'Ressucitemos o poder popular e abandonemos a UNE' (Tai e Lukinhas)

[..] a atuação insuficiente e imobilista da UNE deixa um vácuo que podemos aproveitar para pautar nossa linha diretamente com a base, sem precisarmos estar dentro dessa entidade estudantil que não passa de um cadáver ambulante que faz notas de instagram e tuitaços.

'Ressucitemos o poder popular e abandonemos a UNE' (Tai e Lukinhas)
Autoria da imagem: UNE. Fonte: https://www.une.org.br/2011/09/historia-da-une/

Por Tai e Lukinhas para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Saudações, camaradas!

Essa tribuna tem como objetivo trazer à luz debates que ocorreram dentro do Núcleo de Base Honório Delgado Rubio (núcleo de movimento estudantil universitário de Curitiba) acerca da utilidade de disputarmos a União Nacional dos Estudantes - entendendo disputa, tanto no sentido das eleições da entidade, quanto disputa de linha dentro dos espaços geridos pela entidade - a partir da discussão sobre a nossa participação na Caravana da UNE no Paraná.

A título de contextualização, vamos realizar um breve resumo de como chegou até nós a demanda de tocarmos essa tarefa e qual a avaliação política que fizemos dela. 

Em uma reunião entre o secretariado da CR-PR, a assistência do núcleo Honório, o secretário político do núcleo e a CN-UJC a lista de tarefas mínimas para serem realizadas para a Caravana da UNE nos foi repassada, dentre elas panfletagens, participação nos eventos oficiais da Caravana e realização de eventos próprios da UJC. A partir da data dessa reunião, nos restava uma semana e meia para planejar essa sequência de atividades - caso fossemos participar - já que essas foram pautadas apenas nesta data. Ademais, até essa reunião não tínhamos sido informades que CN-UJC contava com a nossa participação de forma organizativa e agitativa nesse evento. Apenas sabíamos que esse aconteceria e em quais datas devido as circulares que desceram.

Para além de termos tido pouco tempo hábil e pouco apoio da CN-UJC para realizarmos essa tarefa, entendemos que os espaços promovidos pela UNE são esvaziados politicamente, visto que são aparelhados pela majoritária, a UJS. Sem contar que temos experiências suficientes de disputa com a UJS para analisarmos que o espaço da Caravana seria igualmente vazio de questões políticas. Se somando a isso, as relações entre a UJC e UJS no Paraná são extremamente hostis, inclusive com uma dirigente da UJS partindo para a agressão física de uma militante nossa no CONUPE. Além de, no mesmo CONUPE, a UJS ter tentado desestabilizar falas de nosses militantes, ter nos xingado, nos hostilizado e nos vaiado durante a plenária final. Logo, camaradas, acreditar que vale a pena nos expor a todas essas questões para realizar uma atividade que não terá ganho político já que, repetimos, será esvaziada e monopolizada pela UJS, é um disparate.

Ainda mais, não podemos nos esquecer que o objetivo da Caravana da UNE é divulgar a Reforma Universitária e emular que a entidade levou as vontades da base ao Governo Federal. Contudo, sabemos que, dentro do capitalismo, reformas não são o suficiente para transformar a universidade em um espaço que atenda as demandas da classe trabalhadora. Tendo ciência disso, nossa atuação na base é totalmente contrária a atual gestão da UNE e a linha pautada pela majoritária. Assim, ao divulgarmos e chamarmos a nossa base para somar num evento promovido pela UNE com esse objetivo, seria contraditório à nossa atuação.

Camaradas, para além das questões supracitadas, estamos atualmente passando por uma greve nacional dentro das instituições de ensino federais, em conjunto com os sindicatos des técniques administratives em educação e des docentes, es estudantes da UFPR e UTFPR deflagraram greve unificada das três categorias. Assim, o núcleo Honório está nos comandos de greve de duas instituições federais, tarefa que está sendo prioritária dentro do Movimento Estudantil Universitário. Vale lembrar que as movimentações na construção desses comandos de greve se deu por uma união entre as forças de esquerda radical em denúncia ao imobilismo das juventudes do PT e à inoperância da UJS, em sua atuação na UPE e na UNE durante o início da greve des TAE’s. Sabendo disso, antes que a UNE adiasse o evento frente ao cenário grevista, a CN-UJC inclusive nos orientou a panfletar sobre a Reforma Universitária e sobre a Caravana em meio a greve, ainda que tenhamos, nesse momento, outras pautas mais urgentes para agitar nos locais onde atuamos. A exemplo da própria legitimidade da greve está sendo atacada pelas forças legalistas e imobilistas da JPT. 

Notem, camaradas, o movimento grevista des alunes começou a partir da denúncia da majoritária da UNE, seria no mínimo hipocrisia - nós militantes da UJC - aparecermos convidando nossa base para participar de um evento promovido por aqueles que constantemente nos opomos. Mesmo que a ideia de nossa participação no evento fosse expor o projeto da universidade popular como alternativa ao modelo de universidade que oprime a nossa classe, os efeitos práticos de chamar  a nossa base para esse evento e de, em tese, participarmos de mesas com a majoritária é o mesmo de compor esses espaço junto a ela, uma vez que construir esse espaço é validar a atual gestão da UNE e a Reforma Universitária. Onde abandonamos a tática o Poder Popular, camaradas? 

HERANÇA DE UM (QUASE) FALECIDO PARENTE

Dada uma contextualização do ME paranaense frente a UNE e como estamos alocades nele, já é possível alegar, camaradas, que a conjuntura nos posicionou desse modo - que ao nosso ver está acertado com a nossa linha - sem o devido racionamento político acerca da situação a nível nacional.

