Colômbia: Declaração da Segunda Marquetalia no dia do guerrilheiro heroico

No dia do guerrilheiro heroico, Ernesto Che Guevara, os guerrilheiros de Bolívar e Manuel, das fileiras dos CDF-EB, da CGP e das FARC-EP, unidos sob a bandeira da Segunda Marquetalia, comunicamos que nos reunimos em um ambiente de irmandade para projetar nossa marcha até a unidade orgânica.

Colômbia: Declaração da Segunda Marquetalia no dia do guerrilheiro heroico
"A organização Segunda Marquetalia surgiu de um destacado grupo de comandantes das extintas FARC-EP, liderado por Iván Márquez"

Por Redação

Foi declarada publicamente, no dia 29 de agosto de 2019, a criação de uma nova insurgência armada, para a Colômbia, a América Latina e o mundo: A Segunda Marquetalia. Organização que surgiu de um destacado grupo de comandantes das extintas FARC-EP, liderado por Iván Márquez, comandante número 2 das FARC-EP, ao lado de comandantes experientes militarmente, como Henry Castellanos, de codinome Romaña, e Hernán Darío Velásquez, conhecido como 'el Paisa'.

Este grupo voltou a pegar em armas perante a perfídia do Estado colombiano ao serviço de uma oligarquia mafiosa e criminosa, que domina este país há mais de 200 anos, e aos interesses do imperialismo norte-americano. Em abril de 2018, sob artifícios e armadilhas, a Procuradoria-Geral da Colômbia em conjunto com a DEA (Administração de Fiscalização de Drogas, dos EUA) detiveram e prenderam ilegalmente o Comandante Jesús Santrich, com base em falsas acusações de tráfico de drogas. Houve também ameaças do mesmo destino para os líderes desta organização que criticavam a implementação do Acordo de Paz de Havana por parte do governo e as posições genuflexas de outros líderes das antigas FARC-EP, agora à frente do partido Comunes.

A direção do partido Comunes tem ignorado progressivamente os princípios revolucionários e a plataforma política pela qual tantos homens e mulheres lutaram e deram a vida ao lado de Manuel Marulanda, Alfonso Cano, Raúl Reyes, Mariana Paéz e Jorge Briceño “Mono Jojoy”, chegando ao ponto de ignorar o direito à rebelião armada, à autodefesa e à livre autodeterminação dos povos. Expressando que a sua luta armada nada mais era do que “um erro do qual se envergonhavam e que nunca deveria se repetir…”.

Desde a assinatura do Acordo de Paz em Havana, 2016, até setembro de 2023, o regime colombiano assassinou pelo menos 1.539 líderes sociais e populares; nesse mesmo período, foram assassinados 385 ex-guerrilheiros/as que assinaram o Acordo de Paz. O atual governo progressista, de Gustavo Petro, tenta desenvolver uma política de paz total com todos os atores armados, mas não quer reconhecer o caráter político da Segunda Marquetália, sem considerar as múltiplas causas que os levaram a voltar a pegar em armas.

Este governo disputa, com muitas dificuldades, com a oligarquia colombiana a construção de garantias democráticas em termos liberais ou, no seu fracasso, o regresso ao domínio de um sector político de extrema-direita.

A Segunda Marquetalia assumiu a tarefa de procurar unificar as diferentes expressões de ex-combatentes das FARC-EP, que se tornaram dissidentes regressando à luta armada, como a Coordenadora Guerrilheira do Pacífico e os Comandos de Fronteira; retomando os legados farianos da luta lendária de Manuel Marulanda, da construção da Nova Colômbia, fortalecendo suas estruturas políticas em todo o território nacional como o Partido Comunista Clandestino, o Movimento Bolivariano e suas estruturas político-militares de frentes, colunas, companhias, assim como nas cidades as milícias guerrilheiras.

Desta forma, continua a hastear a bandeira e a prestar homenagem, no seu exemplo, ao “Guerrilheiro Heroico” Ernesto Che Guevara, ao direito à rebelião armada contra as injustiças e a opressão do capitalismo do imperialismo americano; apelando à construção na Colômbia de uma verdadeira paz com justiça social, soberania e democracia e a paz dos povos com livre autodeterminação.

Leia a nota na íntegra:

"8 de outubro, dia do guerrilheiro heroico

Declaração política: reunião de delegados dos Comandos de Fronteira-EB, Coordenadora Guerrilheira del Pacífico e FARC-EP, Segunda Marquetalia

Comemoramos hoje um ano da partida física de Che, o guerrilheiro heroico que tantas consciências segue mobilizando no continente e em todo o mundo.

