'Sobre a espontaneidade das massas e a vanguarda' (Gustavo Batista)

Creio que seria importante para o nosso avanço no movimento real pautarmos uma questão fundamental na teoria leninista: a questão da espontaneidade das massas e das tendências economistas na nossa militância

'Sobre a espontaneidade das massas e a vanguarda' (Gustavo Batista)

Por Gustavo Batista para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Camaradas, ao longo das minhas leituras dos debates aqui presentes notei vários apontamentos essenciais sobre profissionalização do partido, cultura partidária, o papel da polêmica pública e outros debates essenciais, porém creio que seria importante para o nosso avanço no movimento real pautarmos uma questão fundamental na teoria leninista: a questão da espontaneidade das massas e das tendências economistas na nossa militância

Em Que fazer? Lenin faz uma análise das greves operárias ocorridas na Rússia na década de 90 do século 19 e sobre o entusiasmo da juventude com o marxismo em um período de crise, que culminou em um rápido crescimento de uma mobilização popular no sentido de apoio às greves, porém, esse movimento de apoio às greves, que começa em Petersburgo e  gera mobilizações em todo o país, é rapidamente tomado por um caráter espontaneísta, já que foram movimentos alavancados por uma perspectiva reformista e oportunista, visando com essas greves atender as reivindicações mais imediatas da classe trabalhadora sem enfoque no tensionamento da luta de classes através da educação política dos trabalhadores por meio de um abnegado trabalho de base.  Camaradas, parte de nossas dissidências com os comitês centrais se dá em decorrência dessas tendências oportunistas fazendo leituras no mínimo equivocadas da teoria marxista-leninista e orientando a luta política para uma linha meramente economista e calcada no imediatismo, que são extremamente importantes, mas tendem a limitar nosso horizonte revolucionário, o que também se dá em decorrência da baixa inserção dos dirigentes da  fração PCB-CC no cotidiano da classe trabalhadora e no cotidiano da própria militância de base. Sendo assim, camaradas, fica o meu questionamento enquanto alguém que começou a vida militante muito recentemente: como orientar nosso trabalho de base para não cair no erro social democrata de acreditar que o trabalhador, profundamente imerso em ideologia burguesa, pode espontaneamente perceber as contradições materiais sem um profundo trabalho de construção coletiva do partido de vanguarda no sentido de educar politicamente as massas e estar presente em toda parte no cotidiano da nossa classe? Penso que essa é uma questão bastante candente de se debater na nossa tribuna, já que nos últimos anos houve um crescimento considerável de pessoas procurando se aproximar do partido devido ao avanço das contradições com o governo Bolsonaro e ao trabalho de militantes comunistas no meio digital, o que positivamente trouxe muitas pessoas para a esquerda, mas para que esquerda esses potenciais quadros revolucionários estão sendo direcionados, para uma esquerda verdadeiramente marxista-leninista e radical ou para uma esquerda que permanece a reboque de partidos como o PT, da social democracia rebaixada, do social liberalismo e do imediatismo economista? Bom, camaradas, concluo aqui meu texto dizendo que julguei necessária essa provocação exatamente para que possamos de fato não incorrer nos mesmos equívocos que culminaram no rebaixamento e consequente desvio do PCB-CC do centralismo democrático e outros princípios teóricos caros a nós comunistas. Lembremo-nos sempre do comandante Che Guevara, pois lutam melhor os que tem belos sonhos, e orientemos nossa prática militante para além das limitações imediatistas do economismo.