'Sobre a necessidade de um movimento de massas' (Camarada M.L.)

[...] defender a criação de uma organização de massas inserida na classe trabalhadora - especialmente nos setores estratégicos posteriormente elencados no congresso - compreendendo que muitas pessoas não se identificam, não tem disciplina e nem mesmo querem fazer parte de uma organização de quadros

'Sobre  a necessidade de um movimento de massas' (Camarada M.L.)
Prestes discursa em São Januário em 1945. Créditos: Netvasco.

Por Camarada M.L. para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Ao observarmos os acontecimentos recentes do PCB-CC, especialmente sua postura em relação a camaradas não brancos e não homens cis, torna-se evidente o processo de embranquecimento do Partido e como isso sempre esteve ali, mas foi silenciado. Vemos o perfil de pessoas no Comitê Central e o seu descompromisso com o centralismo, com a base e como isso carrega em si o pedantismo de se enxergar enquanto fenômeno externo a classe trabalhadora e não enquanto ferramenta organizativa para a construção revolucionária. A existencia de organizações paralelas como o Minervino, LGBT+ Comunista, Ana Montenegro, etc. também coloca essa questão em evidência, questiono então camaradas, por que pessoas não brancas e não homens cis escolhem outros lugares para se organizar que não a UJC e o PCB, mesmo seguindo o marxismo-leninismo e tendo compromisso com o centralismo? Por que temos uma organização paralela para movimento trabalhista (Unidade Classista)? Qual a revoluçã que queremos construir se a grande maioria de nossos dirigentes são homens cis brancos? Por quem e para quem queremos revolução se não estamos inserides nas bases, se não somos compostes pela classe trabalhadora de fato?

Partindo dessa análise cito o trecho do texto “Organização das Massas e a Escolha do Momento para a Luta” do Lenin em resposta ao camarada Khrustalev: “Hoje, a vanguarda deve concentrar a atenção não na ação imediata, mas na consolidação e ampliação dos contatos mais próximos com a retaguarda e com todas as outras unidades.”, portanto camaradas não podemos cair no espontaneísmo de imaginar que as massas imersas em ideologias burguesas vão tomar consciência de classe de maneira natural. Como nos propomos a ser vanguarda de uma retaguarda inexistente?

Cito também as críticas que construímos ao Comitê Central em relação a nossa posição- na época- frente a organizações de massas citada no “Manifesto em defesa da Reconstrução Revolucionária”

“(...) o PCB passa a adotar uma postura errática em relação às diversas frentes de luta e de articulação no movimento de massas. Sob a lógica de que, por um lado, só se pode fazer política a partir das frentes em que estamos (um abandono prático de nossa independência política) e que, por outro lado, “devemos participar de todas as frentes e fóruns de luta”, o PCB foi colocado em diversos espaços de articulação que, na prática, o centralizavam na ação política – sem qualquer avaliação do sentido tático de cada frente, sua composição, seus objetivos e os meios de disputá-las e ampliar nossa influência nelas.

 E os objetivos e intervenções que desenvolvemos para a reconstrução revolucionária no mesmo documento:

“Trabalharemos pela coordenação mais plena e consciente entre o trabalho político e o trabalho de comunicação de massas, superando o amadorismo e o espontaneísmo presentes em nossa organização. Seguiremos buscando construir uma organização comunista firmemente enraizada em meio à classe trabalhadora e ao povo pobre e oprimido; um Partido que assuma de modo orgânico e com plena responsabilidade o trabalho que, hoje, o PCB terceiriza para seus coletivos, de cujos acúmulos não se apropria de maneira verdadeira e consequente.”     

Portanto camaradas a partir de todos os trechos e na confiança de que podemos construir um Partido novo que esteja inserido verdadeiramente nas bases e que vá construir a revolução, venho aqui defender a criação de uma organização de massas inserida na classe trabalhadora - especialmente nos setores estratégicos posteriormente elencados no congresso - compreendendo que muitas pessoas não se identificam, não tem disciplina e nem mesmo querem fazer parte de uma organização de quadros, porém tem vontade de se organizar e revolta em relação a burguesia, deixar esse ódio ao léu é não ser a vanguarda que nos propomos, é não verdadeiramente nos inserirmos nas bases, o que deve ser nosso maior compromisso.

