'Sobre uma possível organização partidária em zonas: uma proposta pensada na inserção nas periferias e favelas' (Chehade)

A nossa inserção nos centros é importante, se faz necessário. Mas existem outras regiões que passam pela mesma situação, ou até pior, porque são afastadas.

'Sobre uma possível organização partidária em zonas: uma proposta pensada na inserção nas periferias e favelas' (Chehade)

Por Chehade para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Camaradas, já adianto que esta tribuna não tem como objetivo trazer argumentos e palavras bonitas para convencê-los da minha proposta, na verdade, essa tribuna tem seu caráter político, mas também tem seu caráter pessoal, de desabafo. Trago esta alternativa para a nossa reconstrução na esperança de gerar novas ideias, novas perspectivas, novos debates e, consequentemente, novas tribunas. Então talvez aqui você não encontre a solução perfeita para a reforma de nossos nbs e células, mas talvez você encontre aqui um caminho para pensar em políticas de inserção nas comunidades afastadas dos centros das capitais.

Refletindo muito sobre o que quero para o nosso partido, em uma ida ao postinho de saúde próximo à minha casa me peguei refletindo sobre o que me fez entrar em um partido comunista, e do meu objetivo principal quando decidi me tornar uma militante comunista: ir contra tudo o que esse sistema se propõe a fazer contra a nossa classe, e fornecer para a nossa classe alternativas para não depender deste sistema, encontrando na nossa militância um caminho pra abolição deste e a soltura de nossas correntes. Olhando para a situação atual do nosso partido, penso muito em como podemos dar início ao nosso trabalho de base e práxis revolucionária, em como alcançarmos novas pessoas e em como faremos as pessoas enxergarem o nosso partido e a nossa atuação em suas vidas como algo importante, crucial e realmente necessário. A resposta é: não sei ao certo, mas acredito que a nossa inserção (ou falta dela) pode ser um dos motivos principais do porquê cometemos os mesmos erros do passado. 

Na tentativa de resolver este problema, trago aqui uma proposta: separação das nossas “células” (se assim continuarão sendo chamadas) em zonas: zona leste, zona oeste, zona norte, zona central e a nossa linda zona sul zona show! Penso assim pois sou a favor da dissolução das células e nbs na maneira que eram antes, onde militantes do cfcam falam de machismo, e militantes do minervino falam de racismo. A dissolução dessa maneira de organização pode nos ajudar a ter um partido coeso, com uma repartição de tarefas e de trabalho justa, tanto trabalhos políticos e partidários, quanto trabalhos reprodutivos e de cuidado. O partido inteiro deve se posicionar contra todas as opressões, não apenas as pessoas oprimidas por essas opressões. Uma maneira organizativa distribuída em zonas, nos ajudaria a entender e solucionar (ou tentar) todas as injustiças e violências que esse sistema propaga, como a educação, tendo a possibilidade de criar cursinhos populares e distribuição de merenda para escolas com hortas comunitárias e ocupações; a fome, tendo uma política de distribuição de marmitas para pessoas em situação de rua e doação de cestas básicas para famílias em vulnerabilidade; violência doméstica, com criação de casas de referências para atendimentos psicológicos, sociais e jurídicos; para a falta de moradia, com ocupações e diversas outras coisas. Em todas as zonas das cidades teremos comunidades, favelas e periferias, algumas zonas com uma concentração maior do que outras, mas ainda assim, é uma oportunidade de realmente nos inserirmos na base. Aliás, muitos de nós somos a base, mas as vezes não sabemos como atuar na nossa comunidade, justamente por sermos os únicos, porque nossos camaradas moram muito longe para uma atividade conjunta, uma panfletagem, uma atividade social, um evento...

Não que a nossa atuação nos centros das cidades não seja importante, é claro que é, especialmente falando do contexto em que vivo, a capital paranaense, onde no centro da cidade se tem uma concentração grande de pessoas em situação de rua, de pessoas em vulnerabilidade, onde temos a maior política higienista de Rafael Greca, a trajano reis, onde nessa mesma região o número da violência e brutalidade policial tem aumentado cada dia mais. A nossa inserção nos centros é importante, se faz necessário. Mas existem outras regiões que passam pela mesma situação, ou até pior, porque são afastadas.

Vamos pensar em uma estrutura separada por zonas. Além da facilidade de socialização com camaradas, facilidade de acesso para as reuniões, em que os camaradas não precisam atravessar a cidade, pegar 2 horas de ônibus, podem simplesmente ir andando, de bike, de skate. Tende a termos um melhor aproveitamento das nossas atividades desta maneira, tendo inclusive um aumento significativo de militantes, pois estaríamos trabalhando de maneira contínua ali, com melhor qualidade, com amplo acesso. Os moradores nos conheceriam, teríamos uma melhor troca pois seria um trabalho contínuo. Não tenho dados que provem isso, como disse acima, não quero nem me dar ao luxo de pesquisar se uma organização deu certo desta maneira. Isso é o que eu penso que faria sentido. Pensando no que eu idealizava antes de me tornar militante, e juntando com a minha insatisfação atual de não achar que estamos fazendo o suficiente. 

Talvez para os camaradas que moram nos centros não levem isso em consideração, não pensem em territorialidade como parte de si, não sentem falta de nada e nem se sintam deslocados, afinal, tudo acontece no centro. Mas nos tirar a territorialidade em que vivemos, especialmente das zonas onde se tem um número maior de repressão, violência policial, onde não tem política pública direcionada, onde nossos prefeitos e governadores não acessem, essas territorialidades são importantes e devem ser levadas em consideração, pensar nos nossos acessos de militância é crucial, e deve ser parte da política do partido. 

Para quem discorda e para quem não foi convencido, espero que pensem em opções melhores e discorram sobre isso, espero que pensem sobre políticas de inserção, sobre políticas de territorialidade. Espero que pelo menos esta tribuna tenha servido de algo para avançarmos na reconstrução política do partido.