'Sobre a tarefa pedagógica dos comunistas – Parte 2' (Marcelo Hayashi)
Penso que o caminho a ser traçado é sim de busca de uma teórica pedagógica para o processo revolucionário brasileiro, mas reafirmo que ela não existe hoje. Retomo também o apontamento da necessidade de entender como a educação e a pedagogia permeiam todas nossas ações cotidianas enquanto comunistas.
Por Marcelo Hayashi para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Camaradas, fico muito contente de finalmente conseguir ter tempo sintetizar algumas ideias minhas como contribuição para as tribunas de debates. Fico feliz também por ser sobre a temática da área da minha pesquisa: a educação!
Bem, na verdade, boa parte desse escrito não é inédito. Inicialmente quis replicar o meu texto chamado “Sobre a tarefa pedagógica dos comunistas – Parte 1”, que foi publicado originalmente no meu Medium no dia 13 de março de 2022 [1], e posteriormente publicado no site do PCB.
Porém, algumas tribunas sobre educação me chamaram a atenção, principalmente a do Camarada Corinthiano (salve o Corinthians!), sobre a Pedagogia Histórico-Crítica. Sendo assim, primeiro irei replicar abaixo o meu texto citado no parágrafo anterior, para depois buscar aprofundar algumas reflexões e dialogar com a proposta da tribuna do camarada citado.
É válido ressaltar que, mesmo que no título contenha a indicação da “Parte 1”, suas partes subsequentes nunca foram redigidas ou publicadas. Espero que essa tribuna sirva minimamente para avançar nas ideias que apresentei, portanto, o nome de “Parte 2” a esse escrito. Segue o texto da parte 1:
Título: Sobre a tarefa pedagógicas dos comunistas – Parte 1
Há muito tenho refletido sobre a questão apresentada no título deste escrito. Pretendo tratar aqui de questões e reflexões que talvez não se encerrem apenas nesse texto. Falarei sobre a necessária mudança educacional e pedagógica (pois são coisas diferentes) no Brasil, com base na necessária mudança ideológica e, sobretudo, estrutural de nossa sociedade.
Dirijo-me a toda classe trabalhadora deste vasto país, mas principalmente aos e às camaradas que cerram as fileiras revolucionárias, e que erguem as indiscutíveis bandeiras anticapitalistas e anti-imperialistas.
Antes de mais nada, preciso colocar você, leitor e leitora, a par do que será essa série de textos. Bem, é impossível eu ir direto ao ponto sobre a tarefa dos e das comunistas sem antes trazer alguma perspectiva concreta e metodológica sobre o tema.
Pretendo fazer isso sem grandes rodeios, mas com muita dialética, e trazendo alguns pontos que considerei serem importantes. Não pretendo abarcar todas as questões, problemáticas e reflexões que podem (e com certeza devem) fazer parte dessa discussão. Gostaria de fazer isso, mas por questões de tempo e de necessidade de um estudo mais aprofundado, não as farei neste momento.
A intenção é que um texto vá complementando o outro, conectando ideias, fazendo surgir novas reflexões e questionamentos por onde esse texto chegar. Por isso, convido você desde já a acompanhar os próximos escritos para refletir e discutir junto comigo, assim fazendo avançar a teoria e a prática de forma conjunta.
A questão educacional é um tema candente em todo âmbito político de nossa sociedade. Por um lado, é utilizada como moeda de troca por votos pelos políticos que representam a burguesia nacional e internacional. Ainda daquele lado do “muro", há aqueles que defendam a educação como via principal de mudança social; reza a lenda que é através dela, e apenas ela, que o mundo será transformado. Poético, esperançoso, bonito, porém desconexo com a realidade. Por outro lado, deste lado do “muro", há uma análise mais correta e acertada, e de fato materialista: de que a educação é fundamental para a mudança estrutural, mas com a consciência da equivocada posição em defender ela como central na luta.
A Educação (com E maiúsculo, até para denominar o que, no senso comum, subentende-se por colocar a educação como algo puramente institucional) deve ser defendida com unhas e dentes. Ela é um dos principais focos de ataque e desmonte nas últimas décadas (quiçá desde sempre no Brasil), ataques esses orquestrados de forma única pela burguesia. Um dos maiores responsáveis por essa política é o bilionário Jorge Paulo Lehmann, que possui diversas empresas e investimentos no setor privado da educação. Uma representante bem conhecida dessa política é a agora deputada federal Tábata Amaral, fundadora do movimento “Mapa Educação”, e exemplo meritocrático da classe dominante por ter “vencido" e ter sido “salva" pela educação.
