'Posições para o XVII Congresso do PCB-RR' (Nalbery Pietro)
Escrevo essa tribuna com intenção dupla: fazer um balanço das minhas posições dentro do Partido focado no que acredito que deva ser resolvido nesse processo congressual, e compartilhar algumas consequências que considero relevantes.
Por Nalbery Pietro para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Camaradas, saúdo com bastante entusiasmo o esforço da militância que aderiu ao Movimento pela Reconstrução Revolucionária do Partido Comunsta Brasileiro, fazendo isso com base em resgatar princípios sólidos capazes de constituir um autêntico Partido Comunista, tão necessário de ser reconstruído no Brasil. Escrevo essa tribuna com intenção dupla: fazer um balanço das minhas posições dentro do Partido focado no que acredito que deva ser resolvido nesse processo congressual, e compartilhar algumas consequências que considero relevantes.
1. Balanços e Princípios.
O primeiro momento do racha consegue, entre muitas contradições, arrastar muitos dos setores do velho PCB com disposição, experiência e linha justa, com destaque especial a quadros jovens da UJC ou de sua órbita, e chamar atenção de muitos outros revolucionários que hoje se encontram organizados ou sub-organizados em outras agremiações. Diferente do que diz nossos detratores reformistas, isso não se dá por oba-oba nenhum, é uma decisão consciente da maioria apoiada na retidão de princípios presentes no primeiro grande documento desse momento, o Manifesto em defesa da Reconstrução Revolucionária do PCB![1], que faz um movimento de retorno ao marxismo-leninismo ao resgatar: no campo ideológico a concepção de centralismo-democrático, a necessidade de um partido uno e coeso com uma literatura comum e combate ao oportunismo revisionista e reformista; no campo internacional a concepção de imperialismo contra a de multipolaridade e a identificação clara dum campo revolucionário de organizações em contraposição a diluição num mar de organizações ditas “comunistas” e que enganam trabalhadores em todo o mundo; no campo nacional a oposição a todo administrador da política burguesa, sendo o da vez o governo Lula-Alckmin; no campo da ação a necessidade de luta sem tréguas, e ancorada na agitação dum programa e duma estratégia que tenha centralidade na tomada do poder.
Esse momento pavimenta uma organização presente em quase todos os estados do Brasil, com algumas centenas de militantes, já inserida em alguns setores da classe, mas também com uma série de pontos a serem resolvidos. Mesmo com princípios sólidos apontados no manifesto, algumas concepções ecléticas, e estranhas, que coexistiam por conveniência no velho partido continuam a existir. É na necessidade de extinguir esse momento provisório e enfrentar certas heranças e resgatar outras que devemos seguir para o XVII Congresso (Extraordinário) do PCB-RR.
É nesse período que nasce um segundo importante documento: o Caderno de Teses do XVII Congresso (Extraordinário) do PCB-RR[2]. Este documento, construído entre a 1ª e a 2ª plenária nacional abre o debate em diversas frentes de debate, e seu caráter de Teses revela sua característica incompletude, cabendo a militância enfrentar o debate das principais polêmicas, desenvolvê-lo onde necessário e ter apresentar novas formulações que produzam enquanto as resoluções do XVII enquanto síntese desse processo. Por outro lado, esse documento já marca em suas características gerais a síntese de algumas concepções importante, como a objetividade, a notar: o Programa é um verdadeiro programa, diferente da longa digressão ao estilo acadêmico que tínhamos e do compilado de todas as bandeiras possíveis como o aprovado no IX Congresso da UJC; o Estatuto abandonou a ideia de espelhar o código jurídico burguês presente em documentos anteriores em que se tenta legislar sobre cada vírgula possível e eliminar que mesmo nas “leis” o conflito ideológico, consequência do conflito de classes, continua presente, mesmo dentro do partido; na Estratégica e Tática busca os desenvolvimentos necessários dos princípios para estruturar nosso trabalho entre as massas trabalhadoras e para a preparação para a revolução; na Organização retoma a necessidade de uma forma que corresponda ao centralismo-democrático.
Objetivamente, o XVII será exitoso na consolidação dos esforços de constituir o Partido se: 1) No campo ideológico reafirmar o retorno à Lenin nos princípios fundantes nesse novo momento de reconstrução do Movimento Comunista, inspirados também nas formulações mais avançadas das organizações e quadros comunistas brasileiros; 2) A partir desses princípios retirar as consequências necessárias no campo do programa, da estratégia e da tática com vistas da tomada do poder, isto é definir a preparação para conduzir um movimento insurrecional que derruba o velho e impõe o novo; 3) Definir estrutura organizativa com comando uno, e que ao mesmo tempo seja flexível para a realização das ações revolucionárias em qualquer local ou frente que for demandada; 4) Colocar no centro das formulações as lutas concretas pelos interesses do proletariado, entendo a necessidade de ligar-se às massas.
