São Paulo: Juventude é tomar Partido! Sobre nossas tarefas históricas frente à Reconstrução Revolucionária do PCB
Documento aprovado na I Conferência Regional Exclusiva da União da Juventude Comunista em São Paulo, em 08 de outubro de 2023
Sobre a crise partidária
1. Com a publicização da participação do então Secretário de Relações Internacionais do PCB, Eduardo Serra, e do então Secretário Geral do PCB, Edmilson Costa, na Plataforma Mundial Antiimperialista, denunciada por Ivan Pinheiro, somado às expulsões de Ana Karen, Gabriel Landi, Gabriel Lazzari, Jones Manoel e do próprio Ivan pelo Comitê Central, assim como ao expurgo generalizado de militantes de todo o complexo partidário, em julho e agosto de 2023, o Partido Comunista Brasileiro foi lançado em uma profunda crise. Tal crise é fruto de um conjunto de divergências com profundas implicações políticas e organizativas que acompanharam os comunistas nos últimos anos e que somente agora tomam a forma pública. No fundo, são divergências que dizem respeito à disputa entre a construção de uma organização revolucionária de vanguarda ou de uma organização reformista ou vacilante, merecendo toda a nossa atenção e disposição para desvendá-la e assumir uma posição consequente. A União da Juventude Comunista em São Paulo se reúne em sua I Conferência Regional de Juventude com este objetivo.
2. De início, é preciso captar o movimento histórico que nos trouxe até aqui. Essa disputa atravessa toda a nossa história e está no centro da Reconstrução Revolucionária iniciada em 1992. Naquele momento, um novo padrão de acumulação capitalista baseado no assédio permanente ao proletariado, o neoliberalismo, era promovido pela burguesia como lógica econômica inexorável, derrubando a capacidade de organização dos trabalhadores. Também, as experiências socialistas passavam por uma profunda crise que tinha como origem o etapismo e revisionismo, além de situar-se em uma onda política reacionária, anunciando a contrarrevolução capitalista. Nesse cenário de derrota histórica dos trabalhadores, o liquidacionismo ganhou terreno nos Partidos Comunistas, exigindo uma reorganização dos comunistas comprometidos com a causa revolucionária. Contra o congresso fajuto que, liderado por Roberto Freire, levou à conformação do Partido Popular Socialista, se fundou o Movimento Nacional em Defesa do PCB, cumprindo um primeiro passo limitado da Reconstrução Revolucionária, marcado pela confusão ideológica que a tentativa de conciliação entre o pecebismo e a estratégia socialista produziu.
3. Este processo, todavia, não começou em 1992. Roberto Freire e sua corja foram criados e se desenvolveram a partir de uma linha etapista e centrista que se desenvolveu a partir da segunda metade do século XX no seio do partido. Também o reformismo eurocomunista não foi superado em 1992, mantendo-se ainda uma fração em suas direções. Nossa luta é herdeira desse processo de disputa.
4. Passados mais de 30 anos, novas tarefas estão postas aos comunistas. Assegurado um núcleo duro da vanguarda proletária, formada no marxismo-leninismo, somos chamados pela luta de classes a dar respostas aos trabalhadores que os coloquem no sentido da estratégia revolucionária. Respostas para um momento em que o neoliberalismo se constitui como hegemônico ao ponto de, mesmo se mostrando incapaz de acabar com as crises econômicas que ele mesmo provoca, ser parte do programa da extrema-direita e da social-democracia. Trata-se também de um momento em que as tensões inter-imperialistas se intensificam, em que diferentes grupos de burguesias nacionais disputam o papel de país central na divisão internacional do trabalho, configurando novas formas de como as articulações do capital imperialista se darão sobre os demais estados e economias e um anúncio prévio das guerras que virão para disputar essa posição. A Revolução Socialista se coloca com urgência quando compreendemos que o rompimento com o modo de produção capitalista é a única forma de evitar, ou ainda, reparar os danos do colapso ambiental que se instaurou, consequência da exploração capitalista.
5. Tendo isso em vista, temos diante de nós a tarefa de construir uma organização capaz de se enraizar na classe trabalhadora, inserindo-se enquanto referência em todas as movimentações da nossa classe contra a dominação burguesa; e de arrastar todos os demais setores da sociedade sob a hegemonia proletária, ou seja, desmascarar todas as falsas respostas oportunistas sob a forma do reformismo e do chauvinismo que iludem as massas. Apresentar, através da teoria e da prática, que a ditadura do proletariado, que só pode ser atingida pela Revolução Socialista é a única resposta efetiva aos problemas dos trabalhadores em particular e de toda a sociedade em geral: esse é o movimento que constitui o próximo passo da Reconstrução Revolucionária.
6. Essa tarefa tem sido compreendida por um amplo setor de comunistas brasileiros, destacando-se uma nova geração que tomou a frente de inúmeras lutas desde os protestos de junho de 2013. Uma juventude comunista comprometida com a causa revolucionária, instruindo-se no marxismo-leninismo, viu no PCB o instrumento mais apropriado para reunir os revolucionários no Brasil e avançar na construção da Revolução Socialista, chegando inclusive nas instâncias de direção do Partido. Entretanto, inúmeros obstáculos foram encontrados para isso. Entre eles, a quebra das Resoluções do XVI Congresso do PCB por uma fração academicista anti-leninista, na sequência de uma série de políticas oportunistas que buscaram desviar o Partido de sua Reconstrução Revolucionária, junto de seus desvios carguistas, levou ao estouro da presente crise.
7. Os desvios políticos de caráter oportunista se expressam em diversas áreas de atuação. No campo internacional, esse processo se manifestou pelas aproximações estabelecidas pela Comissão Política Nacional com a chamada Plataforma Mundial Anti-Imperialista. A PMAI e seus partidos membros se alinham a concepções que veem nos EUA e na OTAN, e não a burguesia, o inimigo principal dos trabalhadores. Diante da Guerra da Ucrânia, a Rússia seria uma aliada dos interesses do proletariado por fazer frente ao bloco estadunidense e aparentemente cooperar para a multipolaridade. Este “anti-imperialismo” que concilia com o chauvinismo e com a burguesia reforça posturas de conciliação de classe e o etapismo no movimento comunista internacional. Através da retórica multipolar abstrata, deixa para um horizonte inalcançável qualquer perspectiva para a Revolução Socialista, negando-a como central para a superação do imperialismo.
