'Regulação e submissão total da linha editorial dos canais privados de comunicação nas redes sociais ao Partido!' (Gus e Pedro Mendes)

Porém, na mesma medida em que esses veículos se tornaram parte de “nossos rostos”, suas linhas editoriais possuem completa independência de nosso programa, podendo optar por qualquer posicionamento político à revelia de nossas resoluções e das decisões coletivas de nosso partido.

'Regulação e submissão total da linha editorial dos canais privados de comunicação nas redes sociais ao Partido!' (Gus e Pedro Mendes)

Por Gus e Pedro Mendes para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Camaradas, nos propomos aqui fomentar e lançar um debate acerca de um tema que, apesar de muito conhecido e constantemente mencionado, também a muito vem sendo deixado de lado por nossas fileiras: a necessidade da centralização total de todos meios de agitação e propagada que estão relacionados ao partido, ou seja, da necessidade de um real processo de profissionalização da propaganda comunista.

Há um caráter propositivo extremamente pequeno no campo das pré teses acerca deste tema, porém, o parágrafo 31 do tópico “Agitação e Propaganda” corretamente nos afirma:

 “é indispensável que todo trabalho de agitação e propaganda, mesmo aquele conduzido em torno das reivindicações mais imediatas e locais, seja considerado à luz do programa do Partido. [grifo meu]”

Apesar da vagueza referente a esses “trabalhos”, resta nos pensar, como ficam os veículos privados de agitação e propaganda que estão relacionados com o partido de uma forma ou de outra? Tratando-se desses canais de agitação e propaganda nas redes sociais, o alinhamento político de seus trabalhos com o programa do partido nunca ocorreu de forma planejada; isso se deu; em grande parte, por falta de interesse da direção do PCB-CC em potencializar e nacionalizar o alcance do partido pelas redes e profissionalizar uma estrutura de comunicação. 

Apesar do racha deflagrado desde o ano passado, ainda não estruturamos em resolução qualquer tipo de regulação sobre tais canais. Isso se torna problemático na medida em que, ao decorrer do racha, estes se tornaram os principais veículos de articulação das demandas da reconstrução revolucionária frente o comitê central do antigo PCB. Tal é o caso da própria editora Lavra Palavra, que possuiu um papel inegável na articulação das denúncias contra o comitê central e seu oportunismo. Porém, na mesma medida em que esses veículos se tornaram parte de “nossos rostos”, suas linhas editoriais possuem completa independência de nosso programa, podendo optar por qualquer posicionamento político à revelia de nossas resoluções e das decisões coletivas de nosso partido.

Novamente, apesar de não serem, de fato, nossos meios “oficiais”, tal como o EDC é hoje, acreditamos que pela sua relação próxima com o partido, que pelo fato de serem de militantes nossos (incluindo de nossos dirigentes) elas devam ser orientadas, à luz de nossas resoluções, objetivos táticos e estratégicos. 

Afim de não confundir nossas bases ou até mesmo as massas frente as posições tiradas coletivamente de nosso partido, é necessário um processo de centralização desses veículos, pois os mesmos já deixaram há muito, de serem apenas iniciativas privadas, independentes, que buscavam preencher buracos da agitação e propaganda que o partido não possuía interesse em se inserir. 

É imprescritível esse processo de centralização, pois sua realização implica necessariamente em pensarmos de fato a profissionalização do trabalho dentro do partido, para que além das equipes já definidas por estes próprios veículos, haja um esforço de todo o partido em integrar, assegurar e expandir o trabalho da agitprop, de o nacionalizar, de fazê-lo alcançar todo o Brasil da melhor forma e qualidade possível.

“A atividade literária deve tornar-se uma parte do trabalho partidário social-democrata organizado, planificado, unificado.”[1]

Apesar dessa proposta de centralização total parecer, em um primeiro momento, algo que impede a liberdade de crítica e se essa proposta, ou algo que colocaria o partido em uma forma “monolítica”, com uma espécie de “centralismo teórico”, que tal como é realizado pelo PCR, é uma ferramenta de cerceamento de debate e críticas ao partido. Apontamos que essa proposta não recai nesses desvios. 

