'Sem teoria revolucionária, não há prática revolucionária de verdade' (Dhafne Braga)
É de consenso que 'sem teoria revolucionária, não há prática revolucionária', mas vou discorrer aqui toda a carga de sentido que eu vejo nesta frase e argumentos que eu considero válidos para o verdadeiro convencimento (dando prioridade prática aos momentos formativos) da justeza dessa afirmação.
Por Dhafne Braga para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Camaradas, a vontade de escrever a presente tribuna surgiu quando no final de semana seguinte da realização de minha etapa de base do congresso, aliado também a leitura leninista pessoal, refleti sobre a falta de uma seção específica para a formação política partidária, apesar de entender que as pré-teses se desenham em estruturas básicas a fim de fomentar o debate, mesmo assim, achei pouco pontuada esse tópico fundamental e de uma preocupação profunda para mim - e explicarei o motivo adiante -. Como todos sabem ou deveriam saber, entre nós, comunistas nortistas, impera um processo de reconstrução recente, face ao federalismo e abandono do antigo PCB, aqui no Pará, nos restabelecemos em 2020 e eu atuo desde 2021 (entre UJC e partido, nos moldes antigos) e desde meados de 2021, percebo uma falha tremenda em relação a tal pasta, minha atuação de lá pra cá sempre foi bem ativa e é daí que vem a percepção de que sempre batemos na tecla e consensuamos que formação política é importante mas na hora da prática, não é dada a esse tema a prioridade que lhe cabe, compartilho isso por temer (embora já tenha observado) que isso se prolifere ao redor do Brasil, mesmo sem tais estados terem o déficit temporal que o processo de reconstrução cobra dos militantes nortistas diariamente. Apesar do grande avanço que tivemos com a instauração do Ciclo Extremo Norte em 2023 (iniciativa que essa que deve ser nacionalizada em toda sua estrutura, pois é como nos avisa e recomenda o velho Lênin no texto “Nossas Tarefas” ao discorrer sobre atividades locais no POSDR, assunto que trato lá na frente) trata-se de um evento mais voltado a agitação e propaganda do que formação interna, já que para estrutura bem desenvolvida do evento acontecer, tanto a nossa base como nossas direções trabalham incansavelmente não apenas nos preparativos mas também no evento em si, acabando por ficar sem tempo hábil de usufruto da palestra. “ Estudar, propagandear e organizar” - Karl(?) Liebknecth.
É de consenso que “sem teoria revolucionária, não há prática revolucionária” (Karl Marx, Manifesto Comunista) mas vou discorrer aqui toda a carga de sentido que eu vejo nesta frase e argumentos que eu considero válidos para o verdadeiro convencimento (dando prioridade prática aos momentos formativos) dos camaradas da justeza dessa afirmação;
- a educação formal é falha dentro do sistema capitalista e isso é fato, como sabemos, um partido comunista que se preze e se organize pelo centralismo democrático não deve jamais se basear em “quem manda e quem obedece”, ensinando (aqui com toda a carga professoral da palavra) todos sob a teoria marxista-leninista, tando na perspectiva clássica ou eurocêtrica como na literatura periférica e corpus do capitalismo dependente, o que quero dizer aqui é que existem fatos consumados e que devem ser de conhecimento geral dos comunistas que devido a um sistema educacional falho ofertado pela esfera publica sucateada não é, não é anormal ou jocoso camaradas não saberem o que é dialética ou chauvinismo (essa última é uma questão que eu me incluo). Uma situação que vou citar brevemente por constrangimento mesmo e ainda encarar como uma coisa particular da minha célula com nosso CR e CNP, a título de exemplo, rotularam a tribuna de um camarada do meu organismo de base como mal escrita e sem embasamento teórico quando, se isso fosse verdade, o camarada que escolheu destacar essa pequeneza deveria se preocupar com a lacuna formativa de seu partido. A teoria marxista é complexa, não é fácil e ainda que queiramos democratizar o acesso a ela, o âmago da teoria é sim academicista e não são todos que estão na mesma página, não adianta querermos negar, é só pegar o Livro I do Capital, dar a um grupo de pessoas e ver quem consegue fazer uma leitura e interpretação fluida, vai ter 1 que vai conseguir sem problemas, mas a revolução não se faz com 1.
- O Tempo. Sabemos que o modo capitalista de produção suga e ocupa o tempo de maior parte de nossos camaradas sob a pena de não mais sobreviverem, sabemos também que essa sucção de tempo é redobrada ao se tratar de minorias sociais, como podemos exigir dessas pessoas tempo para ler todo ou metade satisfatória do escopo revolucionário? ou menos ainda, da literatura marxista? além de uma impossibilidade eu vejo e classifico como uma violência simbólica e contradição grave aos nossos próprios ideais, obviamente, a formação interna coletiva não suprime a formação individual, mas quem de fato tem tempo pra ler? educação de qualquer tipo é um luxo no Brasil capitalista.
