'Sobre escalar uma grande montanha e a singularidade do DF' (Matheus Ribeiro)

Devemos entender que a jornada em direção ao socialismo é marcada por erros, correções, ajustes e aprendizado contínuo e não é uma estrada reta e livre de obstáculos, mas sim um caminho complexo e desafiador.

'Sobre escalar uma grande montanha e a singularidade do DF' (Matheus Ribeiro)
"O importante é reconhecer nossos avanços, mesmo que modestos, estabelecer sinceras autocríticas e aprender com nossos erros para que possamos progredir de maneira mais sólida e eficaz."

Por Matheus Ribeiro para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

“Vamos imaginar um homem escalando uma montanha muito alta, íngreme e até agora inexplorada. Vamos assumir que ele superou dificuldades e perigos sem precedentes e foi bem sucedido em alcançar um ponto mais alto que qualquer um de seus predecessores, mas ainda não atingiu o cume. Ele se encontra em uma posição onde não apenas é difícil e perigoso prosseguir na direção e ao longo do caminho que ele escolheu, mas positivamente impossível. Ele é forçado a dar um passo atrás, descer, procurar outro caminho, mais comprido, talvez, mas o único que irá permitir-lhe chegar ao cume. A descida da altura que ninguém antes havia alcançado prova, talvez, ser mais difícil e perigosa para nosso viajante imaginário do que a subida – é mais fácil escorregar; não é tão fácil escolher um lugar para apoiar o pé; não é algo tão excitante quanto aquilo que se sente ao subir, direto ao objetivo, etc. É preciso dar um nó na corda em torno de si mesmo, gastar horas com todo o material de escalada para escavar apoios para os pés ou uma projeção na qual a corda possa ser amarrada firmemente; é preciso mover-se a passos de lesma, e mover-se para baixo, descendo, distante do objetivo; e não se sabe onde essa descida extremamente perigosa e dolorosa vai terminar, ou se há um desvio minimamente seguro por onde se possa subir mais corajosamente, mais rapidamente e mais diretamente ao cume.”[1]

Vladímir Ilich Uliánov

Recentemente, solicitei um afastamento temporário da UJC e PCB a fim de preservar minha saúde mental diante dessa crise e um camarada me enviou o texto para ajudar na reflexão. Eu já conhecia o escrito, mas, especialmente agora, revisitá-lo provocou um efeito mais profundo. Digo isso porque é justamente ver todo o trabalho sólido que tivemos até aqui se desmanchando no ar e todo o sacrifício que tivemos sendo profanado que me tira o ânimo. À essa altura fica meio redundante dizer isso, mas eu, assim como todos ao meu redor, abri mão de momentos inegociáveis da minha vida a fim de construir uma UJC consequente, pensando e cumprindo tarefas ao redor do DF e do Brasil com a esperança de que estávamos avançando.

Essa experiência se torna ainda mais agonizante quando você sente na pele que os processos de uma organização comunista não coletivizam apenas as vitórias, mas fazem todos amargarem as derrotas e dores. Saímos muito bruscamente de um processo de celebração no pós 59º CONUNE para um estado de ataques, assédios e violência pública, espetacularizada e alavancada pelas redes. Sem dúvidas, pra mim, essa é a pior parte. Esse contraste de “camaradagem” dos últimos meses e a enorme evasão de quadros foram a “descida da altura que ninguém antes havia chegado”.

No artigo que mencionei, essa é uma metáfora em que o homem escalando representa o proletariado russo que “levantou-se a uma altura gigantesca em sua revolução”. Uma vitória jamais vista no mundo. Apesar disso, Lênin prega (resumidamente) que é preciso reconhecer os recuos que devem ser feitos a fim de avançar ainda mais, sem que isso provoque desânimo. “Nós devemos ter isso claro e admiti-lo francamente; pois não há nada mais perigoso que ilusões” – ele diz. Acho que isso tem a ver com os motivos que me levam a escrever essa carta. A fim de não desanimar, vou tentar extrair alguma síntese do que fizemos, onde erramos e em que acertamos a partir de certas particularidades que vivenciei na militância. É essencial que tenhamos uma compreensão precisa e tangível das nossas ações. Ao fazer isso, somos capazes de manter nossos pensamentos livres de confusão e entendemos claramente como chegamos aqui (e se valeu de alguma coisa)

Advirto que, em alguns momentos, essa carta pode assumir traços personalíssimos, como se eu estivesse tentando me comunicar com certos indivíduos específicos. Isso se dá porque nestes momentos estou realmente me comunicando com indivíduos específicos, que recentemente bombardearam as redes com textos indignos, cujas mentiras precisam ser esclarecidas. Apesar disso, me comprometo a seguir na análise que me referi nos parágrafos anteriores.

* * *

Iniciemos então com algumas breves contextualizações acerca da realidade do Distrito Federal. Hoje nos organizamos em seis núcleos, dois dos quais estabelecemos este ano, desde o último CONUJC, à luz das resoluções aprovadas da UJC e com base em um plano político elaborado pela CR que contempla o contexto socioeconômico do DF e suas peculiaridades. Definir uma tática de inserção nos espaços da juventude perpassa, por óbvio, pela organização política da juventude presente nesses espaços em núcleos da nossa organização.

Mente quem diz que falta embasamento político nas medidas da Coordenação. Definimos como prioridade, desde o princípio, o estudo e mapeamento político-social da militância visando uma possível reorganização estratégica. Um dos eixos desse planejamento é a congregação dos acúmulos dos núcleos, além do registro profissional e seguro dos documentos e atas, uma vez que tivemos uma dificuldade profunda relacionada à falta de documentação dos trabalhos da CD anterior. Esse mapeamento foi apresentado em Ativo Distrital, marcado com o fim de fazer um balanço dos acúmulos e perspectivas dos núcleos.

