Sobre os recentes acontecimentos na Síria: toda solidariedade ao povo e aos trabalhadores sírios

Os planos imperialistas de tomada da Síria não são um ponto fora da curva, mas parte das tentativas de modificar a correlação de forças geopolíticas na região.

Sobre os recentes acontecimentos na Síria: toda solidariedade ao povo e aos trabalhadores sírios

Na noite de sábado (07/12) para domingo (08/12), a capital da Síria, Damasco, foi tomada pelas forças opositoras ao governo central de Bashar Al-Assad e produziu-se um momento de desfecho da guerra imperialista em curso no país desde 2011. Os grupos opositores foram liderados na tomada de Damasco pelo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), ou “Organização para a Libertação do Levante”, que surgiu como um braço sírio da Al-Qaeda e que, como outros grupos que vêm tentando tomar o controle do país, apresenta-se como uma organização que busca subjugar a Síria sob um regime fundamentalista islâmico salafita. O Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, no intuito de compreender a situação e apontar os rumos que uma política internacionalista proletária deve tomar na presente conjuntura, apresenta aqui sua avaliação política preliminar sobre o processo em curso.

Os planos imperialistas de tomada da Síria não são um ponto fora da curva, mas parte das tentativas de modificar a correlação de forças geopolíticas na região. Por um lado, os interesses de Israel em garantir dominação total do Oriente Médio, indo além da ocupação do território palestino, correspondem às necessidades econômicas e políticas do bloco imperialista conformado pelo regime sionista e pelos EUA-OTAN-União Europeia. O financiamento dos EUA a diversos grupos fundamentalistas na região é notório há décadas e, no plano interno dos países, o imperialismo ocidental costuma se apoiar nos conflitos sectários-religiosos previamente existentes, estimulando as versões mais reacionárias e menos seculares para dividir as sociedades com base em critérios religiosos, quando não conseguem a cooperação das classes dominantes locais para seus planos estratégicos, e minando a solidariedade de classe dos trabalhadores. Por outro lado, até o mês passado, era também notório o plano de colaboração do Estado russo com as forças representadas pelo governo de Bashar Al-Assad, buscando utilizar o país como zona de influência própria e de saída para o Mar Mediterrâneo, além de um tampão contra a expansão dos interesses do bloco imperialista Israel-EUA-OTAN-UE para o leste; também os interesses da China na “Iniciativa do Cinturão e Rota”, de criação de condições para uma disputa para exportação de capitais e mercadorias, passa pela estabilidade política de toda a região do Oriente Médio e da Ásia Central sob sua influência e com a colaboração do governo de Al-Assad.

Desde 2011, a Síria está imersa em uma guerra imperialista estimulada pelos EUA e por Israel, bem como pela Turquia, que coloca o povo do país, particularmente a classe trabalhadora, em uma posição dramática. A onda inicial de protestos espontâneos contra o governo burguês de Al-Assad foi rapidamente reprimida pelo governo, bloqueando a possibilidade da hegemonia de forças proletárias e populares; e permitindo que a revolta social fosse capturada pelos mercenários fundamentalistas financiados pelas potências capitalistas ocidentais sem qualquer outra terceira alternativa. Por sua vez, o governo de Al-Assad apenas logrou derrotar essa oposição armada graças ao apoio militar russo. É por isso que, em nossa visão, não se trata simplesmente de uma guerra civil, mas de uma verdadeira guerra imperialista, na qual tanto as guerrilhas reacionárias como o governo burguês apenas sustentam suas posições à base do apoio de potências imperialistas estrangeiras, em nome das quais travam uma “guerra por procuração”. Isso se torna tão mais evidente a partir da celeridade com que o governo Al-Assad caiu frente aos combatentes oposicionistas em um momento no qual, preso ao front ucraniano, o estado burguês russo não pode vir em seu socorro.

