'Proposta de organização da estrutura financeira e material' (Felipe Mir)
O que proponho para a organização da estrutura financeira da UJC se baseia no principio de que as finanças devem ser completamente centralizadas nacionalmente com alguns organismos ligados a comissão nacional de finanças participando das CR pelos estados.
Por Felipe Mir para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Venho por meio desta exposição trazer proposta de remodelamento de nossa organização, neste texto apontei sobretudo estruturas da UJC porque a juventude hoje é o local onde tenho minha militância mais orgânica, porém entendo que nada aqui impede que as propostas e elementos trazidos sejam utilizados pelo PCB-RR, ficaria inclusive feliz caso os camaradas puderem encontrar utilidade neste texto.
Procurei dividir minha exposição em quatro momentos, no primeiro uma tentativa de análise do problema e apontamentos e ordem política, embora tenha a visão de que esta parte ainda necessita de muito trabalho e aperfeiçoamento, uma segunda seção onde aponto um panorama geral de minha proposta, a terceira parte onde faço uma exposição mais detalhada de algumas estruturas propostas e por fim uma conclusão para este texto.
Apesar de fazê-lo mais adiante novamente gostaria de deixar desde já meu agradecimento ao camarada Assis que disponibilizou seu tempo e paciência para ouvir algumas destas ideias antes delas estarem em texto e por desde então ter me fornecido algumas ideias, principalmente sobre estrutura logística que me foram de grande valor.
1 – Como se organiza hoje
Gostaria de começar tentando adereçar um “problema” que vejo sendo principalmente discutido e que honestamente acredito não ser o problema central das finanças, porém vou fazer isso de forma diferente, eu não quero convencer você meu leitor, pelo contrário, eu quero que você se convença sozinho. Para isso vamos fazer um pequeno experimento, eu e você, como se fazia nos saudosos livros de ciências da escola. Primeiro vamos levantar nosso questionamento central: atualmente nós temos capacidade de arrecadar somas monetárias significativas em curtos períodos de tempo? A pergunta é essencial, já que muitas vezes o problema que se debate em finanças é a questão de termos ou não dinheiro e estrutura para fazer as coisas. Para coletar os dados e poder tirar sua conclusão você deverá fazer o seguinte: chame seu assistente e peça um repasse nacional dos gastos no CONUNE de 2023 e para complementar peça um repasse financeiro do CONUEE do seu estado ou de SP (se for possível, mas acredito que o CONUNE já vai dar conta do recado tranquilamente), lembre-se de pedir valores gastos nas tarefas e em quanto tempo as finanças foram arrecadadas.
Eu acredito que após a resposta da pergunta acima você deverá estar ao menos se perguntando, caramba, mas será então que falta de dinheiro não é o problema? Mas se for isso porque no meu núcleo de cidade ou de bairro proletarizado malemá fazemos direito uma atividade, porque vivemos uma crise que é a depressão de 1929, o choque do petróleo dos anos 70, a bolha do “.com” dos anos 2000 e a crise de 2008 todas juntas e misturadas numa grande batida de pindaíba com frustração? Me atrevo a dizer que é nosso modelo de governança e gestão financeira, caro camarada.
Para explicar vamos procurar então entender melhor e mais profundamente como se organiza atualmente a estrutura financeira da UJC. Para isso iremos nos utilizar de organogramas e citações que pudermos encontrar em documentos da organização que nos forneçam informações relevantes sobre a estrutura, entre um ponto e outro irei tecer breves comentários de leituras, mas já adianto e peço desculpas ao leitor pelo tom mais técnico e por vezes até estéril do restante desta seção, ao término do trabalho de elencar elementos que nos ajudem a entender a estrutura trarei comentários que tenho sobre o que foi identificado.
Tendo em vista as informações à disposição para consulta a estrutura financeira atual da UJC se organiza conforme descrito no organograma a seguir:
A partir do organograma apontado podemos entender que a estrutura financeira da UJC é formada a partir de uma lógica vertical onde existe uma estrutura de topo que atua descendo orientações para as estruturas mais próximas a base. Estas estruturas possuem internamente uma baixa complexidade em geral e pequena especialização dos trabalhos, o que chamamos de secretaria e definimos aqui como estrutura (ou subestrutura no caso da nacional) na realidade normalmente é composta de uma pessoa que deve realizar todos os trabalhos e formulações competentes àquele nível da estrutura geral.
Observando o estatuto da UJC podemos tirar a partir dos seguintes trechos elementos importantes sobre como atuam cada um dos níveis das estruturas:
Art. 38 Compete aos núcleos:
[...]
