'Sobre as batalhas nos espaços da internet e as necessidades em tempos de disputa' (Camarada Salomão)
O trabalho de briefing diário, acompanhamento de possíveis ameaças, hackerativismo, exposição de documentos para agitação das bases, entre vários outros trabalhos, é essencial – da mesma forma que evitar que esses mesmos processos sejam feitos contra nós também é.
Por Camarada Salomão para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Trago aqui minha primeira contribuição às tribunas de debate voltadas ao XVII Congresso, e sinto em iniciar em termos tão melancólicos. Hoje ao acordar me deparei com a notícia enviada por uma camarada que a conta do nosso Instagram havia sido suspensa – a justificativa da plataforma era que feríamos as diretrizes da comunidade sobre integridade da conta e identidade autêntica. Apesar da sensação de perda e derrota, meu espanto foi pouco, uma vez que a última notícia que havia lido ontem tinha sido a denúncia de nosso órgão central em relação a uma mobilização, levantada pelo PCB-CC, para que os seus militantes denunciassem as páginas do PCB-RR.
Fui procurar se outras páginas haviam caído também – e sim, diversas: a página nacional do PCB-RR já não está mais no Instagram. Percebi que o estrago já havia sido feito e que perdemos uma batalha essencial.
Desse ponto, consigo tirar espaço para duas reflexões: a primeira, sobre como atuamos e operamos em relação a essa disputa aberta que ocorre; a segunda, sobre quais são os instrumentos necessários em tempos como esses, tempos de disputas e guerras abertamente declaradas.
Me questionei, ao ver que a página no Instagram do PCB-RR havia caído poucas horas após a denúncia de que esse movimento seria tentado, há quanto tempo já havia ciência dessa informação. Se chegou ontem, ao mesmo tempo que congratulo os camaradas que fazem a gestão de conteúdos das redes sociais pela celeridade em informar, critico a inabilidade em agir, pois dado o campo de disputa – uma página em uma rede social, meio e comunicação burguês e com interesses próprios e contrários aos nossos – não ter tomado uma ação concreta de salvaguarda além da denúncia foi um erro. Se essa informação já era sabida há mais tempo, e para a forma temporal específica das redes sociais, onde tudo acontece muito mais rápido do que o normal, qualquer coisa além do imediato é muito tempo, reforço a crítica à inabilidade e inação – e ainda adiciono a crítica de não ter havido informações pelos meios internos ao partido (caso tenha ocorrido, elas não chegaram a mim, e já de antemão peço desculpas pela possível crítica leviana).
Ao me deparar com a notícia ontem, também fui ler os comentários; infelizmente, como a página não está mais disponível, não posso reproduzir aqui os comentários que li lá, mas como no X/Twitter ainda existe a página do PCB-RR, posso compilar aqui alguns dos comentários mais destacados pela rede e que são bem análogos ao que se lia no Instagram:
“cara q patético isso. dá pena, serião”
“Meu deus do céu, que coisa grotesca, o PCB-CC tá no fundo do poço mesmo”
“Já tinha percebido que fazem um esforço nas redes pra tentar desmoralizar e ridicularizar a RR. Páginas irônicas não oficiais, com deboche e sem profundidade de debate. Achei que fosse iniciativa de gente amarga e revoltada. Aparentemente não. Patético”
“o desespero nítido de quem sabe que não ganha na política”
“bicho isso é patético em níveis que eu nem sei risível”
Esses são alguns entre vários comentários – e, ciente de que é uma parcialidade e que as redes sociais (o X/Twitter com destaque) não são os melhores espaços para tentar encontrar bons debates e opiniões bem estruturadas, gostaria de deixar aqui algo que me parece importante
ressaltar: camaradas, não há nada de patético ou triste no movimento feito pelo CC. O que para mim parece triste e patético vem da nossa parte, que é a incapacidade de compreender que estamos em disputa, em franca batalha com nossa própria classe e com nossos próprios camaradas – disputa essa mediada e alimentada por uma instituição que claramente falhou em seus propósitos revolucionários e de vanguarda da classe trabalhadora, o PCB-CC. O que o CC concretizou contra o RR tem problemas de conteúdo, e não de método.
Bem, tentarei deixar o mais cristalina possível minha visão nesse momento, para que não haja dúvidas:
Nós, que buscamos a Reconstrução Revolucionária, incentivamos ou cultivamos essa disputa? Em algum momento tentamos algum movimento de colocar camaradas contra camaradas, nossa própria classe trabalhadora batalhando entre si? Definitivamente não. Esse movimento veio do CC.
Contudo, essa disputa existe? Definitivamente sim. Os ânimos como colocados nas redes sociais, seja nos comentários ou na proliferação de páginas de memes não oficiais que atuam em uma guerra digital por procuração, e nas ruas (tivemos recentemente casos de violência física de membros do CC contra os do RR em São Paulo) deixam isso claro.
O conteúdo da disputa e acirramento agitado pelo CC, colocando nós contra nós mesmos, está correto, considerando nossas estratégias políticas? Não.
O método de se utilizar do instrumental da burguesia para derrubar, retirar um conteúdo ou suprimir uma força é um método válido? Sim.
O erro do CC está em jogar a classe trabalhadora contra ela própria, mas não há nada de patético em usar as ferramentas da burguesia para a luta política.