Apesar de alguns momentos de tensão, essa constante abertura ao diálogo com as bases permitiu um aprimoramento significativo de nossa política, a obtenção de dados relevantes, a formação de quadros e um aumento substancial em nossa estratégia de recrutamentos. Introduzimos reuniões regulares com os secretários, solidificamos um planejamento de curto, médio e longo prazo de agitação e propaganda com o objetivo de profissionalizar os militantes, estabelecemos uma brigada mensal de venda de jornais com todos os núcleos e elevamos os recursos financeiros da UJC a um patamar de autossuficiência, entre outros exemplos. Não por acaso, tivemos um resultado substantivo durante as disputas de delegados do CONUNE, tanto na UnB como nas particulares, que contou com a participação orgânica de rigorosamente todos os núcleos da UJC-DF, mesmo daqueles não relacionados ao Movimento Estudantil. Isso sem mencionar a vitória da nossa chapa no DCE Honestino Guimarães na UnB, criação do bloco de carnaval da UJC Tanquinho Soviético, inserção no RECITA de Taguatinga, Centros Acadêmicos que compomos gestão, inserção de vanguarda e orgânica na recém estabelecida UnDF, entre outros.

Não me alongarei aqui discutindo a natureza política de todas nossas atividades, já que esse não é o propósito desta carta. No entanto, é relevante destacar que indivíduos ineptos de compreender politicamente as próprias ações dificilmente conseguirão se integrar em uma organização revolucionária. Uma pessoa assim tende a ter o péssimo hábito de negligenciar importantes tarefas confiadas (justamente por não entender sua relevância política), insultar gratuitamente aqueles que chamam de camaradas e implodir espaços de organização, fundamentando-se em seu individualismo. Militantes deste calibre abandonam as lutas e só retornam à reivindicá-las em momentos de crise, a fim de satisfazer o próprio ego, enganando, instrumentalizando e corrompendo seus pares.

A esses indivíduos rasteiros – aos quais só restou a pequena política – eu vou me abster de tecer críticas futuras. Prefiro reservá-las para aqueles a quem ainda desejo um caminho de progresso.

Retomando os momentos de tensão aos quais me referi, eu devo confessar que cometi graves erros na tarefa de direção. Reflexo da minha inexperiência, deixei que a relação da atual Coordenação Regional da UJC com o núcleo de Taguatinga herdasse desentendimentos que este último possuía com a CD antiga. Olhando para trás, a CRUJC deveria ter priorizado considerar toda contribuição como válida e ter tratado com a devida atenção. Definitivamente desconsiderei que meu papel, ao ser apresentado a novas perspectivas, é, em primeiro plano, o de validação (ainda que sucedido de discordância).

Reporto especificamente ao documento Proposta de Experimentação de Técnicas Organizativas a Fim de Estimular Moral (PETOFEM), projeto idealizado pelo núcleo de Taguatinga e proposto à CR como inovação organizativa para a UJC. Trata-se de um estudo motivado pela necessidade de estimular militantes da UJC em tarefas e evitar a inorganicidade. Não considero que minha repulsa ao proposto seja decorrente de uma falsa ideia de superioridade intelectual, como podem achar os camaradas envolvidos. Tampouco foi minha intenção transparecer qualquer tipo de arrogância quanto ao projeto ou seus locutores. Mas admito que considerei o documento como claramente inconciliável com a forma organizativa da UJC e o que ela se propõe ser.

O PETOFEM, no documento que me foi apresentado, em seu capítulo de desenvolvimento/operacionalização (fls. 7/8), propõe fundamentalmente dois tipos de ações que visam a “exaltação da virtude” e “correção dos vícios” (sic) respectivamente.

A ideia é criar um ambiente amistoso em que o que é bem feito é reconhecido pelos seus pares.

1. Incentivo com o "mandou bem" (nome passível de mudança). Os membros podem sempre que sentirem vontade enviar anonimamente um "mandou bem" para outro membro de núcleo. O critério do elogio deve ser feito mediante a prática concreta do membro, seja sua atuação organizativa ou em uma tarefa. A forma como esse envio será realizado pode ser bilhetes de papel, formulários ou outros meios eletrônicos.

2. Membro do coletivo (nome passível de mudança). Dentro de uma comissão ou outro coletivo interno ao núcleo, como o secretariado, a cada reunião cada membro anonimamente pode votar quem nessa semana se destacou em suas tarefas dentro desse coletivo. Restrita a votação para os membros do coletivo. 3. Heroína e Herói do mês (nome passível de mudança). Na reunião final do mês, há o balanço pelo secretariado de quantos "mandou bens" os membros foram enviados, quantos membros do coletivo foram recebidos e quantas horas foram dedicadas mensalmente. A divulgação de quantos "mandou bens" foram enviados para cada membro que recebeu pode ser pública nessa reunião.

4. Eventos de integração. Desde campeonatos a partidas amistosas em esportes ou jogos coletivos(preferencialmente). Sessão(pode ser online) de filmes, partidas esportivas ou leituras conjuntas.

[...]

Quando as ações afirmativas não são bem implementadas, pode ser necessário fazer o levantamento de métricas seguindo a lógica do Xtrike (nome passível de mudanças) e penalidades. Essas métricas tem caráter indicativo para o secretariado e estão subordinadas à decisão coletiva e a análise da particularidade de cada caso.