IX. Elaborar uma política local de finanças em consonância com a política regional e nacional de finanças e prestar contas de suas finanças aos seus militantes e ao organismo imediatamente superior.
[...]
Art. 41 Compete às Coordenações Regionais:
[...]
XI. Desenvolver a sua própria política regional de finanças, cobrar mensalmente o repasse dos núcleos e das cotizações dos membros da CR e repassar mensalmente a contribuição regional para a Coordenação Nacional;
[...]
Art. 45 A Coordenação Nacional é, entre os Congressos Nacionais da UJC, o organismo superior da organização. Essa, bem como os demais organismos de direção da juventude, devem ser referendadas pelas respectivas direções do PCB, Além das atribuições comuns aos outros organismos dirigentes, ela tem como tarefas:
[...]
VII. Elaborar uma política nacional de finanças, assim como arrecadar o repasse financeiro dos estados;
[...]
XVII.Os organismos devem prestar contas de suas finanças aos seus militantes e ao organismo imediatamente superior.
[...]
Art. 46 A Comissão Executiva Nacional é um organismo subordinado à Coordenação Nacional da UJC, e destinado a operar sua linha política e dirigir nacional e internacionalmente os seus trabalhos entre as reuniões.
[...]
§2º Ela é constituída pela Secretaria Política, de Organização, de Finanças, de Relações Internacionais, de Agitação e Propaganda, de Formação Política e de Jovens Trabalhadores, e quantos mais forem necessários para dirigir os trabalhos da UJC.
[...]
A partir dos trechos citados do estatuto podemos perceber que a organização financeira segue um sentido de proposto no qual as estruturas mais próximas ao topo planejam e acompanham a execução de políticas dentro de seus maiores níveis de competência. Por sua vez as bases da estrutura atuam também com um nível bem alto de liberdade de atuação.
As impressões que chego a partir da análise dos dois elementos trazidos é que a atual organização financeira apesar de aparentemente bem horizontalizada na realidade segue um modelo de gestão altamente descentralizado. O que vemos a partir do estatuto é um seguimento de responsabilização do organismo superior para os organismos inferiores, tirando da estrutura superior responsabilidade na orientação de políticas bem definidas. É comum a reclamação de que as direções financeiras não dirigem efetivamente o trabalho, tanto por parte das CR em relação a CN, quanto por parte dos núcleos em relação as CR. Porém a realidade é que nosso modelo de organização estimula e é moldado para a construção justamente de uma finança descentralizada onde os organismos inferiores além de terem naturalmente a exigência do trabalho mais “braçal” da execução das políticas financeiras também tem que lidar com a exigência de formularem em definitivo quais serão as táticas e estratégias e até mesmo quais os trabalhos serão realizados. E isso fica muito nítido em uma consulta do documento de 2021 chamado ABC das Finanças. Em seu sumário o podemos perceber que o documento enumera principalmente três tipos de atividades financeiras que são: vendas, cotizações e circulismo que são políticas normalmente sugeridas e executadas localmente por núcleos de base e são conhecidas hoje como atividades com menor complexidade de realização, apontando que vendas tem potencial de maior complexidade, mas isso necessitaria de um estudo aprofundado exclusivo para a categoria. Vale a nota que muitas descrições podem ser cabíveis a secretarias financeiras das CR sim inclusive com seção exclusivamente de exemplos estaduais, porém infelizmente a realidade é que estas tarefas nunca foram efetivamente estadualizadas e partem muito de iniciativas locais.
Todavia é justo ressaltar que no IX CONUJC já é considerado em suas resoluções que o documento ABC das Finanças consultado por mim é ultrapassado, mas efetivamente hoje é o guia que estrutura nosso trabalho financeiro já que não foi ainda atualizado pela CN conforme é indicado no parágrafo 47 de nossas resoluções políticas e organizativas. E aponto não por motivos de aliviar a barra de quaisquer camaradas mas sim pelo esforço de não abrir brechas para a individualização de problemas que a não atualização não vem por incompetência, má vontade ou qualquer motivo parecido, mas sim pelo ano definitivamente infernal que estamos passando com diversas atividades que exigiram esforço financeiro pesado que impuseram um constante modo de crise na estrutura de gestão financeira e também pelo problema generalizado na organização de não se preocupar com as finanças enquanto elas não explodem o que prejudica inclusive a capacidade dos secretários da pasta de apontar debilidades.