Nesse quadro complexo, compreendemos que o governo central de Al-Assad representava, apesar de seu caráter burguês, a única alternativa contra a mais completa colonização da Síria aos pedaços pelas potências imperialistas. No entanto, as próprias frações burguesas que se uniram em torno do governo Al-Assad para combater a intervenção estrangeira e seus joguetes fundamentalistas minaram cada vez mais as próprias bases de sustentação do governo central entre as massas do campo e da cidade por meio de suas próprias políticas liberais e de austeridade, justificadas com base nos “esforços de guerra”. Assim, se nos primeiros anos da guerra o governo central recebeu amplo apoio de diversos setores proletários populares, incluindo o Partido Comunista Sírio, que negociou e conseguiu tropas de combate armadas pelo Estado composta apenas por militantes comunistas para defender o país; nos últimos meses, a popularidade de Al-Assad erodiu brutalmente por conta de sua própria política econômica. Avaliamos que o próprio caráter burguês do regime e seu vínculo com as aspirações imperialistas russas, junto ao próprio desgaste da classe trabalhadora, tendo que “escolher” entre o fundamentalismo religioso e a política burguesa, foram causas para a derrota. A classe trabalhadora foi usada como bucha de canhão em um conflito entre frações da burguesia conectadas a interesses imperialistas. Como em outros casos nas últimas décadas, marcadamente o caso da Líbia (em que a falsa “primavera líbia” abriu espaço para um retrocesso tão grande na luta dos trabalhadores que houve até mesmo a reintrodução da compra e venda de trabalhadores escravizados), a mudança de regime deve representar um alinhamento político que não oferece qualquer solução para o povo e a classe trabalhadora sírios; ao contrário, dado o caráter fundamentalista das forças que tomaram o poder no país, não será surpreendente se houver grandes perseguições a grupos étnico-religiosos, como os alauitas ou os cristãos maronitas, às forças seculares de trabalhadores, como os próprios comunistas, e a todas as minorias sociais, culminando em uma restrição generalizada das liberdades civis e democráticas.

Além disso, a queda do governo central de Al-Assad, mesmo com as contradições de sua política burguesa, permite agora uma nova onda de incursões imperialistas estrangeiras, particularmente da Turquia, que disputa o controle territorial do norte da Síria e que tende inclusive a colocar os territórios curdos da Síria como alvo, para reverter todo tipo de resistência; e de Israel, que já avançou sobre a região de Golã e buscará fechar o corredor de abastecimento de armamentos da resistência palestina que era operado no sul da Síria e no Líbano, que também encontra-se em situação de constantes ataques. Já há alguns anos, o plano de Israel para a região é denunciado pelo Partido Comunista Sírio como um processo de “balcanização” da região, como o processo sofrido pelo povo iugoslavo depois da contrarrevolução na região dos Bálcãs – ou seja, como um processo de estímulo imperialista aos conflitos nacionais, étnicos e religiosos como forma de minar o surgimento de uma unidade da classe trabalhadora local e facilitar, assim, o avanço das posições estrangeiras sobre os países. 

É fundamental sublinhar, para esclarecimento das posições proletárias, que há algumas visões no seio do movimento operário que devem ser combatidas para uma compreensão revolucionária, marxista-leninista, do processo em curso.

A primeira posição que deve ser duramente combatida é a posição trotskista-morenista e correlatas, cuja expressão de maior disseminação no Brasil é a do PSTU (LIT-QI). Em matéria lançada em seu órgão Opinião Socialista, a posição sobre a guerra imperialista na Síria apresenta-se como uma leitura totalmente acrítica em relação às chamadas “forças rebeldes”. Apresentando os avanços contra o governo central sob uma ótica positiva e caracterizando a guerra imperialista como “Revolução Síria”, a posição trotskista-morenista resulta na prática em uma tomada de posição ao lado dos interesses imperialistas de Israel e Turquia e da OTAN na desestabilização do país. Em 2013, o PSTU defendeu a exigência para que os países imperialistas enviassem armas para os “rebeldes sírios” em luta contra o governo central de Al-Assad. Essa posição, que influencia o movimento operário com uma indistinção total entre seus interesses e os interesses imperialistas, deve ser combatida e toda a solidariedade deve ser dada à resistência síria aos planos imperialistas levados a cabo nacionalmente pelos fundamentalistas religiosos.

