'Sobre a raiz da contradição que faz a UJC se opor massivamente a fração PCB-CC' (Fabio Augustto)
Não podemos esquecer que um partido comunista é avaliado pela forma do seu trabalho muito mais do que pelas suas palavras de ordem, e a forma de trabalho, por opção da fração PCB-CC atualmente, não é uma forma de trabalho revolucionária.
Por Fabio Augustto para Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Nas últimas semanas, ao me deparar com as críticas feitas pela fração que compõe a ala direita do Partido – ao qual irei chamar nesse texto de PCB-CC – uma em específico me chamou bastante a atenção, que é a insistência em colocar a crise atual na conta de meia dúzia de militantes “fracionistas”, e como consequência desse argumento, toda a base – cada vez maior – que se coloca contra o PCB-CC, seria apenas vítima inocente da influência desse grupo manipulador e cruel. O auge dessa argumentação rasa, desassociada da realidade, e principalmente, absolutamente desrespeitosa com a nossa base, foi uma infeliz nota política do Comitê Central, de título: “O PCB diante da tragédia e da farsa: esclarecimento público” datada de 2 de agosto de 2023, poucos dias após o início do expurgo. Na nota, afirmam que esses “fracionistas” estariam causando na militância de base “confusão e desorientação”, e isso seria a explicação para uma adesão tão grande dá base às posições que dias depois vieram a dar forma ao Manifesto pela Reconstrução Revolucionária do PCB, como se não tivéssemos motivações próprias e capacidade crítica o suficiente para defender as nossas posições.
Buscarei nessa contribuição desmentir esse fato, deixando claro a todos que lerem que as contradições entre a UJC e o Partido, que contribuíram bastante para a produção dessa, agora já iminente, cisão, foram gestadas por anos pela própria apatia e letargia do PCB-CC, que ao se deparar com o crescimento e amadurecimento político da nossa juventude, tomou a triste decisão de travar, boicotar e perseguir sistematicamente esses avanços. Escrevo esse texto na perspectiva de um militante do estado de São Paulo, com a experiência de ter contribuído para a construção da UJC durante os últimos 4 anos, sendo os exemplos citados específicos da nossa atuação no estado paulista, apesar de muitas das nossas experiências locais com certeza encontrarem semelhanças na relação UJC-PCB em todo o país.
O resgate histórico de como a militância da UJC se desenvolveu política e organizativamente não é tema desta tribuna, mas incentivo que os camaradas que participaram desse período de reconstrução desenvolvam melhor esse tema que com certeza é de importância ímpar. Vou usar como exemplo nesse texto uma das tarefas políticas de maior impacto na nossa política estadual. Foi no desenrolar das experiências político-organizativas que envolveram a campanha eleitoral das eleições de 2020 que a então Coordenação Estadual de São Paulo, e mais especificamente na figura do seu secretário de agitação e propaganda a época, começaram a formular sobre o Jornal “O Futuro de São Paulo”.
Vou agora citar um trecho que abre a proposta original para a criação do jornal, enviada pelo secretário de agitação e propaganda ao pleno da Coordenação Estadual de São Paulo no segundo semestre de 2020:
O relatório da secretaria de organização desse semestre, enviado há pouco, sintetiza em dados problemas candentes que tratamos na Coordenação Estadual há bastante tempo. Escancara as debilidades de nossa organização no trabalho fundamental dessa etapa histórica: a especialização e profissionalização de nosso trabalho. De maneira cristalina, conseguimos observar que nosso trabalho é completamente artesanal e que, dessa forma, os avanços e vitórias parciais que conseguimos nesse período são nada mais que tímidos e vacilantes.
Há tempos criticamos a dificuldade gigantesca que temos de implementar uma política de assistência minimamente eficaz e especialização de nosso trabalho focado nos segmentos estratégicos do Giro Operário-Popular. O relatório mostra o óbvio, que viemos destacando há tempos: nossa organização, apesar do crescimento estrondoso, vacila de maneira amadora em seu trabalho político. Cabe aqui, portanto, algumas sínteses políticas e possíveis propostas acerca do caráter organizativo de nosso trabalho político.