- Federalismo. Como já pincelei, temos o orgulho de produzir o Ciclo Extremo Norte, com louvores de quem o conhece em questão de organização e segurança, medida que eu insisto que deva ser nacionalizada e felizmente vejo boas perspectivas para isso. Lênin no texto “Nossas Tarefas” como já citado, fala sobre as chamadas atividades locais e como elas NÃO auxiliam na luta de classes,exatamente por conta de ocasionar um bom federalismo, com regiões da rússia que eram mais ligadas ao POSDR e outras menos, vale lembrar, o quanto o alinhamento popular foi importante na Revolução Russa e, trazendo para atualidade, relembrar que a Revolução Cubana é ameaçada indiscriminadamente e a sua manutenção só acontece por vontade e defesa popular, mas retornando ao texto, segundo Lênin, apesar de uma certa importância elas acabam por não ajudar na organização dos trabalhadores nacionalmente, isso ocasiona, na minha visão, regiões mais desenvolvidas que as outras e, trazendo de volta para o assunto desta tribuna, ocasionando lacunas formativas que ocasionam práxis - teoria e prática - muito diversas que pouco implicariam para a organização dos trabalhadores em todo país, no campo e na cidade.
No meu estado, só tivemos uma direção de formação que conseguiu realizar a metade de um tímido cronograma de formação, antes do racha, não tenho o intuito aqui de discorrer sobre o imobilismo do velho PCB nesse tema pois o que me interessa é construir o novo, mas todos sabem o quão longo é esse imbróglio? seja no norte ou não, considerando as devidas proporções.
Não se trata também de um ataque a direção alguma ao falar que não priorizam a formação interna no seu programa, sei que “cada caso é um caso” assim como estou longe de ir contra o meu CR, pelo o contrário, enxergo no Extremo Norte um potencial agitativo e propagandístico sem precedentes e temos que ter nosso devido reconhecimento por isso, sem personalismo ou modéstia, e como já disse, observo que essa é uma falha nacional, a formação política não está na ordem do dia e isso, afirmo pelo menos de 2021 pra cá.
Noto que acabamos confundindo um pouco a questão de formação de quadros com formação interna, enxergo a primeira como mais ampla, necessitando da prática em si, reuniões, acompanhamentos ou aulas sobre a prática de tal direção enquanto a segunda se “reduz” à teoria, teoria essa que deve ser comum entre os membros do partido, não só os escolhidos para ocupar tal cargo futuramente ou algo do tipo, sendo imprescindíveis para nortear qualquer atividade partidária. Além disso, ainda nesse ponto, quero ressaltar um tópico presente na seção Sobre Formação de Quadros:
§56 Isso também significa não limitar a nossa propaganda teórica às formas de comunicação de massas digitais: é preciso que os organismos locais e suas células promovam entre as massas trabalhadoras círculos de estudos e organizem frequentemente palestras e debates, partindo de nossos planejamento comum de formação política, a ser formulado pelo Comitê Central. É preciso não apenas estimular o autodidatismo em nossas fileiras, mas organizar continuamente nosso processo coletivo de estudo.
De acordo com o parágrafo sobre autodidatismo recai incisivamente no meu segundo argumento, estimular o autodidatismo em quem? pra quem? quem pode se dedicar ao autodidatismo hoje? Se consideramos válido mencionar isso em nossas futuras resoluções, não estaríamos responsabilizando nossos militantes por obrigatoriamente estudar? gerando culpabilização aos militantes que não possam se dedicar a tal acúmulo.
Deixo aqui minha total oposição à aquisição de conhecimento de forma individualizada, quando a gente coloca algo nas nossas resoluções a gente estabelece como regra e não acho que seja porque A ou B consegue e gosta de se dedicar aos estudos marxistas que todos devam fazer isso. Outra questão é que o autodidatismo se orienta a partir do esponntaneísmo, visto que militantes que gostam de estudar tal coisa e dedicam a isso seu tempo livre, não necessariamente gostam de estudar o assunto B, por exemplo, eu possuo forte inclinação em estudar marxismo-leninismo mas sou uma leiga em matéria de eleições e não possuo inclinação alguma para esse assunto, isso faz com que eu deva ignorar os assuntos sobre eleição? estamos em uma organização comunista e todos os comportamentos que devemos priorizar são coletivos, se a pessoa tem tempo de estudar teoria marxista na sua casa, sozinha, ótimo, faça isso, mas não sacrifiquemos nosso espaço de formação política coletiva.
Para concluir, sugiro que façamos nacionalmente um material sólido e conciso destinado a formação política, semelhante ao que a UJC tinha, mas não só isso, que esse programa seja elástico, levando em consideração ‘’acréscimos regionais’’ que nos possibilitem analisar fenômenos contemporâneos regionais à luz do marxismo-leninismo que a gente crie a teoria marxista brasileira e que os momentos de formação política sejam marcados e contabilizados como reuniões de célula, sendo absolutamente priorizados tanto pelos CRs quanto a nível celular.
Ansiosa pela reverberação e contribuição dos camaradas, saudações camaradas!
Rumo ao 17° congresso!