'Sobre agitprop na era digital: Existe alguém que lê jornal impresso?' (João Lucas Leite)
Como podemos falar sobre profissionalização do trabalho do partido se não profissionalizamos nem nossa estrutura organizativa interna? Somente um jornal impresso pode expor onde esse trabalho ainda é débil e artesanal
Por João Lucas Leite para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Muito já foi debatido nas tribunas sobre a necessidade da forma Jornal como um órgão central que organize a polêmica partidária e sirva como um aparelho de agitação e propaganda (agitprop) para com a classe trabalhadora, no entanto, apesar da forma jornal ser majoritariamente aceita pela militância, a questão desse jornal ser ou não impresso ainda gera muitas divergências.
Pois bem, recentemente publiquei uma tribuna debatendo o que é trabalho de base e nessa tribuna coloquei o trabalho em torno do jornal como ‘o trabalho de base fundamental’, a tribuna intitulada “O que é trabalho de base e como executá-lo?”. Dessa forma já fica expressa minha opinião sobre a necessidade do Jornal do partido ser também impresso e vendido nacionalmente. Na presente tribuna pretendo sintetizar meus pensamentos sobre como deve ser o jornal do partido e debater outras formas de agitação e propaganda, expondo os “prós” e “contras” de um jornal impresso na atual sociedade que é cada vez mais monopolizada pelo domínio da internet.
Antes de tudo, como busco aqui debater sobre agitprop num geral, o ponto central neste texto será o papel do Jornal, mas irei debater também sobre atuação nas mídias digitais. Muitos camaradas devem estar cansados de ler debates aqui na tribuna sobre o que é o jornal, seu papel de organizador coletivo — ou não — e como centralizador da agitprop do partido — ou não —, mas para que possamos realmente pensar a agitprop de uma organização revolucionária precisamos nos destrinchar o máximo possível sobre essa questão, e mesmo que pareça uma redundância de algumas tribunas que já foram publicadas aqui, para que eu possa desenvolver meu argumento preciso voltar a esse ponto principal: o que é e para que serve o jornal?
O jornal de um partido comunista, camaradas, deve servir como um organizador coletivo e centralizador do trabalho de agitação e propaganda comunista. Na época de Lênin, era o principal instrumento com o qual o partido se comunicava com as massas, apresentava seu programa, linha política, percepções e também era um organizador do trabalho partidário.
O que venho percebendo em torno de alguns debates sobre o jornal partidário é que eles estão sendo centrados principalmente na eficiência do jornal em fazer o trabalho de agitprop ser massificado, alguns partem da alegação de que um jornal impresso não é mais um veículo de massas e que nos tempos modernos foi superado tecnologicamente por outros veículos, como internet e televisão, que conseguem atingir uma maior quantidade de pessoas de forma mais eficiente.
Esse ponto está corretíssimo. Muitos camaradas interpretam os escritos e concepções de Lênin de forma dogmática, como se devessemos seguir estritamente tudo que foi feito pelo partido bolchevique e basear nossas táticas inteiramente nas táticas do partido bolchevique, defendendo um jornal impresso como única forma de organizar a agitprop do partido, e como a mais eficiente, quando na verdade um jornal impresso foi superado de forma técnica por outros tipos de mídia, como vários camaradas colocam. Não podemos nos prender a textos e concepções, principalmente organizativas, de outros tempos, para traçar a estratégia e a tática revolucionária do partido. Fazer esse resgate de um jornal partidário, de forma quase que fetichista, é errado e avesso a Lênin, entretanto, os debates de Lênin sobre o jornal e a agitação e propaganda revolucionária devem ser utilizados para pensarmos a agitprop em nossa época.
Bom, se a agitprop feita por um jornal impresso já foi superada quantitativamente por outras mídias, por que então eu defendo que nós devemos ter um jornal impresso e que ele deve ser o nosso trabalho de base(!!!) fundamental? Como eu disse, camaradas, há uma certa incompreensão do papel do jornal por alguns camaradas, inclusive do camarada que citei, nos debates sobre o jornal.
Um jornal partidário, no nosso tempo, não pode mais cumprir o papel de massificar a agitprop do partido, entretanto, ele não perdeu o papel organizador e centralizador que Lênin coloca. Um jornal não é apenas um instrumento de agitprop, mas também é um instrumento de organização, profissionalização interna da infraestrutura partidária. Para além desse papel organizador, mesmo não sendo mais uma mídia de massas como era no século passado não conseguindo ter o mesmo ganho quantitativo como outras mídias atuais, um jornal impresso consegue estabelecer um trabalho de agitprop cem vezes mais qualitativo que uma publicação no Instagram, Twitter ou um vídeo no Youtube, isso irei desenvolver mais a frente. A questão a ser debatida não é mais de um jornal como massificador da agitprop, isso seria apenas se prender a um fetichismo do passado, mas sim de um jornal como organizador coletivo, um instrumento capaz de elevar qualitativamente nossa atuação e um fio condutor do nosso trabalho de agitprop.
