'Suicídio, Vida Interna e o Partido Comunista' (Aya Setembru K.)

Precisamos debater protocolos, planos de ação para situações de risco: quando levar para o atendimento de emergência; como funciona o CAPS; quando envolver a família; como que o organismo partidário pode interagir; quais são os fatores de risco; como não atrapalhar; quais são os limites.

'Suicídio, Vida Interna e o Partido Comunista' (Aya Setembru K.)
"Precisamos dar aos nossos camaradas o preparo para que possam perceber os sinais e agir com antecipação."

Por Aya Setembru K. para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão afeta mais os mais pobres e será a doença mais comum no mundo em 2030. A realidade brasileira é precária, e essa questão afeta fortemente nossa juventude, que não tem perspectiva de futuro e está cada vez mais individualizada. Além disso, apesar de serem os homens que mais cometem suicídio, as mulheres são as que mais idealizam e tentam, segundo um estudo da UFRN:

Os suicídios em mulheres estão relacionados a violência de gênero, à depressão, privação social, perdas afetivas de cônjuges e filhos, abortamento, além das singularidades que permeiam as histórias de vidas, pois o suicídio é um fenômeno multideterminado e multicausal que varia de acordo com questões psicológicas, sociais, biológicas e culturais.

inda falando sobre quem sofre mais com o suicídio, o psicólogo André Rabelo (2016) em seu canal do YouTube, diz que fazer parte de grupos discriminados em uma determinada cultura também é um fato de risco. Em um país racista e onde mais se mata a população trans no mundo, isso é algo que merece maior atenção: a luta contra opressões é inseparável da luta por saúde mental.

Dito isso, gostaria de refletir sobre essa questão. Mas antes, gostaria de destacar que esse é um tema sensível e, por mais que seja necessário, peço que camaradas que possam ter gatilhos ou que estejam enfrentando alguma situação difícil relacionada ao tema, reflitam se devem ou não continuar com a leitura da tribuna, prezando sempre pela sua saúde e integridade física. Se você estiver passando por uma situação difícil, ou conhecer alguém que esteja sofrendo por isso, saiba que o complexo partidário também está aqui para auxiliar e que esse sofrimento é válido e precisa ser tratado. Além da psicoterapia, os locais para se buscar ajuda são:

– A unidade básica de saúde (UBS) mais próxima de casa;

– Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do seu município; e

– Centro de Valorização da Vida (CVV): telefone 188 (ligação gratuita, 24h por dia).

A depressão e o suicídio são uma realidade, camaradas. E não tratar disso, ignorar, é uma política liberal – precisamos sair do senso comum e discutir com responsabilidade. Hoje, o que há é um total despreparo e incapacidade a nível organizativo para lidar com essas questões. Mas será que o Partido deve ter algum papel no cuidado aos seus militantes em situação de risco? E em relação às suas centenas de militantes ansiosos e deprimidos? Nessa tribuna, apresento reflexões acerca disso.

PREPARAR A MILITÂNCIA

Em uma sociedade cada vez mais atomizada, o complexo partidário* (CP* do PCB-RR) é um dos únicos agrupamentos restantes em que há a possibilidade de interações politizadas e um estreitamento de laços de camaradagem e amizade. Sendo assim, o CP acaba sendo central na vida social de muitos militantes que, muitas vezes, têm grande parte ou quase a totalidade dos vínculos afetivos e círculos sociais ligados ao CP, fora a família e colegas de trabalho e/ou de estudo. Logo, assim como o militante tem responsabilidades para com o CP, o CP também  possui responsabilidades para com o militante. Caso algum militante enfrente situações difíceis e precise contar com ajuda, é muito provável que ela venha de um ou uma camarada de seu núcleo ou instância. E julgo que assim deveria ser: o CP como parte integrante da rede de apoio dos camaradas, exercendo um papel de acolhimento.

Aqui, vejo que há dois possíveis caminhos organizativos: não nos planejamos em nada e, não tendo nos planejado em nada, ficamos a reboque de situações de risco, sem nenhum tipo de preparo e sem conhecimento das possíveis consequências de nossas ações (que serão atrapalhadas); ou então educamos nossa militância, munindo-a com conhecimento para entender situações em que suicídio se torna iminente e também para perceber sinais, para que possamos nos precaver. Dessa forma, capacitamos nossa militância para agir enquanto coletivo. Esse conhecimento deve vir acompanhado de um estudo marxista sobre saúde mental, trazendo o histórico da luta por saúde mental e contextualizando como essa luta está sendo travada nos dias atuais, e como nós, comunistas, devemos participar dessa luta.