8. Dessa forma, a PMAI busca afirmar uma ala de direita no MCI em contraposição à ala revolucionária composta por partidos como o Partido Comunista da Grécia, o Partido Comunista da Turquia, o Partido Comunista dos Trabalhadores da Espanha, o Partido Comunista da Venezuela, o Partido Comunista do México e o Partido Comunista Argentino. A aproximação com estes partidos, bem como a política de denúncia das posições chauvinistas, são parte das resoluções do XVI Congresso que o Comitê Central decidiu rasgar, evidenciando contradições internas e uma movimentação do Comitê Central que negligencia o centralismo-democrático, como demonstram as declarações do Secretário Geral Edmilson Costa - na conferência da PMAI, mas também em nota ao Partido - e do até então Secretário de Relações Internacionais Eduardo Serra.
9. De modo contrário a esse entendimento, a PMAI, em seu quarto encontro, defende de maneira acrítica uma guerra inter-imperialista no Leste Europeu como parte dos esforços da Rússia para enfraquecer a hegemonia dos EUA e da OTAN, admitindo que a Rússia e a China devem ser considerados aliados do MCI na luta contra a “completa dominação global dos EUA”, posição esta que denota um servilismo aos interesses da burguesia russa. Ao participar da PMAI e em específico deste quarto encontro, o Comitê Central do PCB, na figura do seu ex-Secretário de Relações Internacionais, Eduardo Serra, colocam os mais de 100 anos do Partido em uma postura conciliatória frente ao acirramento dos conflitos imperialistas em nossa quadra histórica que não provocam nada além de morte e aumento da exploração do proletariado pelo mundo.
10. A adesão e construção do bloco revolucionário do MCI não deve rifar nossa independência política. Devemos sempre criticar todos os desvios que encontrarmos, como por exemplo a transfobia escancarada do KKE e seu moralismo da política de drogas
11. Também a nível nacional a fração anti-leninista se movimentou em torno de uma política oportunista. Nos últimos processos eleitorais, PCB estabeleceu inúmeros acordos eleitorais com o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), abdicando de candidaturas próprias dos comunistas e afastando sua ação do conjunto de organizações revolucionárias brasileiras. Esses acordos, na medida que nos amarram à política voltada para pequena burguesia e reduzem nossa capacidade de realizar uma agitação e propaganda revolucionária no período eleitoral, significam o sacrifício da nossa independência de classe em um importante momento de disputa de consciência e organização das massas. Não somente os acordos rebaixados foram um problema, como também algumas de nossas próprias campanhas, como a de Eduardo Serra para o governo do Rio de Janeiro, com uma linha política oportunista e atrasada.
12. Por um lado o PCB pôde sustentar durante o governo Temer de maneira consequente o princípio da independência de classe do proletariado frente às táticas reboquistas vacilantes da pequena-burguesia quando agitamos a palavra de ordem da “greve geral”, enquanto a social-democracia agitava por “eleições gerais”. Por outro lado, durante o governo Bolsonaro adotamos uma postura vacilante e reboquista ao agitar a palavra de ordem da cassação da chapa Bolsonaro-Mourão, judicializando os antagonismos de classe num momento em que existiam condições para a elevação da linha. Essa tática foi institucional e derrotista, especialmente considerando que nos tratamos de um partido sem participação parlamentar.
13. Já em meio ao Governo Lula, diante da aprovação do novo Teto de Gastos, o Arcabouço Fiscal, um brutal ataque a todos os trabalhadores brasileiros e ainda um estelionato eleitoral do PT — como de praxe dentro do sistema eleitoral burguês —, as direções partidárias se encontravam inertes. “Inércia” coerente com a fórmula da “independência do Governo”, expressa nas notas do Partido e que pouco dizem sobre a postura dos comunistas diante de um Governo com política social-liberal e de caráter de classe burguês que promove uma política fiscal cujo único beneficiário é a burguesia, configurando uma política de conflito aberto e direto contra os interesses, contra as condições de reprodução da vida e de sobrevivência da classe trabalhadora. Quando finalmente as mobilizações contra o Arcabouço Fiscal foram orientadas, já estávamos atrasados em relação à conjuntura e nosso impacto no debate público foi irrelevante. A inércia das direções partidárias parte da compreensão de que o governo Lula é um governo em disputa, o que se expressa muito bem na nota “Pacote fiscal de Haddad é rendição à agenda neoliberal da burguesia”, razão pela qual as manifestações populares contra a atual política de austeridade poderiam atrapalhar a correlação de forças do governo, numa lógica institucionalista. A postura dos comunistas na reconstrução revolucionária é a oposição por princípio a todo e qualquer governo burguês.
14. Outro exemplo é que frente às movimentações pela descriminalização do porte de maconha, mesmo com as dificuldades de aprovação em vigência do governo Lula, houve silêncio por parte do PCB, mesmo sendo esse um passo de impacto frente a Guerra às Drogas e encarceramento em massa da juventude negra brasileira. Não se apontou o caráter racista da manutenção da criminalização e nem fizemos o debate público de agitação e propaganda sobre essas pautas também tão caras para a classe trabalhadora brasileira
15. E para além do terreno eleitoral, também é possível identificar vacilações à direita na linha política aplicada pelas direções do PCB no âmbito da luta de massas. É o caso da nossa presença em diversas frentes no último período (Frente Povo Sem Medo, Fórum Sindical, Popular e de Juventude, Povo na Rua, Frente Fora Bolsonaro) sem a clara demarcação pública de nossas diferenças políticas nesses espaços. A presença por si só nesses espaços não configura oportunismo e seria necessário um profundo balanço dessas movimentações para identificarmos até que ponto praticamos apenas flexibilidade tática em consonância com a estratégia revolucionária. Mas no caso mais recente, a mobilização de massas contra o genocídio aplicado pelo governo Bolsonaro em 2021, é evidente que a orientação do CC nos deslocou de uma situação de vanguarda das manifestações para uma posição reboquista em relação aos partidos social-liberais (PT, PCdoB, PSOL, entre outros). Tal deslocamento se evidenciou quando secundarizamos o espaço inicial de convocação dos atos (Povo Na Rua) e nos colocamos na posição passiva de aguardar o ritmo das movimentações estabelecido pelo petismo (Frente Fora Bolsonaro). O resultado foi a perda do potencial de massas para derrubar o governo de imediato e o adiamento da luta contra o mesmo para o âmbito eleitoral no ano seguinte, em 2022.