Tive essa experiência na prática por ter sido militante da União da Juventude Rebelião, a qual rachei um tempo atrás por diversas divergências teóricas e táticas, entretanto, o trabalho feito pelo PCR e suas organizações afiliadas em torno do Jornal A Verdade é demasiado qualitativo, apesar dos problemas editoriais e organizativos que o jornal tem como eu bem expus em minha carta de desligamento da UJR, e deve servir como experiência para coletarmos o que de bom podemos extrair dele para que possamos debater um eventual jornal do PCB-RR.
Vejam, se o jornal partidário é impresso e distribuído para todas as regiões do Brasil para que os militantes façam o trabalho de organizar brigadas para vender o jornal, conseguimos duas coisas:
- Expor as debilidades organizativas de nossa organização a partir da observação de onde ou não o jornal está chegando e;
- Se inserir no seio da classe trabalhadora por meio das brigadas do jornal.
Vejam sobre o 1° ponto. Se temos toda uma rede de impressão, distribuição nacional e venda de um jornal impresso, esse é um trabalho prático que exige um esforço organizativo e profissionalização dessa infraestrutura de impressão e distribuição do jornal. A partir disso conseguimos enxergar onde temos debilidades organizativas das direções com as bases — com a impressão e distribuição do jornal nacionalmente, percebendo em que núcleos ou não o jornal está chegando e com que velocidade —, e da venda do jornal conseguimos enxergar onde toda a base(que tem o dever de organizar brigadas e vender o jornal) estão tendo debilidades com a direção — se a rede de repasses das vendas dos jornais está funcionando de forma profissional, se x jornais foram entregues para tal núcleo, x dinheiros estão sendo repassados pela venda desses jornais. Também conseguimos analisar com que dificuldade cada núcleo está realizando essas vendas e buscar como resolver tais problemas com o trabalho prático. Esse trabalho de superação do trabalho artesanal de agitprop e profissionalização da estrutura partidária não pode ser feito se não por um jornal impresso para todo o Brasil. Aí está o papel de organizador coletivo do Jornal.
Como podemos falar sobre profissionalização do trabalho do partido se não profissionalizamos nem nossa estrutura organizativa interna? Somente um jornal impresso exige profissionalizamos nosso trabalho, e somente ele pode expor onde esse trabalho ainda é débil e artesanal. Se o jornal não estiver chegando em todos os núcleos do partido nacionalmente e esses núcleos não estiverem fazendo o trabalho de venda e repasse desses jornais, há uma debilidade a ser superada no trabalho de agitprop do partido.
Por ser um jornal nacional ele também irá expor nossas desigualdades regionais. Sabemos que no velho PCB e na maioria das organizações ditas de esquerda no Brasil são extremamente débeis em realizar trabalho político em outras regiões que não sejam o Sul e Sudeste. Devemos trabalhar para estabelecer locais de impressão do jornal que sejam do partido em diversas regiões do país, tanto para diminuirmos a debilidade de distribuição do jornal para o Norte, Nordeste e Centro-Oeste (como muitas vezes acontece com o Jornal A Verdade no qual tive experiência), como para nos tornarmos independentes de forças externas e eventualmente burlar qualquer tipo de repressão. (Para os que só validam um argumento se ele for baseado em uma citação ou experiência do partido bolchevique, o partido bolchevique tinha diversos locais de impressão do Pravda espalhados por todo o império russo.)
O jornal, por ser impresso, é dificilmente rastreavel e pode burlar qualquer tipo de repressão que podemos vir a sofrer se sua infraestrutura for profissionalizada. Mídias digitais são facilmente rastreáveis e censuradas, apesar de alcançarem um número infinitamente maior de pessoas, um jornal impresso não compartilha dessa mesma fragilidade. Ele consegue funcionar como um aparato clandestino e burlar a perseguição, por isso suas redes de impressão e distribuição devem ser “clandestinas”, ou seja, independentes, por mais que saibamos que isso demandaria um enorme esforço, devemos trabalhar visando isso se quisermos realmente levar a cabo um processo revolucionário em nosso país.
Um jornal impresso obriga o partido a profissionalizar sua estrutura organizativa para que o trabalho em torno do jornal possa ser feito.
