'Seremos um Partido Crítico crítico?' (Pedro Irio e Max Marianek)
Camaradas, os conclamo para olharmos para a nossa classe. Para nos aprofundarmos nos problemas reais da nossa população e buscarmos, juntos, apontar o caminho da solução, que é o caminho da construção de uma Revolução Brasileira.
Por Pedro Irio e Max Marianek para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Camaradas, escrevo essa tribuna para levantar os possíveis problemas que observo nas nossas fileiras e nas tribunas.
Os principais temas que vemos sendo debatidos nas tribunas estão relacionados a fazer check list sobre o socialismo e do marxismo-leninismo.
Entretanto, pouco (ou quase nada) encontramos debates sobre os problemas materiais que afligem nossa população, da nossa classe trabalhadora e os caminhos para sua resolução.
Nos vejo, por exemplo, na triste situação de ficar fazendo "checklists" do tipo "o que é socialismo?", mas não somos consequentes em dar respostas para situações concretas de nossa cidade, nosso estado e de nosso país.
Pouco vejo debates sobre as novas formas de precarização do trabalho bem como dos trabalhadores de serviços e "empreendedores" e em teletrabalho e os desafios para a organização dos trabalhadores nessa situação, por exemplo.
Tampouco se fala sobre a violência que aflige os moradores das periferias, que são subjugados pela polícia e também, muitas vezes, pelos poderes paralelos que comandam estes bairros.
E ainda, sobre a dificuldade que as mulheres enfrentam diariamente com a carga dos cuidados.
Sobre habitação, saneamento básico, transporte, soberania energética, cultura, e tantos outros temas políticos que ferem o nosso povo e sangram sua carne, muitas vezes de forma literal. Ou seja, estamos na triste situação de ficar fazendo checklists sobre o socialismo, mas não somos consequentes em dar respostas concretas para situações concretas de nossa cidade, nosso estado e de nosso país.
Nossa Reconstrução Revolucionária é composta de militantes que saíram, após um processo muito dolorido, de um partido que furtou de decidir seus rumos de forma coletiva ratificando o centralismo-democrático e o marxismo-leninismo, que optou por se encastelar no alto de seu conhecimento intelectual.
Um partido que não buscou ter contato com os problemas que afligem nossa população, o que teve como resultado, uma quantidade pífia de base popular, incapaz de movimentar uma massa popular, justamente porque não dialoga com ela. Porque não compreende seus problemas. Não está junto nas lutas do dia a dia. Não compartilha dos seus problemas e anseios.
Quando optamos por sair deste, foi, principalmente, por saber que este, definitivamente, não é o caminho que um partido deve seguir. É preciso ter lado e estar ao lado. Ao lado da classe trabalhadora.
Quando evitamos falar sobre os problemas da nossa classe em nossas tribunas, percebemos claramente que somos um Partido Crítico crítico (na ironia do Marx e Engels). Tal como a filosofia da miséria alemã que abriu a janela e viu a revolução francesa, mas achavam que era superior moralmente à revolução francesa e não faziam a revolução.
Nessas fileiras, também me parece estarmos com esse mesmo espírito. Um espírito que se acha moralmente superior por levantar palavras de ordem,mas não faz a revolução. E pior, não conseguimos dar respostas consequentes para os problemas reais da nossa classe trabalhadora.
É a situação que o camarada Jones Manoel vem há tempos chamando a atenção,
“o movimento comunista brasileiro nos últimos 30 anos esteve totalmente afastado do movimento de massas. Salvo pequenas exceções, muito mais de caráter local, no plano nacional nós temos um movimento comunista que não é nem um protagonista nem um ator político de importância /…/. Os comunistas hoje não pautam nenhum tema estratégico para o país na luta de classes, nem como movimento de massas, nem como corrente de opinião”[1]
Em 28 de abril o jornal Brasil de Fato publicou uma entrevista com o professor João Cezar de Castro Rocha[2] em que afirma que em 10-15 anos não haverá mais democracia no mundo se não enfrentar agora a extrema-direita. E olha que o professor está falando da democracia burguesa hein!
Nessa crise geral da democracia no mundo, existem cinco países que não apresentam os elementos dessa “crise”: Cuba, Laos, Coreia Popular, Vietnã e a China. Camaradas, esses cinco países apresentam muitos problemas e profundas contradições. Todavia, não temos notícias e informações dos elementos da “crise da democracia” presente nesses países.
Quais são os elementos dessa crise que caminha ao lado com a crise do capital: avanço da extrema-direita; retrocesso nos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres; a população LGBT sendo utilizada como bode expiatório para o fundamentalismo religioso; avanço do irracionalismo, generalização das fakes news; avanço do racismo, avanço da xenofobia, etc etc etc.
Cite um país com mais de 90 milhões de habitantes que eliminou a pobreza extrema? Só conheço dois: Vietnã e China. Por isso, ratifico as palavras: o objetivo do socialismo real é sobreviver por condições que não são escolhidas por esses países. Mas são países que nessas condições não escolhidas por eles que conseguem dar respostas concretas para problemas concretos para sua população. Portanto camaradas, alguma coisa, alguma lição devemos aprender com a experiência desses cinco países, pois, em termos prático-organizativos eles estão muito à frente de todos nós!
Em todo o globo a esquerda hegemônica (social-democrática e a social-liberal) não conseguem mais se diferenciar na gestão neoliberal com a direita, por isso, essa ascensão da extrema-direita. E a esquerda radical? Só fazer a pergunta: estamos dando alguma resposta prático-organizativa para todos os elementos que foram levantados acima? Não. Ou seja, nós criticamos as experiências socialistas pela Ideia, mas não a partir da luta real e concreta que devemos enfrentar. Aqui essas tribunas o que encontramos são checklists sobre o que é e o que não é socialismo? Quem é o mais leninista? E pior camaradas, usando isso para dar carteirada! Olha só a situação que chegamos camaradas, na época da ascensão da extrema-direita e com a possibilidade de uma possível nova guerra mundial, nós nos damos o luxo de brigar pelo “socialismo puro”. Reflexo de uma esquerda sem enraizamento social e por isso, não consegue dar respostas prático-organizativas consequentes para nossos dilemas e desafios.
Portanto, camaradas, os conclamo para olharmos para a nossa classe. Para nos aprofundarmos nos problemas reais da nossa população e buscarmos, juntos, apontar o caminho da solução, que é o caminho da construção de uma Revolução Brasileira. Porque, como sabemos, não existe vácuo na política e o fascismo já está respondendo às perguntas que a classe trabalhadora têm feito. Mas aí, já sabemos o resultado destas respostas.
Termino a reflexão com três epígrafes que têm impacto em minha formação.
“A questão de saber se ao pensamento humano pertence à verdade objetiva não é uma questão da teoria, mas uma questão prática. É na praxe que o ser humano tem de comprovar a verdade, isto é, a realidade e o poder, o caráter terreno do seu pensamento. A disputa sobre a realidade ou não realidade de um pensamento que se isola da praxe é uma questão puramente escolástica”. Tese ad Feuerbach nº2
“Os quadros devem enraizar-se no povo, ganhar sua confiança e estima. Os quadros devem estar onde as massas estão e aprender com elas” Ho Chi Minh
“De muitos esforços sinceros de homens simples foi feito o edifício revolucionário, e a nossa missão é a de desenvolver o que há de bom e nobre em cada um e transformar todo homem num revolucionário”. Che Guevara