O erro que reside na ideia daqueles que defendem a educação como central no processo de mudança social é justamente reflexo do reformismo, prática que se tornou corriqueira pela esquerda progressista e neoliberal. O reformismo prega que as mudanças serão realizadas pelos meios institucionais, “curando" seus problemas administrativos, de gestão e de governabilidade. Através dessa prática, efetiva-se a ideia de que mudanças democráticas, dentro do capitalismo burguês, serão o fio condutor da resolução de todo problema social. Pois não há ideia mais equivocada que essa: como pode um sistema podre ser recuperado? A falsa ideia de democracia criada pelo capitalismo nos isola do cerne real do problema, pois o que se diz democrático encontra seus próprios limites, e limita seu potencial, dentro do sistema hegemonizado pela burguesia.
É interessante notar como essa discussão surge no Brasil, principalmente pelo que se constitui como a maior potência educacional e de orgulho do nosso povo: a academia. Por academia podem entender que me refiro às universidades, suas pesquisas, a ciência e a tecnologia desenvolvidas nesse meio. O francês Pierre Bourdieu, em um texto que se tornou clássico na academia, descreve como se dão as formas de dominação ideológicas dentro do campo de pesquisa, através do conceito de hegemonia de Antonio Gramsci. Pois é factível dizer que tal aplicação do conceito pode ser utilizado para análises diversas em situações diversas na busca por exemplificar como a hegemonia burguesa do capitalismo se desdobra nas sociedades atuais. No questionamento levantado no parágrafo anterior (“como pode um sistema podre ser recuperado?”) é possível ver como o positivismo, corrente sociológica utilizada como base científica de diversas vertentes e ramos da ciência burguesa, se exemplifica na prática.
O positivismo reside, entre outras coisas, na transposição de uma questão biológica de forma pura para as análises sociais. “Bom se a sociedade está podre, basta reforma-la antes de seguir em frente, igual faríamos com uma peça de madeira". Mas uma sociedade nunca será igual a uma madeira. E sim, há quem defenda isso fazendo comparações com objetos inanimados e animais, como se a sociedade fosse algo estático ou como se a humanidade se comparasse com o desenvolvimento de outros animais terrestres. Mesmo sendo a corrente que ‘fundou’ a sociologia enquanto ciência na academia, e mesmo após todo esse tempo, o positivismo ainda impera silenciosamente no campo científico. Seja colocado de forma direta, seja por estar pautado em um idealismo platoniano, seja por ser a forma como outras grandes áreas do conhecimento se inserem nas ciências humanas… O importante aqui é entender que ele existe enquanto base científica, metodológica e epistemológica de muitas teorias e posicionamentos políticos atuais.
De toda forma, o mesmo não pode ser dito da ciência da classe trabalhadora: o marxismo. No materialismo histórico-dialético não se transporta de forma mecânica uma análise de uma situação pra outra. Na verdade, busca-se diferenciar e analisar as particularidades de cada país/situação/conjuntura com base em questões concretas, históricas e dialéticas. Você pode dizer que é a mesma coisa, mas há diferenças.
Por exemplo, é diferente eu analisar uma política pública e estatal que foi aplicada por todo território brasileiro em determinado período e analisar uma teoria educacional e pedagógica que foi teorizada e pensada, porém nunca teve aplicação prática. Quer um exemplo: em 1932, diversos setores da sociedade brasileira se unificaram na luta pela pauta que, posteriormente, conhecemos como “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”. Nesse movimento se juntaram comunistas, anarquistas, progressistas, liberais, etc. Esse manifesto se fez um marco educacional no país, porém (e longe de mim desconsiderar a importância disso) como ele se desdobrou na prática? Um dos preceitos do manifesto era uma educação laica, a educação hoje pode ser realmente dita como laica? Outro preceito era que ela fosse universal. E hoje, a educação é realmente universalizada pelo país? É realmente gratuita se os alunos tem que pegar ônibus para chegar até lá e o governo não arca com esses custos? E por último, ela não é nem de longe de qualidade.