A segunda posição, que também deve ser combatida, é a posição de apoio irrestrito ao governo de Bashar Al-Assad. A posição do Partido Comunista da Síria foi, durante todo o período da guerra imperialista, de agitar e propagandear contra as reformas liberais e a política burguesa do baathismo sírio, mesmo negociando sua presença nos esforços organizados pelo governo de combate à interferência fundamentalista e imperialista. O governo de Al-Assad, como outros governos nacionalistas-burgueses, não representa os interesses do proletariado sírio e suas políticas liberais inclusive influenciaram negativamente no resultado da guerra. Não seria por meio do regime de Al-Assad que a classe trabalhadora e o povo sírios atingiriam o socialismo. A acumulação de forças feita pelos comunistas deve denunciar, a todo tempo, a falsidade do “socialismo Baath” como um desvio nacionalista e burguês, que se aproveita da pressão imperialista para imprimir aos trabalhadores um colaboracionismo de classes. Iludem-se aqueles que apoiam o governo de Al-Assad como um governo “anti-imperialista”, inclusive na medida de sua colaboração com os governos russo e chineses em seus planos de expansão de influência geopolítica e comercial.

Apontamos, dessa maneira, que o processo hoje em curso representa o ponto de maior derrota para a luta da classe trabalhadora na Síria desde o começo da guerra imperialista. A tendência de disputas territoriais, genocídios e maiores sofrimentos para o povo sírio está dada. Expressamos assim a mais profunda solidariedade internacionalista ao povo sírio, tanto os que ainda estão na Síria quanto os que se refugiaram nos últimos anos de guerra imperialista, reforçando a necessidade de que o Estado brasileiro abra suas portas para o recebimento de quaisquer asilados vindos para o Brasil refugiando-se do fundamentalismo religioso e da destruição promovida pelas potências imperialistas. Expressamos também toda a nossa solidariedade ao Partido Comunista Sírio, com quem já buscamos entrar em contato durante o domingo, para compreendermos melhor o avanço da luta no país.

Comissão Política Nacional e Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário


EN | On the Recent Events in Syria: Full Solidarity with the Syrian People and Workers

On the night of Saturday (12/07) to Sunday (12/08), the capital of Syria, Damascus, was taken by the forces opposing the central government of Bashar Al-Assad, marking a significant moment in the ongoing imperialist war in the country, which has been raging since 2011. The opposition groups, led by Hayat Tahrir al-Sham (HTS), or the "Organization for the Liberation of the Levant," which emerged as a Syrian branch of Al-Qaeda, along with other groups attempting to seize control of the country, present themselves as organizations seeking to subjugate Syria under a fundamentalist Salafist Islamic regime. The Revolutionary Brazilian Communist Party, aiming to understand the situation and indicate the direction that a proletarian internationalist policy should take in the current context, presents here its preliminary political assessment of the ongoing process.

Imperialist plans to take over Syria are not an anomaly, but part of the broader attempts to alter the geopolitical balance of forces in the region. On one hand, Israel’s interests in securing total domination over the Middle East, going beyond the occupation of Palestinian territory, align with the economic and political needs of the imperialist bloc composed of the Zionist regime, the US, NATO, and the European Union. US financing of various fundamentalist groups in the region has been notorious for decades, and within these countries, Western imperialism often relies on pre-existing sectarian-religious conflicts, encouraging the most reactionary and least secular versions to divide societies along religious lines when it cannot rely on the cooperation of the local dominant classes for its strategic plans, thus undermining the workers’ class solidarity. On the other hand, until last month, it was also evident that the Russian state collaborated with the forces represented by the government of Bashar Al-Assad, seeking to use the country as a zone of its own influence and as an exit to the Mediterranean, as well as a buffer against USA-NATO-Israel’s eastward expansion; China’s interests in the "Belt and Road Initiative" for creating conditions for capital and goods exports also pass through the political stability of the entire Middle East and Central Asia under its influence and with the collaboration of the Al-Assad government.