Nesse sentido, estou contemplado também pelo grosso das posições que o camarada Gabriel Lazzari chama de questões principais em sua tribuna. Destaco, correndo o risco de ser repetitivo, decorrências que disso que estão na tribuna como alertas importantes:
“Em primeiro lugar, devemos nos atentar para o fato de que nem todas as questões serão resolvidas em nosso processo congressual e que devemos nos atentar às questões de princípio neste momento da Reconstrução Revolucionária do PCB. Muitas vezes, a compreensão científica, marxista-leninista das questões não será possível apenas com uma ampla participação dos militantes em nossa discussão, mas com o esforço concentrado e direcionado dos camaradas sobre questões particulares. Se neste XVII Congresso temos que estabelecer as bases comuns de nossas formulações, devemos também compreender nossos limites teóricos e práticos. Devemos combater a soberba em acreditar que resolveremos todos os assuntos – especialmente aqueles sobre os quais não há formulações bem estabelecidas no marxismo-leninismo.
Em segundo lugar, como forma de combater essa visão idealista da construção partidária, devemos abraçar de maneira inquestionável a teoria marxista-leninista. Se as cisões que hoje têm ocorrido no seio de diversos PCs e outras organizações políticas podem nos ensinar alguma coisa, é dos males do ecletismo teórico, dos males da transigência para com visões teóricas que não coadunem com o marxismo-leninismo. Apresentar isso dessa maneira não significa, claro, que devamos interpretar nossa realidade de maneira dogmática, mas sim de maneira ortodoxa.(...)
Não devemos ter qualquer medo desse processo de esclarecimento teórico e ideológico. E, por meio dele, veremos, por exemplo, que alguns camaradas que vieram conosco neste processo de cisão e que veem a necessidade de reconstruir revolucionariamente o PCB também têm divergências estratégicas profundas com uma visão marxista-leninista da luta de classes. E disso nosso Partido não precisa. Precisamos construir uma unidade ideológica superior à que havia no PCB antes da cisão, uma unidade ideológica que se aplique à nossa prática, ao nosso trabalho de inserção nas categorias de trabalhadores e que possa nos colocar à altura de sermos partido de vanguarda no processo revolucionário.”
1.1. Insuficiências.
Acho que ainda cabe destacar duas questões importantes que não vejo resolução completa.
A primeira é a concepção de Poder Popular e se de fato reivindicamos essa bandeira. As teses avançam significativamente nisso em relação às resoluções e agitação do velho PCB, onde Poder Popular aparece como qualquer expressão de mobilização ou auto-organização de trabalhadores, uma bandeira para se agitar junto com o “Socialismo já!” sem qualquer lastro na construção estratégica, outras como uma reencarnação duma etapa democrática intermediária para a revolução. As teses do XVII procuram definir melhor, mas ainda mistura conceitos quando advoga a “construção” do poder popular vez como pilar dum momento de transição e hora como a própria expressão desse momento.
A segunda é a tática eleitoral.
1.2. Posições no IX Congresso da UJC.
Esse pequeno trecho é dedicado como resposta a alguns posições minhas no IX Congresso da UJC: minha posição sobre os núcleos ficou caduca, apesar de guardar reflexões ainda válidas em meio a outras que já não sustento mais; a pelo fim do MUP e MEP eu as mantenho, mas hoje acho essa minha tribuna pro IX Congresso demasiada incompleta e desviante do que é essencial, pois foquei demais em ilustrar os problemas na constituição desses movimentos em si e pouco falei do que sustenta esses problemas, também porque na época me faltavam elementos para ter total clareza, chegando a defender que poderíamos manter uma movimentação em defesa da universidade popular com a extinção do movimento em si.
Minha posição sobre essa última, resumidamente, é a seguinte:
O MUP e o MEP “existem” atualmente majoritariamente enquanto projeto como adaptações mecânicas do projeto de poder popular atrasado que tínhamos no velho PCB para os ambientes de estudo, no fim das contas advoga por uma “revolução educacional” paralela a revolução socialista, sendo essa segunda sim o que deve ser visado por nós e que pode constituir uma educação nova, longe da educação burguesa e seus aparelhos atuais. Essa leitura enviesada do papel da educação formal ou quase-formal na revolução só servia para exaltar o trabalho na universidade enquanto revolucionário, ao passo que secundarizada setores do proletários.
O MUP e MEP enquanto Organização em si já demonstrou diversas vezes sua falha, não me alongarei nesse balanço que já está registrado em outros locais e na própria incapacidade de até hoje de fato existirem esses movimentos além de cópias de núcleos da UJC, quando muito junto com recrutas, as experiências “bem sucedidas” são mínimas numericamente e pontuais temporal e geograficamente.