Tudo isso é espelho de algo que já sabemos: a educação brasileira quando pensada no que se é na realidade, passa bem longe de qualquer política bem escrita e maravilhosa do papel. Isso pra mim é bem claro pela pesquisa que realizei no mestrado. A Educação Integral é linda no papel, mas pouco efetiva na prática, e isso não é resultado só de uma ‘infiltração’ liberal em seus conceitos. Na realidade, a Educação Integral que está no papel não consegue se concretizar com todo seu potencial dentro do capitalismo.
Enfim, para não me alongar muito nesse ponto agora, acredito que o importante é o entendimento das análises educacionais brasileiras, a diferenciação entre pedagogia e educação, a diferença entre o que acontece na prática e na teoria, etc.
Dito toda essa questão, retomo uma pergunta fundamental ao movimento revolucionário: Qual educação pretendemos para transformar a sociedade? Qual educação pretendemos DEPOIS de transformar a sociedade? No meu entendimento, essas duas questões se separam, pois entendo que são momentos e táticas diferentes a serem escolhidas e aplicadas.
Disso, surgem ainda outros questionamentos: Qual é a pedagogia mais adequada para o modelo de educação que foi pensado? Me coloco a pensar nessas questões, pois, no meu entendimento, a educação permeia qualquer área de atuação militante.
Temos que pensar em como intervir e avançar a consciência de classe dos trabalhadores e trabalhadoras a todo momento. Sermos comunistas em tempo integral. Uma panfletagem é um momento mais que oportuno para isso, e para fazer esse processo necessita de uma didática, necessita-se de uma orientação pedagógica. Isso acontece também em qualquer conversa de bar ou fila de pão em que um comunista está inserido. A educação política está presente também na forma como levamos os conteúdos de agitação e propaganda para a classe trabalhadora. Ela também se demonstra presente quando precisamos explicar aos trabalhadores porque o partido de vanguarda precisa de ajuda financeira para apoiar e ajudar a construir uma escola popular em alguma ocupação. Se faz presente também na maneira como nos portamos e lidamos com redes sociais.
Enfim, eu poderia citar qualquer exemplo aqui e demonstrar de forma prática sobre como a pedagogia é extremamente importante e necessária aos e às comunistas e à classe trabalhadora. Nos escritos futuros, pretendo abordar e ressaltar ainda mais essa tarefa tão essencial e que está permeada às outras tarefas (tanto estratégicas como táticas) do movimento revolucionário. Pretendo também demonstrar como diversos revolucionários já demonstraram a extrema importância desta tarefa em seus escritos.
Mas isso é papo de outro dia! Enquanto isso, comenta o que você achou dessas reflexões, vamos construindo coletivamente esse processo mais que necessário e urgente.
Antes de avançar no texto, deixo também como referência a leitura do texto do camarada Gabriel Landi chamado “Confundindo pedagogia e política: Marx e Lenin sobre a educação revolucionária do proletariado” [2]. Lembro que que na época que enviei a Parte 1 para triagem para o site do PCB, o camarada veio conversar comigo sobre as aproximações das minhas reflexões ao artigo que ela havia escrito.
Em síntese: há bastante tempo que indico em espaços internos que os comunistas, no quesito da educação, só sabem afirmar e reafirmar o que não querem, mas o que queremos então? Qual projeto defendemos? Como apontei aqui na primeira parte, ainda fazemos uma diferenciação teoricamente ruim entre a educação para o processo revolucionária e a educação para formação do ser humano de novo tipo, o ser humano socialista. E já afirmo categoricamente que não há hoje nenhuma teoria pedagógica na história do Brasil que nos sirva de base teórica e prática para a ação militante revolucionária.
Aqui começam meus pontos de discordância com o Camarada Corinthiano e a ideia da PHC enquanto base para nosso programa político na educação. As ideias apresentadas por Saviani, e defendida por uma boa quantidade de pessoas de ‘esquerda’ no Brasil, não são adequadas para a nossa prática revolucionária. Inclusive, há indícios teóricos disso na própria tribuna “A Pedagogia Histórico-Crítica e a Criação de um Sistema Nacional de Educação como Tarefa da Revolucionária”. Bem vou tentar colocar alguns pontos:
- Quando o camarada cita que a PHC é declaradamente marxista, isso não traz nada de qualidade política ao nosso programa. Há marxismos e marxistas, nem sempre a contribuição é boa puramente por isso.