Sobre o 2° ponto, por que eu acredito que o trabalho em torno do jornal impresso é muito mais qualitativo do que os outros trabalhos? Aí entra uma questão de centralização e cotidianidade do trabalho político, camaradas. Se é dever de todos os núcleos organizar brigadas de venda do jornal, cada núcleo precisa necessariamente se inserir em algum local para vender esse jornal, terminais de ônibus, praças públicas, comunidades, fábricas, etc. Essa necessidade de se inserir na vida cotidiana dos trabalhadores que frequentam cada espaço torna o trabalho político do partido um trabalho cotidiano na vida desses trabalhadores. Para pensar isso podemos tomar de exemplo o trabalho de certas comunidades evangélicas. Por que os trabalhadores tendem a confiar mais em um pastor que não fala e não entende de política e manda os fiéis voltarem em partidos de direita no que em um revolucionário que faz um trabalho de agitação política? A resposta é simples: o trabalhador conhece o pastor, o pastor é cotidiano na vida desse trabalhador, o trabalhador confia muito mais nesse pastor que convive com ele do que em um professor universitário que fala sobre a classe trabalhadora tomar o poder. Esse é um debate que eu fiz em minha tribuna sobre trabalho de base, precisamos nos inserir de forma permanente na vida dos trabalhadores, e o trabalho de venda do jornal cumpre esse papel e é um trabalho necessariamente centralizado, por isso eu o coloco como o trabalho de base fundamental. Por ser um centralizador da agitação e propaganda do partido, o jornal possui uma capacidade mobilizadora gigantesca. Se estamos organizando uma greve geral, por exemplo, todos os trabalhadores que têm os brigadistas do jornal presentes permanentemente no seu cotidiano e compram o jornal terão acesso a informação sobre a greve geral, e por confiarem no trabalho do jornal tem mais aderência a essa ação organizada por um partido e um jornal que tem a sua confiança.
Por ser centralizado, nosso jornal pode também organizar e centralizar nossa formação política. Ora, se temos um órgão central que em certo dia do mês estará em nossas mãos e temos plena certeza em sua linha, organizar um trabalho de formação política com os trabalhadores se torna muito mais fácil. Podemos organizar rodas de leitura do jornal em comunidades, escolas, universidades, sindicatos, ocupações… O trabalho de formação política se torna centralizado e coordenado, em outras palavras, profissional. Aí está o papel de fio condutor de um jornal político, ele centraliza a agitação e propaganda em torno dele, o que não significa renegar outras formas de agitação e propaganda, mas o fato de todo o trabalho ser centralizado em torno do jornal torna esse trabalho cem vezes mais qualitativo.
Um trabalhador que pega o mesmo ônibus todos os dias para ir para o trabalho sabe que sempre, num certo dia da semana, independente de ser ano de eleição ou não, um grupo de militantes de um partido se organizam para vender o seu jornal. Esse trabalhador pode ou não comprar o jornal, mas o jornal está na vida cotidiana dele, ele eventualmente vai procurar saber o que é esse jornal, vai conhecer os rostos que vendem aquele jornal, vai saber de que partido eles são, e esse trabalho permanente vai conquistar esse trabalhador, que pode a vir a comprar o jornal, se tornar um assinante, em suma, o trabalho que fizemos em torno do jornal apesar de não ser tão quantitativo quanto um trabalho de agitprop digital, foi muito mais qualitativo. O jornal conquistou a confiança daquele trabalhador, que irá ler o jornal, se identificar com a linha política do jornal, pode vir a procurar se organizar no partido que constrói aquele jornal… Aquele trabalhador teve um ganho político mil vezes maior do que o de um trabalhador que consumiu ou compartilhou algum conteúdo do partido pela internet. Ele apenas deslizou mais uma vez para baixo e o trabalho do partido saiu de seu cotidiano, o trabalho de brigada do jornal não, o trabalho em torno do jornal é permanente.