E não quero minimizar a gravidade de uma situação como essa, reduzindo a mera estatística ou como se fosse algo trivial. Na verdade, quero ressaltar: cada situação envolvendo o suicídio é traumático tanto para o suicida quanto para todos aqueles que estão próximos. Mas preciso deixar claro que o suicídio é a consumação de uma questão que vem de muito antes, e temos formas de nos atentar aos sinais, acolhendo a pessoa antes de começar a planejar ou de fato tentar. Quando o suicídio ocorre, a sensação que fica é a de que o coletivo falhou – não afeta apenas quem está sofrendo naquele momento, afeta todos, que passam a sofrer também. E, para além de salvar vidas – que é de longe o mais importante de tudo –, precisamos refletir sobre como podemos preparar nossa militância para que haja uma redução de danos coletiva, para que possamos nos precaver e minimizar o estresse e o adoecimento dos camaradas.

Hoje, o despreparo é enorme e contarei uma história pessoal para auxiliar no debate: fiz parte de um dos maiores núcleos do estado de SP, e já soube de três casos de tentativas de suicídio próximas de mim, além de dezenas de camaradas ansiosos, sobrecarregados e deprimidos. Muitos camaradas agiram para lidar com as situações, em movimento de reação – foi um estresse absurdo. Não se tocou, em  momento algum, na possibilidade de levarmos ês camaradas ao CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) – na verdade, nem sabíamos da existência dele. Não tínhamos conhecimento sobre como o envolvimento ou não dos familiares poderia influenciar no quadro de saúde, não sabíamos como socorrê-los, nem como agir. Foi tudo no improviso: acolhimento, incerteza e muita ansiedade. Isso sem contar com o trauma que os camaradas que acompanharam mais de perto sofreram, com os gatilhos que foram acionados e como eles tiveram que lidar com eles após o ocorrido. Ês camaradas estão segures hoje, apesar de tudo. Aponto que muito disso foi um despreparo coletivo e falta de medidas de prevenção, e poderíamos ter evitado muita coisa.

E isso revela alguns fatos: o suicídio ainda é um tabu em nossas fileiras e não é sequer tratado. Em contrapartida, uma das formas mais importantes para evitar o suicídio é justamente falando sobre. O mesmo núcleo, que tanto formula e atua politicamente de forma muito avançada, foi um núcleo sem nenhum tipo de preparo em lidar com as situações, prestar esse apoio de forma pensada – mesmo que todes ês camaradas que citei já estivessem passando por um sofrimento psíquico muito intenso meses antes do ocorrido. Na verdade, o que houve foi o desgaste muito intenso de alguns poucos camaradas que “seguraram as pontas” mais de perto, acumulando alguns traumas e também adoecendo nesse processo. Creio que essa seja a realidade da grande maioria dos organismos de nosso CP.

TRATAR DA VIDA INTERNA E DOS LAÇOS DE CAMARADAGEM

Quando falo de Vida Interna* (VI*), falo sobre a convivência interna da nossa militância e tudo que isso envolve. Não podemos tratar da VI onde atuamos com ‘Comissões de Vida Interna’, como os departamentos de RH tratam seus funcionários nas empresas privadas, que simplesmente ‘apagam incêndios’ quando estes ocorrem. Temos que seguir rumo a coletivização das tarefas de resolução de conflitos entre camaradas, problemas pessoais que militantes trazem, lidar com as violências, acolher e cuidar de nossos militantes[1]. Reflito sobre uma resolução do VIII Congresso da UJC: “[...] Um núcleo não é um grupo de amigos, uma terapia coletiva ou um encontro de comunistas. Devemos estar atentos às relações de camaradagem, respeito e solidariedade, mas entender como central que o núcleo é um instrumento de ação revolucionária e, nesse sentido, é fundamental que obtenha resultados e desenvolva seu trabalho [...]”. E isso é claro, camaradas, esse não é o nosso horizonte político, e nem deveria ser. Caso fosse, seríamos esmagados pela burguesia[2]. No entanto, tratar esses problemas sem dar a devida importância – e pior, não falar sobre isso – é um erro tremendo. Esses problemas existem também longe dos livros, das telas de cinema, longe do Twitter. Quando ocorrem dentro das nossas fileiras, nós precisamos lidar com isso de qualquer forma. Então é melhor planejarmos, pensarmos sobre isso enquanto Partido, para que possamos lidar de forma planejada, ao invés de continuar a não tratar desses temas tão importantes e continuar reféns da ocasionalidade.

Cuidados e machismo

Para quem é legado o trabalho de cuidados em nossa sociedade? Esse trabalho, que não é remunerado, é exercido pelas mães, esposas, namoradas, irmãs, filhas, amigas, e em resumo, pelas mulheres. Um partido que não pensa nem debate sobre VI, é um partido onde se mantém o status quo, se mantém o machismo praticado pela sociedade, que coloca sobre as mulheres uma obrigação moral de cuidados com parentes e pessoas próximas, um trabalho tão fundamental para nossa sociedade que não é reconhecido, não é coletivizado e não é remunerado.