1. Um membro pode levar um Xtrike, que funciona como um aviso, por faltar reuniões duas reuniões consecutivas ou por não participar de uma tarefa (quem aplica o xtrike seria o secretariado ou o responsável pela tarefa). Após duas semanas um Xtrike é removido.

2. Caso um membro tenha 3 xtrikes consecutivos, ele recebe uma penalidade. As penalidades são removidas ao final do ano. Caso ummembro tenha 2 penalidades, seu apoio financeiro pelo núcleo pode ser congelado. Caso tenha 3 penalidades pode ser convidado a se retirar do núcleo e da organização. (grifo meu)

Data venia, minha avaliação à época – que permanece inalterada– é a de que o projeto comete graves vícios liberais de organização, resgatando formulações propostas em teorias weberianas e clássicas de administração burocrática se engessando em um produtivismo exacerbado e normatização vazia de práticas que já são comuns e naturais na organização, como elogios e agradecimentos, apenas inserindo-os em uma espécie de gamificação da militância. A lógica empresarial de estabelecer verdadeiros funcionários do mês na UJC, remunerações informais de validações e penalidades determinadas e extra-estatutárias (representadas por “Xtrikes”), não só representa um desvio do centralismo democrático, como possivelmente gera complicações jurídicas ao se aproximar perigosamente dos requisitos formais de relação de emprego, conforme a CLT, resguardadas as devidas proporções.

Cometi um erro em não ter exposto minhas preocupações de forma clara aos agentes que me apresentaram o PETOFEM. Reconheço que, se tivesse tido o tato, dureza e retórica suficiente à época, dificilmente essa questão seria tão instrumentalizada pelos membros do núcleo de Taguatinga para atacar a CR e a UJC-DF. Mas retomarei mais a fundo o problema da instrumentalização das pautas do núcleo em momento posterior.

Minha esperança, portanto, é que fique esclarecido aos camaradas que em momento algum houve uma “rejeição explícita ao avanço”, como amplamente veiculado em textos recentemente. Pelo contrário, apesar das discordâncias, a CR resolveu atender a imediata demanda do núcleo de encaminhar o documento à CN e solicitar que fosse agendada uma reunião para posterior apresentação. Na verdade, o próprio assistente da instância nacional foi responsável por embargar o projeto e futuras discussões até que a Comissão Executiva Nacional pudesse sintetizar um parecer.

Em recente reunião, o mesmo assistente comprovou que enviou o documento completo à CEN, mas comunicou que o referido camarada “não teve tempo para apreciar o projeto diante das demandas do CONUNE”. Não houve má-fé, camaradas. Jamais desejei menosprezar o trabalho do núcleo de Taguatinga que, em última análise, considero válido e importante pela iniciativa de tentar sanar o problema da inorganicidade e sobrecarga. No entanto, não fui convencido da execução do projeto pelos motivos expostos anteriormente, e devia ter deixado isso mais explícito – conjugado com uma escuta ativa – a fim de tentar o convencimento dos camaradas envolvidos e mediarmos ao encontro de uma proposta mais condizente com nossa forma organizativa.

Por isso faço a autocrítica.

* * *

É igualmente correto que o núcleo de Taguatinga deva iniciar um processo de autoanálise. No momento, seus membros concentram-se excessivamente em adotar uma perspectiva analítica externa, negligenciando questões cruciais dentro de sua própria base. Quero salientar que isso de maneira alguma diminui as conquistas significativas alcançadas pelo núcleo, incluindo sua participação na Associação de Moradores de Taguatinga, suas atividades recreativas e mobilizadoras, e a manutenção orgânica de seus membros. Jamais pretendi negar essas conquistas, uma vez que são fonte de grande orgulho e são destacadas diariamente por Taguatinga. Minha intenção é simplesmente lançar luz sobre equívocos que observei no núcleo e criar a possibilidade de um avanço entre os camaradas que o compõem. No percurso, devo intercalar autocríticas por minha falha em identificá-los mais cedo e em melhores circunstâncias, como se esperaria de alguém desempenhando um papel de liderança.

Começo com o que considero o problema mais grave, dado que este estendeu suas raízes no núcleo de tal maneira que irá influenciar diversos outros desvios resultantes. Pois bem, apresento o seguinte argumento com uma certa dose de segurança, visto que percebo que se trata de uma situação que, até certo ponto, já foi parcialmente reconhecida pelo próprio núcleo. Hoje, o núcleo de Taguatinga é um espaço extremamente machista; A prática de violência verbal e a hostilidade direcionada a figuras femininas se tornaram completamente normais em seus espaços; Mesmo novos membros rapidamente adquirem práticas que se assemelham muito a características de redutos “incels” e “channers”.

Não estou me referindo apenas aos dados percentuais da relação entre militantes homens e mulheres, como podem pensar em um primeiro momento. Embora seja verdade que o núcleo seja majoritariamente composto por homens, isso por si só não é a causa primordial da política agressiva que decorreu das práticas recorrentes do núcleo de Taguatinga. Um gráfico simples com divisão entre cores vermelha e azul não chegará nem perto de abordar a profundidade desse problema. Na realidade, é a avaliação subjetiva das condutas que desempenha um papel crucial nesta avaliação. São os gritos, ironias e humilhações públicas dirigidos às militantes mulheres que se envolvem com o núcleo, que inviabilizam a participação feminina. Qualquer mulher que tenha participado de uma reunião ordinária do núcleo de Taguatinga na época em que outras camaradas mulheres também estavam presentes, com certeza não encontrou um ambiente acolhedor, para dizer o mínimo.