16. Aqui no Estado de São Paulo, a linha oportunista teve lugar num exemplo bastante sintomático. Para as eleições do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, a Apeoesp - o maior sindicato da América Latina -, a Secretaria Sindical Nacional e o CR do PCB tomaram a decisão de construir uma mesma chapa com o social-liberalismo, dirigida pelo Partido dos Trabalhadores. Diante um cenário calamitoso para a Educação, em que a nível estadual o projeto de precarização de Tarcísio de Freitas e Renato Feder encontra projeção a nível federal com o Novo Ensino Médio consentido pelo PT, os comunistas têm o dever de oferecer aos trabalhadores uma alternativa à política e à Educação burguesas. Porém, como que contentando-se em ser a “ala esquerda” da social-democracia, as direções partidárias rifaram nossa independência de classe, diluindo-nos no reformismo. A militância da UJC de São Paulo foi girada para essa disputa e, tendo que defender uma chapa que dirige a Apeoesp de forma oportunista a décadas, se viu em contradição com os interesses da nossa classe. O oportunismo se estabeleceu também nas eleições do Sindicato dos Metroviários, em que o PCB não se posicionou contrário à linha pelega, seja construindo com a oposição, seja mostrando o apoio nas redes.
17. Ainda sobre o oportunismo quanto a construir a chapa do PT para APEOESP, cabe destacar que a fundamentação apresentada pelas direções do PCB e Unidade Classista para justificar tal desvio de direita poderia ser utilizada como argumento para qualquer aliança com o liberalismo em outros espaços, qual seja: a dependência da estrutura do sindicato; a perda de cargos no caso de sairmos sozinhos; a necessidade de frente ampla para se opor a um governo reacionário e; a necessidade de não se isolar ou perder tamanho. Ou seja, a própria formulação para justificar o oportunismo revela a linha política de sacrifício da independência de classe (em termos financeiros, políticos e organizativos) em nome de possibilidades imediatas e determinadas condições materiais.
18. Tais posturas conciliatórias não eximem a realização da devida crítica da forma como a UJC aplicou as resoluções político-organizativas no que tange a disputa de entidades. Foram tocados processos eleitorais descolados das lutas da juventude trabalhadora e repletos de desvios organizativos e de reprodução de lógicas discriminatórias. Isso gerou intensificação do trabalho nos núcleos de ME universitários nos períodos eleitorais, consequentemente esgotando camaradas e os formando com alguns dos mesmos vícios dos setores da social-democracia. Levou-se assim a um rebaixamento dos planejamentos desses núcleos e dos MUPs em relação ao trabalho com extensão universitária e políticas de permanência. Mesmo com tal prioridade não garantimos a realização de planejamentos coerentes para a disputa de entidades, deixando muitas para última hora, em movimentos inflados de chapas do MUP que nem sempre tinham trabalho consolidado no local.
19. A linha oportunista também se expressava no trabalho de base realizado nas periferias de SP, que não se propunha a dirigir politicamente o espaço, se conformando com ações pontuais de apoio econômico (como entregas de cesta básica) e apoio político (como estar presente em alguns atos). Essa linha pode ser resumida em “ajudar e receber apoio”, em oposição a “dirigir e recrutar”, pois na prática não trata os moradores da periferia como agentes históricos capazes de guiar uma revolução
20. Essa sequência de posicionamentos do PCB mostra como o partido vinha numa progressiva guinada à direita orientada, por um lado, pela direção política da fração anti-leninista e, por outro, pela manobra política operada por essa mesma fração que pisava nas resoluções tiradas nos últimos congressos do partido, pelo histórico de cultura política centrista desde a década de 1960, caindo no oportunismo e em uma incapacidade de se adaptar ao momento atual. Buscou-se a todo custo suprimir qualquer concepção crítica que contestasse o Comitê Central em sua política e em sua origem de classe. É evidente que a composição majoritariamente pequeno-burguesa da CPN não explica por si só suas concepções políticas. Mas não deixa de ser um elemento da balança quando as posições e a origem de classe rimam com tamanha frequência e cuja reverberação, na política e na organização, encontrou contradições num partido que se proletarizava progressivamente.
21. Todo partido está sujeito a vacilações e a posicionamentos que podem se provar equivocados na luta pela hegemonia proletária. Por isso, toda e qualquer movimentação deve ser submetida a uma análise científica, compromissada e prática e, se necessário, a autocrítica. Valorizando a democracia operária, a crítica e a autocrítica, a organização da polêmica pública e a síntese entre direção e base, esses desvios podem ser retificados. Entretanto, o oportunismo e o reboquismo promovidos pela ala anti-leninista na política externa do PCB sempre foi acompanhado por um oportunismo tão mais grosseiro na política interna, com demonstrações vergonhosas de falta de compromisso com esse princípio que nos é tão caro: o centralismo-democrático. A luta ideológica ganha, portanto, caráter central no atual estágio da Reconstrução Revolucionária, a fim de assegurar a independência política do proletariado com vistas à construção da hegemonia proletária.
22. As expulsões que desencadearam a crise podem ser as demonstrações mais ostensivas disso, mas a tal da “cultura política” de perseguição sobre a oposição e de atropelo das resoluções e do Estatuto do Partido tem sua própria história. O XVI Congresso mesmo foi marcado por um acordo entre as alas em disputa em que a ala esquerda cedeu nos destaques ao Comitê Central em troca do encerramento das perseguições que a assolavam. Este “acordão” foi desenvolvido às escondidas da militância partidária, de forma não-transparente, tática que se mostra hoje como equivocada e que deve ser objeto de autocrítica pela ala esquerda, agravando a alienação dos militantes em relação às disputas internas, ocultadas no processo. Ou seja, a política persecutória que assediava os militantes, elaborava processos disciplinares viciados, arquitetava afastamentos e expulsões de opositores, tudo isso em flagrante contradição com o Estatuto do Partido, era uma prática comum da ala dirigente do PCB.
23. Foi assim que a fração anti-leninista recebeu o crescimento de uma ala partidária que, realizando o movimento de “voltar a Lênin” em questões políticas e organizativas, foi crítica da política rebaixada conduzida pelo Comitê Central e da artesanalidade dos nossos trabalhos. Apesar das tentativas de disputa política através das instâncias internas, o esgotamento dos espaços, dados os poucos que possuímos, era rapidamente atingido pela dominação burocrática que ameaçava a oposição.
24. Os respingos dessa forma de encarar a política militante, chamada cultura política, prejudicaram a formação da capacidade plena dos quadros em dirigir os movimentos da juventude paulista nos termos das dificuldades de síntese, de falta de métodos para assistência e má condução de PDs. Também foi prejudicada a confiança da base em camaradas que devido a dupla militância ou acesso privilegiado às informações, presenciaram ou sabiam dos acordos feitos no XVI Congresso do PCB.