Há pouco o presidente da Rússia, Vladimir Putin, referindo-se aos nossos heróis, entre eles Che, manifestou que "Bolívar é um símbolo de liberdade não só para a América Latina, mas para todo o mundo e toda a humanidade. O continente deu ao mundo lutadores abnegados pela justiça e igualdade social, como Salvador Allende, Ernesto Che Guevara e Fidel Castro". E nós diríamos ainda que eles e Che semearam no coração dos pobres da terra e dos cidadãos do mundo os mais tenros sentimentos humanos e um desejo irrefreável de liberdade.

Nesta efeméride do guerrilheiro heroico, Ernesto Che Guevara, os guerrilheiros de Bolívar e Manuel, que exercemos o sagrado direito de rebelião nas fileiras dos CDF-EB, da CGP e das FARC-EP, unidos sob a bandeira da Segunda Marquetalia, comunicamos que nos reunimos em um ambiente de irmandade para projetar nossa marcha até a unidade orgânica, impulsionados pelo mais belo sonho dos colombianos que, há décadas, reclamam a paz como verdadeira democracia, dignidade humana e soberania patriótica, em unidade com os excluídos e esquecidos, e dos que sempre ansiaram o florescimento da Nova Colômbia.

Ratificamos nosso compromisso com a paz, que foi e segue sendo nosso fim supremo. Na busca por este objetivo estratégico da humanidade, abrimos uma a uma nossas portas e colocamos todo nosso empenho em alcançá-la como o mais elevado de nossos direitos. Sem vida, de nada serve o acesso à terra, à educação, à moradia, ao trabalho… por isso, é vital chegar até a paz.

Não abandonaremos a luta para dar ao povo colombiano esse tão desejado sonho em nenhum instante. Sabemos que a oligarquia colombiana sempre colocou obstáculos para impedir que ele se concretizasse. Historicamente fizeram uso da violência para se manter no poder e assegurar seus privilégios às custas da pobreza pública, tal como escreveu o comandante Manuel, na insurgente Cartilha Militar.

Permitam-nos informar que a reunião rebelde realizou também uma análise da conjuntura política pela qual atravessa o país. Definitivamente, a direita oligárquica é uma má perdedora. Por isso, muito lhe doeu entregar o Palácio de Nariño a um governo progressista após 200 anos de hegemonia. Todos seus componentes, incluindo alguns veículos de imprensa, querem reduzir aos farrapos as reformas sociais do atual governo. Para que isso não ocorra, o povo deve se mobilizar em massa na defesa da vida, da mudança e das reformas sociais, como um primeiro passo para seu aprofundamento.

Também estudamos a correlação de forças a nível continental, a luta dos povos por uma nova ordem mundial, multipolar, justa, respeitosa à lei internacional, à livre autodeterminação dos povos, ao fim das sanções coercitivas e dos bloqueios genocidas contra povos e governos soberanos.

Outro tema foi a urgência em semear a consciência em torno da luta para deter as mudanças climáticas que ameaçam matar a vida no planeta.

A reunião também abriu um espaço à crítica e autocrítica orientadas à superação de nossos erros. Ratificamos que devemos ao povo e que por isso nosso comportamento frente à população deve ser respeitoso e exemplar.

Comunicamos a todas as comunidades que nossa guerrilha unida está pronta para escutar suas inquietudes e seus sonhos, e marchar com seu auxílio quando assim requeiram.

Reconhecemos nos companheiros da ELN seu caráter político insurgente e revolucionário, e valorizamos seu grande acúmulo e seu importante papel na história política do país. Sempre buscaremos resolver as diferenças privilegiando a diplomacia e o diálogo fraternal. Só a unidade pode permitir às forças insurgentes cumprir o papel histórico que lhes foi atribuído.

Somos uma organização que defende e defenderá a natureza e o meio ambiente, e atuaremos em resistência consequente a qualquer tentativa de entregar a Amazônia às multinacionais. Lutaremos contra a exploração indiscriminada da selva.

Nós propusemos a qualificação de nossos combatentes pensando sempre em ser como Che.

A principal conclusão é que: não permitiremos que o sonho de Marulanda e Che não seja cumprido, o sonho da construção de uma sociedade mais justa, mais humana e em paz."

Comandos de Fronteira-EB
Coordenadora Guerrilheira del Pacífico
FARC-EP
Segunda Marquetalia