'Sobre o problema da inserção' (Camarada José Maria)
O protagonismo revolucionário virá quando o trabalhador for comunista, e não quando ele for apenas influenciado por comunistas. Os mecanismos são inúmeros para fazer com que os trabalhadores enxerguem a necessidade do socialismo, pois a vanguarda deve também ser massificada.
Por Camarada José Maria para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
O que nós comunistas temos como uma de nossas maiores armas é também o que temos de principal para oferecer no processo de mobilização da classe revolucionária: nossa ideologia.
Um processo revolucionário deve ser construído pela classe trabalhadora e protagonizado pela mesma, e não construído para os trabalhadores por uma vanguarda que atua de forma à parte, e não junto, dessa classe. Para isso acontecer, é essencial que os trabalhadores em nossos espaços de atuação compartilhem das nossas convicções ideológicas, tenham a mesma visão ideológica revolucionária que temos, e que passem a politizar e trazer novos militantes para a construção da revolução, protagonizando a propaganda, a agitação, as ocupações, greves, e lutas no geral.
Isso só será possível quando abandonarmos a ideia elitista e intrínseca à esquerda brasileira de que temos que nos inserir nos espaços e influenciar as ações alheias — o que remete a ideia de uma revolução para, e não pela, classe trabalhadora — resultando numa forma de entrismo que apresenta bandeiras com foice e martelo muito belas em fotos, mas que são tiradas das paredes depois dos eventos.
Essa forma de inserção nos espaços leva muitos militantes à exaustão por tocarem tarefas e que nos trarão pouco ou nenhum ganho político, gerando frustração. Cito como exemplo dois locais em que o partido atua no Espírito Santo: um sindicato e uma ocupação. Em ambos locais o partido está presente há mais de ano e tivemos nenhum militante novo em decorrência dessas atuações, o que já deveria causar desconforto, mas no caso da ocupação a situação é ainda mais preocupante: a líder da ocupação quer se filiar a outro partido apenas para concorrer as eleições.
Não restam dúvidas que o modo de inserção vigente ocorre com nossos militantes tocando tarefas sem que nossa ideologia seja declarada e escancarada de forma a nos trazer ganhos políticos reais. É preciso falar em alto e claro tom sobre comunismo, revolução, libertação da exploração e superação do capitalismo, com fim de criarmos novos comunistas e militantes nesses ambientes para que possam então protagonizar o processo em suas regiões.
O protagonismo revolucionário virá quando o trabalhador for comunista, e não quando ele for apenas influenciado por comunistas. Precisamos de: teatros públicos, escolas de formação, brigadas de agitação e propaganda. Os mecanismos são inúmeros para fazer com que os trabalhadores enxerguem a necessidade do socialismo, pois a vanguarda deve também ser massificada.
Em outras palavras, devemos propagar ideologia falando abertamente sobre o que defendemos. Propagar abertamente nossa ideologia é sem duvida mais perigoso e cria maior exposição do que a falida tática de entrismo *que busca agir como uma influência externa as organizações*, entretanto cabe aos revolucionários enfrentar o desafio com disposição e coragem, pois nenhuma ação que de fato ameace o poder da burguesia vai acontecer sem criar perigos reais. Busquemos elevar a consciência de nossa classe hasteando nossa bandeira e não mais tocando tarefas que não trarão ganhos políticos, apenas frustração e exaustão em nossas fileiras.