25. Prova disso é a Tribuna de Debates aprovada no XVI Congresso. Como tentativa de fazer fluir o debate político franco entre toda a militância, unificando o espaço de exposição de divergência dentro da estrutura partidária, a Tribuna de Debates poderia ser um importante instrumento de democracia interna. Para a ala anti-leninista, porém, ela significava a abertura de um flanco contra a sua blindagem burocrática. Isto é, esta ala estaria sujeita ao conhecimento de suas posições pela militância, sujeita a crítica no debate político franco, capaz de expor suas próprias contradições como as que apresentamos acima. Quem teme o debate teme a si mesmo. A ala direita teme que suas posições políticas, colocadas às claras à base do complexo partidário, não resistam à ampla discussão, de modo que buscaram evitar a ampla discussão, chegando a girar a máquina partidária apenas a publicar a posição que essa ala defende, como a circular interna de Mauro Iasi e o livro "Fogo na Conjuntura". Somente dessa forma o setor responsável pela guinada à direita do partido poderia se blindar das críticas e seguir burlando resoluções congressuais, moldando o partido a suas concepções aburguesadas de marxismo acadêmico. A Tribuna de Debates não foi aberta, ainda que posteriormente tenha sido prometida a abertura, somente após a expulsão de todos os divergentes ao PCB-CC. Ou seja, além de não serem feitas as auto-críticas pelo CC, foram minadas todas as possibilidades de crítica provenientes de outros camaradas. Aqueles que subiram críticas foram, por consequência, perseguidos e punidos a partir de PDs, expulsões e "afastamentos preventivos".
26. Além disso, as atas dos debates realizados no XVI Congresso do PCB não foram apresentadas ao conjunto da militância do Complexo Partidário. Sobretudo para a base de regiões distantes das capitais, isso significou o desconhecimento em relação às polêmicas internas e à falta de elementos suficientes para formular sobre a Crise Interna que se desenhava. Isso demonstra, além da obstaculização dos debates pelas Direções, uma profunda secundarização dos militantes das bases, dos Coletivos e da Juventude.
27. Prevalecendo um centralismo-democrático deturpado e engessado, fenômenos estranhos à democracia operária compõem parte da cultura política da nossa militância. É o caso do mandonismo, em que figuras particulares reúnem em torno de si, através de relações pessoais e não políticas, uma rede de influência que permeia as estruturas partidárias, manobrando-as como um instrumento de seus objetivos pessoais. Essa rede, fluindo de seu principal beneficiário, é utilizada para sufocar todo o debate político e para perseguir as divergências que podem abalar tal estrutura de poder. Esse fenômeno vergonhoso para um Partido Comunista foi responsável por blindar do confronto político uma série de dirigentes que conduziram o Partido através de uma linha oportunista e reboquista. Blindou dirigentes que eram recorrentemente acusados de uma série de denúncias de assédio, machismo e racismo, como Antônio Carlos Mazzeo, Secretário Político do CR de São Paulo, e Tito Flávio Bellini, membro do Comitê Regional e da Comissão Política Regional. Neste exemplo, como em outros infelizmente comuns em nossas fileiras, funde-se ao mandonismo a sobrestimação de figuras da área acadêmica de origem pequeno-burguesa, masculina, cis e branca, cujas contribuições para a luta revolucionária do proletariado objetivamente não estão à altura das tarefas de direção que assumem. A ala dirigente do Partido Comunista Brasileiro aceitou estes fenômenos e, através deles, vicejou uma organização conformada com a posição pouco influente da vanguarda proletária na luta de classes. E assim o fez para resguardar as redes de poder mandonistas que se sustentavam às custas de nossos camaradas.
28. Parte constituinte e essencial da crise no complexo partidário foram os vários casos de racismo, assédio e divisão desigual dos trabalhos que não se resumem em casos isolados ou figuras como Mazzeo, mas sim dizem respeito a maneira como as opressões (racismo, misoginia e LGBTfobia) ainda são elementos que constituem as fileiras, a prática organizativa e a linha política do PCB. A reconstrução deve levar esses aspectos em consideração para que sejam devidamente superados
29. Também é verdade, por outro lado, que a carência de políticas e de instrumentos unificadores da nossa organização enfraquece a própria democracia, levando ao federalismo, que toma a formação econômica do Brasil como mera soma das particularidades regionais e não como uma totalidade que determina os locais. Reproduz-se, assim, as contradições que imperam em nosso país, em que as regiões historicamente constituídas pela concentração de capital, principalmente no sudeste, se colocam como os únicos agentes políticos reais, entendendo as outras regiões como mera extensão de suas realidades e territórios locais. Na falta dessa unificação e, assim, centralização, os organismos partidários conduzem sua política como bem entendem, desenvolvendo uma variedade de fenômenos políticos e organizativos locais e extremamente particulares, desconectados de uma organização partidária comum. Esse espírito de círculo, em contraposição ao espírito de partido, é a receita para o mandonismo e para uma série de culturas políticas peculiares alheias às sínteses de partido - como o próprio Estatuto e as resoluções congressuais -, constituindo uma barreira ao funcionamento orgânico do centralismo-democrático.
30. A Tribuna de Debates seria um desses instrumentos unificadores. Mas é candente a demanda por mais. Fato é que acertar a linha política de um partido revolucionário não é tarefa simples. Isso só pode ser feito através de um árduo confronto entre as diferentes posições, tiradas a partir da investigação intensiva sobre a luta de classes que, socializadas ao conjunto da vanguarda e dos trabalhadores em geral, podem ser amplamente debatidas e amplamente testadas. Ou seja, a luta de classes exige da vanguarda do proletariado uma formulação constante e regada pelo marxismo-leninismo que só pode ser desenvolvida por um complexo trabalho editorial que envolva toda a militância comunista, mas do qual somos carentes. O espírito de círculo, o federalismo, são próprios dessa condição mais concreta que ajuda a explicar o acúmulo de divergências e a crise na nossa organização: a ausência de uma literatura partidária e de uma autonomia formulativa na militância de base. O desenvolvimento de um complexo trabalho editorial, com suas múltiplas publicações, deve formar os afluentes de uma comunidade literária revolucionária que é agente de um processo de permanente investigação, debate e exposição da disputa. Somente por essa literatura partidária é que poderemos atuar sobre a tarefa de acertar a linha política revolucionária, de modo a manter a coerência ideológica nas flutuações da luta de classes e combater intensivamente toda forma de esquerdismo, de direitismo e de oportunismo, como aquele apresentado pelo Comitê Central. Para mais, devido à linguagem academicista, o Partido acabou criando barreiras em seus ensinos para os trabalhadores e as massas.
