'Reflexões acerca a tarefa de agitação e propaganda no movimento comunista brasileiro' (Guilherme Davi)

Por vezes, principalmente nas últimas décadas aqui no Brasil, o trabalho de agitação e propaganda se não é limitado nas mesmas tarefas, é sem dúvidas muito pouco profissionalizado dentro dos partidos comunistas.

'Reflexões acerca a tarefa de agitação e propaganda no movimento comunista brasileiro' (Guilherme Davi)
"A experiência histórica das revoluções socialistas nos mostra o resultado de uma qualificada agitação das massas em torno do espírito revolucionário e a propaganda cada vez mais sistematizada"

Por Guilherme Davi para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Camaradas, venho colocar aqui uma contribuição para o debate sobre agitação e propaganda no movimento comunista. Por vezes, principalmente nas últimas décadas aqui no Brasil, o trabalho de agitação e propaganda se não é limitado nas mesmas tarefas, é sem dúvidas muito pouco profissionalizado dentro dos partidos comunistas.

Dizer a importância da agitação e propaganda deveria ser chover no molhado, já que a experiência histórica das revoluções socialistas nos mostra o resultado de uma qualificada agitação das massas em torno do espírito revolucionário e a propaganda cada vez mais sistematizada, tanto em nossos espaços de  atuação, quanto em nossa vida cotidiana, onde se encontra mais claramente as contradições do capital e a concentração mais densa da consciência de nossa classe, que é na rua e em qualquer lugar onde a classe trabalhadora se faça presente!

O debate aqui não é sobre o conceito, mas sobre atuação. Como dito ao início, a agitação e propaganda é precarizada no movimento comunista e em suas organizações, mas afinal, o que resulta isso? Quando a construção não é coletiva, as aspirações de trabalhos individuais aparecem, tanto por nós, quanto contra nós. Os últimos anos demonstram isso, o dito crescimento quantitativo de partes do marxismo-leninismo pela internet, se dá de maneira majoritária, de marxistas que isoladamente produzem conteúdo, da maneira individual, muitos nem organizados estão e aqueles que estão, nem suporte do partido recebem.

Muito da questão sobre personalismo que hoje assombra a militância, recai nesse fato: boa parte dos problemas nas quais esses comunicadores digitais marxistas passam, ou nas polêmicas que hora ou outra se colocam, se dá justamente pela falta de capacidade ¬(ou de vontade) dos dirigentes comunistas de construírem espaços de elaborações coletivas e táticas para atuar nas redes. Deixe que de maneira espontânea os militantes decidam criar conteúdo para o TikTok, youtube, instagram, twitter etc. sendo isso causa de um atraso político que não pode permanecer.

Veja, para disputar nossa linha partidária e ideológica, isso também gera atrasos, no sentido de que não temos uma boa rede de organização, com militantes agindo de forma centralizada, impulsionando de maneira orgânica conteúdos dos militantes que elevam o debate dentro e fora do partido, que não apenas servem as aspirações dele, por mais que se deva haver pleno entendimento que buscamos organizar a classe no partido que não é apenas nosso, mas sim de todo trabalhador e trabalhadora, como o instrumento da nossa libertação do capital.

E qual forma de combater no grau mais ideológico fenômenos reais da internet como grupos de extrema-direita, neoliberais, fascistas e entre outros exemplos, se não com uma frente de comunicação comunista que debata entre si e com a militância sobre quais conteúdos devemos ou não combater, o que e quem devemos impulsionar, o que estaríamos procurando fazer nesses espaços. Conteúdos teóricos, de formação, de mera agitação para as ações do partido, ou profissionalizar militantes para atuarem em todas essas tarefas?

Para conseguir, nas limitações de conteúdos comunistas num aparato burguês, “furar a bolha”, camaradas, não vamos nos limitar a dizer que nada podemos fazer na internet, que não teremos espaço, isso seria ir contra o princípio combativo de um militante, seria aceitar a retórica de setores reformistas brasileiros que constantemente desanimam ou deturpam a internet como espaço inútil de atuação e que tira nossa criatividade enquanto comunistas. Sim, as redes sociais têm limitações, mas podem servir como um dos nossos espaços mais fundamentais para agitação e propaganda partidária marxista-leninista, assim como o jornal do partido (que hoje, é vinculado as redes sociais).

Omovimento comunista no Brasil não irá crescer enquanto a resposta sair de atuações individuais, a resposta precisa ser coletiva. Vejo como fundamental ação para os comunistas a proposta da criação de um comitê de agitação e propaganda, de maneira a centralizar determinados conteúdos, tratando atuações online como tarefas partidárias que, não servem para um estrelato de um único militante, mas como uma voz do da classe trabalhadora, das palavras de ordem do partido e elevando o debate, priorizando a elevação da consciência e os afetos da classe. Deixando claro que centralizar conteúdos não significa perder a autonomia da crítica política e dos apontamentos do militante.

Além da centralização, deve-se mapear os militantes com melhor facilidade para a comunicação em massa das redes e aqueles com mais engajamento (principalmente para propaganda), lhes garantirem o apoio político em termos de conteúdo e teoria, mas também da própria estrutura técnica, em casos de audiovisual. Veja, nem todo militante irá criar conteúdo, mas o que sabemos que tem essas características de comunicação, engajamento, formação política, devemos enquanto uma organização comunista fornecer o possível, pois esses militantes irão falar pelo partido.

De outro modo, diluir o conteúdo de forma que aquilo que for postado no jornal partidário (principal centro de propaganda marxista-leninista), ser diluído ou transformado em vídeos, podcasts, cortes em redes, posts etc. Esse conteúdo também deve ser pensado almejando qual a melhor identidade do comunismo brasileiro, tanto em conteúdo, quanto na sua estética. Chega de tentar trazer de forma mecânica a estética de outras experiências, como tentam fazer com o realismo soviético.

Para finalizar, trago a seguinte reflexão: No século passado o PCB teve histórico de experiências em tarefas da educação, com escolas populares, então me pergunto, por que não construir um espaço nas redes de audiovisual, como uma espécie de escola/canal para um aprofundamento inicial e avançado da teoria marxista-leninista. Sei que já existem espaços parecidos com essa proposta, mas costumam ser pagos, estou falando aqui de uma tarefa realmente popular para todos os que querem entrar em contato com o marxismo-leninismo no Brasil.