'‘Puxadinhos do PCB’: Notas sobre a reorganização dos coletivos' (Dhafne Braga)
Às vezes estamos cansados da opressão do dia a dia e só queremos encontrar o acolhimento na escuta ou nas dores compartilhadas de outra mulher, células ou frentes específicas, para tratar de questões específicas.
Por Dhafne Braga para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Está tribuna está sendo escrita no dia 04 de fevereiro, simultaneamente à realização da Plenária nacional do feminismo classista.
Parece ser um debate vencido e consensuado, a forma segregada e alienante que funcionava os coletivos no seio do PCB CC. Pelo que mapeio, seja pelas falas ouvidas nesta reunião ou em debates de célula, a forma como os coletivos funcionavam no PCB CC, a forma apartada dos coletivos, facilitou e muito a abstração do PCB CC. Ali, os conhecimentos e acúmulos vitais para melhor servir à classe trabalhadora, composta por essas minorias sociais, a forma de “puxadinho teórico” onde o Partido permanecia alheio e inclusive desprezava tais debates. Todes devemos concordar que essa forma de organização não deve ser mantida, a alienação profunda que essa organização causava na mente dos militantes; produzia acúmulos de cargos na costa de mulheres que se colocavam para pautar a classe trabalhadora como um todo, desconsiderando aqui sua posição precária na sociedade, seu trabalho de cuidado ‘’no off’’ e etc. Particularmente, acumulei 3 cargos e ao cumprir tarefas me pegava perdida sobre qual o organismo eu estava representando, esse foi um reflexo da alienação que sofremos. Tal comportamento também se colocava como altamente contraditório quando bradávamos que a classe trabalhadora é uníssona e tanto reclamávamos do excesso de fronteiras divisórias por parte dos movimentos pós-modernos.
Somos comunistas, temos o entendimento de que as superestruturas se entrelaçam e são instrumentalizadas pelo capitalismo com a finalidade única de aprimorar a exploração dos sujeitos, nesse sentido não faz o menor sentido, tanto na teoria quanto na prática -se é que me permitem o erro intencional de tentar dividi-las a fins didáticos- que retomemos o péssimo uso que o PCB CC nos ensinou a fazer desses coletivos, uso esse que não foi meramente errôneo, já que às vésperas do racha esse foi o argumento usado para blindar o CC das críticas crescentes.
Por outro lado, é visto, pelo menos o que foi consensuado na Plenária Feminista Classista, que um espaço específico de acolhimento e socialização de mulheres especializado também é importante, de diversos pontos de vista, inclusive do emocional. Às vezes estamos cansados da opressão do dia a dia e só queremos encontrar o acolhimento na escuta ou nas dores compartilhadas de outra mulher, células ou frentes específicas, para tratar de questões específicas. Essas questões também são essenciais no ponto de vista de aprofundamento e desenvolvimento de celeridade no trabalho positivo, porém o desafio que se impõe é qual a gestão desses espaços, como organizar esses espaços tão fundamentais sem sectarizar o debate, sem se isolar e acabar se blindando em si mesmo. Que o Partido se conscientize como um todo e não despreze o debate de combate às opressões, como outrora, que incorpore concretamente e dialeticamente esse acúmulo, que não se furte à autocrítica e ao dever de ter uma prática cada vez mais abrangente.
Não sei se esse ponto já foi tocado aqui nesse espaço, eu não me recordo de ver o tema passando pela minha timeline e nem de ter lido algo relacionado, mas acredito que o assunto é pertinente demais e até me assustei um pouco ao encontrar consenso na plenária feminista, não pude estar presente na do LGBT Com. por conta de minha etapa de base, mas fui esclarecida de que lá também houve esse apontamento. Como pessoalmente me interesso em pautar a reorganização do nosso coletivo feminista, pauto aqui, o que parece ser um ‘’consenso subentendido’’ e coloco na mesa a questão principal: Como vamos nos organizar daqui pra frente?’’.