Since 2011, Syria has been immersed in an imperialist war fueled by the US, Israel, and Turkey, placing the people of the country, particularly the working class, in a dramatic position. The initial wave of spontaneous protests against Al-Assad’s bourgeois government was quickly co-opted by mercenary fundamentalists financed by Western capitalist powers. Having repressed the working class and popular movements, Al-Assad’s government also holds responsibility for this outcome. In turn, the Al-Assad government only managed to defeat this armed opposition due to Russian military support. Therefore, in our view, this is not simply a civil war, but a true imperialist war, where both the reactionary guerrillas and the bourgeois government only maintain their positions with the support of foreign imperialist powers, on whose behalf they are waging a “proxy war.” This becomes even more evident by the rapid fall of the Al-Assad government before the opposition fighters at a time when the Russian bourgeois state, tied to the Ukrainian front, could not come to its aid.

In this complex scenario, we understand that Al-Assad’s central government represented, despite its bourgeois character, the only alternative against the complete colonization of Syria by imperialist powers. However, the very bourgeois factions that united around the Al-Assad government to fight foreign intervention and its fundamentalist puppets increasingly undermined the government’s support among the masses in both rural and urban areas through their liberal and austerity policies, justified by “war efforts”. Thus, while in the early years of the war the central government received broad support from various proletarian-popular sectors, including the Syrian Communist Party, which negotiated and obtained combat troops armed by the state composed solely of communist militants to defend the country, in recent months, Al-Assad’s popularity has drastically eroded due to his own economic policies. We assess that the very bourgeois character of the regime and its ties to Russian imperialist aspirations, along with the exhaustion of the working class, which had to “choose” between religious fundamentalism and bourgeois politics, were causes for the defeat. The working class was used as cannon fodder in a conflict between bourgeois factions connected to imperialist interests. As in other cases in recent decades, notably the Libyan case (where the false "Libyan spring" led to such a severe setback for the workers’ struggle that it even saw the reintroduction of the buying and selling of enslaved workers), the regime change represents a political alignment that offers no solution for the Syrian people and working class; on the contrary, given the fundamentalist character of the forces that took power in the country, it would not be surprising if there were large-scale persecutions of ethnic-religious groups, such as the Alawites or the Maronite Christians, secular workers' forces, like the communists, and all social minorities, culminating in a general restriction of civil and democratic liberties.

Furthermore, the fall of Al-Assad’s central government, despite the contradictions of its bourgeois policies, now allows for a new wave of foreign imperialist incursions, particularly from Turkey, which competes for territorial control in northern Syria and is likely to target Syrian Kurdish territories to eliminate any form of resistance, and Israel, which has already advanced into the Golan Heights and will seek to close the arms supply corridor to Palestinian resistance, which had been operating in southern Syria and Lebanon, both of which are now under constant attack. For years, Israel's plan for the region has been denounced by the Syrian Communist Party as a process of “Balkanization,” similar to the process suffered by the Yugoslav people after the counterrevolution in the Balkans – that is, a process of imperialist encouragement of national, ethnic, and religious conflicts as a means to undermine the emergence of a local workers' unity and facilitate the advance of foreign positions over the countries.

It is crucial to emphasize, for the clarification of proletarian positions, that there are certain views within the workers’ movement that must be combated for a revolutionary, Marxist-Leninist understanding of the ongoing process.

The first position that must be vehemently opposed is the Trotskyist-Morenist stance and related views, of which the largest expression in Brazil is the PSTU (IWLfi). In an article published in their organ Opinião Socialista, the stance on the imperialist war in Syria presents a completely uncritical view of the so-called “rebel forces.” Presenting the advances against the central government in a positive light and characterizing the imperialist war as the “Syrian Revolution,” the Trotskyist-Morenist position practically aligns with the imperialist interests of Israel, Turkey, and NATO in destabilizing the country. In 2013, the PSTU advocated for the demand that imperialist countries send weapons to the “Syrian rebels” fighting against Al-Assad’s central government. This position, which influences the workers’ movement with a complete lack of distinction between its own interests and those of imperialist powers, must be opposed, and full solidarity must be extended to the Syrian resistance to imperialist plans carried out by religious fundamentalists.

