'Da água ao suco de uva: A etapa Estadual do XVII Congresso do PCB-RR no RS' (Raul Orcy)
A metamorfose da nossa organização está acontecendo, e é nosso dever avançarmos nela de forma crítica, sempre, é só assim que será possível que cada vez mais tenhamos pessoas determinadas a opinar e participar de nossas ações.
Por Raul Orcy para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
A militância gaúcha realizou a etapa estadual do XVII Congresso nos dias 15,16 e 17 do mês de março, este texto visa refletir o encontro da camaradagem gaúcha e o seu desenvolvimento em relação ao último momento presencial estadual, que foi o conturbado Ativo Estadual marcado pela cisão com o PCB.
Os ativos e congressos são sempre momentos de emoção e comoção, pois há um encontro de pessoas com anseios semelhantes aos seus e com diferentes visões sobre as mesmas problemáticas, estes fatores fazem com que aconteçam discussões e diálogos muito ricos para a evolução coletiva de nossa militância. Camaradas que se conheciam pela internet conseguem se abraçar, camaradas que nunca ouviram falar um do outro podem se conhecer, camaradas que não se viam a meses podem se rever. Estas diversas formas de relações pessoais e afetivas formam/fortalecem vínculos que animam a camaradagem para seguir na tarefa revolucionária.
Claro, que o foco é o debate e aprovação do caderno de teses, porém entender e avaliar esta tarefa pelo seus fins, desconsidera as minúcias do processo e a forma como ele aconteceu. Irei apresentar alguns pontos de debate:
● Estrutura/organização
● Debates
● Conclusão do congresso
ESTRUTURA/ORGANIZAÇÃO
Houve uma notável e positiva mudança do ativo para o congresso quando o assunto é organização e estrutura para o evento. Tem-se que levar em consideração o momento caótico do ativo, marcado pela clandestinidade e celeridade de processos pré-congressuais, porém estes fatos não tiram o mérito dos camaradas que se empenharam para garantir refeição de qualidade, hospedagem e transporte para a camaradagem.
Considero que este foi o grande trunfo do congresso, a notável evolução organizativa que garantiu o sabor doce e frutado do suco de uva.
DEBATES
Fechar a boca e não expor meus pensamentos
Com receio que eles possam causar constrangimentos?
Será que é isso? Não cumprir compromisso
Abaixar a cabeça e se manter omisso?
A hipocrisia, a demagogia [...]
(MV Bill)
Aqui foi onde não deixamos a uva fermentar e desenvolver o maravilhoso teor alcoólico.
Os debates deveriam contar com ampla participação da camaradagem, com forte preparo teórico/prático dos temas, com respeito às teses propostas ou as alterações propostas e com compromisso ao convencimento verdadeiro, mas esta infelizmente não foi a realidade. Um dos pontos negativos que herdamos do ativo é o caráter intimidador do debate. Visualizou-se a baixa participação de camaradas, e a quase nula em relação a novos camaradas, acredito que este fato seja devido ao teor rigoroso no qual os camaradas vão ao diálogo (ou evitam ele). O diálogo é o momento no qual a palavra é coletivizada entre os que querem transformar o mundo, na união das criticidades, problematizações e concepções, logo, evitar o diálogo é evitar o convencimento, a autocrítica, a compreensão.
No primeiro dia já havia ressaltado na atividade integradora de abertura do congresso que para além do caráter pedagógico deste evento, deveríamos ter atenções voltadas para o ato de compreender. No segundo dia fiz um apelo para que os camaradas lembrassem disso, e parassem de atacar as defesas dos outros camaradas com falas como: “é ridículo adicionarmos tal tese”, “não acredito que vamos debater isso”, “não faz sentido essa defesa”. Essas afirmações mostram a falta de compreensão dos debatentes, pois o “ridículo”, o “acreditável”, e o que faz “sentido” são conceitos relativos, estes perpassam por cultura, regionalidade, área de estudo, tempo de aprofundamento teórico, vivência e demais aspectos que constroem a individualidade de cada militante, logo, se um camarada propõe uma tese diferente da tese de outro, por mais que ambos achem os pontos colocados absurdos, eles tem sentido, ao menos para quem propôs, e isto é o bastante.
Acredito que as afirmações do parágrafo acima tratam da falta de participação e do respeito às propostas, agora para dialogar sobre o preparo teórico prático e o convencimento verdadeiro, lembro de debates no qual as teses não eram defendidas com argumentos que a fortaleceriam, mas com ataques que diminuíram as contrapropostas. Evidencio aqui camaradas uma estratégia baixa de debate, na qual quem visualiza as contradições e avalia qual é mais condizente com a realidade não é o pleno, no caso os delegados, mas sim os que se propõe a debater. EX: se eu for defender que X é melhor que Y, eu falo do X e dos pontos positivos em relação ao Y. Agora se eu falar apenas os pontos negativos de Y, e os motivos de por que o Y é ruim, eu estou conduzindo o debate sem nem falar sobre o X que é o que eu estou indo defender. Além de tirar o poder de problematização dos delegados, pois as problematizações já são dadas, também se torna constrangedor para um militante novo propor uma alteração, que possa ser bombardeada sem que haja uma defesa sobre a contraproposta.
Não poderia finalizar a escrita sobre os debates sem problematizar a demagogia presente em algumas defesas de tese. Camaradas, uma fala cheia de abstrações e que distorce o seguimento do debate, tenta convencer o pleno sem criticidade, sem diálogo, mas apenas com agrado e manipulação. Os militantes pensam, agem, praticam, leem e vivem, logo essa prática é um desrespeito a nossa militância, e quando praticada para pessoas externas ao partido, segue sendo um desrespeito com as pessoas. A revolução é dialógica e dialética, sem criticidade, nós reproduzimos o populismo.
CONCLUSÃO DO CONGRESSO
Avançamos da água ao suco de uva. Precisamos ainda desenvolver melhores condições de diálogo e de acolhimento, para que todos os camaradas participem ativamente dos espaços de deliberação e não fiquem presos apenas a trabalhos práticos e técnicos de nossa militância.
Precisamos avaliar o porque tantos militantes se desligaram e se afastaram de nossas bases, e entender que relações esses fatos tem haver com o pertencimento a camaradagem. Nota-se uma ampla maioria de camaradas homens no congresso, na mesma moeda a maioria dos desligamentos partiu de camaradas mulheres. Os espaços de militância e as relações de camaradagem, são mais confortáveis aos homens? Por que? O que mudamos do PCB para o PCB-RR para diminuir esta contradição? Avaliamos que precise mudar algo? A Partir destes fatores, estamos em um processo de avanço ou retrocesso? Essas questões tem o intuito de problematizar uma realidade que está posta, não de trazer algum encaminhamento ou propor uma resposta, mas apenas trazer esta contradição, que não foi abordada no congresso, à tona.
Por fim, entendo que estamos em um processo corajoso e trabalhoso de mudança. A metamorfose da nossa organização está acontecendo, e é nosso dever avançarmos nela de forma crítica, sempre, é só assim que será possível que cada vez mais tenhamos pessoas determinadas a opinar e participar de nossas ações.
Seguimos, a caminho da organização de nossa classe para a revolução!