Algumas coisas a notar nesse trecho: era um momento de franco crescimento da organização, nosso número de militantes, núcleos e regiões onde tínhamos inserção aumentava exponencialmente. Ainda assim, no lugar da autoproclamação vazia, fazíamos as críticas que ecoaram de norte a sul deste país, fato esse comprovado facilmente por qualquer militante da UJC que teve acesso às tribunas de debate do nosso último congresso nacional. Não houve uma reunião nesses 4 anos de militância em que não ouvisse insistentemente críticas ao nosso trabalho artesanal, não especialização, finanças amadoras, falta de uma política de formação de quadros, falta de uma política de recrutamento, péssimos planejamentos políticos e por aí vai, isso só pra citar as críticas mais presentes entre os militantes de um organismo de base da UJC, além das direções. Essa foi a cultura que vivi na minha militância: profundamente crítica, autocrítica e consciente de suas limitações e debilidades.
Voltando a proposta do jornal, nesse caldo todo envolvendo o nosso crescimento, nossa postura crítica e a necessidade imediata de nos colocarmos a altura dos desafios que a realidade nos impunha, o camarada usa como exemplo para sua proposta o jornal único para toda a Rússia, grande prioridade de Lênin entre os anos de fundação do POSDR, segue mais um trecho:
"Toda a estrutura partidária deveria se articular centralmente a partir do trabalho de agitação e propaganda do jornal. Cada célula social-democrata direcionaria um quarto de sua militância para auxiliar localmente o trabalho publicista central. Colhendo denúncias nas fábricas e no campo, formulando sobre sua realidade local, pesquisando as pautas centrais do movimento em que estivesse inserido, organizando círculos operários de literatura clandestina, círculos socialistas de debates, etc. Algumas células poderiam e deveriam se especializar para fins determinados como células de impressão clandestina, trabalho especializado em um outro seguimento de atuação, etc. Tudo isso voltado para fornecer um amálgama político teórico e prático para que o Comitê Central e o Órgão Central pudessem dirigir, orientar e planejar os trabalhos nacionalmente e operar unitariamente através do jornal o trabalho cotidiano e permanente do Partido: a agitação e propaganda de um jornal único para toda a Rússia."
A experiência prática do Jornal O Futuro de São Paulo, que tinha a intenção de nacionalizar-se, e foi infelizmente interrompida – voltarei nesse assunto mais a frente –, durou cerca de um ano, e um balanço mais completo dessa experiência, com todas as contradições, dificuldades e erros que tivemos, com certeza merece a mais alta atenção de qualquer militante comunista. O que vou expor a seguir é a perspectiva de apenas um núcleo, o Henrique Novaes, núcleo da zona leste da cidade de São Paulo e meu núcleo de atuação, como forma de dimensionar o efeito do jornal no nível organizativo dessa instância.
O núcleo em questão, no início de 2022 (quando o Jornal iniciou sua operação), tinha cerca de 40 militantes e atuação política instável, genérica e dispersa devido, entre outras coisas, às dificuldades organizativas em dar conta de uma região com quase 5 milhões de habitantes. Tínhamos alguns GT’s operativos, que como é tradição na nossa organização em quase nada funcionavam, ficando isolados entre si e sem conexão real com a luta política do núcleo. O jornal para nós serviu como esse fio condutor com a capacidade de centralizar a nossa ação política.
O melhor exemplo de como a nossa militância de base viu no jornal a oportunidade de corrigir muitas das suas debilidades foi que coletivamente o núcleo formulou uma proposta de Comissão de Agitação e Propaganda, que centralizava nela todas as tarefas relativas ao trabalho com o jornal, que se tornou, na prática, a partir dessa iniciativa, o centralizador de todo o trabalho político positivo do núcleo. Nela tínhamos militantes que se especializaram em escrever para o jornal, outros em colher denúncias populares no nosso local de atuação, outros responsáveis pelas tarefas logísticas de busca e distribuição do jornal, ainda tinham as tarefas de finanças e etc. Tudo isso centralizado de tal forma que nenhum militante que fazia parte desse fio, centralizado pelo jornal, cumpria suas tarefas de forma alienada – sejam elas quais fossem – todos estavam conscientes e ativamente participando das deliberações políticas. Com todos os erros e problemas que aconteceram no meio desse caminho, que qualquer militante que participou desse processo com certeza é capaz de ficar horas falando, avançamos tremendamente na profissionalização do nosso trabalho local, na divisão revolucionária das tarefas, especialização de quadros, na formação de novos, e muito mais. Não por coincidência nosso trabalho de formação cresceu tanto em qualidade nesse período, que em um espaço de um ano nosso núcleo forneceu 6 militantes para a Coordenação Estadual, que tinha em média 30 dirigentes.