The second position, which must also be opposed, is the position of unrestricted support for Bashar Al-Assad's government. The Syrian Communist Party’s position during the entire period of the imperialist war has been to agitate and campaign against the liberal reforms and bourgeois Ba'athist policies in Syria, even while negotiating its presence in the government’s efforts to combat fundamentalist and imperialist interference. The Al-Assad government, like other nationalist-bourgeois governments, does not represent the interests of the Syrian proletariat, and its liberal policies even negatively influenced the outcome of the war. It would not be through the Al-Assad regime that the Syrian working class and people would achieve socialism. The forces accumulated by communists must constantly expose the falseness of “Ba'ath socialism” as a bourgeois nationalist deviation, which exploits imperialist pressure to impose class collaboration on workers. Those who support the Al-Assad government as “anti-imperialist” are deceived, especially given its collaboration with the Russian and Chinese governments in their geopolitical and commercial expansion plans.

Thus, we point out that the ongoing process represents the greatest defeat for the Syrian working class struggle since the beginning of the imperialist war. The trend towards territorial disputes, genocides and greater suffering for the Syrian people is certain. We express our deepest international solidarity with the Syrian people, both those who are still in Syria and those who have taken refuge in the last years of imperialist war, reinforcing the need for the Brazilian State to open its doors to receive any asylum seekers who come to Brazil seeking refuge from religious fundamentalism and the destruction promoted by the imperialist powers. We also express our full solidarity with the Syrian Communist Party, with whom we attempted to make contact on Sunday to better understand the progress of the struggle in the country.

National Political Committee  
Central Committee
Revolutionary Brazilian Communist Party


ES | Sobre los recientes acontecimientos en Siria: toda solidaridad con el pueblo y los trabajadores sirios

En la noche del sábado (07/12) al domingo (08/12), la capital de Siria, Damasco, fue tomada por las fuerzas opositoras al gobierno central de Bashar Al-Assad, marcando un momento de desenlace de la guerra imperialista en curso en el país desde 2011. Los grupos opositores fueron liderados en la toma de Damasco por el Hayat Tahrir al-Sham (HTS), o "Organización para la Liberación del Levante", que surgió como un brazo sirio de Al-Qaeda y que, como otros grupos que han intentado tomar el control del país, se presenta como una organización que busca subyugar a Siria bajo un régimen islámico fundamentalista salafista. El Partido Comunista Brasileño Revolucionario, con el fin de comprender la situación y señalar el rumbo que debe tomar una política internacionalista proletaria en la presente situación, presenta aquí su evaluación política preliminar sobre el proceso en curso.

Los planes imperialistas de toma de Siria no son un caso aislado, sino parte de los intentos de modificar la correlación de fuerzas geopolíticas en la región. Por un lado, los intereses de Israel en garantizar una dominación total del Medio Oriente, más allá de la ocupación del territorio palestino, corresponden a las necesidades económicas y políticas del bloque imperialista conformado por el régimen sionista y por los EE. UU.-OTAN-Unión Europea. El financiamiento de EE. UU. a diversos grupos fundamentalistas en la región es notorio desde hace décadas y, en el plano interno de los países, el imperialismo occidental suele apoyarse en los conflictos sectarios-religiosos preexistentes, estimulando las versiones más reaccionarias y menos seculares para dividir las sociedades en base a criterios religiosos, cuando no consiguen la cooperación de las clases dominantes locales para sus planes estratégicos, y minando la solidaridad de clase de los trabajadores. Por otro lado, hasta el mes pasado, también era notorio el plan de colaboración del Estado ruso con las fuerzas representadas por el gobierno de Bashar Al-Assad, buscando utilizar el país como una zona de influencia propia y de salida al Mar Mediterráneo, además de ser un freno contra la expansión de EE.UU-OTAN-Israel hacia el este; también los intereses de China en la "Iniciativa de la Franja y la Ruta", para crear condiciones para una disputa por la exportación de capitales y mercancías, pasan por la estabilidad política de toda la región del Medio Oriente y Asia Central bajo su influencia y con la colaboración del gobierno de Al-Assad.

Desde 2011, Siria está inmersa en una guerra imperialista estimulada por EE. UU. e Israel, así como por Turquía, que coloca al pueblo del país, particularmente a la clase trabajadora, en una situación dramática. La ola inicial de protestas espontáneas contra el gobierno burgués de Al-Assad fue rápidamente reprimida por el gobierno, bloqueando la posibilidad de hegemonía por parte de las fuerzas proletarias y populares; y permitir que la agitación social sea capturada por mercenarios fundamentalistas financiados por las potencias capitalistas occidentales sin ninguna otra tercera alternativa. A su vez, el gobierno de Al-Assad solo logró derrotar esta oposición armada gracias al apoyo militar ruso. Por eso, en nuestra visión, no se trata simplemente de una guerra civil, sino de una verdadera guerra imperialista, en la que tanto las guerrillas reaccionarias como el gobierno burgués sostienen sus posiciones con el apoyo de potencias imperialistas extranjeras, en nombre de las cuales libran una "guerra por poder delegado". Esto se hace aún más evidente por la rapidez con que el gobierno de Al-Assad cayó ante los combatientes opositores en un momento en que, atrapado en el frente ucraniano, el estado burgués ruso no pudo socorrerlo.

En este complejo panorama, comprendemos que el gobierno central de Al-Assad representaba, a pesar de su carácter burgués, la única alternativa contra la más completa colonización de Siria por las potencias imperialistas. Sin embargo, las propias fracciones burguesas que se unieron alrededor del gobierno de Al-Assad para combatir la intervención extranjera y sus maniobras fundamentalistas minaron cada vez más las bases de apoyo del gobierno central entre las masas del campo y la ciudad a través de sus propias políticas liberales y de austeridad, justificadas por los "esfuerzos de guerra". Así, si en los primeros años de la guerra el gobierno central recibió un amplio apoyo de diversos sectores proletarios populares, incluyendo al Partido Comunista Sirio, que negoció y consiguió tropas de combate armadas por el Estado compuestas solo por militantes comunistas para defender el país; en los últimos meses, la popularidad de Al-Assad se ha erosionado brutalmente debido a su propia política económica. Evaluamos que el propio carácter burgués del régimen y su vínculo con las aspiraciones imperialistas rusas, junto con el desgaste de la clase trabajadora, que tuvo que "elegir" entre el fundamentalismo religioso y la política burguesa, fueron causas de la derrota. La clase trabajadora fue utilizada como carne de cañón en un conflicto entre fracciones de la burguesía conectadas a intereses imperialistas. Como en otros casos de las últimas décadas, marcadamente el caso de Libia (donde la falsa "primavera libia" abrió espacio para un retroceso tan grande en la lucha de los trabajadores que incluso se reintrodujo la compra y venta de trabajadores esclavizados), el cambio de régimen debe representar un alineamiento político que no ofrece ninguna solución para el pueblo y la clase trabajadora sirios; por el contrario, dado el carácter fundamentalista de las fuerzas que tomaron el poder en el país, no sería sorprendente si se produjeran grandes persecuciones a grupos étnico-religiosos, como los alauitas o los cristianos maronitas, a las fuerzas seculares de trabajadores, como los propios comunistas, y a todas las minorías sociales, culminando en una restricción generalizada de las libertades civiles y democráticas.