Sem mais delongas, apresentamos nossas propostas de profissionalização para os grandes canais e veículos de agitação e propaganda: 

1- Hoje tais canais privados (Jones Manoel e Gaiofato, são dois dos exemplos mais notórios) são, querendo ou não, a imagem do RR. Mais do que simplesmente expor suas opiniões individuais, seus canais configuram-se como aparelhos com amplo alcance e poder de convencimento e por projetarem-se como figuras públicas do partido é necessário que o trabalho exposto esteja de acordo com nosso programa. Recebemos incontáveis recrutamentos oriundos da agitação nas redes e é extremamente importante que não haja qualquer confusão na linha política que defendemos para quem intenciona entrar em nossas fileiras e muito menos para as massas e “amigos” do partido que confundem o que é propagandeado nesses canais com a linha que deliberarmos em nossas resoluções.

 “O partido é uma associação voluntária, que se dissolveria inevitavelmente, primeiro ideologicamente e depois também materialmente, se não se depurasse dos membros que defendem concepções antipartido. E para definir as fronteiras entre o que é de partido e o que é antipartido existe o programa do partido, existem as resoluções tácticas do partido e os seus estatutos, existe, finalmente, toda a experiência da social-democracia internacional, das associações voluntárias internacionais do proletariado, que incluiu constantemente nos seus partidos determinados elementos ou correntes não de todo consequentes, não de todo puramente marxistas, não de todo correctas, mas que também empreendeu constantemente «depurações» periódicas do seu partido. Também assim será connosco, senhores partidários da «liberdade de crítica» burguesa, dentro do partido”[2]

2- A liberdade de crítica destes camaradas deve ocorrer pelos meios dos quais todos os militantes possuem igual acesso e teoricamente, o mesmo poder de convencimento, em outras palavras, ela seria salvaguardada pelas nossas tribunas, que hoje são um aparelho coletivo e regulado pelo partido. Hoje, tais canais têm alcance maior que todos os meios de comunicação do partido, tendo o poder de pautar debates internos e os rumos do partido, basta ver a grande quantidade de tribunas inspiradas em temas que são recorrentemente pautados nesses canais (muitas vezes ansiosas em definir seu caráter de prioridade ou “polêmica”). 

Há uma relação de desigualdade na forma de disputa entre estes camaradas e os demais extratos da militância, pois tais canais possuem um maior poder de coerção na disputa interna, seja tanto pelo seu grande alcance numérico, fruto de seu árduo trabalho em estabelecer um público assíduo, seja também pelo formato mais prático para o consumo no dia-a-dia (shorts, video-essays, podcasts, etc.). Isso não é demérito algum camaradas, pelo contrário, é a prova prática que devemos ampliar ainda mais nossas formas de nos comunicarmos também enquanto um partido. Iniciativas como a tradução das tribunas para o formato de audiobook, são um sinal desse caminho acertado que, apesar de nossas limitações e incapacidade atual de abranger todas tribunas de nossa militância, vem se mostrando extremamente frutífero em faze-las alcançar mais camaradas. 

Ao delimitar a liberdade de crítica desses camaradas as nossas tribunas teremos não apenas uma disputa interna mais democrática, como também aumentaremos o interesse geral pelas tribunas. Se Jones ou Gaiofato divulgarem suas tribunas, consequentemente, aumentará o público dos textos divulgados no “Em defesa do comunismo”, o que irá fortalecer um aparelho coletivo do partido, assim como a polêmica pública no movimento comunista, e também ampliar a voz da base. 

Aliás, cabe o adendo ao fato que esses camaradas até hoje contribuíram muito pouco para as nossas tribunas (assim como grande parte da nossa direção nacional), e com frequência restringiram seus posicionamentos aos seus canais privados e instâncias de direção. Isso é um erro, uma vez que foi (corretamente) agitada a importância da polêmica pública no movimento comunista e demarcamos campo em relação à compreensão restrita de Lenin que o PCB-CC tinha, como também a pouca participação política das antigas direções. As massas precisam se inteirar e participar dos rumos do RR, é necessário que a agitação caminhe nesse sentido, e o alcance desses canais não seja ensimesmado, correndo o risco de cair na lógica de entretenimento das redes.