Mas retomando ao ponto central desta seção, atualmente acredito que podemos perceber com o experimento realizado no início desta seção que talvez, mas apenas talvez, nosso principal problema hoje não seja de ordem da capacidade de arrecadação de recursos, mas principalmente de distribuição e utilização dos recursos, ou seja, o já clássico e batido problema da economia, como utilizar de forma mais eficiente recursos escassos?[1]
Para responder essa pergunta acredito que precisamos primeiro entender de onde vem o nosso atual modelo de organização. Nosso modelo organizativo foi construído com uma coisa em mente, resiliência. Todos já ouvimos em algum grau essa explicação já batida, o partido tem que conseguir sobreviver a quaisquer cortes que nossos adversários venham nos infligir, a estrutura não pode ser intrinsecamente dependente de quaisquer de suas partes. Ou seja, é uma estrutura focada em sobrevivência. Para isso, porém é necessário que a estrutura geral se organize em reflexão ao que se concebe como a estrutura maior, ou seja, uma estrutura de organização de pequenos partidos inseridos dentro do organismo maior que eles compõem, não à toa o nome de célula para organismos de base. Essa estruturação, apesar de resiliente induz a um processo de pulverização do trabalho já que devido a possibilidade da dissolução das estruturas maiores qual a lógica de trabalhos que partam e sejam centralizados por essas estruturas, afinal as perdas são condicionadas em magnitude a magnitude dos próprios trabalhos realizados.
Podemos apontar uma contraposição a esta estrutura focada na resiliência que é uma estrutura inteiramente focada na produtividade, nessa estrutura teríamos uma organização que se assemelha muito a forma como são organizadas empresas hoje: diversos setores todos altamente especializados que compõem uma grande máquina, esta máquina consegue atuar de forma altamente produtiva mas se uma parte desta organização é repentinamente por quaisquer motivos removida do quadro geral então um grave problema é instaurado, a produtividade cai bruscamente e a organização leva um tempo significativo para se reestruturar.
Não defendo hoje de forma alguma que nós passemos do 8 ao 80, não acredito que adotar um modelo completamente produtivista irá auxiliar na conquista de nossos objetivos, e não acredito nisso porque um modelo altamente produtivista para nosso partido prejudicaria enormemente a formulação de linhas políticas avançadas que necessitam de um ambiente mais aberto para florescer bem. Todavia também não defendo uma continuidade do atual modelo, principalmente no que se refere a nossa área de finanças que conta com um nível baixíssimo de produtividade que afeta no fim das contas a própria capacidade coletiva de formular linhas políticas mais avançadas e sobretudo de executá-las.
Assim, a visão que defendo passa pela reformulação radical do setor financeiro que deverá ter um modelo organizacional que permita um aumento significativo da nossa produtividade. Para isso deveremos combater o processo de pulverização das finanças, centralizar radicalmente sua execução e elevar em curto período significativamente a especialização de uma parcela da militância em atividades financeiras para que seja possível a concepção a nível geral de partido de uma organização multifacetada que consegue ter a fluidez necessária para garantir aumentos de produtividade necessários para a realização de trabalhos mas que não perde o conteúdo coletivo tão importante para a formulação política que permita qualidade.
2 – A Proposta
O que proponho para a organização da estrutura financeira da UJC se baseia no principio de que as finanças devem ser completamente centralizadas nacionalmente com alguns organismos ligados a comissão nacional de finanças participando das CR pelos estados, mas mantendo ainda uma centralidade dos trabalhos junto a comissão nacional. A nível de núcleos defendo a extinção completa das secretarias de finanças que vejo no sistema atual como um elemento sem qualquer utilidade.
A comissão nacional financeira deverá ser estruturada como elemento diretor do que será a estrutura financeira e atuará por meio do secretário nacional de finanças. O secretário será elemento responsável diretamente pelo acompanhamento das atividades de quatro setores da organização financeira, são eles: Logística, Compras/Instalações e Financeiro/Contábil. Segue organograma do que foi descrito:
Estes quatro setores centrais serão internamente organizados com mais subáreas atendendo a uma demanda de segundo nível para a elevação na qualidade e na produtividade das finanças da UJC que será a especialização do trabalho. O objetivo é elevar substancialmente esta especialização com várias subtarefas sendo concentradas em equipes cada vez mais especializadas. Obviamente o elemento da especialização não deve significar um processo de alienar discussões mais gerais do trabalho financeiro apesar da localização destas discussão dentro da alçada que cabe ao espaço, ou seja, o setor de planejamento pode ter reuniões de discussão geral entre seus membros por mais que suas atuações sejam especializadas, por sua vez os secretários responsáveis pelos setores deverão atuar em reuniões em conjunto com a secretaria de finanças e caso seja considerado necessário com a CNF. Caberá essencialmente ao secretario de finanças o trabalho de síntese dos repasses, ideias e resultados do organismo financeiro geral para deliberação política com o restante da CNF. De fato, esta é uma proposta inicial e a organização principalmente das funções do secretário de finanças e da CNF podem assumir diferentes formas, demonstro isso com a alternativa a seguir que pensei:
Neste segundo modelo a CNF aponta a partir dela secretários que coordenarão os trabalhos em cada setor e responderão a CNF diretamente, apesar de poderem ter reuniões específicas neste secretariado a fim de sintetizar as informações e construir coesão entre os diferentes setores, todavia as deliberações de estratégias gerais serão definidas pela CNF que é órgão superior. Por sua vez a secretaria de finanças ficará como elemento ligado a CNF de atuação junto a CEN como elemento sintetizador dos debates e definições táticas e estratégicas da CNF, bem como de via de comunicação entre CEN e CNF além da possibilidade de poder entre reuniões da CNF atuar como elemento definidor de demandas imediatas.