Ainda para os que defendem que o jornal partidário não deva ser impresso e alegam que “ninguém lê mais jornal impresso”, essa alegação não passa de pura simplificação e análise antimaterialista, pois não é baseada na realidade, e sim na vida cotidiana de quem faz essa afirmação. “Não vejo ninguém ao meu redor consumindo jornal impresso, logo essa forma de imprensa não tem mais capacidade de ser utilizada.” Bom, vamos aos fatos: cerca de 15% da população brasileira não tem acesso a internet, e só se informam por meio da mídia burguesa televisionada, como iremos alcançar tal parcela da população? Além de que, mesmo a imprensa como mídia de massas tendo sido superada, se um jornal do partido que se propõe a ser o partido da classe trabalhadora não consegue conquistar a consciência e a confiança de trabalhadores, para que esses possam ler o jornal, como iremos seguir rumo a conquistar a consciência geral das massas? A perda nas vendas e leituras de jornais impressos por parte de jornais burgueses é um fato objetivo, a tiragem de vendas de jornais burgueses vem caindo. Isso se deve majoritariamente por serem jornais burgueses, por não representarem a classe, a classe não se vê nesses jornais, não vê nessa imprensa a sua imprensa de classe. Um jornal do partido comunista deve ser o jornal da classe, devemos trabalhar avidamente em torno dele, devemos organizar em torno dele toda a agitação e propaganda do partido. Um jornal proletário, a imprensa proletária, se realmente for um jornal da classe, se seu trabalho de agitação estiver sendo bem feito e de forma profissional, as tiragens da imprensa burguesa continuaram caindo e as nossas aumentando. O sentido do jornal do partido não está apenas em ser um noticiário, e sim de ser um veículo da classe, é o portal por meio onde a classe se vê e vê o seu programa político.
Em suma, camaradas, um jornal impresso como massificador da agitprop do partido pode ter sido superado, mas o seu papel de centralizar essa agitprop, organizar a estrutura partidária, profissionalizar o trabalho do partido e se inserir de forma permanente e qualitativa nas massas, não. Não podemos substituir o jornal impresso por mídias digitais pois as mídias digitais não podem cumprir o papel do jornal impresso, tampouco podemos renegar a atuação digital pois nos tempos atuais ela consegue alcançar mais pessoas, esses dois trabalhos devem atuar conjuntamente.
Como já expus minhas percepções de como deve ser e qual é o papel do jornal do partido, agora irei me debruçar sobre outras formas de agitação e propaganda, especificamente a atuação digital.
Existia uma certa repulsa no antigo PCB sobre a atuação digital, uma subestimação das redes sociais na disputa política, por conta disso os debates sobre como devemos nos inserir, atuar e organizar a agitprop digital são muito pouco desenvolvidos na organização. Pois bem, apesar dos pesares, nos últimos tempos diversas iniciativas individuais surgiram na internet, como por exemplo o trabalho do Jones Manoel e do Gustavo Gaiofato no Youtube e o trabalho de diversas páginas marxistas nas redes sociais. Essas experiências puderam nos fornecer diversos acúmulos sobre a atuação nas redes, que ainda hoje é 100% artesanal, nada centralizada. Precisamos debater sobre como iremos centralizar o trabalho partidário nas redes para que possamos ter uma atuação profissional que consiga atingir o maior número de pessoas da forma mais qualitativa possível.
Nesse sentido, posso trazer algumas poucas contribuições que acumulei produzindo vídeos para o meu perfil individual no Tik Tok e para o perfil do coletivo ao qual faço parte, o Educação Revolucionária, que também atua em outras redes sociais. O coletivo surgiu de forma espontânea a partir de um grupo de estudos sobre marxismo no Discord, a princípio o objetivo era ser apenas um site que reunisse textos e materiais marxistas de forma mais organizada que outras iniciativas, como o marxists.org, por exemplo. Posteriormente o Educação Revolucionária se tornou um coletivo de agitação e propaganda digital, com foco em produzir conteúdos de agitprop na internet para direcionar as pessoas a lerem os textos publicados no site, participar de eventos do coletivo, em suma, participar de sua formação teórica, como as leituras coletivas que organizamos em nosso servidor do Discord. Nesse tempo de atuação buscamos profissionalizar nosso trabalho, estudando o algoritmo das redes, em que horários era mais vantajoso publicar, com que frequência, que formas comunicativas eram mais aceitas pelas massas, etc. Nessa atuação no Educação revolucionária, pude adquirir experiências sobre agitprop digital que considero muito significativas, tanto experiências sobre atuação, comunicação, estética, etc.
A atuação dos partidos de esquerda nas redes sociais são muito débeis, são muito artesanais, falta organização e centralização. Tomemos de exemplo o Movimento Brasil Livre(MBL), o MBL possui uma infraestrutura de atuação nas redes invejável, mas isso não se explica somente pela capacidade financeira que eles têm, mas também pelo conhecimento das redes e do algoritmo, o trabalho de atuação do MBL nas redes digitais é coordenado e profissional. Se algum membro do MBL vai dar uma entrevista, eles possuem uma comissão preparada para fabricar cortes das entrevistas o mais rápido possível e dispará-los nas redes de forma organizada para domar o algoritmo, esse é um exemplo de atuação que poderíamos ter.