- As análises teóricas apresentadas através das citações do Saviani na tribuna citada não trazem nada de avanço, no meu entendimento, para a nossa organização. Vejo que são formas diferentes ou novas de se afirmar coisas que já sabemos, ou que até mesmo Marx já abordou. E isso não é dispensar possíveis contribuições teóricas da PHC, mas apenas não fantasiarmos como algo inédito ou nunca antes visto.
- O camarada cita que a PHC é “fortemente influenciada pela ortodoxia marxista gramsciana e no academicismo neomarxista frankurtiano”. Vejam só, como uma teoria academicista pode trazer algo de bom a nossa organização? Em suma maioria, as pessoas que utilizam da PHC, a defendem, estudam, pesquisam e a aplicam se encastelam na academia e nada contribuem de forma prática para nossa ação revolucionária. É de uma teoria academicista que precisamos? Coloco essa reflexão. Outro ponto: a escola de Frankfurt utilizou do marxismo em suas análises e como base teórica, mas se diferencia em muitos pontos centrais do marxismo-leninismo. Relembro que nem toda contribuição que utilize da visão de mundo marxista traz contribuições inevitáveis para uma organização marxista-leninista.
- A justificativa da PHC realizar a vinculação do trabalho e da educação é interessante, mas não é isso que justifica sua utilização como base para o nosso programa. Entendo a importância disso, mas é a mesma questão do primeiro ponto.
- Sobre a “socialização do saber sistematizado”, eu tenho muitas dúvidas sobre a aplicação disso pela PHC. Uma crítica que tenho é: a PHC serve mais como base curricular escolar do que qualquer outra coisa. Se tentarmos aplicar a sistematização rígida proposta pela PHC fora do ambiente escolar, como ela reagiria? Como as pessoas onde iriamos realizar diálogo, educação política e trabalho de base reagiriam? Nem sempre partir, por exemplo, do ensino da música clássica é a melhor forma pedagógica em todas situações. E isso eu abordo na primeira parte do meu texto: aplicações universais que não levam em conta particularidades tendem diretamente ao positivismo.
- Ainda sobre a sistematização da cultura popular, eu tenho grandes dúvidas também. Fomos formados e ensinados a entender a sistematização do conhecimento de uma determinada forma pela maneira do desenvolvimento capitalista na história. Essa forma é única? Quem somos nós para dizer, por exemplo, que a cultura popular indígena não tem sua própria cultura sistematizada? Bem provável que a tenha, mas não nos moldes como nos entendemos a “sistematização do saber”.
- Juntando os dois últimos pontos, a PHC dá um peso soberano ao currículo e a escola, e esquece que a educação (ou Educação, como preferirem) não se realiza apenas no ambiente escolar. Pensar em educação e resumi-la a escola é um equívoco na análise que comunistas poderiam fazer da sociedade. E vejam camaradas, a análise trazida na tribuna citada, quando chega na parte de propor algo para intervenção na realidade concreta, não traz nada de novo. Pelo contrário, reafirma o que aponto no meu texto: só sabemos o que não queremos e o que rejeitamos. Entre os 7 pontos apresentados pelo camarada como mediações táticas, nenhuma é sobre a proposição de uma pedagogia e um método educativo ou sobre aprendizagens novas, é explicitamente sobre a revogação de leis, de estruturação trabalhista para a categoria dos professores e do fim do projeto de desmonte. O que queremos colocar no lugar disso? Não sabemos ainda...
- Por último, por mais interessante que parece a ideia do Sistema Nacional de Educação, ele me parece ainda muito vago nas proposições textuais. Por exemplo, reafirma o que já apontei na parte 1 do meu texto sobre os princípios do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova.