31. É inclusive através dessa literatura que podem circular os acúmulos da nossa organização. Não à toa que muitos dos conhecimentos teóricos e práticos - os acúmulos - desenvolvidos pelos camaradas dos coletivos partidários e da UJC ficavam restritos nos marcos internos de cada organismo, impossibilitados de serem apropriados por toda a militância. Profundos debates desenvolvidos arduamente por nossos camaradas em torno das lutas anti-opressão, por exemplo, muitas vezes não são sistematizados, se perdem e não possuem meios para se tornar linha política da organização, ou seja, de se tornarem sínteses partidárias, assim como acontece com os acúmulos de debates sobre profissionalização financeira no estado e nacionalmente, mantendo a artesanalidade que tanto prejudica a atuação e participação ativa de camaradas proletarizados. Isso nos leva a partir, em inúmeras lutas e operações, do zero, da crueza das análises políticas e do trabalho artesanal. São explicações para o contínuo retrabalho dos comunistas, que sobrecarrega nossas fileiras e nos coloca, política e organizativamente, a reboque na luta de classes
32. Os acúmulos produzidos pelos coletivos como Ana Montenegro, Minervino de Oliveira, LGBT Comunista e UC são exemplos de diversas boas contribuições que acabam sendo perdidas. Assim, é importante que seja feito o debate e definido o futuro dos coletivos, seja pela continuidade dos mesmos ou centralização no partido.
33. Como sintoma desta conjuntura interna, desenvolveu-se dentro da organização, uma cultura na qual as informações apenas circulam por meio da fofoca, enfraquecendo-se a unidade partidária, criando uma lógica de nós contra eles (como ocorreu, por exemplo, entre os núcleos de ME públicos e os núcleos de bairros, os estados do sudeste e do nordeste), formando, no lugar de uma unidade político-organizativa, uma lógica política da afinidade pessoal. O sinal disto é a forma na qual muitos militantes, de ambos os lados (PCB-CC e PCB-RR) estão assumindo posições guiadas muito mais por afinidades pessoais do que construções de sínteses políticas coletivas
34. O jornal é justamente um instrumento de unificação inserido na formação de uma literatura partidária comum e também um campo de disputa e polêmica aberta entre os camaradas. Avessa ao espírito de partido, ao centralismo-democrático, a ala direita negligenciou o papel do jornal leninista como instrumento central da organização revolucionária. Como uma ferramenta que nos permite um diálogo permanente com o proletariado, o jornal nos permite transformar os debates de uma organização revolucionária nos debates de todo o movimento revolucionário. Além disso, é capaz de unificar a nossa agitação e propaganda para que cada comunista em cada canto do Brasil possa conduzir um trabalho político com as massas conectado às sínteses partidárias. Essa conexão passa pela estruturação de um complexo logístico capaz de alimentar política e materialmente cada sindicato, ocupação e entidade estudantil de modo a prepará-los para a Revolução. Em síntese, significam o caminho para conexão do partido com o proletariado e a superação do espírito de seita. Apesar de ter sido uma deliberação do IX CONUJC, a dissolução do Jornal O Futuro de São Paulo aparece como um sintoma dessa linha política.
35. Com as devidas limitações e com profunda desconfiança da direção do Partido, o jornal da UJC-SP, O Futuro de São Paulo, buscou ocupar essas lacunas no trabalho dos comunistas neste Estado. Após uma série de debates e formações sobre centralismo-democrático e agitação e propaganda leninistas realizados por toda a militância de São Paulo, O Futuro de São Paulo passou a circular e se tornou nosso principal instrumento de trabalho. Nesse processo, tivemos um salto de qualidade de atuação dos núcleos caracterizado por ao menos dois elementos: o desenvolvimento do trabalho prático positivo a partir do local de atuação de cada organismo e a formulação de uma agitação e propaganda estadualizada centralizando essa mesma atuação e, portanto, unificando os trabalhos. Esse trabalho poderia se expressar e, em alguns casos, se expressou na formação de uma organicidade dos núcleos até então dispersos, estabelecendo vínculo constante com sua área de atuação e fortalecendo a democracia interna na medida que estimulam debates sobre nossa linha política. Ao mesmo passo em que o Jornal representou um avanço do ponto de vista organizacional, a aplicação prática das tarefas relacionadas ao Jornal não aconteceu de forma homogênea nos núcleos. A falta de contato com a base nas formulações dessas tarefas dificultou a interligação das tarefas do Jornal no período em que foram desenvolvidas, sintoma da “cultura política” do centralismo-burocrático que se refletia na prática política do restante do complexo partidário que agora se apresenta como um desafio a ser superado no processo de reconstrução revolucionária do PCB. Outro exemplo dessas limitações é que houve uma superestimação dos controles quantitativos dos trabalhos com o Jornal O Futuro de São Paulo, que era o número de jornais vendidos, de modo que muitos núcleos foram afogados com exemplares pela CR, criando um caos financeiro e um grande endividamento para os núcleos do estado.
36. Desenvolveremos um sistema de especialização estadual para formações em funções específicas que visam atender as demandas do jornal. Lutaremos para que esse sistema seja desenvolvido nacionalmente para que o trabalho específico do jornal não seja centralizado na região sudeste.
37. Não chegamos nem perto de construir uma literatura partidária e de eliminar o federalismo do qual também sofríamos. E nem poderíamos chegar. Estamos falando de problemas que extravasam por todos os poros de um partido do qual somos apenas a juventude de um determinado Estado. O Futuro de São Paulo foi a resposta dada naquele momento para a juventude trabalhadora. Reproduziu-se, porém, uma postura federalista até entre os núcleos do estado, cujas matérias voltavam-se muito mais para a Região Metropolitana de São Paulo e pouco apreenderam da totalidade estadual. Diante da crise do PCB estatelada diante de nós, somos chamados a dar uma nova resposta. Agora num escopo mais amplo, que atinge de algum modo todos os trabalhadores de todo o país. O que exige até mais responsabilidade.
38. Com a adesão ao PCB-RR, a UJC encara que, um dos principais fatores da crise do PCB foi a forma como nossa estrutura partidária se colocava mediante a conjuntura e as necessidade políticas, de forma que aconteceu um engessamento e atravancamento de nossos debates e nossa política para com nossa classe. Por isso, nos comprometemos a construir uma estrutura partidária que entenda a realidade da classe trabalhadora no neoliberalismo, atual momento do capitalismo, não cindindo nossa atuação política, de forma mecânica, em Movimento Estudantil, Bairro, JT e etc... Mas compreendendo o como nossa classe está em diversos possíveis locais de atuação, devemos, portanto, colocar nossa estrutura focada para as prioridades nacionais e garantindo a flexibilidade tática para os giros necessários para nosso trabalho.