O Tik Tok, por ser uma rede que entra na lógica da sociedade neoliberal de ansiedade, velocidade e menos conteúdo, e pelo seu algoritmo, consegue alcançar gigantescas quantidades de pessoas. Enquanto um partido que busca massificar sua atuação, precisamos desenvolver estudo sobre o funcionamento do algoritmo do Tik Tok e outras redes, para que possamos atuar de forma profissional buscando massificar nossa agitprop. Percebi uma tentativa de inserção das organizações revolucionárias no Tik Tok que não estão dando o resultado esperado pelo simples fato de desconhecimento da rede, do uso de tags, horário de publicação, etc. Precisamos profissionalizar o trabalho nas redes, estudar estratégias para viralizar nossos conteúdos, precisamos organizar de forma centralizada o nosso trabalho digital.
Se algum camarada do partido vai dar entrevista em alguma rede, por exemplo, precisamos de outros camaradas do partido preparados para fazer cortes de fala dessa entrevista, que tenham conhecimento de como funciona a dinâmica de cortes, quais formas de publicação dos cortes são mais aceitas e que também tenham conhecimento do funcionamento do algoritmo, para publicarmos de forma organizada em horários de pico, com as devidas tags que proporcionam maior alcance. Vejam, camaradas, vi diversos vídeos no Tik Tok utilizando a #PCBRR, #reconstruçãorevolucionária, etc. Isso demonstra um profundo desconhecimento do funcionamento das tags nas redes sociais, pois essas tags não alcançam quase ninguém, precisamos que o partido tenha conhecimento de como utilizar as tags para viralizar nas redes e massificar nossa agitação e desenvolver materiais para a militância onde documentamos nossos acúmulos para que o conhecimento do trabalho de agitprop seja socializado para todos os núcleos. A falta desse conhecimento e da organização de uma área especializada para estudar e realizar esse trabalho demonstra uma artesanalidade nos partidos de esquerda, num geral, de organizar o trabalho de agitação e propaganda digital.
As iniciativas individuais, como páginas de instagram marxistas, por exemplo, são muito mal aproveitadas pelo partido. Deveríamos ter um projeto de centralização desses trabalhos, aí está novamente a necessidade de um jornal do partido, não de dissolver essas iniciativas e incorporá-las ao partido, mas sim organizá-las para que possamos trabalhar em conjunto para profissionalizar a atuação. Por exemplo, se tivéssemos um projeto que reunisse todas as páginas marxistas que atuam nas redes, se fossemos começar uma campanha pela nacionalização do sistema ferroviário brasileiro, poderíamos organizar para que todas essas páginas façam um trabalho simultâneo de agitação sobre esse tema para que possamos colocá-lo em alta.
Para além disso, temos que debater as dificuldades de milhões de brasileiros para utilizar a internet, como por exemplo, boa parte dos brasileiros só tem acesso a internet via planos móveis, como no deslocamento casa-trabalho, como também pessoas que trabalham como motoristas de aplicativo, essas pessoas não terão acesso a muitos o conteúdos digitais por nós produzidos, pois plataformas como Youtube ou Spotify(para podcasts) consomem muitos dados. Essas pessoas utilizam mais aplicativos de troca de mensagens, principalmente o Whatsapp, que não consome dados na maioria dos planos de internet móveis. Como iremos fazer para nosso trabalho de agitação digital chegar a essas pessoas? Por que não fazemos, por exemplo, um canal de transmissão no Whatsapp que disponibilize as notícias publicadas em nosso jornal seja em forma escrita ou em forma de áudio/podcast que se tornam mais acessíveis aos trabalhadores em locomoção, já que não consome dados e será de mais fácil acesso para esses setores da classe trabalhadora?
Precisamos profissionalizar e centralizar nosso trabalho nas redes, somente um trabalho centralizado pode gerar resultados concretos para uma organização revolucionária. Superar a artesanalidade do trabalho digital não é uma tarefa difícil, precisamos apenas saber coordená-la. Temos diversos acúmulos de muitos militantes sobre essa área, precisamos centralizar esses acúmulos e pensar numa estratégia de atuação digital concreta. Precisamos superar o falso debate de Jornal partidário x agitprop digital, e compreender que os dois têm objetivos diferentes. Somente um jornal político para todo o Brasil pode servir como um organizador coletivo do nosso trabalho partidário e um fio condutor da nossa agitação, propaganda e trabalho de base, e somente um trabalho de agitação e propaganda digital coordenado e centralizado pode gerar resultados massivos para o partido revolucionário.