Este segundo modelo inclusive me parece mais interessante politicamente visto que limita o poder de decisão do secretário de finanças, função que pelo meu conhecimento sempre atuou muito mais ligada a formulações individuais e fortalece a CEN a partir da designação direta a ela de responsabilidades, ao mesmo tempo livra a posição do secretário de finanças de sobrecarga de tarefas e distribui as responsabilidades melhor entre os membros da CNF.
3 - Setores
Vamos agora entrar mais no que entendo que devem ser as funções de cada um destes setores e em alguns deles faremos pontuações adicionais.
Antes de mais nada vale já apontar um elemento que será comum a todos os setores que são as reuniões internas. Todos os setores descritos deverão realizar internamente reuniões que definirão táticas, e estratégias de atuação, estas reuniões poderão também definir reorganizações das estruturas de organograma dos próprios setores, porém mudanças mais profundas deverão passar pela aprovação da CNF. Todavia reuniões deliberativas deverão ser realizadas e os secretários dos setores deverão seguir rigorosamente as deliberações coletivas dos organismos. Aponto e descrevo esta necessidade pois conforme aponto anteriormente no texto existe uma necessidade de aumentar o foco na produtividade de nossas finanças, porém como organização política comunista não devemos nunca consolidar uma abordagem produtivista pura para que não sejam cultivados no seio da organização processos que burocratizem e limitem o debate dos militantes. Não somos funcionários, somos comunistas.
3.1 – Setor de Finanças e Contabilidade
O setor de finanças e contabilidade deverá será peça fundamental em uma mudança operativa que deve atingir a todas as instâncias que é da agregação de plano financeiro ao planejamento político realizado. Para entender melhor a operacionalização disso vamos começar pela proposta de estrutura descrita no organograma abaixo:
A estrutura deste setor se organizaria a partir da secretaria de finanças e contabilidade que seria cargo ligado a uma pessoa responsável pelo contato com os organismos superiores ao setor bem como a gestão direta do setor entre momentos de reunião.
As seções de finanças atuariam tanto com a realização, consolidação e acompanhamento dos planejamentos financeiros das instâncias ligadas as localidades em que atuam quanto no processo de organização de operações financeiras do dia a dia da organização. Explicarei em mais detalhes estas atuações.
Em relação a realização, consolidação e acompanhamento dos planejamentos financeiros das instâncias peguemos por exemplo uma seção estadual qualquer, neste caso a do Ceará. A seção do estado irá pegar os planejamentos financeiros dos núcleos montados a partir das etapas de planejamento e irá realizar a consolidação de todos os orçamentos recebidos, junto disso a seção irá adicionar o orçamento da instância de CR local e montar a partir desta documentação um orçamento geral do estado. Este orçamento deverá ser enviado a seção nacional que realizará por sua vez a consolidação dos orçamentos estaduais vinculando também o orçamento nacional.
O processo de consolidação de orçamentos é extremamente importante para que sejam evitadas duplicidades desnecessárias e para que o próprio CR no momento de elaboração de seu planejamento político e orçamento de atividades tenha um entendimento geral do que estão pensando em termos gerais os núcleos do estado em relação a demandas de recursos financeiros e materiais. Esta lógica opera da mesma maneira para a instância nacional.
Junto deste processo de consolidação as etapas anuais de planejamento nacional deverão junto ter um processo de retorno e revisão dos orçamentos elaborados em todos os níveis, explico a questão: um dos pontos vantajosos do processo de centralização das finanças é justamente que ele abre melhor a possibilidade de um planejamento científico do uso de recursos, peguemos por exemplo um objetivo apontado no IX CONUJC que é a expansão da nossa organização e a consolidação de uma linha política avançada para as regiões norte e nordeste do país. Pensando que estas regiões ainda possuem poucos núcleos e militantes é necessário para o atingimento deste objetivo um processo mais pesado de investimento, afinal quanto mais é investido em recursos numa atividade mais retorno ela pode garantir. No modelo atual das finanças com a pulverização dos recursos é muito mais difícil e complexo o processo de direcionar recursos provenientes, por exemplo do estado de São Paulo para o estado do Pará, num modelo centralizado não, isso se torna mais simples, o que se impõem somente neste modelo é um alinhamento de expectativas por parte dos CR e núcleos, e para isso é necessário um processo de retorno e renegociação dos orçamentos elaborados em primeiro momento.
Vou procurar exemplificar, imaginemos que a CN percebe que tem uma expectativa de caixa mensal ao longo do ano de 2024 de R$25.000,00 e chega até a instância que o estado de Minas Gerais requisitou um orçamento de R$17.000,00 por mês e o estado de Sergipe requisitou um orçamento de R$16.000,00.
Peço um minuto da sua atenção antes de continuar o exemplo pois vejo necessário realizar uma nota para você leitor. Como quero apresentar a ideia geral da coisa não vou deixar o exemplo muito mais complexo, mas já aponto que a situações serão bem mais complexas na realidade então não achem que isso é uma exemplificação fidedigna da realidade, não é, isso é uma simplificação que permite mostrar com maior nitidez a lógica de pensamento que estou apontando para o processo de orçamento. Neste exemplo estaremos então ignorando os outros estados e também gastos administrativos da CN. Voltaremos agora ao exemplo.
Vemos então que o orçamento mensal total que foi solicitado está no valor de R$33.000,00. Este orçamento então passa significativamente a capacidade nacional de investimento e, portanto, será necessário um remodelamento dos orçamentos solicitados. Acrescentemos ao exemplo que a CN deliberou que existe uma necessidade política de que nós aumentemos esforços de crescimento no Sergipe que é visto no próximo ano como um local de inserções políticas estratégicas. Assim a CN propõe que a divisão de recursos deverá ser a seguinte, R$12.000,00 mensais para o estado de Minas Gerais e R$13.000,00 para e estado do Sergipe. Com essa deliberação a CN elabora um relatório explicando as motivações políticas de suas decisões e a partir da seção nacional e regional de Minas e Sergipe desce aos respectivos estados os apontamentos e conjuntamente com eles realiza o processo de revisão do orçamento estadual e auxilia nas novas proposições de alteração dos orçamentos dos núcleos dos estados, que serão passadas pelas seções regionais de finanças que se reunirá com os núcleos e realizará a revisão do orçamento e dos planejamentos políticos.
Eu não acredito que este sistema no modelo que estou propondo é infalível, porém defendo a mudança tendo em vista que contradições sempre se expressam independentemente de nossa vontade, o que precisamos é apresentar disposição em reconhece-las e lidar de forma científica e honesta de frente a elas. Já aponto que este modelo em um primeiro momento poderá estimular fortalecimento de espíritos regionalistas que deverão ser mitigados a partir de um duplo trabalho ideológico e também de acertos no próprio modelo do sistema proposto para a estrutura.
Antes de passar finalmente a segunda tarefa das seções financeiras quero tentar no melhor possível apontar como entendo o processo de junção dos planejamentos políticos com a elaboração de propostas de orçamento o qual trarei abaixo uma exemplificação.
Imaginemos que um núcleo qualquer traça em sua reunião de planejamento uma lista de objetivos políticos que sejam os seguintes:
- Aproximação e atuação junto a casa de cultura Tainã
- Inserção na ocupação urbana do rio pequeno
Junto destes objetivos os camaradas apontam como balizador do primeiro objetivo a presença na casa de cultura três vezes na semana e na ocupação que seja realizada presença duas vezes na semana junto do indicativo da realização de duas atividades de organização de festas junto a comunidade no bairro. Além destas atividades operacionalmente o núcleo realiza uma reunião presencial ao mês cuja duração média perpassa o horário do almoço e toda a tarde. Ao ter todos estes elementos listados o núcleo deverá agregar a eles uma estimativa de orçamento necessário durante o período, então suponhamos que seja apontada a necessidade de orçamento a seguir:
- Casa de Cultura Tainã
- Transporte: R$50,00
- Alimentação: R$20,00 - Ocupação do Rio Pequeno
- Transporte: R$140,00
- Atividades de festa comunitária: R$650,00 - Administrativo do núcleo
- Alimentação em reuniões: R$200,00
- Transporte para reuniões: R$120,00 - Orçamento Total do Semestre: R$1.180,00
Com isso no documento do planejamento semestral do núcleo será em anexo enviado o orçamento proposto do núcleo para a realização das atividades. Estes orçamentos deverão ser recebidos pela seção estadual do setor de planejamento e consolidados conforme já foi descrito acima.