Enfim, precisamos encarar a realidade que bate a nossa cara e dizer que não temos uma pedagogia fundamental ou inegável enquanto contribuição para o avanço do movimento revolucionário no Brasil. Se a PHC fosse a estrela norteadora disso, talvez não estaríamos na situação real que temos hoje, já que não são poucas as pessoas que utilizam da PHC enquanto método escolar e curricular em suas aulas. E até hoje, isso não trouxe nenhum fruto ou cerne fundante para analisarmos e dizer que a PHC é imprescindível. Caso haja alguma experiência, que não tenho conhecimento, de como a PHC interviu na realidade de alguma comunidade e mudou a forma de organização da mesma, apontando para a nossa estratégia revolucionária, gostaria muito de tomar conhecimento dessa experiência.
Em minhas reflexões perpassa a ideia de que devemos pensar e propor uma educação que não se resuma ao ambiente escolar. Analisando de forma materialista, a escola brasileira é a negação de qualquer ensino crítico. Exclusivamente por lá é impossível gerar um grande contingente de pessoas com pensamento crítico, aproximadas do marxismo-leninismo e de nossa concepção de mundo. Quantas crianças frequentam as aulas de maneira efetiva e tem condições de aprender com qualidade? Quantas pessoas nos locais onde estamos inseridos mal terminaram o ensino fundamental/médio? Ou seja, se não partirmos da análise da própria escola pública brasileira, imaginar que só a defesa da teoria pedagógica X é suficiente, estaremos excluindo muitas questões.
Penso que o caminho a ser traçado é sim de busca de uma teórica pedagógica para o processo revolucionário brasileiro, mas reafirmo que ela não existe hoje. Retomo também o apontamento da necessidade de entender como a educação e a pedagogia permeiam todas nossas ações cotidianas enquanto comunistas.
E devemos pensar no processo pedagógico da nossa classe para além das escolas, disputando os rumos da nossa sociedade e constituindo um caminho mais bem sedimentado para os comunistas no âmbito da educação, descentralizando a discussão do campo exclusivamente escolar.
Devemos pensar em uma atuação que abarque sim as escolas, mas que também pense em cursinhos populares, ensino de outras questões não escolares, centros culturais populares, leitura teórica marxista, bibliotecas populares, etc. e que enxerguemos isso de maneira unificada enquanto um sistema educacional potente, revolucionário, transformador e com potencial para as parcelas da classe trabalhadora que tem suas oportunidades de estudo, deslocamento, tempo, entre muitas outras coisas, negadas pelo sistema capitalista. Ou seja, pensar sobre educação de maneira materialista, fugindo ao idealismo, já que a educação em nosso país é diferente dentro de um mesmo estado, por exemplo.
Disputar os rumos da nossa sociedade e constituir um caminho mais bem sedimentado para os comunistas no âmbito da educação perpassa sair do campo escolar. E há aqui, na contramão do que aponto, um perigo de tentarmos reformar a escola burguesa, acreditando que iremos criar um centro ideológico separado da própria sociedade capitalista, e enquanto centro de resistência e avanço do processo revolucionário. A escola hoje é da burguesia (seja ela pública ou privada), é a burguesia quem manda nela e a burguesia que a hegemoniza.
São tantas questões que me vem à cabeça que as vezes é difícil fazer sínteses. Não atoa me debrucei sobre o estudo das políticas públicas de Educação Integral no país na minha dissertação e agora busco pesquisar para a minha tese a experiência soviética do politecnismo para entender o que ainda não conseguimos apreender enquanto contribuições para a realidade brasileira no século XXI, dado que o que temos até hoje enquanto contribuição teórica para o processo revolucionário no Brasil é insuficiente.
Para o futuro, espero contribuir com algumas percepções que tenho sobre a política pública de Educação Integral (agora retomada pelo governo Lula), suas diferenças práticas para a Escola de Tempo Integral, e os princípios do desenvolvimento integral do ser humano (da maneira como Marx colocou nos Manuscritos). Inclusive, tenho ponderações sobre a forma como alguns camaradas já defenderam acriticamente a proposta de Educação Integral. Mas como disse na primeira parte e repito aqui: isso é papo para outro dia!
Espero que esse texto incentive, principalmente, reflexões e questionamentos para a nossa militância. Não consegui escrever tudo da maneira mais científica possível e deixei muitas questões de lado, para não ser um escrito extremamente longo e cansativo para quem o ler. Torço que durante as etapas congressuais avancemos, mesmo que timidamente, no consenso das análises e leituras, com intuito de passarmos da fase reativa na questão da educação, e que adentremos ao campo da proposição.
Referências: