'Sobre o órgão central e polêmica das filiações democráticas' (F.Martins)
Dedicar nossos esforços na construção do órgão central agora, além de garantir a agitação da nossa linha durante as eleições, permitirá que no futuro ( futuro bem próximo acredito eu) estarmos melhor preparados para disputar eleições e para ser o agente decisivo na revolução brasileira.
Por F.Martins para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Camaradas, pretendo colocar uma breve contribuição ainda sobre o debate da nossa política eleitoral.
Na sua última tribuna o camarada Jones faz apontamentos sobre a nossa incapacidade de atuar sobre diversos aspectos concretos da luta de classes no Brasil. O apontamento do camarada é verdadeiro, hoje a RR e o movimento comunista em geral tem uma influência quase nula dentro da luta de classes brasileira A questão central é como reverter a situação. Acredito que o caminho para isso esteja nos debates sobre o órgão central e forma organizativa, que felizmente foram assuntos amplamente debatidos dentro das tribunas de debate.
Acredito que a falta de atuação da nossa militância nos eventos de Porto Alegre não se deveu a uma falta de compromisso com a nossa classe dos militância da região, muito menos por um “mero problema organizativo” já que os problemas organizativos que temos herdados do PCB-CC são bem mais profundos para ser tratados como um mero detalhe.
“(...)A elaboração de um jornal político para toda a Rússia - escrevia-se no Iskra - deve ser o fio condutor: seguindo-o, poderemos desenvolver ininterruptamente essa organização, aprofundá-la e alargá-la (isto é, a organização revolucionária sempre pronta a apoiar todo protesto e efervescência). Por favor, digam-me: quando, os pedreiros colocam em diferentes pontos as pedras de um enorme edifício, de linhas absolutamente originais, esticam um fio que os ajuda a encontrar o lugar justo para as pedras, que lhes indica o objetivo final de todo o trabalho, que lhes permite colocar não apenas cada pedra, mas até cada pedaço de pedra que, cimentado ao que o precedeu e ao que o sucede, formará a linha definitiva e total. Será isto um trabalho "'de escrita"? Não é evidente que, hoje, atravessamos em nosso Partido um período em que, possuindo as pedras e os pedreiros, falta-nos exatamente esse fio que fosse visível para todo o mundo e ao qual cada um pudesse se ater?(...)”
(Lenin, O que fazer ?, Cap 5)
Essa citação para mim expõe o motivo da falta de capacidade de ação no nosso partido na luta de classes. Nosso trabalho político nunca foi construído em torno de um órgão central. Muitas das nossas falhas organizativas como, a sobrecarga da militância, a dificuldade na especialização de tarefas, a reprodução do federalismo, estão diretamente ligadas a isso.
A falta desse fio se mostra presente inclusive na própria tribuna do camarada Jones, quando ele debate a atuação do vereador Gilmar Santos. Não é apenas o camarada Ivan que desconhece a atuação desse vereador, acredito que a esmagadora militância também desconheça e isso se dá pela falta de um órgão central que seja capaz de receber os repasses de toda a militância do brasil e transformá las em sínteses e direcionamentos políticos. Um jornal organizado por todo o brasil seria capaz de denunciar os desvios oportunistas do campo democrático popular e também de exaltar e abrir pontes para a construção com pessoas e organizações que mantenham o compromisso popular mesmo indo contra o caminho seguido pelo do próprio partido, como no caso do vereador Gilmar Santos.
Neste sentido, acredito que hoje nossa principal tarefa nesse momento, seja a construção do órgão central junto com um complexo multimidiático de produção de material agitativo. Todos os militantes do partido devem estar direta ou indiretamente envolvidos nessa tarefa, seja participando de instâncias especializadas de logística do jornal, seja formulando como reestruturar o trabalho político existente em torno do jornal.
Não podemos cometer o erro de achar que essa construção é uma tarefa simples que vai acontecer naturalmente. Essa tarefa irá demandar uma grande quantidade de trabalho e de debates, e teremos de superar diversos obstáculos e travar diversas polêmicas em torno disso.
Esse é o principal elemento que me faz ser contrário a qualquer debate sobre filiação democrática ou participação direta nas eleições nesse momento. Sem um órgão central minimamente estabelecido não seremos capazes de fazer uma disputa real da hegemonia proletária e vamos acabar nos colocando a reboque de outras forças que em sua maioria, apesar das exceções, não estão caminhando no rumo da revolução brasileira.
Por outro lado, dedicar nossos esforços na construção do órgão central agora, além de garantir a agitação da nossa linha durante as eleições, permitirá que no futuro ( futuro bem próximo acredito eu) estarmos melhor preparados para disputar eleições e para ser o agente decisivo na revolução brasileira.
Por último, concordo com o camarada Jones sobre a necessidade de não sermos um partido de testemunhas. Não adianta em nada ter a linha política mais avançada se não formos capazes de intervir na luta de classes. Porém não acredito que a disputa das eleições burguesas de 2024 seja a tarefa que irá nos colocar na vanguarda da luta de classes brasileira.
Longe de encerrar o debate aqui, espero que esse debate continue nas próximas tribunas, pois só através das polêmicas forjar a linha do partido revolucionário.