Junto desta atuação na elaboração dos planejamentos as seções financeiras deverão atuar em acompanhamento da execução dos orçamentos dos núcleos, e isso virá junto de um segundo trabalho, a atuação como agentes de pagamento e coleta de recursos financeiros.
Com a centralização do sistema surge um problema que precisa ser resolvido que é a forma como se movimentarão os recursos financeiros efetivamente, desde por exemplo a coleta das receitas provenientes de cotizações a disponibilização dos recursos financeiros solicitados pelos núcleos, caberá as seções financeiras a movimentação e registro das movimentações financeiras para fins de necessidades de documentação contábil. Este será um trabalho de grande complexidade também que irá exigir das seções a elaboração de documentações e fluxos de trabalho que sejam rigorosamente seguidos. Junto disso é importante que as seções a partir dos fluxos de recursos financeiros registrados utilizem estes dados para elaborar relatórios financeiros para todas as instâncias que auxiliem os planejamentos coletivos que serão eventualmente necessários, como redirecionamento de recursos para contingencias imprevistas etc. Falando de contingências caberá as seções financeiras avaliar junto as instâncias cabíveis necessidades de recursos extras em caso de situações inesperadas.
Passando a seção nacional de contabilidade esta seção terá um trabalho menos político e mais técnico e burocráticos, em resumo simples, esta seção será responsável pela contabilidade geral da organização e de empreendimentos ou coisas do tipo que a organização possua, para este trabalho recomendo pessoas que tenham tanto grande conhecimento sobre contabilidade quanto contadores por profissão que tenham registro no órgão já que eventualmente pode ser necessário um profissional reconhecido para procedimentos da burocracia burguesa.
Antes de finalizar a seção quero novamente apontar algo que já apontei antes, esta visão não é infalível, não acredito que está deverá ser a forma organizacional “final”, o que estou propondo é um ponto de partida e eu mesmo tenho ressalvas e críticas a vários pontos de minha própria ideia, porém as soluções só poderão ser elaboradas a partir da realidade quando efetivamente estivermos executando estas estruturas propostas, antes disso o exercício de desconfiança deve ser realizado com a parcimônia necessária a pontos onde temos mais dúvidas que certezas. Infelizmente ninguém é capaz de propor a estrutura e a organização perfeita e precisamos começar de algum lugar.
3.2 – Setor de Compras e Instalações
Por motivos de conseguir simplificar ao máximo a estrutura no momento inicial e não gerar a proposição de um monstro burocrático desnecessário vocês irão reparar no organograma abaixo que a estrutura pensada para o setor de compras e instalações é idêntico ao setor apresentado anteriormente de finanças e contabilidade, porém não se deixem enganar, as diferenciações de setores existem devido a complexidade das diversas tarefas que abarcam o entendimento da estrutura de finanças da nossa organização.
Os objetivos gerais do setor de compras e instalações tratam justamente dos processos de aquisição e manutenção de bens físicos sejam eles móveis e imóveis. Neste entendimento separamos os processos de aquisição com os vinculados a manutenção porque ambos lidam com perspectivas diferentes do mesmo fluxo. Enquanto áreas de compras precisam ter seu foco em garantir fornecedores dos insumos necessários para o funcionamento da organização, lidando em muitos momentos com as demandas específicas de núcleos, CR e CN, este trabalho em si já possui grande complexidade e suas demandas vão crescer significativamente ao passo que aumentarmos as atividades gerais da UJC.
A área de compras então segue uma estruturação parecida com a área financeira, com uma seção nacional responsável pela gestão geral e acompanhamento dos processos de compras bem como da realização de processos de compras cabíveis quando necessário, o entendimento é que a seção nacional vai atuar realizando compras em si ocasionalmente em processos que envolvam por exemplo atividades de grande porte e nacionais como congressos, conferencias nacionais, CONUNE e afins. O grosso do trabalho se concentrará dentro das seções estaduais que serão as responsáveis por conseguir atender demandas de compras tanto dos CR quanto dos núcleos, penso aqui principalmente em processos que envolvam o jornal, por exemplo, no caso de uma gráfica própria a seção será responsável por pesquisar, adquirir equipamento etc. No caso de uso de gráfica terceira, encontrar e estabelecer relação comercial com a empresa etc.
