado. No entanto, em todas as circunstâncias, o Partido Comunista deve preservar uma certa liberdade de crítica interna do Partido, inculcar o seu espírito de igualdade entre os membros, os órgãos superiores do Partido devem estar atentos e ajudar aos núcleos inferiores, manter o princípio da eleição, etc. Isto estimulará a atividade das massas do Partido e assegurará a cooperação dos organismos inferiores e de todos os núcleos do Partido na vida política e organizativa do Partido, favorecendo assim a iniciativa dos trabalhadores no Partido.

A disciplina férrea do proletariado é uma das premissas mais importantes da bolchevização. Partidos que exibem nas suas bandeiras o símbolo "Ditadura do Proletariado" devem compreender que a ditadura vitoriosa do proletariado não pode ser alcançada sem uma disciplina férrea do partido - disciplina que leva anos e anos a adquirir. Para os bolcheviques, não se trata de repetir as estereotipadas frases dos sociais-democratas sobre a vantagem da disciplina em geral, mas sim de fazer com que os trabalhadores tomem consciência de que sem o exercício da mais rigorosa disciplina do Partido, baseada no poder ideológico, e para manter e consolidar a ditadura proletária, que sem essa disciplina a guerra civil está condenada ao fracasso.

28. Bolchevização e Aparato Partidário

Não se pode ter um partido bolchevique centralizado, bem organizado e fortemente unido sem um aparelho de partido adequado.

Atualmente, algumas seções do Comintern estão sobrecarregadas com um aparelho de partido pesado, desproporcional em relação ao próprio partido e, portanto, frequentemente burocrático. Outras seções quase não têm aparelho de partido.

O Comitê Executiva Alargado da IC encarrega o Presidium, em conjunto com o Bureau Organizador e os representantes dos respectivos partidos, de conceber medidas que permitam a cada secção do Comintern de desenvolver para si mesmo um aparelho partidário de acordo com os interesses do trabalho.

29. Bolchevização e Auto-Crítica

A luta contra o que o camarada Lenine chamou de "arrogância comunista", contra a presunção e a vaidade nas fileiras comunistas, é uma das premissas mais importantes da bolchevização. Sem uma autocrítica saudável nas nossas próprias fileiras, ditada pela preocupação com os interesses da revolução proletária (mas também contra a lamúria), sem sem uma avaliação realista e sóbria das forças do adversário - não pode haver verdadeira Bolchevização.

30. Trabalho Programado e Controle da sua Execução

Nos países onde o trabalho dos Partidos Comunistas pode ser realizado em condições normais, é essencial elaborar um plano geral de trabalho para seis ou doze meses, a fim de aprender a concentrar as forças do Partido nas tarefas principais e fundamentais.

Podem observar-se casos em que as organizações centrais e locais tomam muitas decisões corretas, mas não são capazes de as pôr em prática. Deve tornar-se parte integrante de todas as nossas organizações manter o controle sobre a execução de todas as decisões tomadas. É melhor tomar menos decisões e garantir que elas sejam efetivamente executadas. "Qualidade em vez de quantidade" (Lenin).

Parte 7: Bolchevização e Liderança Internacional

A criação de um partido comunista mundial homogêneo, baseado no centralismo democrático, exige sérios esforços de todas as seções filiadas no Comintern. A bolchevização

é incompatível com as tendências separatistas e federalistas. O Partido Mundial do Leninismo não deve ser soldado por uma disciplina mecânica, mas pela unidade da vontade e da ação do Partido. É absolutamente necessário eliminar todas as tendências ao isolamento, sectarismo de grupo e psicologia de círculo estreito. Cada Partido filiado no Comintern deve dar as suas melhores forças à direção internacional. É essencial incutir nas mentes das massas a convicção de que, na época atual, as grandes lutas econômicas e políticas da classe operária só podem ser ganhas se forem controladas à escala internacional a partir de um centro.

Nenhum partido comunista deve recuar perante o trabalho ilegal. A ilegalidade é uma condição em que muitos partidos comunistas devem agora trabalhar e que, na época da intensificação das lutas sociais, pode estender-se a muitos partidos do Comintern que hoje ainda são legais.

Cada partido comunista deve considerar a ilegalidade como uma condição possível e provável, e deve estar preparado para o trabalho ilegal. Quando a situação política se agudiza gravemente, deve-se tomar as medidas adequadas que lhe permitam prosseguir a sua ação na ilegalidade após a proibição da sua organização; deve manter todo o seu dispositivo técnico de ilegalidade à prontidão. Mas é preciso evitar qualquer brincadeira desnecessária com a ilegalidade e o partido deve defender a sua legalidade até ao fim.

O Partido não deve permitir que lhe seja retirada qualquer forma de atividade legal (campanhas eleitorais, atividade parlamentar, imprensa legal, conselhos de fábrica, sindicatos, sociedades de educação, cooperativas, associações de doentes, etc.). As massas operárias e camponesas devem habituar-se a proteger as oportunidades legais do seu Partido e a enfrentar todos os ataques da burguesia e dos social traidores contra essas oportunidades com manifestações de massas (greves, manifestações, etc.).

A principal base da atividade de um partido ilegal é a disciplina rigorosa do partido, que deve ser muito mais rigorosa do que a dos partidos legais. Mas esta disciplina não deve ser confundida com a burocratização. Mesmo na ilegalidade mais extrema, existe ainda a possibilidade de democracia partidária, de liberdade de discussão e de eleição de todos os representantes do partido. Qualquer limitação desnecessária a esta democracia causaria a separação do partido das massas, torná-lo-ia pedante e transformá-lo-ia num grupo de conspiradores. Mas uma vez eleitos os dirigentes do Partido, deve-se poder contar, em todas as suas atividades, com a disciplina férrea dos membros do Partido e a discussão do partido só pode ser feita enquanto o partido não entrar em ação.

A disciplina partidária num partido ilegal inclui também os mais rigorosos métodos de conspiração. A composição dos órgãos do partido, os assuntos internos do partido, etc., devem ser mantidos segredo dos membros do partido. Qualquer infração à conspiração deve ser impiedosamente punida, através do desligamento dos responsáveis, julgamento do Partido e expulsão do Partido

Nos Partidos ilegais, é necessário ter mais cuidado na aceitação de novos membros. O valor moral dos novos membros do Partido, a sua força de carácter, etc., devem ser cuidadosamente investigados. O comportamento dos comunistas sob detenção, interrogatório e na prisão é extremamente importante; essas situações servem de prova de fogo para avaliar a firmeza de um comunista e a sua devoção ao Partido, e são de extrema importância para a autoridade de todo o Partido. Especialmente durante o interrogatório, o revolucionário deve ser duplamente cuidadoso no seu comportamento; cada palavra dita descuidadamente pode pôr em perigo o partido e o movimento comunista.

Uma das tarefas mais importantes dos partidos ilegais é a luta contra a espionagem e a provocação. A arma mais importante na luta contra a provocação é mobilizar a opinião da classe operária contra ela e formar os trabalhadores para reagirem a todos os atos de provocação e de denúncia com os métodos mais determinados. Nas fábricas, devemos estar permanentemente atentos para descobrir e expulsar os informantes da polícia.

[1] A alusão é feita ao mito grego de um estreito onde de cada lado havia um monstro diferente. Para conseguir atravessar a região com segurança, o navio precisava passar perigosamente próximo dos dois e tentando evitar cada um deles.