'Sobre o desmanche do potencial revolucionário do partido pela sua própria organização interna' (Contribuição anônima)
Na minha visão, a forma como nos organizamos internamente e escolhemos nossas direções não nos aproxima de um partido comunista que será vanguarda durante uma revolução.
Contribuição anônima para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Saudações, camaradas!
Venho através desta tribuna abordar um tópico polêmico e necessário de reflexão, principalmente, nesse momento de reconstrução do partido. Na minha visão, a forma como nos organizamos internamente e escolhemos nossas direções não nos aproxima de um partido comunista que será vanguarda durante uma revolução.
Não tenho a intenção de desmerecer o trabalho mais que centenário de organização do partido nem dos militantes que dedicam suas vidas para somar às nossas fileiras. Contudo, se realmente estamos nos propondo a uma reconstrução devemos nos atentar também as formas de eleger direções e as consequências que a prática atual tem trago.
Um dos problemas claros é a sobrecarga de militantes que pegam múltiplas direções + assistência + tarefas da base + vida pessoal + trabalho e/ou estudo. É impossível ter agilidade e plena capacidade para resolver problemas sejam esses do movimento estudantil ou de assentamentos, que muitas vezes exigem uma rapidez no desenvolvimento das tarefas e que, na prática, demora-se um mês apenas para achar horário para que todos consigam participar de uma reunião. Essa demora inclusive desilude muitos militantes que não são acolhidos pelo partido nos momentos de maior necessidade, quando estão lidando com as consequências bem reais de militar, como ameaças e perseguições.
A solução que enxergo não é retirar camaradas que estão como direção da base, pois não acredito que seu trabalho possa ser bem feito removido da realidade da militância e vivência que a base traz, e sim que as direções rodem mais. Devemos dar oportunidade para novos camaradas que já mostraram potencial para serem novos quadros ao invés dos mesmos militantes pegarem múltiplos cargos de direção. Isso incentiva os militantes e agiliza o processo de organização interna por retirar um peso de camaradas que simplesmente não tem tempo suficiente para dar conta de todas essas importantes tarefas.
O que existe agora é a repetição dos mesmos nomes de sempre nas instâncias de direção. Isso se dá de duas maneiras principais: ou a pessoa é um quadro já reconhecido e, portanto, visto como confiável para ser votado ou é um militante mais antigo, ao longo do tempo muitos camaradas “quebram” por não conseguirem conciliar as tarefas com a vida fora da militância e acabam escolhendo se afastar do partido (quem checa esses camaradas e vai atrás de saber se tem vontade e condições para voltar a militar?) e desse modo quem sobra assume um cargo de direção em nome (não sempre somente) da experiência. Seguindo esse ciclo todo nosso tamanho e potencial revolucionário é desperdiçado, pois quem fica é quem aguenta e aguenta até não aguentar mais.
Proponho uma formulação científica de registro de quadros. Temos um plano nacional de formação, por que não basear a escolha de direções, obviamente não só, no nível que o camarada está de leitura desses textos?
O que temos agora, e que é natural, é uma pequena porcentagem do total de militantes que realmente estuda a fundo sozinho. Precisamos de mais formações coletivas para conseguirmos justificar nossas ações com base teórica. Nossas reuniões devem incluir a formação interna e que ela seja de qualidade. Os camaradas que sabem mais contribuindo para os que sabem menos aprendam, mitigando essa ideia que alguns têm de que para certos textos sua presença no momento de formação é dispensável.
Espero que essa tribuna incite o debate e que realizemos um ótimo congresso!