Como exemplo, trago à tona uma situação repugnante que aconteceu recentemente, na qual um membro do núcleo de Taguatinga se envolveu em algo que beira o assédio tipificado na justiça burguesa, a uma camarada mulher da CR. Ele insinuou e persistiu pessoalmente e por mensagens dando a entender que, ela, por se tratar de uma mulher, era extremamente vulnerável e incapaz de compreender verdadeiramente os detalhes da crise no PCB, afirmando que iria ajudá-la a entender. Em outra oportunidade também recente, os militantes homens do núcleo, agindo em conjunto, iniciaram um processo agressivo de xingamentos e humilhações verbais para a camarada designada como representante da instância intermediária. Iniciaram provocações, deboches, utilizaram memes da internet para fazer pouco caso do que ela expunha, compararam-na com algozes da ditadura cívico-militar e, por fim, a retiraram do grupo do núcleo a mando do secretário político.

Em resumo, mesmo que seja notável que o núcleo esteja tomando medidas para abordar o problema da baixa representatividade por meio de uma política de recrutamento direcionada a esse aspecto, é improvável que essas eventuais militantes recrutadas se mantenham organizadas enquanto Taguatinga não revisar suas atitudes e práticas. É importante enfatizar que a situação é tão disseminada que seria um equívoco atribuir a responsabilidade a apenas um ou outro indivíduo. A responsabilidade é compartilhada: o núcleo de Taguatinga por não ter identificado adequadamente o problema e a CR por não ter protegido suas militantes e combatido essas ações. Não vou entrar em mais detalhes sobre essas práticas violentas, primeiramente para respeitar a privacidade das camaradas que foram vítimas e que relataram a situação para mim, e também porque esse não é o objetivo principal desta carta.

Além disso, dentre as consequências perversas decorrentes da questão do sexismo em Taguatinga, destaco a prática de instrumentalização que mencionei anteriormente. O núcleo não apenas adotou essa prática cruel de forma profissional, mas também a disseminou dentro da UJC-DF. Trata-se da realização de avaliações extremamente tendenciosas de eventos pontuais, transformando-os em ferramentas para gerar tensionamentos, conflitos e desgaste da direção. Um exemplo baseado no que já descrevi nos parágrafos anteriores: na "Carta de Taguatinga à CN-UJC, CR-UJC-DF, CR-PCB-DF", divulgada ao público em geral em 21 de agosto, o núcleo apresenta um tópico intitulado “As dinâmicas tóxicas e adoecedoras nessa e em outras instâncias do complexo partidário” a fim de sustentar que:

“[...] não é incomum à instância, haver giros de secretarias e de assistência quase de imediato à posse. Nenhum assistente conseguiu se manter mais do que 3 meses na tarefa antes de relatar sobrecarga e/ou adoecimento. Tivemos 4 assistentes nos últimos 12 meses com 5 trocas. Isso é naturalizado, não há autocrítica disso, além de pedir desculpas individuais como se fossem autocrítica marxista-leninista e os coordenadores permanecem presos a uma lógica de penitência e de auto sacrifício.” [grifo meu]

De fato, camaradas, não há autocrítica disso. No entanto, lamentavelmente, aqueles que deveriam ser os autores dessa autocrítica estão utilizando uma política organizada de desgaste, violência e linchamentos coordenados para provocar evasões e utilizar como argumento de que a CR tem a intenção de prejudicar seus próprios militantes. Isso é verdadeiramente cruel, camaradas. Se o núcleo de Taguatinga é o único na UJC-DF que não conseguiu receber uma assistência perene, então deveria olhar para si e buscar compreender a causa real. Sem embargo, optam por instrumentalizar essa situação e usá-la sempre que possível para gerar conflito.

Continuando nessa linha – e mantendo a posição de que a CR é um ambiente destinado a adoecer e sobrecarregar os militantes – o núcleo afirma que um número X de membros da Coordenação Regional se afastou devido ao esgotamento mental e físico na UJC. Segundo eles, isso corroboraria a situação que apontaram. Trata-se de apenas mais uma falsidade instrumentalizada, camaradas. Dos dez membros eleitos para a Coordenação Regional do DF, somente um se afastou devido ao cansaço mental. Três saíram por questões profissionais e acadêmicas que se tornaram incompatíveis com o envolvimento na militância. Dois solicitaram desligamento alegando adoecimento resultante de conflitos com o núcleo de Taguatinga (e deixaram claro esse motivo ao sair). E um deles é um membro do próprio núcleo de Taguatinga, que abandonou a CR eleita com meras duas semanas de gestão.

Assim como em todas as saídas, na CR realizamos uma reunião extraordinária para entender os motivos desse último camarada deixar a instância. Nessa ocasião, ele próprio afirmou que não tinha certeza sobre seus motivos, mas que não eram pessoais nem relacionados a qualquer membro da Coordenação. Poucos dias depois, esse camarada e seu núcleo já estavam espalhando que "a CR indiretamente o expulsou da Coordenação".

E menciono que essa prática se difundiu pelo DF, visto que recentemente, como exemplo, observei outro indivíduo envolvido nas mesmas práticas de instrumentalização. Esse indivíduo foi responsável por sabotar tarefas de extrema importância que ele estava encarregado, ao abandoná-las em um momento crucial de desenvolvimento e fomentar uma falsa polêmica no processo de saída. Algumas semanas depois, ele aproveitou uma oportunidade de reunião para insinuar que a tarefa só fracassou porque caiu nas mãos de certos membros da CR, utilizando isso como base para sua crítica e para intensificar as tensões no ambiente. Ora, camaradas, é essencial compreender que ao assumirmos certas responsabilidades, só estamos verdadeiramente construindo algo na medida em que asseguramos sua continuidade. Abandonar tarefas e criticar aqueles que permaneceram acumulando o que estava sob sua responsabilidade, além das incumbências já existentes, reflete um desvio de caráter absoluto.