Espero que tenha dado uma introdução sobre qual é a cultura política da nossa organização, e qual o nível político e organizativo que estamos habituados a atuar. Reitero novamente que não citei esses exemplos em nenhum momento como forma de autoproclamação, como se a UJC fosse já algum arauto do marxismo-leninismo, com certeza ainda estamos a anos-luz de distância de estarmos a altura das nossas tarefas imediatas. Mas o ponto central do meu argumento é que a nossa militância, na sua grande maioria, tem plena ciência das nossas debilidades, do nosso atraso e amadorismo. E se continuamos crescendo e melhorando todos os dias é devido justamente a isso. Fomos forjados militantes em um organismo que nos ensina a ter consciência de que subestimar as dificuldades e complexidades da luta política e superestimar os sucessos são fórmulas da germinação do mais clássico e vil oportunismo nas fileiras de um partido comunista.
Todo esse contexto camaradas, tinha o objetivo de colocá-los na nossa perspectiva, para que compreendessem qual era o nosso sentimento ao interagir de alguma forma com as células do PCB ou a direção estadual do partido e o choque que esse encontro nos causava. Vou relatar nas próximas linhas exemplos de como era essa relação da UJC com o partido usando algumas das minhas experiências pessoais na militância.
A primeira vez que tive essa interação foi tocando justamente tarefas eleitorais da campanha municipal de 2020, e ali começou o choque: incapacidade em centralizar a militância do complexo partidário para realizar a campanha de rua, uma falta de planejamento absurda ao ponto da identidade visual da principal candidatura à vereança ter sido iniciada dias após o INÍCIO oficial da campanha, confusão e amadorismo ao lidar com as contas além de um espontaneísmo e trabalho artesanal notáveis na direção dos trabalhos de agitação eleitoral. Tudo feito em cima da hora, os candidatos não tinham nenhum apoio e estrutura, tudo era jogado nas costas deles individualmente e quem conseguisse – por sua própria conta – recrutava militantes dos coletivos para auxiliá-los na campanha. Por inúmeras vezes vi o partido perdido, inútil e inoperante em alguma campanha ou ação e a UJC intervindo espontaneamente e fazendo o possível para estruturar e respaldar os camaradas responsáveis por essas sempre difíceis tarefas.
Em uma primeira impressão, me parecia natural, afinal, o partido havia passado décadas em um momento diferente, se reestruturando, tendo poucas condições de organizar campanhas eleitorais e estruturar sua agitação e propaganda. E a UJC, por outro lado, vinha sendo linha de frente dos recrutamentos, renovando sua juventude diariamente, mudando e se fortalecendo em um ritmo muito mais rápido que o do partido. Cometi um grande erro de avaliação ao enxergar essas questões como meramente organizativas, como se faltasse apenas alguns saltos lineares para o partido também se desenvolver e ir corrigindo sua rota.
Outro momento importante foi nas eleições de 2022, onde a então CE São Paulo tentou se organizar com alguma antecedência, e, ainda que tivéssemos muitos erros e problemas, conseguimos avanços importantes. Um deles foi a formulação de uma estrutura organizativa de agitação e propaganda que teria a função de centralizar todos os militantes. Nela, de maneira centralizada, nós recolhiamos as disponibilidades de todos os militantes, de todos os núcleos, estudávamos seriamente os planejamentos políticos, conectavamos isso tudo com a tarefa de criação dos Comitês de Luta pelo Poder Popular, e aí sim eram definidos os locais, a forma, os destacados e responsáveis de cada intervenção.
Vimos que a nossa formulação estava gerando resultado, mas começamos a ter um problema. Outros coletivos entravam em contato diretamente com os núcleos vizinhos a fim de programarem tarefas eleitorais conjuntamente, o que é perfeitamente natural e muito positivo, mas como nós não centralizavamos esses coletivos, decidimos contatar o CR do partido e fazer uma proposta simples: levar o que estávamos fazendo apenas na UJC para todo o complexo partidário do estado. A resposta foi na sua essência: não vão poder fazer isso aqui, por que seria como a UJC querer dirigir o PCB, e não podemos deixar isso acontecer, mas pode deixar que daqui pra frente é com a gente, vamos tocar essa proposta de vocês. E eis qual foi a forma como a tarefa foi realizada pelo CR do partido: simplesmente pegaram os secretários políticos dos núcleos e células, lançaram em grupos do WhatsApp e os deixaram à própria sorte, muitos sem ter muita ideia do que estava acontecendo. A partir dessa experiência estava ficando claro que o espontaneísmo e o trabalho artesanal eram o modus operandi do partido, e qualquer coisa fora disso era não apenas rechaçada, como também mal vista. Cansei de ouvir camaradas “tomando cuidado” com o que falavam perto de militantes da direção do partido, afinal, nessa época já tínhamos tido dirigentes da UJC perseguidos e punidos pelo partido em processos disciplinares viciados por serem simplesmente críticos.
