Sobre a nova Estratégia de Segurança Nacional dos EUA

A Estratégia de Segurança Nacional dos EUA sinaliza uma intensificação da concorrência e uma escalada das guerras em todo o mundo, alimentando o conflito com a China pela supremacia no sistema imperialista mundial.

Sobre a nova Estratégia de Segurança Nacional dos EUA
Donald Trump e o então secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, Londres, 3 dez. 2019. Reprodução/Foto: Casa Branca / Shealah Craighead / Flickr.

Via Rizospastis, órgão do Comitê Central do Partido Comunista da Grécia (KKE)

A Estratégia de Segurança Nacional dos EUA, divulgada na semana passada, sinaliza uma intensificação da concorrência e uma escalada das guerras em todo o mundo, alimentando ainda mais o conflito com a China pela supremacia no sistema imperialista internacional.

Como afirma o documento: “Queremos recrutar, treinar, equipar e colocar em campo o exército mais poderoso, letal e tecnologicamente avançado do mundo para proteger nossos interesses”, assim como “Queremos interromper e reverter os danos contínuos que atores estrangeiros infligem à economia americana”.

Entre seus objetivos estão manter ou alcançar a supremacia global em armas nucleares, na economia, na base industrial, no setor energético, na ciência, na tecnologia e em um “soft power incomparável” que promova os interesses dos EUA em todo o mundo.

A região do Indo-Pacífico continua sendo uma prioridade, com foco no Mar do Sul da China e na área ao redor de Taiwan. O objetivo é preservar a “superioridade militar” sobre a China e a “liberdade de navegação em todas as rotas marítimas cruciais, bem como manter cadeias de suprimento seguras e confiáveis e acesso a materiais críticos”.

O texto reconhece a ascensão da China como uma ameaça à supremacia global dos EUA: “O que começou como uma relação entre uma economia madura e rica e um dos países mais pobres do mundo transformou-se em uma relação entre quase pares”.

De fato, à medida que a China continua a se armar rapidamente, a Estratégia Nacional enfatiza que “as forças armadas americanas não podem, e não devem ter que, fazer isso sozinhas”, destacando que os aliados dos EUA na região devem assumir um papel ampliado.

Essa mensagem é dirigida a Estados que mantêm laços econômicos ou outros com a China (e a Rússia), instando-os a se afastar do campo eurasiático em formação e a participar de forma mais ativa na defesa dos interesses dos EUA na região.

Em relação à Rússia, o documento afirma que os EUA devem “restabelecer a estabilidade estratégica” com ela, o que intensifica as turbulências dentro do campo euro-atlântico – particularmente no que diz respeito ao conflito imperialista em curso na Ucrânia. Embora contraditória, a estratégia do governo Trump visa minar a relação estratégica entre a Rússia e a China.

A Europa “permanece estrategicamente e culturalmente vital” para os EUA, mas “está longe de ser óbvio se certos países europeus terão economias e forças armadas fortes o suficiente para permanecer aliados confiáveis”. Com a nova estratégia, os EUA aumentam a pressão sobre seus aliados europeus para que assumam uma parcela maior de seu próprio ônus de “defesa” e, nesse contexto, para que aceitem um compromisso com a Rússia.

No Oriente Médio, os interesses vitais dos EUA coincidem com a prevenção de “uma potência adversária de dominar o Oriente Médio, seus suprimentos de petróleo e gás e os pontos de estrangulamento pelos quais eles passam”.

A Estratégia Nacional também faz referência especial ao continente americano, vislumbrando um Hemisfério Ocidental no qual os EUA mantenham domínio absoluto, “livre de incursão hostil estrangeira ou da posse de ativos-chave (...) [e assegurando] nosso acesso contínuo a locais estratégicos fundamentais”. Isso equivale a uma ameaça direta a países da América Latina e do Caribe que mantêm relações com a China.

Vale notar que a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), que reúne 33 países, mantém laços estreitos com a China. Para países como Brasil, Peru e Chile, a China é o principal parceiro comercial, superando os EUA.

Isso explica em grande medida a escalada da agressividade dos EUA contra países da região, mais recentemente a Venezuela.

A Estratégia de Segurança Nacional atualizada dos EUA segue a linha de todas as estratégias anteriores, ao mesmo tempo em que atua como catalisadora das rivalidades imperialistas, que representam novos perigos para os povos, mas que, ao mesmo tempo, evidenciam a necessidade da luta para derrubar o capitalismo em decadência.

Como observado nas Teses do Comitê Central do KKE para o 22º Congresso:

“Os EUA, que ainda ocupam a posição de liderança, estão tentando conter a mudança no equilíbrio de forças em favor da China. (...) As políticas dos EUA acentuam as contradições dentro do campo euro-atlântico e provocam uma deterioração das relações entre os EUA e a UE, o Canadá e a Austrália. Elas agravam as contradições intraburguesas dentro dos próprios EUA, que também se refletem nos desdobramentos do sistema político burguês. (...) O acirramento das contradições inter-imperialistas pode ampliar as fissuras existentes no eixo euro-atlântico nos próximos anos. (...) Nesse contexto, os Estados burgueses estão deixando de lado os canais diplomáticos, priorizando, em vez disso, guerras comerciais e econômicas, bem como a preparação militar.”