Observem que minha indignação não deriva do erro em si. Todos são capazes de cometer equívocos de natureza sexista, podem não perceber quando estão sendo injustos ou podem precisar deixar tarefas inacabadas para cuidar de si mesmos. O problema de fato encontra-se quando alguém se apropria de uma situação que causou por conta própria e, por meio de malabarismos retóricos, atribui à CR e à UJC, com o intuito de desestabilizá-la e bombardeá-la de críticas das mais diversas. É a esta prática que aqui me refiro como instrumentalização.

Posso citar rapidamente mais alguns exemplos que vão auxiliar no processo de autoavaliação. Com o objetivo de aproveitar a experiência pessoal, profissional e de luta dos nossos militantes mais experientes, parte de mim a ideia de criar uma Comissão de Assistência ao Núcleo de Secundaristas. Isso se deu pelo fato de (i) este núcleo contar com mais de 30 militantes prestes a serem nucleados de uma vez, além de cerca de 20 aproximações; (ii) não haver experiências prévias de inserção no movimento estudantil secundarista no DF; e (iii) nós termos à disposição, na base, camaradas que já tiveram alguma atuação no MES ou são professores da rede básica de educação, capazes de estabelecer uma comunicação didática essencial para lidar com adolescentes e auxiliar na formação de nossa linha política. A ideia era que membros da CR e camaradas da base se unissem e isso potencializasse a formação política dos secundaristas, ao passo que a ponte com a instância intermediária estaria contemplada. Fui pessoalmente quem apresentou a proposta aos camaradas encarregados dessas atribuições, incluindo um dos militantes do núcleo de Taguatinga, que ficou muito empolgado e imediatamente se prontificou para a tarefa.

Não demorou muito, infelizmente, para esses mesmos militantes utilizarem esta situação a fim de denunciar um suposto dirigismo da Coordenação. As críticas apresentadas em relação a isso foram as mais criativas possíveis: "A CR está violando o estatuto, pois não há previsão para uma Comissão de Assistência!"; “A CR está me deixando em uma tarefa meramente operativa, que não tem caráter político, ao invés de subir pra CR!” (sic); "A CR está aplicando uma estratégia de sobrecarregar nossos militantes com tarefas não relacionadas a Taguatinga!". É lamentável, camaradas, que grande parte dessas críticas tenha sido instrumentalizada pelo camarada que, poucos dias antes, aceitou e assumiu a tarefa com entusiasmo! Seria mais honesto e respeitoso simplesmente recusar ou se retirar da tarefa. No entanto, ele optou por não fazer isso, precisamente para continuar manipulando o espaço secundarista, como bem fizeram ao redor dessa recente crise.

Lamentavelmente esses casos não cessam. É recorrente essa insistência em tentar pintar a Coordenação Regional como um ambiente composto por militantes adoecidos mentalmente, e que isso seria decorrente de uma má gestão ou organização disfuncional. Confesso que em momentos pontuais, diante de alguns súbitos desligamentos (os quais já abordei as motivações), a situação apertou consideravelmente na CR e tivemos que recorrer à cooptações para dar cabo às tarefas. O critério foi objetivo, as tarefas de direção que estavam em vacância demandariam camaradas da base com destaque nessas mesmas tarefas, notadamente, entre eles, um camarada do núcleo de Taguatinga que vinha operando uma boa política de finanças.

Pois bem, o camarada (e o núcleo, em primeiro momento) aceitou o convite e o desafio da tarefa. Não obstante, posteriormente o núcleo de Taguatinga não só comunicou que não aceitaria que ele fosse cooptado, como também impôs como condição para a cooptação que outros membros específicos do núcleo também fossem incluídos. Ao impor essa espécie de "sequestro" da cooptação, condicionando-a à inclusão dos membros X e Y na CR, o núcleo não via problema algum nas formalidades estatutárias. Entretanto, quando nos opusemos a essa chantagem evidente, eles passaram a citar um artigo controverso do estatuto que exige uma Conferência para tal cooptação. Não entrarei em detalhes sobre esse artigo e a hermenêutica do estatuto, apenas menciono que a instância nacional orientou que ele era ambíguo na organização e que a Secretaria de Organização da CN daria um parecer conclusivo a respeito, o que não impediria as cooptações (que foram aprovadas pela própria CN). Posteriormente, o núcleo de Taguatinga usou o argumento de que a Coordenação estava perseguindo o núcleo de Taguatinga por não ter cooptado nenhum de seus quadros, quando na verdade eles próprios impediram que isso acontecesse.

O interlocutor deve estar se questionando por qual motivo divaguei tão à fundo nas particularidades especificamente do núcleo de Taguatinga nesta carta que pretende analisar como chegamos até aqui enquanto organização. A razão é que se eu tivesse avançado diretamente para a fundamentação que vou apresentar a seguir sobre a crise atual que estamos enfrentando, talvez não ficasse tão evidente que, no DF, há uma tentativa já em curso há bastante tempo de sequestrar pautas, distorcer narrativas e manipular interesses, tudo isso orquestrado por um grupo seleto de militantes que agora estão usando as mesmas estratégias para impor suas próprias agendas e tomar controle de reivindicações nacionais em benefício próprio.