Outra experiência foi em uma reunião do pleno da CE-SP, que tinha a presença de um membro da CPR dando assistência. Nessa reunião falávamos da nossa atuação no estado, e veio à tona uma experiência que tínhamos em determinado núcleo de bairro. Durante o pleno eu fiz uma crítica a nossa própria instância por nossa incapacidade de dirigir o movimento de bairros, que é o básico da nossa tarefa, tínhamos experiências cheias de potencial como uma associação de moradores em que o presidente era militante da UJC, e a gente não sabia o grau de inserção dessa associação, a nossa capacidade de intervir e aglutinar a juventude local a partir dela, se existiam outras forças na disputa e etc, tendo como resultado prático total incapacidade de dirigir politicamente essa associação. Falei que esse caso era uma amostra translúcida de que tínhamos uma direção incapaz de dirigir qualquer trabalho político real. Na fala seguinte do militante do partido que assistenciou nossa reunião tivemos que ouvir como éramos cansativos, derrotistas e pessimistas. Que a vitória em termos “conquistado” uma associação de moradores já era suficiente e em comparação com o partido tempos atrás estávamos muito à frente de qualquer previsão, o problema é que éramos “críticos demais”. Ia ficando cada vez mais claro pra mim que o PCB-CC tinha total desinteresse em absorver nossos acúmulos.
O último exemplo é voltando ao tema do nosso jornal O Futuro de São Paulo. Desde o começo já sabíamos que o Partido não o via com bons olhos, mas tocamos em frente até onde foi possível. Então veio o congresso, e nossa proposta de nacionalizar o jornal foi derrotada na etapa nacional. Muito por conta da influência do PCB-CC, mas também por conta de uma estrutura federativa que reina no nosso partido, se reflete na UJC e faz com que as experiências não sejam socializadas nacionalmente, isolando-as, o que definitivamente foi um ponto que não nos ajudou a conseguir os votos suficientes. Tendo acontecido a derrota no congresso, que foi de todo justa, referendada pelos delegados ali presentes, surgiu uma proposta a respeito do que fazer para direcionar o nosso acúmulo, tanto do nosso jornal quanto do jornal de outros estados, que também tiveram as suas experiências, e a proposta vencedora, referendada posteriormente pelo partido, colocava que seria nossa tarefa passar nossos acúmulos a construção do jornal do PCB, O Poder Popular.
A Coordenação Estadual de São Paulo seguiu a orientação à risca, e passou os meses seguintes se planejando para a transição entre os jornais. É bom lembrar nesse ponto que nos meus 4 anos de militância ainda não tinha convivido em nenhum espaço onde vi o jornal O Poder Popular ser distribuído, e nunca tive um exemplar físico nas minhas mãos. Mas tivemos a promessa de que dessa vez ia passar a ter impressões recorrentes, tal qual O Futuro de São Paulo, que chegou a ter tiragens superiores a 7 mil exemplares por mês. Quando chegou a hora, ficamos prontos, colocamos toda a nossa infraestrutura para a utilização do Partido, incluindo a cadeia logística de impressão, que já tinha todo o esquema pronto, era só mandar o arquivo para a gráfica. O nosso secretário de juventude a época ficou a cargo de realizar esse meio de campo, e ele fez todos os trâmites possíveis para a impressão acontecer. Acontece que aos 45 do segundo tempo, sem nenhum motivo aparente, nosso secretário de agitação e propaganda do CR do partido decidiu vetar a impressão, e continuamos assim até o presente dia, sem O Futuro de São Paulo nem O Poder Popular. Estava claro mais uma vez: o acordo no congresso era falso, nunca houve a menor intenção de internalizar os nossos acúmulos, o único objetivo era destruir qualquer possibilidade de construção de uma experiência positiva de jornal leninista.