3- Esses canais são uma forma de sustento, tanto dos camaradas em frente às câmeras, como também dos que trabalham atrás delas. Um erro do PCB-CC foi nunca ter profissionalizado essa atuação. Assim, a centralização política de seus trabalhos deve passar necessariamente por garantias financeiras e de segurança pessoal promovidas e estruturadas pelo partido. Isso deve ser uma das nossas prioridades no que compete a profissionalização da agitação e propaganda. 

De forma alguma queremos aqui ignorar que tais canais são - sobretudo os consolidados - uma forma de renda dos camaradas envolvidos. E o são de maneira direta ou indireta, visto que muitos podem até empregar alguns indivíduos ou podem vir a usá-lo para complementação de renda ou as atividades ligadas a divulgações de conteúdos próprios ligados a militância ou não (como cursos, divulgações de outros canais, podcasts, livros, etc.). Entretanto, longe de blindar a questão da necessidade de sobrevivência dos militantes envolvidos em tais canais e a necessidade de um partido com uma comunicação orgânica e nada centrada em grupos internos ou externos, temos nessa questão um desafio de pensar as contradições que nascem dessas ferramentas recentes na história do movimento comunista e a sua relação com a organização. Toda e qualquer ponderação nesse sentido deve buscar entender a forma com que a liberdade de crítica de qualquer militante deve se dar no partido, partindo a priori pela estrutura partidária e seus meios de debate e polêmica, não se encontrando acima dela.

Se em um recente momento histórico de nosso partido, quando não mais haviam possibilidades de um debate franco e aberto, nos foi necessário a destruição “de nosso teto de vidro” para alçar o debate e a polemica publica há tanto censuradas, agora esse momento já encontrou sua superação.  Possuímos hoje, por meio das tribunas permanentes, um veículo apropriado a toda militância para estabelecer nossas divergências e polêmicas, sempre, é claro, à luz do centralismo democrático e da preservação de nossa unidade de ação.

Entendemos que o problema da renda ligada aos canais privados de alguns militantes é, na verdade, mais uma manifestação do problema crônico da profissionalização. Se notamos dentro do movimento comunista brasileiro, focos de movimentos espontâneos de camaradas que pelas mais diversas razões, se organizam na tarefa de educar as massas, é um sinal de nossa incapacidade não absorvermos esse movimento da melhor maneira possível.  

Isso se torna ainda pior se tais camaradas são, verdadeiramente, militantes do partido, pois não é estranho pressupor que nutrem eu seus projetos individuais o anseio mais que individualista de transformar sua atividade individual, determinada pela dinâmica de sobrevivência dentro do capitalismo, em uma atividade que se coletiviza e se profissionaliza através do partido. Dito isto, quando colocamos a questão da necessidade da organicidade da comunicação partidária e de uma intervenção substancial do partido em canais de grande porte, fazemos um convite aos camaradas envolvidos em atividades comunicativas para as massas que aprofundem seu envolvimento não meramente como meio pessoal de subsistência, mas como meio partidário de qualificação das lutas e dos debates junto a classe.

Camaradas comunicadores, seus conhecimentos financeiros e técnicos sobre a questão são fundamentais para a superação da falta de profissionalização no interior de nosso partido. A superação dessa falta de profissionalização é tão urgente quanto o fato das comunicações que vocês desenvolveram serem organizadas pela complexidade política de um corpo coletivo como a de um partido leninista. Temos nesse problema a verdadeira condição de que um dilema, não pode ser superado sem o outro e que adequações devem ser feitas de maneira a avançar na qualificação de nossa comunicação com a classe, sem que essa mesma classe se sinta desprivilegiada enquanto corpo coletivo ao adentrar ao partido e debater com os camaradas presentes nos canais que as ajudaram a despertar para a luta revolucionária.


Referências:

[1] A Organização do Partido e a Literatura de Partido (marxists.org)

[2] Idem.