Sobre a Reconstrução Revolucionária do PCB
39. Os camaradas expulsos pela movimentação fracionista da Comissão Política Nacional fizeram o chamado pela realização do XVII Congresso Extraordinário do PCB (inclusive antes mesmo de serem expulsos), partindo da compreensão desse ser o único caminho para: (1) Restabelecer a democracia interna; (2) Superar o quadro de fracionamento do PCB; (3) Continuar o processo histórico de Reconstrução Revolucionária; (4) Superar os entraves para profissionalização e unificação dos nossos trabalhos.
40. Em consequência ao agravamento da crise, promoveram a organização do Movimento Nacional em Defesa da Reconstrução Revolucionária do PCB (PCB-RR) ao avaliar que a fração que se apoderou do Comitê Central não acataria a necessidade de um congresso extraordinário, sendo necessário organizá-lo a partir de uma Comissão Provisória e com todos os organismos partidários que compartilhassem da mesma leitura, embora diversos camaradas que foram expulsos ou se desligaram não tenham aderido ao PCB-RR.
41. Do lançamento do Manifesto em defesa da Reconstrução Revolucionária do PCB até o presente momento, observamos a adesão gradual de camaradas e/ou organismos de todas as partes do complexo partidário ao PCB-RR. Tais adesões ocorreram de forma diversa, respeitando as particularidades regionais e a configuração local de cada célula, núcleo ou comitê do PCB e seus coletivos. A diversidade em questão diz respeito não apenas ao diferente ritmo de deliberação sobre a crise, mas também ao conteúdo político das notas publicadas. Nesse sentido, basta observar as diferentes compreensões sobre a caracterização do PCB-RR expressas pela militância nas diversas notas publicadas no site Em Defesa do Comunismo, nas demais redes sociais do movimento ou mesmo na Tribuna Pública de Debates aberta no mesmo site logo após o lançamento do Manifesto. As leituras diversas sobre o caráter do PCB-RR revelam a incompreensão que ainda paira sobre o seu papel e sua forma organizativa.
42. Mesmo antes de organismos da UJC aderirem, de maneira orgânica, ao Manifesto da Reconstrução Revolucionária do PCB, a fração que se apoderou do Comitê Central do antigo PCB, deparou-se com uma ampla reivindicação por parte dos organismos de base da juventude e muitos estados por um XVII Congresso Extraordinário. Desde então, tomaram a atitude de cortar relações com a juventude e, expulsar sumariamente dezenas ou centenas de militantes do Complexo Partidário, roubando patrimônio da UJC e atentando contra a existência nacional da Juventude Comunista mais antiga do país, assim como abandonando a população que se manifestava no início do mês de agosto contra as chacinas ocorridas no Guarujá ao se apropriarem indevidamente do material da juventude e do não comparecimento no ato deixando a seguinte orientação "se não conseguem garantir a segurança do bloco sem os materiais, que se retirem do ato".
43. Agora, em diversos Estados, inclusive São Paulo, tentam reorganizar-se a partir de um núcleo exclusivo de poucos aderentes da Fração, buscando se apropriar dos símbolos, do legado político e do trabalho consequente construído por centenas de militantes. Em São Paulo, buscam assaltar, por um movimento ilegítimo, o trabalho positivo construído por mais de 47 núcleos espalhados em mais de 45 cidades, por meio de poucas dezenas deles, concentrados em menos de 5 cidades do estado. Não os reconhecemos como a União da Juventude Comunista e esperamos encontrá-los nas trincheiras da luta de classes, mas estamos cientes da campanha de difamação que conduz contra nós o Comitê Central e seus alinhados e criticaremos abertamente e sem medir palavras contra suas posições oportunistas. Estamos certos de que nosso trabalho positivo, consequente, orgânico e profissionalizado, somado às devidas críticas e autocríticas aos vícios e erros realizados anteriormente, convencerá os trabalhadores de São Paulo da capacidade da União da Juventude Comunista conduzir um processo de conscientização e politização capaz de levar a frente a reconstrução revolucionária do movimento comunista brasileiro e de que somos a única União da Juventude Comunista
44. Entendemos que quem cumpre hoje os Estatutos, as Resoluções e, principalmente, o legado histórico e político do PCB são os que hoje organizam a Reconstrução Revolucionária. Estamos certos de que não estamos rumando para nos aliar com outro partido, mas para dar continuidade ao legado do Partido fundado em 1922 e reconstruído em 1942 e 1992, o instrumento histórico da classe operária. Reivindicamos o legado dos bolcheviques de todo o mundo, na luta contra o capitalismo-imperialismo e pela construção do socialismo-comunismo. A fração que se apoderou da sigla, apesar de não assumir, já constrói outro Partido, ferindo os Estatutos e, na prática, aderindo a outras resoluções e outro programa, marcado pela vacilação e pelo oportunismo. Manteremos uma postura de imenso respeito pelos comunistas honestos que, por diversos motivos, resolveram manter-se ligados às direções da sigla eleitoral. Porém, nossa tarefa é manter a mais resoluta crítica aos militantes e dirigentes oportunistas que romperam a unidade do PCB e utilizam do legado histórico para propagandear suas posições vacilantes. Tomaremos como tarefa de nossa organização polemizar contra essas visões e convencer a classe trabalhadora da justeza de nossas posições através da luta ideológica e do exemplo, e tomar em nossas mãos o legado do Partido Comunista Brasileiro.
45. Entendemos que a diversidade de leituras sobre os rumos a serem tomados é saudável e comprova que o PCB-RR é, antes de tudo, um espaço em construção para que possamos coletivamente debater sobre nossos erros, críticas e formulações com o objetivo de seguir e aprofundar o processo histórico de Reconstrução Revolucionária. Tanto é assim, que o ponto convergente entre camaradas das mais diversas regiões e situações internas do PCB ao redor do Brasil é a necessidade do XVII Congresso Extraordinário para que possamos debater sobre o passado, presente e futuro do movimento comunista em nosso país e no mundo.