Ressalto ainda, para que não haja confusão, que antes da tomada do poder, os militantes comunistas nos locais de estudo devem lutar e conquistar melhorias sim nesses locais, cada vitória contra o projeto burguês, atualmente sob a forma neoliberal, ajuda a enfraquecer a força dos capitalistas, derrubar os muros das ilhas de conhecimento ajudará a pavimentar vitórias maiores. Também temos que ter resoluções programáticas para a educação, mas não há necessidade de nomeá-las de universidade popular, ainda mais em contraste com “escola popular”, na nossa concepção de educação tampouco deveria existir essa dualidade entre escola e universidade, portanto a “Universidade Popular ” ou as reformas educacionais que podemos lutar não são nosso plano de educação para o socialismo-comunismo.
2. Consequências em Organização.
Pretendo com essas contribuições desenvolver a proposta já presente nas Resoluções de Organização para a constituição de uma organização madura também na forma.
Camaradas, uma vez que tivermos um Comitê Central, essa é a expressão da nossa unidade, síntese dos elementos mais avançados entre nós para guiar, orientar, levantar e articular todos os elementos necessários no trabalho ideológico e prático através de um comando único, também deve ser a expressão da estratégia revolucionária que iremos adotar.
Uma consequência disso é que não necessitamos de uma longa rede de direções locais, o que chamamos de “direções intermediárias” de qualquer tipo devem exclusivamente ter o objetivo de efetivar as ações revolucionárias. Não podemos ter duas ou mais direções, a direção é uma só, expressa no Comitê Central. Efetivar as ações revolucionárias também não é um trabalho menor, ele exige elaboração constante para adaptá-lo a qualquer necessidade, é para a ação revolucionária que toda a dinâmica da nossa estrutura é construída .
O ecletismo e o federalismo que enfrentamos deixou profunda fragmentação na nossa organização, isso na prática se expressou com direções intermediárias adotando linhas diversas e agindo sobre prioridades decididas localmente. O papel do assistente se reduzia ao que a palavra assistente expressava, era um elo de ligação entre o CC e o local. Tal concepção não poderia estar mais errada.
Precisamos, primeiro, que os assistentes sejam entendidos enquanto a direção central naquele local, isso é, seu principal papel é de fato dirigir praticamente o Partido naquele local. Isso exige para que o Comitê Central seja reconhecido legitimamente pela base, que ele seja capaz de destacar o militante que melhor possuir as características necessárias e o alinhamento de posições para isso, isso ressalta a necessidade que entre membros do Comitê Central esteja uma série de militantes capacitados em estruturar um trabalho prático, erguer comitês, estabelecer planos, contatos e encaminhar ações, além de conhecer e aprender sobre o local que será destacado para dirigir.
Esse militante pode montar comissão para dividir os trabalhos em comitês locais que forem necessários, essas comissões podem usar de votações para encaminhamentos contando que isso não sobreponha o que for definido para as direções. Isso também não extingue o direito de todo militante ou comitê de remeter críticas ao Comitê Central, inclusive críticas à direção que está sendo dada, pois todo encaminhamento de comitê, direção, ou militante de base está para balanço em nossa organização. Localmente o papel de assistente faz sentido, pois esse pode acompanhar o trabalho de cada célula ou núcleo.
Isso também acabaria com o excessivo democratismo de ficarmos elegendo direções locais, muitas vezes por critérios diversos e que pouco tem haver com as necessidades gerais do Partido, ou que tentam conjecturar sobre elas da maneira mais abstrata possível. Um exemplo disso atualmente é quando um membro é rejeitado para ser direção local pois ele possivelmente vai ser cogitado para ser nacional, ou quando é rejeitado pra nacional pois já cumpre o papel de ser direção local.
Defendo ainda que essa proposta é profundamente mais democrática do que a que temos hoje, pois hoje cada comitê elege suas direções por suas próprias cabeças, ao passo que o Comitê Central é eleito por delegados de todos os comitês, sendo assim os dirigentes que forem colocados em cada local são a expressão de uma eleição que envolveu todos os comitês, e não apenas os daqueles locais. Essa proposta, inclusive, nasceu de um questionamento entre camaradas do porquê uma base não podia influir qual seria o dirigente de outra base, porque a opinião de um local sobre ele mesmo é considerada mais relevante que a opinião de todos sobre ele, independente do nível de desenvolvimento e do quanto o local e os outros conhecem sobre si, o porquê a decisão de uma base sobre si deveria ser maior que decisão do Comitê Central sobre ela apenas no momento eleitoral.