Aqui vale um apontamento relevante, as seções de compras não devem ser responsáveis por compras minuciosas, mas sim pela realização de compras que possuam peso financeiro mais significativo, poderemos ao longo do tempo balizar estes pesos a partir de vários fatores como complexidade dos produtos ou preço dos mesmos, em resumo, as seções de compras não servem para comprar um chiclete, elas servem para comprar um caminhão de chicletes. Junto disso tenho a visão que no início as seções de compras deverão ser as menos purgadas por grandes quantidades de trabalho a ser realizado e portanto também não recomendo que as equipes sejam compostas por mais de 4 pessoas, penso inclusive se existe efetivamente a necessidade de seções estaduais ou pelo menos se todos os estados precisam de tais seções, conforme apontei o trabalho virá a partir do crescimento da organização e aumento da intensidade das nossas tarefas, a estrutura é bem-vinda de ser criada neste momento porque entendo que é mais fácil expandir algo que já existe do que criar algo completamente novo quando a necessidade se tornar insuportável.
Tendo passado pela estrutura de compras vamos analisar agora a estrutura de instalações. Escolhi este nome como tradução literal do nome que sempre vi em empresas para áreas similares ao que estou propondo, não mantive o nome em inglês porque achei que seria desnecessário, mas a palavra que escolhi pode ser tranquilamente trocada pra almoxarife ou manutenções, apesar que nenhuma das palavras comtempla completamente todas as funções da seção.
Conforme apontei no inicio desta parte do texto a seção de instalações terá como foco a manutenção, catalogação e organização de nossos bens materiais, sejam eles móveis ou imóveis, esta seção será responsável por saber todos os materiais que temos posse, onde se encontram e caso necessitem de substituição ou manutenção por providenciar que isso seja feito, exemplificando, se tivermos uma sede da UJC e nessa sede houverem banheiros a seção é responsável por garantir que sempre tenha papel higiênico nestes banheiros. Ao mesmo passo esta seção será responsável por catalogar bandeiras, onde estão guardadas, providenciar a manutenção de instrumentos da bateria caso seja necessário, se tivermos um carro serão encarregados de viabilizar a realização de manutenções do bem etc.
O trabalho então da seção de instalações exige tanto uma parte de mais “ação” e de estar mais presente nos locais para poder inclusive identificar demandas quanto exige um trabalho mais burocrático de escritório, listar nossos recursos e acompanhar onde estão sendo utilizados, esta função é essencial para que possamos inclusive ter noção no planejamento estratégico e gestão de recursos centralizada e planejada, saber quantas bandeiras temos em diferentes lugares pode ajudar a reorganizar quem tem qual material e em qual quantidade a depender das necessidades táticas e estratégicas. Ouso dizer que em muitos momentos esta seção será uma das mais políticas de toda a estrutura financeira e tomará muitas decisões de alto impacto para nossa organização.
3.3 – Setor de Logística
O que seria de uma estrutura financeira sem uma seção de logística? Logística inclusive que foi uma das áreas que primeiro se utilizou da programação linear principalmente a partir dos trabalhos de Leonid Kantorovich que usou os métodos de programação pra resolver problemas econômicos da logística do exercito vermelho durante a Segunda Guerra Mundial, mas ultrapassando as trívias, este setor é essencial já que de nada adianta produzir materiais, por exemplo, se eles nunca vão chegar onde devem ser utilizados.
Antes de iniciar a exposição do que penso para o setor que este de longe é o setor mais complexo que penso no que se refere a interconexões e ao mesmo tempo é o que menos dispendi tempo formulando, vários elementos pego de contribuição do camarada Assis que com sua disponibilização de alguns materiais ainda não finalizados me auxiliou enormemente em ter alguma ideia para a área de logística, acredito então que este setor na forma como aponto ainda é uma versão não pronta para ser posta em prática, mas sim um esboço inicial para tentar sistematizar o pouco que refleti sobre. Vamos ao organograma.
Entendo que o setor de logística necessita de uma separação (mas que não deve significar ausência de contato) entre o cérebro das operações e os braços e pernas do corpo logístico, junto disso entendo que enquanto o trabalho intelectual pode ser mais facilmente sintetizado em uma direção geral o trabalho braçal deverá ser bem centralizado nacionalmente para que a aplicação das visões de planejamento logístico consiga ser passada de maneira uniforme e sistemática.
Por isso subdivido o setor logístico em duas grandes áreas. A primeira é a seção de planejamento logístico, como bem apontei no inicio da exposição desta seção a inteligência e planejamento logístico são uma área extremamente complexa de atuação com muitos avanços científicos no campo da matemática, programação e economia sendo criados para suprir as necessidades de um bom planejamento de situações mais e mais complexas tendo em vista o desenvolvimento das forças produtivas e a complexificação de economias e produção. Em nossa organização não deve ser diferente, o planejamento logístico atua com nível muito especifico nesta parte para garantir que se os jornais de amanhã estejam hoje já distribuídos pelos núcleos que irão utiliza-los para o trabalho, e aqui a definição da alocação dos recursos e a forma de utilização deles pode ser um detalhe que desemboca em resultados relevantes para o trabalho político.