Onde a formalidade de nossa organização não chega, onde não há processos disciplinares (PDs) formais, ou seja, onde não há clara divisão de tarefas,  é onde se garante que nossas camaradas sejam mais uma vez sobrecarregadas com a tarefa de cuidar de seus camaradas. Com a Reconstrução Revolucionária, no entanto, temos a chance de dar início a essa mudança com de forma organizativa, congressual. Não podemos, camaradas, continuar a reproduzir essas opressões, e é justamente por não termos amparo organizacional que existe a garantia que isso continue se repetindo. Não se trata de um formalismo abstrato ou de uma ilusão do tipo “se o Partido debater isso em seu congresso e tivermos resoluções sobre isso, estará resolvido”, longe disso. O machismo e a exploração das mulheres só vai acabar com a construção do socialismo. Mas temos a oportunidade de construir um partido mais seguro, acolhedor e que seja um espaço de socialização mais confortável para todes.

E quando a militância é um problema? Opressões e tarefismo.

Identifico duas principais situações em que os espaços de militância se tornam um problema que pode acarretar no adoecimento mental e na quebra de quadros.

A primeira situação envolve opressões dentro do CP. Militar em um Partido que busca acabar com todo tipo de opressões e acabar se deparando com essas mesmas opressões sendo reproduzidas no interior dele é uma situação que pode levar camaradas a se sentirem desolados, principalmente quando se faz parte desses grupos oprimidos. Perceber que seus camaradas não têm a capacidade de identificar esses casos e, consequentemente, não conseguem buscar soluções coletivas para o fim dessas violências no CP é algo angustiante. Acima, já apresentei a relação próxima entre condições de opressão e de saúde mental. Retomo: o debate sobre saúde mental é indissociável do debate sobre opressões, e quando falamos sobre Vida Interna, precisamos também pensar em avançar sobre como o Partido lida e pensa sobre o capacitismo, o racismo, a LGBTfobia e a misoginia dentro de suas fileiras. Não podemos deixar essus camaradas continuarem a adoecer por um sentimento de desamparo dentro da própria organização, pela qual se doam, convictos do marxismo-leninismo e por acreditarem em uma sociedade mais justa e livre de opressões. Essa mesma organização deve também acolher essus camaradas e prezar por sua saúde mental.

Precisamos que a nossa própria estrutura organizacional permita que essus camaradas possam denunciar, ter direito a falar e serem escutades sem medo de sofrerem perseguições internas. É nossa tarefa pensar e implementar esses mecanismos.

A segunda situação é o que eu e outros camaradas chamam de ‘tarefismo’. Implodir o sistema capitalista e construir o Poder Popular são tarefas complexas e difíceis, e quando se instala um intenso sentimento cobrando e um comportamento produtivista isso pode também levar ao adoecimento. Uma camarada já comentou sobre isso, e eu também vi uma série de camaradas quebrando por questões de saúde mental após um longo período em que tocaram dezenas de tarefas por semana, e até meses, sob um estado de um intenso estresse e ansiedade causado pelo grande volume de tarefas a serem tocadas. Isso é algo comum e até mesmo estimulado em nossas fileiras – um comportamento que nasce da ideia de precisarmos dar conta de todas as tarefas que surgem e sermos como Lênin. Quando não é isso, é a ideia de ‘tocar tarefa por tocar tarefa’, ‘avançar por avançar’: “precisa ser tocado mesmo, fazer o quê?”. O burnout é normalizado enquanto perdemos quadros importantes para a depressão, a ansiedade e desgastes dos mais intensos. Quais são os frutos que estamos colhendo dessa política que vem sendo tocada?

O CP não é uma empresa e os laços de camaradagem vão muito além da relação entre colegas no mercado de trabalho. Os nomes na reunião do Meet não podem ser apenas nomes, as mensagens no WhatsApp não pode continuar a ser sempre feita de uma forma fria, mensagens no Signal num tom de “boa noite cmrd, preciso da sua ajuda com uma tarefa!”, sem nenhum tipo de interação humana e desalienante. O colega não pode sobrepor o camarada, e não digo isso de forma idealizada, como se todos nós camaradas fôssemos nos tornar amigos íntimos e assistir Friends e comer pipoca amanhã. Na verdade, quero apontar para a importância que é pensar nas nossas relações de militância e como construir uma nova sociabilidade que rompa radicalmente com as relações de produção atuais, é pensar em eventos culturais para a militância socializar, pensar no bar e incluir os camaradas para além do círculo de amizades e na manutenção desses laços. Precisamos de camaradas não apenas para falar sobre política, mas para construir relações mais profundas e complexas. As tarefas não valem mais que a nossa saúde, e uma vanguarda adoecida e não reflete sobre seu próprio adoecimento é uma vanguarda que pode ter mais dificuldades para construir a revolução.