Essa necessidade de uma organização de massas se apresentou nas eleições de 2022 quando tivemos a criação do CPP (Comitê pelo Poder Popular), as motivações pelas quais ele foi construído foram completamente erráticas, pois tinham como princípio a construção de uma massa de manobra com viés eleitoreiro, mas a partir deles tivemos uma grande procura para se organizar e compor uma ferramenta de construção revolucionária, porém depois desse período algumas pessoas pediram recrutamentos especialmente para UJC e as que não pediram simplesmente se perderam e não tinham mais como se organizar dentro do PCB então mesmo acreditando que seríamos o melhor partido para construir uma frente contra o reacionarismo e a ascensão direitista, essas pessoas foram perdidas pelo nosso Partido. E questiono camaradas frente ao que era nosso Comitê Central e as nossas “estratégias” quantes trabalhadories não perdemos no trajeto dos últimos anos do nosso Partido?

Neste ponto citarei também a análise de Lenin sobre o espontaneísmo que se deu na Rússia nos anos 90, o qual ele desenvolveu de maneira espetacular em “O que fazer?”:

“Dissemos que os operários nem sequer podiam ter consciência social-democrata. Esta só podia ser introduzida de fora. A história de todos os países testemunha que a classe operária, exclusivamente com as suas próprias forças, só é capaz de desenvolver uma consciência trade-unionista, quer dizer, a convicção de que é necessário agrupar-se em sindicatos, lutar contra os patrões, exigir do governo estas ou aquelas leis necessárias aos operários, etc. (...) Assim, existiam, ao mesmo tempo, o despertar espontâneo das massas operárias, despertar para a vida consciente e para a luta consciente, e uma juventude revolucionária que, armada com a teoria social-democrata, se orientava com todas as suas forças para os operários. (...)  (O jornal desenvolvido social-democrata desenvolvido) visava unir a luta grevista ao movimento revolucionário contra a autocracia e levar todas as vítimas da opressão política do obscurantismo reacionário a apoiar a social-democracia. E quem quer que conheça, por pouco que seja, o estado do movimento nessa época, não poderá duvidar que um tal jornal teria sido acolhido com plena simpatia tanto pelos operários da capital como pelos intelectuais revolucionários e teria tido a mais vasta difusão. O fracasso deste empreendimento provou simplesmente que os sociais-democratas de então não estavam em condições de satisfazer as exigências vitais do momento por falta de experiência revolucionária e de preparação prática.

A partir disso camaradas afirmo que não estávamos e ainda não estamos preparades para ser vanguarda de massas, portanto devemos cada vez mais nos capacitarmos para receber camaradas que vem desse espontaneísmo em uma organização de massas para que esse ódio seja guiado de maneira organizada e com propósito, sem o intuito de que essa organização se torne o “banho maria” para futuros recrutamentos e sim entendendo a importância de se haver essa ferramenta para o Partido como um todo.

Sendo assim camaradas, observo a necessidade de um Movimento que se dá em torno do centralismo democratico e do marxismo-leninismo e não um comitê que é formado para tocar uma tarefa pré designada, como foi em 2022. Nem o mesmo pode ser substituído por organizar-se em sindicatos e sim deve-se ser pensado de maneira concomitante a compor esses espaços, também precisamos levar em consideração que locais com alta rotatividade de funcionários tende a não haver bases para a consolidação de um sindicato como o telemarketing, setor de limpeza, repositores, bilheteiros e a todas as empresas terceirizadas, etc.

Desenvolvendo melhor meu raciocínio para a criação dessa estratégia, elenco os seguintes pontos para a construção desse Movimento:

  • O mesmo não pode ser isolado do Partido ou fugir ao centralismo, portanto é necessária a presença de nossos quadros (e a formação capacitadas dos mesmo) para a construção dessa vanguarda
  • Não deve-se ser criada ou inflamada apenas em momentos eleitorais, mas deve-se se utilizar desses momentos para agitação e propaganda
  • Devemos fazer formação para camaradas dessa organização visando cada vez mais nos capacitar para conscientizar a massa da classe trabalhadora e inserimo-nos nela
  • Esse movimento deve ser uma tarefa do partido portanto deve-se haver camaradas designados para tocá-la enquanto prioridade tática para avanço da revolução brasileira

Enquanto Partido também devemos nos propor a estar presentes na comunidade seja por meio de eventos abertos, panfletagem, trabalhos, etc. para que consigamos conscientizar a nossa classe e apresentar as duas formas de organização que teremos em nosso partido.

Encerro camaradas, afirmando novamente que nós somos o Partido -que a partir da Reconstrução Revolucionária- irá alcançar a revolução brasileira, nós estamos e devemos sempre estar comprometides com os interesses da nossa classe, pois nós temos preparação para tal, portanto não devemos negligenciar ou até mesmo secundarizar a tarefa primordial que nos propomos que é ser vanguarda da revolução.

Que possamos cada vez mais conscientizar nossa classe e caminhar rumo ao socialismo.