Apesar desses fatos, continuamos agindo de forma passiva em relação às ofensivas do CC, negando a realidade da disputa que se instala em nome de uma aparente elevação moral do tipo “não vamos usar dos mesmos meios que vocês, somos melhores que isso”. Camaradas, esse discurso de “dar a outra face”, e digo isso com todo o respeito aos camaradas cristãos, não cabe em uma disputa política, é puro idealismo. Se engana quem acredita que em espaços de disputas políticas isso funciona; a política – pelo menos nessa realidade material e forma de sociabilidade posta que vivemos – é suja, sendo necessário que tenhamos por vezes posições combativas e ofensivas.
Quero esclarecer que com isso não estou dizendo para utilizarmos das mesmas formas desmobilizantes da classe trabalhadora e do avanço de nossas estratégias políticas que o CC vem utilizando. O que quero colocar aqui é que não podemos ser passivos nesse processo. Embora as redes sociais não sejam as nossas únicas ferramentas de atuação (e uma vitrine cuja importância não pode ser subestimada), muitos de nós que compomos as fileiras do partido viemos desse lugar. Por lá se proliferam muitas ideias, espaços de comunicação e capacidade de atrair novos camaradas. Assim sendo, devemos batalhar por esses espaços com todas as forças, e apenas a denúncia de que o CC quer derrubar nossas páginas não evita que elas sejam derrubadas.
A partir disso, então, chego no segundo ponto desse texto, sobre os instrumentos necessários para que possamos navegar com mais tranquilidade por essa disputa – que vai ser longa – enquanto continuamos os nossos trabalhos. É necessário que tenhamos um destacamento nacional e regional, minimamente, de Inteligência e Contrainteligência dentro do PCB-RR.
Eu havia feito em uma reunião, dois meses ou mais atrás, a pergunta a um camarada que ocupa o órgão central se havia membros do RR infiltrados no CC. Havia pontuado que achava necessário, especialmente por, já observando o quão pouco escrúpulo há nos dirigentes do CC, ter certeza de que eles infiltrariam militantes em nossas fileiras. O camarada disse que não, o que por confiança e camaradagem tomo como 100% verdadeiro, e que isso poderia ser visto como uma maneira ruim de começar as coisas no RR – eu peço até que o camarada me corrija se a memória me trai em relação à exatidão de suas palavras, mas tenho certeza de que, assim como eu, ele lembra que a resposta sobre infiltrar militantes era uma negativa, não faríamos naquele momento.
Nesse momento, a queda das páginas, uma derrota em nosso avanço, mostra o quão errado foi não estarmos mais atentos e termos alguém observando internamente os movimentos do CC. Pode ser, inclusive, que da mesma forma como o CC está caçando nossas páginas, brigando pelo nome do PCB, o mesmo movimento esteja sendo preparado juridicamente, o que já é esperado há algum tempo pelos mais atentos; não temos, porém, como saber com exatidão.
É claro que um setor de Inteligência e Contrainteligência dentro do RR não serviria única e exclusivamente para as questões tangentes a esta disputa. Existem diversos outros trabalhos que são necessários e que podem ser desenvolvidos com muita qualidade por um setor dedicado a espionagem. Lembro a todos que uma das questões levantadas pelo camarada Jones Manoel meses atrás em uma troca de e-mails que foi publicizada acerca de sua perseguição dentro do CC era a de sua segurança e de seus familiares. A partir disso, coloco a questão: como podemos garantir a segurança de nossos militantes e seus familiares sem um concreto e contundente trabalho de inteligência? Como fazer isso sem analisar profundamente os espaços por onde camaradas possivelmente visados passam? Um setor de inteligência se faz necessário para isso. E se existe essa necessidade agora, que dirá às portas de uma revolução onde nossos militantes serão perseguidos por forças muito maiores, mais violentas e com muito menos escrúpulos?
O trabalho de briefing diário, acompanhamento de possíveis ameaças, hackerativismo, exposição de documentos para agitação das bases, entre vários outros trabalhos, é essencial – da mesma forma que evitar que esses mesmos processos sejam feitos contra nós também é.
Eu gostaria que esses métodos e formas não fossem necessários – que pudéssemos apenas debater ideias, mostrar que nossa estratégia política, métricas econômicas, planos sociais e projetos seriam o suficiente para convencer que a mudança é necessária, mas não são. Aliás, se fossem, não seria necessário uma revolução. O processo revolucionário demanda o combate e a luta, demanda a vigilância atenta e o cuidado. E se parece muito cedo para pensar em estruturas para um possível processo revolucionário, eu digo que já estamos atrasados em iniciar a revolução (estamos à beira de uma nova guerra mundial, ebulição global, genocídios mundo afora, consolidação da extrema direita pelo mundo e tantas outras questões sobre as quais não faltam textos nesse mesmo site), e que nosso preparo para esse momento não pode ocorrer quando a revolução estourar, mas sim tem que estar com alicerces sólidos antes da revolução ocorrer. Não é questão de apressar os processos, mas entender que, dada a realidade que vivemos, temos como obrigação organizar o RR enquanto construímos sólidos trabalhos e o movimento revolucionário. Tudo isso é para ontem.
Aqui exponho somente uma parte do assunto; pretendo falar mais sobre isso futuramente, delineando de forma minuciosa cada um dos trabalhos que vejo como essenciais na possível criação desse setor dentro do partido, caso a ideia seja bem vista e reverbere entre nós.
Camaradas, ressalto, dizer que venceremos não é suficiente. A disputa política contra nós não terá espaço para tentativas de moralidade elevada; nossos inimigos utilizarão de qualquer método. Lembro que nosso compromisso político é exclusivamente com a classe trabalhadora, assim, para que possamos vencer a disputa política que travamos e a guerra contra os senhores, teremos, por vezes, que sujar as mãos.