CONCLUSÃO: TRATAR DA VIDA INTERNA DA VANGUARDA!

É muito difícil propor resoluções num cenário onde não há uma discussão amadurecida, onde o assunto é pouquíssimo debatido. E minha formação sobre o assunto dificulta ainda mais a debater de forma qualificada e materialista. Convido para o debate camaradas que tenham interesse, experiência ou formação sobre saúde, visando um debate mais elevado.

Porém, acredito que esse seja um tema sobre o qual os revolucionários devam discutir cada vez mais. Faço parte de “uma militância produtivista, frequentemente ansiosa [...] com uma pressão construída pela autocobrança e pela cobrança das próprias direções e das bases de uma performance de excelência absurda”[3], e se podemos reduzir danos, por que não o fazemos? Acredito que seja importante ter uma vanguarda mais saudável e capaz de lidar com a tarefa de cuidar dos laços de camaradagem em sua organização, usando de um método marxista e que busque a superação dos vícios organizativos atuais. Precisamos de um congresso que traga saúde mental para o debate. Só assim é que poderemos levar uma linha política comunista sobre saúde mental para dentro de nossas fileiras e para as massas.

Precisamos debater protocolos, planos de ação para situações de risco: quando levar para o atendimento de emergência; como funciona o CAPS; quando envolver a família; como que o organismo partidário pode interagir; quais são os fatores de risco; como não atrapalhar; quais são os limites. Precisamos dar aos nossos camaradas o preparo para que possam perceber os sinais e agir com antecipação. Profilaxia, tratamento e pós-tratamento. E nada disso pode ser discutido sem que haja um debate sobre o papel de nossas finanças nisso: é preciso pensar o quanto que a organização pode destinar para a Vida Interna. Enfim, a formação de nossa militância e o debate interno são dois bons pontos de partida.

Pelo I Seminário Nacional de Saúde Mental do PCB-RR

Tendo em vista que no nosso atual nível organizativo é muito provável que não poderíamos ter um ciclo de formações centralizado nacionalmente, proponho que o congresso debata um seminário, que deve ter como objetivo dar aos nossos militantes a capacidade de coletivizar e dividir as tarefas sobre cuidados emocionais e a refletirem sobre saúde mental dentro dos organismos partidários e também preparar nossa militância para a luta pela saúde mental no Brasil, trazendo temas como o histórico da luta antimanicomial em nosso país e o atual contexto de superexploração do trabalho de profissionais da saúde mental pelos convênios de saúde, visando a luta por direitos desses profissionais.

Um seminário que seja construído pelo CP e que seja direcionado para todo o CP. O seminário é uma meta a ser alcançada, e demandará várias tarefas como, por exemplo, o mapeamento de camaradas capacitados para ministrar apresentações sobre saúde mental e para organizar o seminário; demandará produção de material de Agitação e Propaganda para o seminário, e também demandará debates e formulações políticas no CP. É também uma forma de trazer CP ainda mais para o centro dessa luta, e também  de dar aos nossos militantes ferramentas para tratar disso internamente. Desse seminário, poderemos começar a pensar formações internas sobre o tema de maneira mais adequada, nos aproveitando da forma organizativa utilizada para a realização do congresso.


[1] Falo um pouco mais disso na subseção “Cuidados e machismo”.

[2] Citando uma querida camarada, Kururu.

[3] Citando outra camarada muito querida, Jaque.


REFERÊNCIAS

BRANQUINHO, B. SUICÍDIO da população LGBT: precisamos falar e escutar. CartaCapital, 2019. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/blogs/suicidio-da-populacao-lgbt-precisamos-falar-e-escutar/.

DEPRESSÃO será a doença mais comum do mundo em 2030, diz OMS. BBC News Brasil, 2009. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2009/09/090902_depressao_oms_cq. Acesso em: 17 out. 2023.

MEIRA, K; DANTAS, E;  JESUS, J. Suicídio: uma questão de gênero. Demografia UFRN, 2021. https://demografiaufrn.net/2021/03/22/suicidio-uma-questao-de-genero/

RABELO, A. A PSICOLOGIA DO SUICÍDIO. YouTube, 8 de setembro de 2016. Disponível em: https://youtu.be/I2iv6SVZcz8

Resoluções do VIII Congresso Nacional da União da Juventude Comunista, 2018.

OUTROS TEXTOS

Dean, Jodi, 1962-Camarada: um ensaio sobre pertencimento político / Jodi Dean; tradução Artur Renzo. - 1. Ed. - São Paulo: Boitempo, 2021.