* * *

É importante destacar, de prontidão, que os debates acerca da atual crise no PCB têm ocorrido de forma livre nos núcleos da UJC-DF desde o momento em que esta se instaurou. Os núcleos possuem o direito e, na verdade, o dever de debater, criticar e contribuir para a formulação referente à crise que se apresenta no contexto partidário, inclusive conduzindo análises que possam contribuir para a sua superação. Isso deve ser valorizado por todos os dirigentes. Estimular o debate interno deve ser uma prioridade em uma organização marxista-leninista, especialmente em momentos de crise. Ao negligenciar esse fato e adotar uma postura que inibe a expressão dos coletivos partidários, acredito que o Comitê Central do PCB não apenas agiu contrariamente às nossas resoluções políticas, mas também manchou a histórica relação de cooperação e harmonia que existe entre a UJC e o PCB desde agosto de 1927.

Reconheço que, frente aos meios pelos quais os militantes expulsos escolheram expor suas críticas em plataformas digitais, ampliando rapidamente o alcance e o impacto da controvérsia, o Comitê Central se viu em um terreno no qual talvez não tivesse experiência prévia e acúmulos suficientes. A urgência em buscar uma solução rápida para a crise que emergia pode ter levado a tomada de decisões contraditórias (assim como ocorreu também com a Coordenação Regional do DF). No entanto, nada pode justificar atitudes condescendentes por parte da CPN ao tratar os membros dos coletivos partidários como não-militantes do Partido. Essa postura formalista de vinculação ou não à células do PCB não pode se tornar um instrumento de divisão e segregação da nossa militância, haja vista que nos momentos de necessidade e execução de tarefas somos tratados como pares.

O conjunto de circulares e comunicados perturbadores emitidos pelo CC e pela CPN foi amplamente criticado nas bases do DF e também na Coordenação Regional, inclusive na presença da representação intermediária da CN e PCB. Ouvimos com atenção a voz da organização como um todo e nos esforçamos para captar uma síntese dos debates, sempre considerando as diferenças entre diversas opiniões, experiências e vivências dos diversos camaradas espalhados pelo DF. O papel da direção não é, como insinua a recente circular divulgada pelo grupo fracionista que se autodenomina nova UJC-DF, tomar posição baseada na opinião da "maioria massacrante dos núcleos" (sic). Ao invés disso, os líderes precisam condensar a posição de toda a militância, valorizando todas as contribuições. Nesse sentido, o que alguns podem interpretar como inação no sentido de compartilhar o posicionamento interno da direção, para nós representa, na verdade, o compromisso de fortalecer os espaços de democracia interna em nossa organização.

Além das críticas já apontadas em relação à postura do Comitê Central e à sua co-responsabilidade na gênese da crise que enfrentamos, recebemos as denúncias de práticas repugnantes realizadas por instâncias de direção ao redor do Brasil com grande preocupação e solidariedade. Notavelmente nos estados da Bahia, Minas Gerais, Pernambuco e São Paulo, direções ou militantes específicos foram identificados como articuladores de perseguições, assédios coordenados e estratégias de adoecimento. Aos militantes que foram vítimas dessas práticas, reforço nossos sentimentos solidários e lamento profundamente que, por vezes, a nossa organização isole certos entes da federação, especialmente aqueles fora do eixo sudestino, privando-os do acesso aos debates e às controvérsias ocorridas em outros estados. O Distrito Federal, por exemplo, experimentou o impacto desse isolamento durante todo o último ano, quando se preparou para receber mais de 600 delegados da UJC no 59º CONUNE, enfrentando uma assistência nacional desorganizada e falta de clareza por parte de outros membros da CN, conduzindo a um processo de sobrecarga e estresse extremo. Precisamos trabalhar arduamente para evitar que esse tipo de prática sistemática, como aquela que ocorreu nos estados denunciantes, não se repita, e isso passa por uma maior integração da UJC, fim das barreiras federalistas dos acúmulos, e pelo controle efetivo de conformidade.

Não me eximo de reconhecer que muitos dos problemas destacados por camaradas em todo o Brasil já foram objeto de críticas que eu e a Coordenação Regional fizemos à instância intermediária do PCB em diversos momentos anteriores. Questões como a ausência de planejamento, distribuição ineficaz de tarefas e faltas de comunicação são ainda tangíveis em vários espaços do PCB. Apesar disso, as reivindicações do grupo de militantes expulsos que constituiu uma fração paralela ao PCB não se refletem mecanicamente na realidade da UJC no Distrito Federal. Mesmo com a abertura de debates, mesmo com a maioria dos membros da CR tecendo críticas abertas à certas condutas do CC, mesmo que estivéssemos planejando uma conferência distrital para aprofundar nossa compreensão da crise, há um grupo no DF que, em suas próprias palavras, adotou uma postura fracionista "desde pelo menos o último ativo", ou seja, desde meados de maio deste ano.

As reivindicações em nível nacional em meio a essa crise optaram por utilizar os meios de rápida circulação das redes sociais. Não entrarei em detalhes sobre todas as contradições e minhas ressalvas em torno dessa escolha, contudo, é necessário reconhecer que essa abordagem também abriu espaço para oportunistas e indivíduos que de fato cometeram infrações graves contra nossa organização, os quais se apropriaram dessa pauta para impulsionar um golpe que agora se desenvolve no Distrito Federal. Os mesmos que se especializaram na prática que denominei de instrumentalização agora se apresentam como "líderes" da reconstrução revolucionária do PCB, explorando críticas e demandas legítimas ou não de camaradas em todo o Brasil a fim de promover seus próprios interesses e distorcer nossos princípios e resoluções políticas. Isso tudo está sendo cegamente legitimado por parte da Coordenação Nacional, sem ao menos conhecer a realidade do DF. Não se deixem iludir, camaradas! Não transfiram automaticamente os problemas que estão sendo apresentados em nível nacional para o DF, pois esse é o objetivo deles!

De fato, é importante reconhecer que na Coordenação Regional também cometemos erros no processo, os quais foram habilmente aproveitados pelo grupo fracionista. Um exemplo notório é a expulsão de um membro do núcleo das particulares. Essa decisão foi tomada em um momento em que eu estava afastado da tarefa, portanto, não posso entrar em detalhes sobre as motivações que levaram a essa escolha. Contudo, posso assegurar, com base em documentos apresentados a mim, que foi uma situação orquestrada pelo próprio membro expulso. Ele já tinha conhecimento e comunicou a várias pessoas a data e hora em que membros da Coordenação Nacional seriam expulsos pelo Comitê Central, dado que ele mesmo faz parte da instância nacional da UJC. No entanto, ele tinha conhecimento de que aqui não havia até o momento condições para a narrativa de perseguição que ele buscava. Assim sendo, provocou a própria “expulsão”, ao integrar a instância de uma outra organização que ele mesmo chamou de “Coordenação Regional paralela”, o que é expressamente defeso pelo nosso estatuto, como ele tem conhecimento.

Eu retornei do meu afastamento logo após tomar conhecimento do desligamento desse indivíduo com o objetivo de entender como isso ocorreu, além de defender nosso estatuto mesmo em tempos de crise. No entanto, o processo de instrumentalização desse evento já estava em curso e a "Coordenação Regional paralela" já havia sido estabelecida oficialmente por meio de "recrutamentos" que mais se assemelhavam a assédio ordenado à base da UJC. Eles também compartilharam informações de maneira informal entre os núcleos, espalhando mentiras e inundando a organização com textos que exploravam esse evento incansavelmente. O resultado concreto dessa estratégia foi a convocação precipitada de uma conferência pela organização fracionista – que tenta se passar como a UJC – baseando-se quase exclusivamente neste incidente e esforçando-se para vinculá-lo aos outros desligamentos decorrentes da problemática entre a SNJ e os membros da CNUJC. Este é um trecho da circular promovida por este grupo, enviada para a organização de todo o complexo partidário no dia 24.08:

Depois, finalmente a CR se posicionou de fato diante da crise, quando operou o expurgo do [...], membro da Coordenação Nacional e ex-membro da CR, coincidentemente durante a reunião extraordinária do pleno da Coordenação Nacional, onde houve outros desligamentos sumários, o que seria usado naquele mesmo dia pelo Secretário Nacional de Juventude do Comitê Central para deslegitimar a Coordenação Nacional eleita pelas bases no IX Congresso Nacional da UJC (CNUJC). O pleno da CN deliberou pelo não reconhecimento das expulsões.” (grifo meu)

Mesmo diante dessa situação, reafirmo minha posição de que deve ser iniciado um devido processo disciplinar para garantir o direito de defesa do indivíduo em questão. No entanto, como ele mesmo revelou, não há interesse genuíno em resolver qualquer questão formal, pois eles necessitavam de um ponto de partida para justificar sua narrativa de cisão – e conseguiram. Não somente o indivíduo em questão não demonstra mais interesse em fazer parte da UJC, como também os outros camaradas envolvidos, que vinham arquitetando essa situação desde a etapa distrital do IX CONUJC, não têm nenhum interesse real em permanecer na organização.

Neste ponto da carta, busco estabelecer um diálogo direto com o camarada E. V., mencionado como membro da CNUJC que está oferecendo assistência informal ao grupo fracionista do DF, bem como com o restante da Coordenação Nacional da UJC, caso esta mensagem os alcance. Manifesto minha solidariedade às denúncias de perseguições e processos disciplinares ilegais que foram relatados em diversas partes do Brasil e que afetaram, direta ou indiretamente, o trabalho da UJC e da CN. Contudo, peço que os camaradas façam uma análise verdadeiramente materialista da realidade do Distrito Federal e de suas particularidades antes de legitimar ou apoiar uma empreitada orquestrada por um grupo que não enfrentou a mesma sorte de perseguição e que está utilizando essa situação como um meio para trazer de volta à UJC pessoas que foram desligadas justamente e para promover indivíduos com sérios desvios de caráter.

Cito mais um último exemplo disso: foi propagado no DF que a atual CR instaurou processos disciplinares com motivações difamatórias contra dois membros que agora lideram a Coordenação paralela. Para mim, isso já é inaceitável, especialmente porque os únicos processos que tocamos foram instaurados antes do Congresso do ano passado, por uma coordenação anterior. No entanto, imagino que seja ainda mais doloroso e assustador para a camarada que foi ameaçada de agressão física por um desses camaradas, que na época reconheceu seu erro e fez autocrítica, mas agora alega ter sido injustiçado e perseguido – denotando que não reconhece a gravidade do ocorrido.

Utilizar a atual crise com o Comitê Central para deslegitimar a Coordenação Regional do Distrito Federal com o único propósito de sustentar um apoio fictício ao Congresso Extraordinário desses militantes que agora compõem a fração, equivale a desconsiderar todo o trabalho que empreendemos para viabilizar nosso crescimento, a formação de nossos quadros e nossa inserção na classe trabalhadora. Assim como critico a CR, o Comitê Regional e o CC por desvios em relação ao estatuto, peço que não ignorem a decisão da militância do Distrito Federal que elegeu seus dirigentes.

Quanto aos camaradas que estão se deixando levar pelas investidas do grupo fracionista por também terem as próprias críticas à condução do CC na crise e não acreditarem que é possível mediar e disputar essa situação dentro da UJC e PCB – respeito a decisão – mas saibam que é justamente essa sensação de monopólio da crítica que eles articularam para criar. Existe espaço na UJC para o centralismo democrático! Confiem em sua intuição! Se perceberem que algo não está certo na condução desse golpe, não é coincidência!

Em relação aos militantes autores das manipulações que descrevi e que hoje operam em organização distinta, peço que somente tenham a decência de se desligar da UJC DF, em respeito a tudo que construímos e pela história da organização.

* * *

Por fim, é importante que eu confesse que esta carta começou diversas vezes como uma carta de desligamento da UJC. Após uma evasão significativa de militantes do núcleo da UnB - onde passei a maior parte do último ano atuando como assistente, aprendendo e me formando politicamente com cada um dos camaradas envolvidos - me vi em uma situação angustiante. Como posso aceitar que todo esse esforço tenha sido em vão? Compreendam, camaradas, quando me refiro ao trabalho que será perdido devido a esta crise, não me refiro apenas às posições que alcançamos em uma ou outra universidade, ou mesmo aos avanços pontuais em nosso programa. Refiro-me principalmente aos inúmeros camaradas que formamos em nossas tarefas, garantindo que, mesmo na nossa ausência, nossos esforços continuariam de maneira frutífera.

Aceitar essa situação significa abrir mão de boa parte disso e reconhecer que estamos diante de um cenário onde não apenas é desafiador e arriscado continuar na trajetória que escolhemos, mas verdadeiramente impossível. Somos compelidos a retroceder, a descer e a buscar um caminho alternativo, talvez mais longo, mas o único que nos conduzirá eventualmente ao objetivo. A jornada de descer dessa altura revela-se mais difícil do que a subida. É necessário avançar com cautela, a passos lentos e regressivos, afastando-se do objetivo; É um processo que não possui a mesma realização da ascensão direta em direção ao objetivo, e não há certeza de onde essa descida dolorosa vai nos conduzir.

Apesar disso, camaradas – e com isso me reporto agora àqueles que foram acometido pelo desânimo e resolveram distanciar-se da nossa organização, e também àqueles que permanecem, como eu, mas com medo do que há por vir – precisamos reconhecer que nos erguemos à uma altura gigantesca em termos de organização revolucionária no DF, principalmente quando comparado ao nosso passado remoto. Realizamos a tarefa de levar a linha revolucionária para dentro das universidades privadas de maneira inédita e inexplorada até então. Disputamos uma classe trabalhadora que se insere no seio do território governado e ocupado pelo latifúndio e agronegócio desde a própria gênese. Expandimos nossa presença em cursos, associações, entidades de base, organizações gerais e representativas de classe, superando as expectativas que outrora eram meros sonhos. Com empenho, recrutamos ativamente e levamos adiante nossa política de agitação e propaganda, que foi reconhecida inclusive por outras organizações. Realizamos a tarefa de sair do trabalho artesanal e avançamos exponencialmente desde que a UJC se consolidou na capital. Estas são conquistas significativas, que ninguém tem o poder de nos tirar.

É claro que ainda estamos distantes de alcançar nosso objetivo final, e isso é algo que todos reconhecemos sem dúvida alguma. Mas também é verdade que não há razão para nos desanimarmos ao reconhecer essa situação e a necessidade de reavaliar nossa trajetória. O reconhecimento de nosso progresso não está relacionado a manter ilusões sobre o quanto ainda temos que avançar; na verdade, é o oposto! Percebemos as dificuldades enfrentadas até este ponto e nos preparamos para os desafios futuros, e aqueles em nossa organização que acreditam que podem trilhar o caminho rumo ao socialismo em nossa sociedade sem cometer erros, sem retrocessos e sem realizar inúmeras correções em nossas ações estão fadados a permitir que o desânimo os sucumba.

Esta carta inicia-se como um desligamento, mas finaliza com a vontade de seguir traçando os rumos que levarão à emancipação da classe trabalhadora, através da juventude do PCB. Devemos entender que a jornada em direção ao socialismo é marcada por erros, correções, ajustes e aprendizado contínuo e não é uma estrada reta e livre de obstáculos, mas sim um caminho complexo e desafiador. O importante é reconhecer nossos avanços, mesmo que modestos, estabelecer sinceras autocríticas e aprender com nossos erros para que possamos progredir de maneira mais sólida e eficaz.

“Comunistas que não têm ilusões, que não dão espaço ao desânimo e que preservam sua força e flexibilidade “para começar do começo” de novo e de novo, lidando com uma tarefa extremamente difícil, não estão condenados (e tem toda a probabilidade de não perecer).”

Vladímir Ilich Uliánov

Em defesa do Partido Comunista Brasileiro e da União da Juventude Comunista!

Ousar lutar, ousar vencer!

Pelo Poder Popular no rumo do socialismo!

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Registro do mais perto que estivemos do cume, no Planalto Central. CONIC, 25.03.2023


[1] Esta passagem faz parte de um artigo escrito por Lênin e publicado no Pravda em fevereiro de 1922, com o título "Notas de um Publicista: Sobre a escalada de uma grande montanha; O perigo do desânimo; A utilidade do comércio; Atitudes em relação ao Menchevismo, etc."