Camaradas, esses foram apenas alguns exemplos, mas foram diversas as chances em que o PCB-CC teve a oportunidade de absorver muitos dos avanços que fizemos enquanto juventude, e a resposta que tivemos em todos esses momentos foi de rechaço imediato e boicotes sistemáticos. Estava claro que essa fração a direita do partido se sentia ameaçada pela juventude, nos viam como rivais a serem derrotados e nos tratavam com hostilidade. É como se um time de futebol passasse anos desenvolvendo sua categoria de base, e quando a mesma desse resultados com novos jogadores talentosos, novas concepções táticas do jogo e etc, no lugar de usar essa vantagem para que o time conquiste vitórias e busque títulos, a decisão fosse a de identificar todos os jogadores com potencial de realizar essas mudanças e boicotá-los, a fim de evitar que o time vença. Nesse ponto, já era claro para a grande maioria da nossa militância a situação que nos encontrávamos, a disputa interna na prática já estava sendo feita, iniciada pela própria fração anti-leninista do Comitê Central.
Com todo esse cenário em vista nos é insultante que alguém chegue e nos fale que estamos sendo “manipulados” ou “confundidos” por um grupo de militantes influentes. Não aceito esse argumento inclusive em nenhum dos lados. Temos formado – ainda que com muitos defeitos – militantes profundamente críticos, autocríticos, formulativos e plenamente capazes de produzir sínteses coletivas que expressam suas próprias posições políticas. Se tem uma coisa que essas acusações nos mostram é que temos uma direção do partido que não tem o menor conhecimento da sua base, e ao não encontrar nela uma massa de manobra acrítica que cumpra tarefas operativas sem lhes causar nenhum incômodo, se borram de medo, já que eles sabem que são absolutamente incapazes de conduzir um partido verdadeiramente revolucionário, com todas as suas complexidades e contradições.
Não podemos mais cair no erro de acreditar que as debilidades do partido são fruto apenas de “erros” ou de imaturidades político-organizativas. Essas escolhas pelo boicote aos bons trabalhos feitos pela UJC, a alergia ao trabalho profissional e especializado – expresso inclusive no horror que essas pessoas tiveram quando a UJC propôs, e aprovou com ampla maioria no congresso, que dirigentes não estivessem também em núcleos de base – e o apego ao trabalho amador, sofrido e artesanal são plenamente conscientes. Não podemos esquecer que um partido comunista é avaliado pela forma do seu trabalho muito mais do que pelas suas palavras de ordem, e a forma de trabalho, por opção da fração PCB-CC atualmente, não é uma forma de trabalho revolucionária. É uma forma de trabalho que a cada dia mais justifica o nosso reboquismo eleitoral, que cada dia mais justifica o que estávamos fazendo na PMAI, e principalmente, uma forma de trabalho que justifica o pavor que eles têm de um debate aberto e franco, que como diria um velho bolchevique, é capaz de clarear o céu. Um revolucionário precisa estar atento aos sinais de oportunismo dentro do seu partido, e uma autocrítica que precisamos fazer é o quão vacilante nós fomos nos últimos anos em relação a esses claros sinais. Me permito cair no clichê de citar Lênin: “a não ser que a parte revolucionária do proletariado esteja exaustivamente preparada para a expulsão e supressão do oportunismo, é inútil sequer pensar em ditadura do proletariado. Essa é a lição da Revolução Russa que devia ser levada a efeito pelos líderes dos Sociais-Democratas Alemães “independentes”, pelos socialistas Franceses e por aí fora…”.
Concluo me solidarizando com a grande parte da militância aderente ao Manifesto que não está feliz em precisar fazer isso, eu também não estou. Me solidarizo também e respeito profundamente aqueles que concordam com as nossas críticas, discordam dos nossos meios e escolhem um caminho diferente. Ver a cisão de um partido em que coloquei a minha vida nos últimos anos é bastante difícil. Por outro lado, a luta pela unidade não pode significar aceitar a conciliação com oportunistas. Não existe nada mais animador e revigorante do que ver todas as picuinhas, conversas de mesa de bar entre pequenos círculos e pequena política finalmente transformadas em polêmicas políticas, públicas, e debatidas abertamente até às últimas consequências. O futuro é incerto camaradas, e dentro do incerto cabe de tudo, inclusive a vitória. Não me sinto nem um pouco precipitado em afirmar que está em nossas mãos transformar a crise atual nas dores do parto de um partido verdadeiramente revolucionário, que tenha no seu DNA a capacidade de se fundir profundamente nas massas e guiá-las a tomada do poder para o povo.
VIVA O MARXISMO-LENINISMO!
VIVA A RECONSTRUÇÃO REVOLUCIONÁRIA!
VIVA O PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO!