'Sobre os coletivos partidários, uma resposta ae camarada anônime' (L. Queen)

Esta lógica de termos coletivos partidários que na prática são parte orgânica do Partido, mas que pelo estatuto não são considerados militantes, sem direito sequer à debater as polêmicas do Partido, é justamente uma expressão máxima do federalismo.

'Sobre os coletivos partidários, uma resposta ae camarada anônime' (L. Queen)
"Outra questão importante é que essa estrutura organizativa também restringe certos debates anti-opressão aos coletivos, excluindo dos militantes do Partido a obrigação de discutir estas questões, o que considero um reflexo do obreirismo."

Por L. Queen para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Camaradas, gostaria me deter mais no assunto, escrever uma tribuna mais elaborada e trazer referências que embasem a discussão, mas devido ao período de finalização da minha dissertação, não tenho tempo para tal. Contudo, quero escrever uma resposta (mesmo que rápida) ae camarada anônime que publicou a tribuna 'Afinal para que servem os coletivos?' e tentar contribuir para esse debate.

Como o camarada bem pontuou, apesar dos coletivos serem considerados “as frentes de massas do PCB, abrigando militantes e não militantes do Partido tendo como objetivo prático levar a linha política do Partido para os movimentos sociais e trazer de volta acúmulos sobre esses movimentos”, são também os coletivos que “tocam TODAS as tarefas do Partido, organizam os atos, compõe a comissão de segurança, produzem o que se tem de mais avançado de teoria dentro do complexo partidário dentre outras tarefas”. Acho que o desenvolvimento desse raciocínio nos leva à compreensão de que SIM, os coletivos são o Partido também na prática, mesmo que formalmente não possuíam este direito (até o início do movimento pela Reconstrução Revolucionária do PCB e o surgimento de seu Manifesto).

Esta lógica de termos coletivos partidários que na prática são parte orgânica do Partido, mas que pelo estatuto não são considerados militantes, sem direito sequer à debater as polêmicas do Partido, é justamente uma expressão máxima do federalismo. Até mesmo a maneira como estes coletivos operam, com estrutura organizativa própria, é parte desse federalismo. Isso acarreta N problemas: falta de apreensão dos acúmulo produzidos pelos coletivos; falta de coesão à nível, local, regional e estadual entre os trabalhos do complexo partidário; problemas de democracia interna, já que o Partido é quem ‘dita a linha’ e os coletivos são aqueles que se submetem à essa linha.

Essa própria estrutura organizativa gera a separação entre trabalho prático e intelectual, atitude não só anti-leninista, mas anti-marxista em essência (o que deveria ser uma redundância, contudo neste mundo repleto de tendências marxistas liberais, rebaixadas e oportunistas, o leninismo foi colocado como apenas mais uma expressão do marxismo, e não seu desenvolvimento e expressão máxima sob a era do imperialismo).

Outra questão importante é que essa estrutura organizativa também restringe certos debates anti-opressão aos coletivos, excluindo dos militantes do Partido a obrigação de discutir estas questões, o que considero um reflexo do obreirismo.

Mais uma questão: militantes com militância dupla ou tripla, que participam de instâncias de direção dos coletivos e de células do Partido, tem um trabalho dobrado. Do ponto de vista organizativo é também um desperdício de esforço humano a criação de organizações paralelas locais, estaduais e nacionais para os coletivos, congressos separados.

Há ainda um último ponto que considero necessário de ser discutido e diz respeito à tática: devemos criar coletivos partidários para levar a linha política do Partido para os movimentos sociais? Ora, em que momento estes coletivos se inseriram nos movimentos sociais? Eu não tenho informações sobre isso, portanto fica a pergunta: nós estamos, através destes coletivos, disputando e construindo espaços de massa (como, por exemplo, frentes de mulheres, casas de acolhimento de pessoas LGBTs, fórums mais amplos, etc) ou estamos tentando recriar estes espaços a partir dos coletivos? Em que medida estes coletivos estão servindo para nos aproximarmos dos movimentos sociais ou para nos separarmos destes como a “alternativa” classista?

Dito isto tudo camaradas, gostaria de fazer coro ao camarada Nicolas CF que advoga pela especialização de células partidárias (embora apresente algumas discordâncias em relação à pontos específicos da proposta dele, as quais espero retornar em um momento oportuno): não seria o caso de ACABARMOS com as estruturas organizativas que hoje chamamos de coletivos partidários e trabalharmos na perspectiva de células com trabalhos específicos para setores da classe trabalhadora. Ou melhor ainda, células cujo trabalho seja o trabalho em algum movimento específico, definido pelas direções e com militantes DO PARTIDO girados para estes trabalhos? Neste caso, todos que hoje integram os coletivos partidários seriam integrados ao Partido e teríamos células para trabalho na juventude, nos movimentos sociais, no meio sindical, etc. Estas células estariam todas centralizadas sobre uma mesma coordenação local ou comitê local e seus trabalhos seriam não só coordenados entre si, mas teríamos uma capacidade melhor de subir os acúmulos referentes a esses movimentos sociais.


Um adendo sobre a questão dos “giros”.

É sintomático do federalismo que as direções regionais tenham pouca capacidade de dividir os militantes de uma região para trabalhos específicos. Quando fui Sec. Pol. do meu núcleo, teve um dado momento que um camarada pediu para que fosse transferido para outro núcleo, que era mais perto de sua casa e que possuía mais interesse nos trabalhos conduzidos por lá. Não acho de todo errado que um militante faça um pedido desse, acho que pode haver motivos válidos para tal. Durante este pedido de transferência, o secretariado debateu sem a presença da assistência e, à época, eu disse que não fazia sentido discutirmos isso sem a assistência, posição que mantenho. São as direções regionais que tem essa prerrogativa de dividir os trabalhos dos militantes aonde for necessário. Não só isso, eles precisam de fazer isso para superar barreiras em locais que temos pouca inserção.

Deveria ser trabalho das direções avaliar quais são os movimentos sociais mais propícios para nossa inserção e realocar militantes experientes para essas tarefas (que podem então, recrutar outras pessoas para a célula, pessoas que estão incluídas na vida orgânica destes movimentos que pretendemos disputar).

Saudações comunistas

L. Queen

UJC/Unicamp