Em total acordo com a tribuna “A disputa de eleições burguesas é uma tática válida?”, da camarada Lulis, a dinâmica de disputar as eleições burgueses nos últimos tempos, nesse caso específico o disputar o CONUNE, não nos trouxe resultados e tampouco acúmulos políticos.

“Falando da minha experiência como militante do Paraná, as Eleições burguesas de 2022 e também com a disputa do CONUNE não nos trouxeram resultados políticos e sim abaixaram nossa linha para “fazer caber” táticas socialdemocratas que tanto criticamos.”

“Sobre o CONUNE nos foi orientado usar de táticas rebaixadas como coletar nomes a todo custo, essa e outras que tanto criticamos na majoritária. Núcleos/militantes que não quiseram tocar dessa forma ou que não tinham condições de disputar nos locais que estavam inserides foram tidos como indisciplinados pelos dirigentes regionais/nacionais.”


“A disputa de eleições burguesas é uma tática válida?”-  Camarada Lulis

Em adição aos pontos relatados pela camarada em sua tribuna, a relação estabelecida nacionalmente com o PCR (Correnteza), durante as eleições do CONUNE com o objetivo de dividir es delegadas eleites, resultaram na UFPR numa atribuição meritocrática de qual força havia realizado mais tarefas ou divulgado mais a chapa.  

Assim, posta a experiência do CONUNE e a forma como a CN-UJC vem orientando as atividades da Caravana, é notável que a nossa atuação como base para disputar a UNE é regida pelo tarefismo e julgada pela subordinação e pela meritocracia. Vale lembrar, camaradas, que o CONUNE aconteceu durante o racha, logo, ainda estávamos inserides na lógica corrente no PCB-CC de realizar tarefas indiscriminadamente em prol da discussão política feita por outrem. Contudo, não há justificativa para essa atitude ser mantida na Reconstrução Revolucionária e tão pouco devemos aceitar essa postura da CN-UJC e outras diligências.

ESPAÇO POLÍTICO RELEVANTE OU SAUDOSISMO?

Como bem pontuou o camarada Bruno Guará em “Por um balanço crítico da nossa atuação na UNE” devemos focar abandonar a disputa dessa entidade que um dia já representou es estudantes, mas que hoje não passa da sombra do  que um dia já foi. Vemos hoje em nossas fileiras um certo saudosismo nessa disputa por sermos a juventude fundadora da UNE, mas não tenhamos ilusões, camaradas, a décadas já não existe espaço para a esquerda radical dentro desse espaço.

‘Há quem diga que "essa é a prática da UJS" e isso é verdade. Contudo, utilizando uma ferramenta que a UJS transformou em um cadáver putrefato daquilo que um dia já foi, ao longo de 40 anos de hegemonismo, burocratização e literalmente fraude eleitoral, o que nós poderíamos fazer de diferente? As diretorias da UJC na UNE e na UEE são capazes de desempenhar uma outra prática? A meu ver, não. Por que ao fazer a disputa da UNE em si estamos nos rendendo à lógica do ME tradicional, que é avessa à nossa estratégia revolucionária.’

“Por um balanço crítico da nossa atuação na UNE”-  Camarada Bruno Guará

Atualmente, com a greve estudantil, temos um enorme exemplo de como a UNE é um espaço que não nos cabe mais. No Paraná, a entidade vem servindo de calço legalista junto a JPT que busca a todo tempo desmobilizar e invalidar a luta estudantil por meio da justiça burguesa. Além do mais, representantes da UNE aparecem mudes nos Conselhos de Base e saem calades, sem realizar uma única intervenção ou fala. Em meio a esse cenário, a União Nacional dos Estudantes não é vanguarda e sequer compõe uma Greve Estudantil Nacional. Greve essa que vem sendo formada pela base PARALELAMENTE à UNE. Portanto, não há prova maior que nós - que nos propomos a ser vanguarda do ME e da classe trabalhadora - não cabemos mais nesse espaço.

Os últimos CONUNE, CONUPE e agora a Caravana da UNE não passam de espaços em que a disputa política é esvaziada e pautada pela majoritária. Para adentrarmos e sermos bem aceites nesses espaços precisamos rebaixar nossa linha e fazer acordos com a UJS. Coisa que não precisamos nos sujeitar, visto que a atuação insuficiente e imobilista da UNE deixa um vácuo que podemos aproveitar para pautar nossa linha diretamente com a base, sem precisarmos estar dentro dessa entidade estudantil que não passa de um cadáver ambulante que faz notas de instagram e tuitaços. Além disso, quando estamos nesses espaços e nos negamos a negociar com forças pelegas somos tratades com violência e hostilizades, como no exemplo do último CONUPE que citamos acima.

NÓS A FUNDAMOS E NÓS A MATAREMOS 

Desse modo, camaradas, devemos abandonar a disputa de cartas marcadas pela UNE e focar nas inserções que são realmente produtivas e dialogam com a base, como CA’s e DA’s e Executivas de Curso, inclusive ativamente formando nosses militantes para disputarem e atuarem nesses espaços de forma paralela à UNE. Romper os laços com o saudosismo nos fará avançar nossa linha, melhorar nossa atuação nas bases e nos posicionar de forma combativa.

Outro ponto que devemos abandonar, agora dentro do nosso próprio partido, é o hábito remanescente do PCB-CC de enviar listas de tarefas para a base sem o processo de convencimento para que realizemos as tarefas e, por consequência, sem um espaço claro e horizontal de discussão política. Nossas bases precisam estar inseridas nas discussões políticas e também ter autonomia para as propor.

Saudações Revolucionárias!