'Profissionalização e Modernização: Um Aprofundamento do Debate Proposto por Carlos Chaves' (A. Henrique Vieira)
Sem a devida compreensão dos impactos políticos que a profissionalização tem, podemos acabar "corporativizando" nossa atuação e nos orientar a partir de uma noção adoecida de eficiência.
Por A. Henrique Vieira para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Camaradas, escrevo aqui algumas reflexões sobre o tema trazido pelo camarada Carlos na tribuna "Assistência - Máquina de Moer Militante e uma Proposta para Intercâmbio entre Células e Núcleos". O camarada Carlos expõe problemas conhecidos da nossa organização e mostra como as consequências de negligenciar essas questões afetam não só a atuação de quadros de nossas fileiras, mas também o nosso crescimento em todos os aspectos.
Os exemplos utilizados pelo camarada são bem diretos. Tento trabalhar a seguir uma noção do que é profissionalidade e profissionalização, com o objetivo de entender como e em que proporção os defeitos nesses aspectos nos afetam.
Nos limites da minha compreensão, entendo o profissional como alguém com certo grau de preparo técnico e teórico, que se dedica ao cumprimento de uma atividade tendo como objetivo a realização desta em um grau consistente de qualidade. O profissional de uma época está sujeito aos limites do avanço técnico e teórico de seu tempo. Portanto, para manter um grau de profissionalidade consistente, é necessário que exista a renovação do militante profissional na medida em que os limites dessas áreas são superados.
Um alto nível de profissionalidade nos dá consistência na realização de nossas atividades, enquanto um baixo nível nos deixa à mercê da inconsistência, num estado de inércia - toda tarefa bem executada está sujeita ao contrapeso das que não foram.
Camaradas, peço que prestem atenção em um aspecto importante: Durante o acirramento das contradições do capitalismo, o militante, além de precisar superá-las em sua vida pessoal, precisará compensar a profissionalidade defeituosa do partido com a pouca energia que resta e, para além do não cumprimento de tarefas importantíssimas, corre o risco de se esgotar e adoecer, provavelmente como consequência disso, termina se retirando das nossas fileiras, temporária ou permanentemente - essa deficiência sacrifica muito mais do que o nosso avanço, mas também o que estava construído e principalmente nossos camaradas. Inevitavelmente, nos deteriora.
Partindo dessa noção, a profissionalização é o estabelecimento de um processo de preparo, bem como de um grau de qualidade necessários para a realização de nossas atividades organizacionais, políticas, financeiras e propagandísticas. E destaco, camaradas, que o avanço do nível de profissionalização depende - no mínimo - da compreensão de como os defeitos da nossa técnica e teoria prejudicam a realização das nossas tarefas.
No segundo parágrafo da seção "E o que fazer?" da tribuna do camarada Carlos Chaves, é identificado um aspecto semelhante. De forma correta, o camarada aponta nosso sub-uso de ferramental moderno o suficiente para nossas demandas, destacando que a incorporação de novas tecnologias têm um papel importante na facilitação da tarefa de Assistência. Sobre isso, apresento o seguinte complemento: Nossas atividades têm particularidades que podem não ser resolvidas por ferramentas tecnológicas que já existem, justamente por termos problemas que são muito particulares da organização e construção de um partido com nossos objetivos - é necessário ter um corpo dedicado à formulação de ferramentas que atendam a essas necessidades particulares e que nos capacite a operá-las. Um exemplo simples (mas não se limitando a ele) é a automação da redistribuição de recrutamentos.
Nesse debate, é importante identificar também quais são os riscos a que estamos sujeitos no caso da realização apressada ou descuidada dessa tarefa. Sem a devida compreensão dos impactos políticos que a profissionalização tem, podemos acabar "corporativizando" nossa atuação e nos orientar a partir de uma noção adoecida de eficiência. Outro problema possível é a "robotização", onde o aspecto do contato humano é negligenciado na tentativa de desonerar algumas tarefas através da automação.
Esse texto é insuficiente para abordar toda a complexidade do tema. Faço essa contribuição na tentativa de compreendê-lo melhor coletivamente. É necessário avançar nesse debate, seja pelo apontamento de defeitos nas formulações postas aqui ou no estímulo de reflexões mais críticas sobre o assunto, para que não sejamos vítimas do despreparo para enfrentar o que está por vir.
Desejo a todos os camaradas um bom fim de ano, venceremos!