Además, la caída del gobierno central de Al-Assad, incluso con las contradicciones de su política burguesa, ahora permite una nueva ola de incursiones imperialistas extranjeras, particularmente de Turquía, que disputa el control territorial del norte de Siria y que tiende incluso a colocar los territorios kurdos de Siria como objetivo, para revertir todo tipo de resistencia; e Israel, que ya ha avanzado sobre la región de los Altos del Golán y buscará cerrar el corredor de suministro de armas de la resistencia palestina que se operaba en el sur de Siria y en el Líbano, que también se encuentra en constante ataque. Desde hace algunos años, el plan de Israel para la región es denunciado por el Partido Comunista Sirio como un proceso de "balcanización" de la región, como el proceso sufrido por el pueblo yugoslavo después de la contrarrevolución en la región de los Balcanes, es decir, un proceso de estímulo imperialista a los conflictos nacionales, étnicos y religiosos como forma de minar el surgimiento de una unidad de la clase trabajadora local y facilitar así el avance de las posiciones extranjeras sobre los países.

Es fundamental subrayar, para el esclarecimiento de las posiciones proletarias, que existen algunas visiones dentro del movimiento obrero que deben ser combatidas para una comprensión revolucionaria, marxista-leninista, del proceso en curso.

La primera posición que debe ser duramente combatida es la posición trotskista-morenista y sus correlatas, cuya expresión de mayor difusión en Brasil es la del PSTU (LIT-CI). En un artículo publicado en su órgano Opinión Socialista, la posición sobre la guerra imperialista en Siria se presenta como una lectura totalmente acrítica respecto a las llamadas "fuerzas rebeldes". Presentando los avances contra el gobierno central de forma positiva y caracterizando la guerra imperialista como una "Revolución Siria", la posición trotskista-morenista, en la práctica, se alinea con los intereses imperialistas de Israel, Turquía y la OTAN en la desestabilización del país. En 2013, el PSTU defendió que los países imperialistas enviaran armas a los "rebeldes sirios" que luchaban contra el gobierno central de Al-Assad. Esta posición, que influye en el movimiento obrero con una total indiferenciación entre sus intereses y los intereses imperialistas, debe ser combatida y toda la solidaridad debe ser dada a la resistencia siria a los planes imperialistas impulsados a nivel nacional por los fundamentalistas religiosos.

La segunda posición, que también debe ser combatida, es la de apoyo irrestricto al gobierno de Bashar Al-Assad. La posición del Partido Comunista de Siria fue, durante todo el período de la guerra imperialista, agitar y hacer propaganda contra las reformas liberales y la política burguesa del baazismo sirio, incluso negociando su presencia en los esfuerzos organizados por el gobierno para combatir la interferencia fundamentalista e imperialista. El gobierno de Al-Assad, como otros gobiernos nacionalistas-burgueses, no representa los intereses del proletariado sirio y sus políticas liberales incluso influyeron negativamente en el resultado de la guerra. No sería a través del régimen de Al-Assad que la clase trabajadora y el pueblo sirios alcanzarían el socialismo. La acumulación de fuerzas hecha por los comunistas debe denunciar, en todo momento, la falsedad del "socialismo Baaz" como una desviación nacionalista y burgués, que se aprovecha de la presión imperialista para imponer un colaboracionismo de clases a los trabajadores. Se engañan aquellos que apoyan al gobierno de Al-Assad como un gobierno "antiimperialista", incluso por su colaboración con los gobiernos ruso y chino en sus planes de expansión de influencia geopolítica y comercial.

De esta manera, señalamos que el proceso en curso representa el punto de mayor derrota para la lucha de la clase trabajadora en Siria desde el comienzo de la guerra imperialista. La tendencia a las disputas territoriales, al genocidio y a un mayor sufrimiento para el pueblo sirio está marcada. Expresamos así la más profunda solidaridad internacionalista con el pueblo sirio, tanto con los que aún se encuentran en Siria como con los que se refugiaron en los últimos años de la guerra imperialista, reforzando la necesidad de que el Estado brasileño abra sus puertas para recibir a los solicitantes de asilo que lleguen a el Brasil refugiándose del fundamentalismo religioso y de la destrucción promovida por las potencias imperialistas.. Expresamos también toda nuestra solidaridad con el Partido Comunista Sirio, con quien ya hemos intentado contactar durante el domingo para comprender mejor el avance de la lucha en el país.

Comisión Política Nacional  
Comité Central  
Partido Comunista Brasileño Revolucionario