46. Concordamos com a análise dos camaradas do PCB-RR e de todos os organismos do Partido que resolveram somar-se ao movimento lançado pelo Manifesto em defesa da Reconstrução Revolucionária do PCB. Trata-se da única via para construir uma organização revolucionária que esteja à altura das tarefas que a luta de classes impõe à vanguarda proletária. Sendo assim, a União da Juventude Comunista organizada no Estado de São Paulo declara, a partir de sua I Conferência Regional Exclusiva, a sua adesão ao Movimento Nacional em Defesa da Reconstrução Revolucionária do Partido Comunista Brasileiro, o PCB-RR e suas instâncias provisórias de direção, mantendo sua liberdade de crítica a todo e qualquer membro ou organismo do PCB-RR nos limites da unidade de ação, compreendendo-se enquanto militante da Reconstrução Revolucionária em igualdade de direitos e deveres dos demais militantes, reivindicando o direito de eleger e ser eleitos delegados para os congressos do PCB-RR e solicitando que as relações entre PCB-RR, UJC e coletivos partidários seja debatida no XVII Congresso (Extraordinário) do PCB.
Sobre as tarefas da juventude comunista paulista
47. Ao declararmos essa adesão ao Manifesto pela Reconstrução Revolucionária do PCB, não nos iludimos com soluções mágicas para problemas concretos que enfrentamos e continuaremos enfrentando na construção de uma vanguarda revolucionária para o movimento de juventude no estado de São Paulo. Nos últimos anos, a UJC em São Paulo sofreu uma série de boicotes e entraves aos nossos avanços políticos por conta de posturas burocratistas do Comitê Regional do PCB São Paulo. Entretanto, não podemos nos eximir de tomar responsabilidade em reconhecer nossos avanços, debilidades e desvios. Através do profundo espírito de crítica e autocrítica que seremos capazes de aprofundar o processo de Reconstrução Revolucionária do movimento comunista brasileiro, em geral, e de sua particularidade entre a juventude trabalhadora paulista, no particular de nosso trabalho.
48. A UJC-SP deve trabalhar para garantir os meios de qualificar os repasses dos debates do PCB-RR a nível estadual; garantir repasses e entrosamento dos trabalhos com organismos dos coletivos partidários que aderiram a RR, e garantir a programada unidade política e agitativa das instâncias pela assistência da Secretaria de Juventude de modo que os núcleos e células provisórias possam, através do centralismo democratico, avançar nos trabalhos locais e consequentemente avançar as sínteses das instâncias superiores até que sejam atingidas as condições para realização do XVII Congresso extraordinário do PCB com participação de todo o complexo partidário. É importante que a juventude se comprometa a ter iniciativas que conectem os seus trabalhos com as células, para produzir trocas de acúmulos e dar início a um planejamento unificado e consequente nos nossos locais de atuação, como iniciativa a romper o federalismo.
49. Além disso, a fração CC, capitaneada pela figura da Secretaria Nacional de Juventude, atentou contra todo o nosso trabalho político na maior Entidade de Estudantes da América Latina - a UNE - buscando impedir que os nossos camaradas eleitos ocupassem cargos de tamanha importância na Entidade, fruto de muito suor e trabalho de toda a militância na base.
50. Atualmente, um dos grandes problemas que a UJC sofre em São Paulo é a sua limitação para acompanhar devidamente os organismos de base, sintetizar suas contribuições e retornar com uma política unificadora, principalmente em relação aos organismos do interior do estado. A ampliação de nossas fileiras e em setores cada vez mais proletarizados multiplicou as variáveis da síntese política, demandando-nos um trabalho profissional que ainda não somos capazes de sustentar por falta de acúmulos teóricos, práticos, políticos, organizativos, financeiros e materiais.
51. Cabe trazer à tona, uma autocrítica da Coordenação Regional da UJC de São Paulo e de toda a militância comunista de São Paulo e do Brasil, por terem replicado métodos mandonistas e burocráticos durante tanto tempo na UJC e no PCB, fruto da política que a ala à direita realizou durante anos. Por isso, é necessário que realizemos um processo de autocrítica constante em nossas fileiras, a fim de limpar essa cultura burocrática e mandonista dentro de nosso partido.
52. Nesses momentos de ampliação e proletarização de nossas fileiras, uma forma de trabalho voluntarista e espontânea, sem um devido planejamento político e organizativo consequente, leva ao desenvolvimento desigual entre os núcleos do estado. A falta de planejamento e análise científica, como muitas vezes ocorreu dentre a UJC em nosso estado, leva ao favorecimento do desenvolvimento de núcleos mais bem estruturados em suas condições objetivas e subjetivas, em detrimento de núcleos com trabalhos não voltados ao movimento estudantil universitário público ou núcleos mais distantes da Região Metropolitana de São Paulo.
53. O modelo universitário brasileiro deriva das determinações sociais, políticas e econômicas da sociedade em que está inserido. As tarefas particulares da juventude em cada núcleo é determinada conforme o contexto de atuação do núcleo - como o modelo de ensino da universidade, os aspectos econômicos, sociais e políticos da região, bairro ou cidade e a composição do corpo discente, docente e dos trabalhadores, por exemplo. O ME expressa a forma organizada da luta de classes no contexto particular de cada núcleo universitário. A juventude deve ter como uma de suas tarefas identificar as questões que se apresentam em seus locais de atuação e organizar as bases estudantis, pautar o debate de forma politizada e orgânica, mobilizando e massificando a linha política da União da Juventude Comunista (UJC)
54. A nossa militância falha em se comunicar com a população periférica, se fazendo necessário tanto educar essa militância no contato orgânico e cotidiano com o povo, quanto priorizar a formação de quadros proletarizados oriundos da periferia.
55. Ainda não conseguimos nos consolidar enquanto uma ferramenta do proletariado, com capacidade real de intervir nas lutas econômicas e políticas de forma a guiar a classe à vitória. Enquanto isso não mudar, continuaremos falhando no giro operário-popular, visto que a classe proletária pouco se interessa em entrar para um grupo apenas capaz de boas notas políticas.
56. A partir desse diagnóstico, é inegável que o perfil da nossa militância ainda é muito pequeno-burguês e branco, apesar da recente proletarização das fileiras devido ao crescimento da UJC em cidades estratégicas do estado de São Paulo e o trabalho construído com alguns bairros proletários. Precisamos, portanto, aprofundar o processo de proletarização de maneira centralizada e unificado, superando, por um lado, a espontaneidade no crescimento entre os setores estratégicos da juventude proletária paulista e, por outro lado, o recrutamento passivo que tem sua efetivação demasiadamente concentrada na pequena-burguesia paulista e na aristocracia proletária branca. Assim, é necessária a realização de um balanço, avaliação investigativa e apuração do método estadual de recrutamentos das comissões de recrutamento, grupo de recrutadores e Comitês de Luta pelo Poder Popular.