Crio dentro da seção de planejamento logístico seções estaduais que deverão contribuir com o acompanhamento in loco das operações logísticas nos centros logísticos e também juntamente com o trabalho das frotas estaduais, estes elementos regionais atuaram no trabalho da coleta de dados, e transformação destes dados em informações relevantes a serem repassadas para a seção nacional de planejamento logístico que com os aportes necessários poderá formular a alocação dos recursos regionais e nacionais, resolver problemas e transmitir as soluções elaboradas para a seção de transportes que será efetivamente a responsável pela aplicação das mudanças.
A seção de transportes será subdividida em duas frações que trabalham juntas mas que tem atuações separadas para garantir que não exista sobrecarga de em nenhum ponto bem como uma linha de comunicação rápida. As frações são de centros logísticos e transportes, a fração de centros logísticos gerenciará e acompanhará os trabalhos em cada um dos centros onde se concentram materiais para distribuição (por exemplo jornais) garantindo o acompanhamento de quantidades dos materiais, entradas e saídas dos mesmos e descartes. A fração de transportes irá ser responsável por gerenciar nossas frotas logísticas subdivididas em cada regional. Entendo que num futuro muito próximo a realidade da construção pouco a pouco de uma frota própria de nossa organização é passo natural caso desejemos ter um jornal bem sucedido e no meio tempo antes dessa consolidação a frota disponível de terceiros precisará de um acompanhamento para gerenciamento das atividades realizadas.
4 – Tudo está uma merda, humanidade e uma conclusão
Através desta proposto procuro tentar propor um meio de resolução de um grave problema que afeta o desempenho financeiro e por conseguinte político de nossa organização. Entendo que os questionamentos que me fizeram chegar ao entendimento da necessidade de uma reformulação geral de nossa estrutura financeira vieram a partir de um processo de questionamento profundo da realidade e de um rompimento com um certo conservadorismo comunista de ter sempre as mesmas atitudes e as mesmas formas de fazer as coisas porque as coisas sempre foram assim. E isso me incomoda pois tudo está uma merda. Tudo está e sempre esteve uma merda, ainda que consiga viver melhor do que a 20 anos quando era uma criança tudo ainda está uma merda. E eu quero ainda nessa vida poder ter um momento de tranquilidade, poder ter alguma perspectiva de descanso, eu não quero descansar quando eu morrer, porque se tiver uma vida além desta eu vou ter que me ocupar por muito tempo nela revendo algumas pessoas e explorando as novas possibilidades que serão postas à minha frente. Por isso eu quero poder ainda neste mundo experienciar por um período significativo de tempo um pouco de paz e completude, um pouco de tranquilidade e alegria, sentimentos que hoje são mais difíceis de manter porque tudo está uma merda.
Assim elaborei esta proposta entendendo que este sentimento conservador deve ser completamente destruído e que precisamos de uma organização que ainda apresentando contradições apresentará novas, e não as mesmas do passado e principalmente será um aparato partidário moderno e adequado a superação dos desafios do povo brasileiro para a construção de uma vida onde não apenas eu, mas todos poderemos experienciar uma vida mais vivida, uma paz mais pacífica e uma alegria mais alegre. Um mundo onde a gente possa ser mais humano, já que humanidade não é algo que nasce com, mas que se aprende e pratica, e hoje é algo que é tirado de nós, a possibilidade da humanidade.
Por fim gostaria de apontar que durante o processo de escrita deste texto me deparei om diversos elementos que ainda precisarão ser melhor delimitados, barrigas no planejamento entre outros pontos, mas como é de conhecimento geral muitas vezes feito é melhor que perfeito, por isso me permiti manter problemas ainda nesta exposição para ter também mais tempo para reflexão de como tratar bem destas questões. Adianto, porém, que principalmente consideração no âmbito dos processos dentro dos setores foram as que mais me apareceram e se mostraram em muitos momentos ausentes.
Espero que esta exposição, com seus erros e acertos, possa auxiliar quem a ler a melhorar e avançar nosso partido, como sempre fico aberto ao contato dos camaradas que tenham críticas, dúvidas e acréscimos a esta contribuição.
[1] Eu não estou combatendo as ideias e necessidades de empresas do partido, acho importante deixar nítido isto, na realidade penso que são iniciativas de primeira ordem também, porém sem uma estrutura de governança a altura serão iniciativas que ou não conseguirão atingir seu mais alto rendimento político-financeiro, ou falharão completamente, a estrutura infelizmente antecede todo o resto pois é estruturante dele.