'Ser ou não ser PCB? Eis a questão' (Guilherme L.)

Qual a relação do PCB-RR com o PCB? Seria uma fração que, reivindicando ser parte do PCB? Ou seria um racha declarado que pretende formar uma organização distinta ao velho PCB?

'Ser ou não ser PCB? Eis a questão' (Guilherme L.)
"Diversas tribunas foram escritas sobre este tema, tentando responder essa pergunta a partir de diferentes perspectivas e buscando ir além, sugerindo novos nomes etc. Indo direto ao ponto, desde o princípio eu defendo a primeira tese, e vou tentar justificar adiante." - Créditos da foto: @marcelopsyfotografia

Por Guilherme L. para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Prezades camaradas, escrevo esta tribuna com o objetivo de dar minha humilde contribuição à esse debate que vem sendo tão caro a nós. Por ser um tema com tantas outras tribunas escritas a respeito, tentarei ser breve e objetivo em meu ponto de vista.

Desde agosto do ano passado, com a publicação do Manifesto de fundação do PCB-RR, uma mesma pergunta paira no ar: qual a relação do PCB-RR com o PCB? Seria uma fração que, reivindicando ser parte do PCB, disputa com o PCB-CC pela direção do Partido? Ou seria um racha declarado que pretende formar uma organização distinta ao velho PCB? Diversas tribunas foram escritas sobre este tema, tentando responder essa pergunta a partir de diferentes perspectivas e buscando ir além, sugerindo novos nomes etc. Indo direto ao ponto, desde o princípio eu defendo a primeira tese, e vou tentar justificar adiante.

Veja camaradas, eu tenho pleno acordo com o Manifesto em defesa da Reconstrução Revolucionária do PCB [1] quando se trata da necessidade de ruptura com o então Comitê Central. Houve sim um desvio direitista e formação de uma assim chamada “fração academicista antileninista”. Se as razões anteriores ao conflito não foram suficientes, a resposta do CC aos que pensam diferente (com perseguições, expulsões arbitrárias e invocação do espantalho do liquidacionismo) deram conta de provar que uma conciliação com esse grupo estava fora de questão.

Posto isso, gostaria de lembrá-los que essa não é a primeira vez que isso ocorre em nosso partido centenário. O principal exemplo que todes conhecemos é nos anos 1960 que, seguindo o centralismo de Moscou, o PCB aderiu ao kruchevismo e passou a atacar o legado de Stalin. Essa ocasião resultou no grande racha do PCdoB (hoje conhecido como PSeudoB). Nos anos seguintes o PCB seguiu com o boicote a ações armadas, resultando numa resposta pífia à ditadura empresarial-militar e por esse motivo perdendo grandes quadros revolucionários como Carlos Marighella – esse foi o segundo sinal seguido de academicismo, portanto, direitismo na direção do Partido. O terceiro ato se dá após a redemocratização, com o crescimento do Roberto Freire na direção que culmina na tentativa de golpe em 1992 para liquidação do PCB.

Nessa trajetória, muitos camaradas deixaram as fileiras do Partido de forma justa e coerente, sejam aqueles que fundaram novas organização (PCdoB, PCR [2], ALN etc.) ou aqueles que saíram para continuar sua militância de outra forma (Luiz Carlos Prestes, Gregório Bezerra etc.). Posto isso camaradas, sejamos francos: não foram esses os responsáveis pela derrota de Roberto Freire. Os responsáveis pela existência do PCB hoje e fundadores da Reconstrução Revolucionária foram aqueles que, contra a vontade de sua direção direitista, ousaram permanecer no Partido e rejeitaram aquilo que foi imposto a eles de forma golpista. Se não fosse pela coragem (e teimosia) de quadros como Ivan Pinheiro, Ana Montenegro e outros (alguns dos quais hoje se tornaram aquilo que juraram destruir), o PCB-RR não existiria pois sequer o PCB existiria.

Finalmente camaradas, chamo a todes para aprender com os exemplos do passado e faço o apelo que não desistamos do Partido Comunista Brasileiro. Nosso passado de muitas derrotas e algumas vitórias é o que nos trouxe até aqui, e gritemos em alto e bom som: FORA BUROCRATAS, FORA OPORTUNISTAS, FORA DAS FILEIRAS DO PARTIDO COMUNISTA!

PS: Quanto ao tão discutido nome, sou da linha que continuemos usando os símbolos do PCB (seguindo o espírito do que apresentei anteriormente). Porém, se por razões burocráticas impostas pelo TSE e PCB-formal tivermos que adotar um outro nome, acho duas coisas: 1. é interessante que mantenhamos o início como PC, visto que retrata nossa identidade marxista-leninista herdada da III Internacional; e 2. sigamos com a Reconstrução Revolucionária como palavra de ordem, afinal nosso objetivo seria a derrota do PCB-CC e, com isso, a restauração do nome de PCB. Assim, me torno partidário do nome PCRR - Partido Comunista da (ou pela) Reconstrução Revolucionária. Sim, quatro letras vira uma sopa de letrinhas, mas é um problema que não consegui pensar em como contornar.


Notas:

[1] https://emdefesadocomunismo.com.br/manifesto-em-defesa-da-reconstrucao-revolucionaria-do-pcb/

[2] Lembrando que o PCR surgiu de um racha do PCdoB, mas fruto de uma insatisfação dos rumos tanto do recém criado PCdoB quanto do já antigo PCB do qual tinham saído.