57. Para o IX CONUJC houve esforço da antiga direção estadual de sistematizar um relatório de organização dos últimos anos com os registros sobre composição e transformação do caráter da militância na história recente da UJC-SP, que elevou a cientificidade dos debates internos. Tais acúmulos, porém, não puderam ser plenamente apreciados nas etapas estadual e nacional por desorganização no envio da documentação para os delegados estaduais e por erros de infraestrutura da etapa nacional.
58. Parte dos motivos políticos que levaram a UJC São Paulo a aderir ao PCB-RR é a crítica à vacilação ideológica e a falta de profissionalismo e planejamento científico na intervenção na luta de classes nacional e internacional. Agora, porém, é o momento de dedicarmos todos as nossas forças e esforços para avançar na superação dessas contradições. Das bases à direção da UJC, necessitaremos nos debruçar na formulação e ação política para superação da situação dada. Agindo na contramão do atual Comitê Central, fortalecer o centralismo democrático ao ampliar a nossa democracia interna e aproximar a base das suas direções, dando ferramentas e condições materiais para que toda a militância possa fazer parte dessa formulação e constituir uma unidade ideológica e de ação mais orgânica. Dessa forma, o horizonte que deve nortear esses trabalhos é a construção da Revolução Socialista, e não de uma sigla eleitoral.
59. Para superar essas questões, necessitamos que todo o complexo partidário experiencie os locais de trabalho de outros núcleos, especialmente as assistências. Essa experiência deve ser feita formando os militantes sobre a realidade de locais antes deles serem girados para estes.
60. Devido a nosso pouco tempo de experiência de trabalho em bairros, é importante que camaradas mais experientes deem suporte aos núcleos de bairros que ainda possuem dificuldades para estruturar um trabalho ou uma inserção nos bairros.
61. Temos ainda uma debilidade organizativa em manter militantes na organização por não entender a situação dos camaradas mais precarizados, levando ao sobrecarregamento, ou desligamento, consequência da falta que se faz na questão de saúde mental. Para superar essa condição, necessitamos escutar mais para compreender as demandas das bases precarizadas, inserindo estes militantes nos debates sobre como a precarização se dá na nossa organização.
62. Também temos uma debilidade de incorporar na direção os militantes precarizados, o que precisa ser imediatamente superado, a partir, por exemplo, do aprofundamento da divisão revolucionária de tarefas e da profissionalização dos nossos militantes.
63. Ainda estamos aquém de superar uma cultura política meritocrática e anticientífica da promoção de quadros de direção: "promovem-se" militantes que apresentam as melhores condições objetivas e subjetivas para a militância, e tem-se ainda discutido pouco sobre a melhora dessas condições objetivas e principalmente subjetivas da militância dentro da organização.
64. Ademais, reconhecemos que a juventude sudestina, da qual estamos incluídos, muitas vezes, favoreceu a manutenção do federalismo a nível nacional, ao universalizar questões particulares do nosso estado a toda a juventude comunista brasileira. A delegação do Norte e do Nordeste no IX CONUJC elevou essa crítica a uma importante moção, aprovada por aclamação: “Para combater concentração local / E construir a juventude nacional”, que aponta para um compromisso concreto com a real nacionalização de nossas fileiras e, como UJC São Paulo, estaremos dispostos a levar a sério tal compromisso.
65. Para além do reconhecimento, o compromisso deve ser de aprofundar as formulações políticas e estabelecer indicadores para o avanço concreto da inversão e potencial superação do eixo norte-sul. Devemos, ademais, buscar reverter a invisibilização do norte e nordeste seja no âmbito nacional ou estadual, considerando o fluxo migratório focado no sudeste e o protagonismo político da população retirante, dos filhos e filhas de nortistas e nordestinos em São Paulo.
66. Para construir o XVII Congresso do PCB e continuar com a Reconstrução Revolucionária de nosso Partido, colocamos à disposição nossos acúmulos na construção do jornal O Futuro de São Paulo para que construamos um complexo de imprensa de âmbito nacional de nosso complexo partidário, bem como uma estrutura analógica e digital de comunicação e imprensa mais ampla a serviço do Partido e da classe trabalhadora, com a publicação de Revista Teórica e livretos e brochuras sobre nosso programa, bem como os clássicos do marxismo-leninismo. Lutaremos para que essa produção jornalística esteja circulando antes mesmo da realização do XVII Congresso, cumprindo a função de organizador coletivo e Órgão Central do PCB-RR.
67. O complexo de imprensa/agitação e propaganda deverá ser articulado com iniciativas comerciais para subsidiar financeiramente nossas tarefas políticas. Essa articulação será fundamental para que superemos a visão do jornal físico também como um produto autofinanciável. Um plano de ação financeiro que inclui as atividades e estimativas de gastos/retornos deve ser divulgado à militância junto ao retorno das tarefas em torno da construção do Jornal. Com isso, devemos avançar também na superação da separação entre trabalho político e financeiro, assim como nos “aventureirismos” da nossa política financeira.
68. Também daremos ênfase na preparação financeira de nossa organização para dar cabo das necessidades estruturais do Congresso, das tarefas nacionalizadas, da construção da logística do jornal e outros produtos. A UJC São Paulo se compromete a incentivar financeiramente e a formular sobre maneiras de construir e estruturar nossa nacionalização junto a essas regiões. Lutaremos para que o movimento comunista brasileiro cresça quantitativa e qualitativamente por todo o país. Apesar de nossa própria debilidade financeira, estamos dispostos a compartilhar boa parte desses recursos com organismos partidários menos estruturados financeiramente, especialmente aqueles do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, em busca de incentivar, na prática, a nacionalização de nossa organização. Lutaremos para que nenhum militante comunista do Brasil deixe de participar do Congresso por falta de estrutura. Para tal, é importante que tenhamos a nível nacional política de finanças robustas e mais profissionais a fim de ter, no futuro, fundos suficientes para garantir condições materiais que permitam a participação de delegados nos Congressos.
69. E, para prevenir o fortalecimento do oportunismo em nossas fileiras, daremos centralidade para a formação teórica e prática sobre os princípios do Marxismo-Leninismo e sobre as questões candentes do Brasil. Utilizaremos da estrutura e experiência estadual para garantir a formação do máximo de militantes do estado, assim diminuindo os riscos que os nossos militantes venham a ter desvios à direita, assim como aconteceu com o atual PCB-CC.
Documento aprovado na I Conferência Regional Exclusiva da União da Juventude Comunista em São Paulo, em 08 de outubro de 2023