'Se as Tribunas são decorativas, o Partido também será' (Gustavo Di Lorenzo)
[...] ainda é tempo de auto-crítica, de mudar a prática na qual fomos formados no antigo PCB, de fazer avançar - pela polêmica - o nosso movimento.
Por Gustavo Di Lorenzo para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Camaradas, trago aqui algumas questões que acredito serem centrais para o debate congressual e que colocam em cheque a legitimidade da construção partidária: o boicote de alguns dirigentes partidários a esta tribuna e do papel da polêmica no nosso movimento.
E não faço isso - como vi em algumas tribunas - lamentando o quão prejudicial é não termos acesso ao iluminado conhecimento dos camaradas que não endereçam às bases. A questão é outra: o quão danosos são os caminhos alternativos - que não os da polêmica aberta - na construção da linha política partidária.
Afinal, defender que a imprensa tem papel organizativo no partido leninista, mas boicotar politicamente a imprensa partidária não só é contraditório enquanto ideia, mas é trabalhar pela desorganização do movimento. É repetir fraseologia leninista e - ao mesmo tempo - investir contra a unidade partidária. Um jornal irrelevante não organiza um partido. E não é possível acreditar na construção de uma imprensa relevante se o maior veículo de ideias pré-congressual é preterido em nome do twitter ou - pior - da articulação escondida.
A denúncia feita pela camarada Raquel na tribuna "Uma crítica/autocritica às direções de São Paulo" só escancara o que já era óbvio: há quem paute os espaços de deliberação pré-congressual decidindo entre si os rumos do partido, enquanto a Tribuna de debates é só um instrumento de legitimação externa, para criar uma ilusão de democracia. É uma tribuna decorativa.
A unificação das direções da UJC e do Partido em São Paulo é o exemplo mais evidente. A ideia aparece em uma reunião do CR provisório (que, como denuncia a camarada Raquel, já vinha de um processo de articulação e recrutamento de quadros para sua defesa); é inserida numa plenária estadual sem qualquer discussão prévia e aprovada às pressas, como se fosse algo trivial. A tribuna de debates não tocou no tema. Algum tempo depois, descem as resoluções pré-Congressuais que contém - numa nova forma organizativa para o partido - essa mesma proposta. Na prática, UJC passa a ser um nome fantasia para alguns núcleos, sem direção e política própria. Não tratar abertamente de uma decisão dessa proporção como algo organizado é um desrespeito à inteligência da nossa militância.
A questão central nisso tudo não é o mérito da dissolução da UJC, mas a pergunta: por que quem articulou essa pauta previamente à plenária não contribuiu para sua defesa na Tribuna de debates? Por que quem elaborou as pré-teses congressuais não publica a defesa dessa posição? Por que, após o racha, insistir na organização escondida da polêmica partidária?
A cisão com o pecebismo teria em seus pilares o potencial da polêmica pública enquanto capaz de fazer avançar a síntese no partido comunista e - em consequência - contribuir para o avançar da consciência na classe. Escolher qualquer via que não o da polêmica pública é insistir nos erros passados e colocar em cheque o custoso processo da cisão e os seus potenciais revolucionários.
Ora, e para além da questão sobre a dissolução da UJC: onde estão as demais polêmicas? Sabemos que elas existem! Há tribunas criticando o uso vulgar do twitter na discussão partidária, mas não há outras defendendo seu uso, enquanto o debate partidário segue bombando na rede do Elon Musk. Há inúmeras tribunas criticando o KKE, mas não há as que defendem seu papel central no MCI (apesar de sua presença nas pré-teses).
Há inúmeras contribuições riquíssimas nas nossas tribunas, mas que não tangenciam questões congressuais. É bonito ter uma tribuna lotada de temas que caberiam na revista teórica partidária ou num jornal periódico, mas é só bonito, já que eles não alteram o movimento congressual - que é o que mais importa no momento. É uma tribuna decorativa.
Publico esse texto como uma crítica, mas principalmente como um apelo: ainda é tempo de auto-crítica, de mudar a prática na qual fomos formados no antigo PCB, de fazer avançar - pela polêmica - o nosso movimento. Também escrevo para que, se não for o caso de uma mudança de prática, busquemos nos informar e analisar criticamente as nominatas que serão apresentadas, buscando eleger enquanto direção quem tem responsabilidade política e organizativa com o partido, e não só com a seu plano de partido.
Afinal, não podemos ter rompido com a casta-ANDES para manter os mesmos métodos, apenas com pessoas mais novas que agora terão um partido-decorativo para chamar de seu.