2.1. Gatilhos “de democracia”.
Camaradas, há uma série de parágrafos em alguns artigos do Estatuto que criam gatilhos de democracia, quando dizem que um Congresso ou Conferência pode ser convocados à revelia da direção caso a representação da maioria da militância queira. Todos têm o mesmo espírito dos seguintes parágrafos do artigo 4º:
“§1º O Comitê Central deverá convocar um Congresso extraordinário se for solicitado formalmente por Comitês cujas jurisdições representem mais da metade dos militantes do Partido.
§2º Se o Comitê Central se recusar a convocar um Congresso extraordinário nas condições do §1º, os Comitês que o solicitarem deverão eleger uma Comissão Organizadora Nacional com poderes para convocar um Congresso Extraordinário.”
Avalio que esse gatilho nada mais é que um fantasma do processo de racha que precisamos afastar do nosso estatuto. Proponha a supressão de todos esses gatilhos.
É notório que no racha com o velho partido o CC havia perdido a legitimidade política com a maioria da base, e que o chamado do XVII Congresso era massivo, e que ainda assim foram “expulsos” a maioria e realizaremos o XVII longe do velho partido do qual rachamos. No entanto, esses parágrafos, na intenção de fazer um acerto de contas e manter a forma democrática, eles mascaram as questões políticas que levam ao racha. Tenta legislar sobre uma dimensão que não cabe nesse preto e branco.
No entanto, acredito que todos entendem que quando um conjunto de militantes acha que é necessário convocar uma conferência ou congresso extraordinário é porque tem uma questão central em debate, e quando a direção nega essa convocação é porque há uma disputa consolidada em duas posições, ainda, que as duas posições não podem estar corretas ao mesmo tempo. Daí analisamos as possibilidades:
i) Num caso local, a quem cabe decidir o que se está correto é o Comitê Central, pois essa é a direção do Partido para todos os fins. Se a decisão for pela conferência, seguimos na disputa até encontrar as posições mais avançadas. Se não for pela conferência é porque a base está desalinhada e precisa se corrigir, a direção só convencerá base disso se à disputar ideologicamente, sem medo de explicar sua posição. Mas também tem o caso que a base está correta e o CC errado, nesse caso, sendo um Comitê Central politicamente legítimo, não tardará para que essa posição seja revista pela própria disputa aberta pela base. Sendo o CC errado e ilegítimo, a alternativa da base não é manter os melindres da organização, é preciso ler se o CC se mantém legítimo para a maior parte da organização ou não, em qualquer caso não faz sentido que a base se mantenha na tutela do CC, o caminho natural é rachar.
ii) O caso nacional é ainda mais simples, se a maioria dum partido tem posições divergentes a ponto de ser necessário convocar um congresso, e o próprio Comitê Central, que deveria ser a síntese mais avançada do partido, está barrando esse esforço é porque o nível de divergência atingido não será resolvido por congresso unitário nenhum nesses moldes, nenhuma parte terá mais legitimidade sobre a outra, é um racha já consolidado pouco importa a ala ou fração que vai se reivindicar mais legítima deste estatuto.
Como todo parágrafo que parece ingênuo e cai em um desvio, esses gatilhos também abrem precedentes para a degeneração do Partido, nesse caso através de uma luta sem princípios.
Percebam, camaradas, esses gatilhos deixam a possibilidade de uma guerra infinita entre instâncias, podendo às instâncias locais solicitarem até e construírem até a exaustão espaços que podem ser degenerativos em vez de produtivos por pequena política, ou apenas briga exagerada de alas.
Além disso, é fato o desequilíbrio do número de militantes em instâncias. Em muitos locais, algumas células ou núcleos se concentram quase, ou até mais da metade da militância, a essa instância será permitido poder acima do Comitê Central em chamar conferências de seu Comitê Local. Ou um pequeno punhado de estados pode determinar a qualquer momento a necessidade de um congresso. Por exemplo, atualmente, nessa redação, só os comitês de SP podem chamar um congresso a qualquer momento, acima do Comitê Central, e, se quiser, sem levar em conta os Comitês de todo o resto do país.
Ainda, não acho que tenha problema nenhum um estado da federação concentrar a grande maioria dos comitês, ou um núcleo ser consideravelmente maior que dezenas de outros, contando que isso seja resultado de uma política coerente, não de um desenvolvimento caótico e espontâneo. Da mesma forma, a proposta da maioria sobre a minoria deve guiar nossos encaminhamentos, mas algo que só funcionará se a soma das partes não corresponder só a seu resultado.
Obviamente não é só retirando esses parágrafos que acabaremos com a possibilidade dessas disputas sem princípios, mas é preciso que estejamos conscientes sobre o que a adição deles é danosa. Todo desvio erro só é combatido ideologicamente, e para isso é necessária uma direção firme e legítima. Precisamos, ainda, de uma forma que corresponda ao instrumento necessário.
3. Teses pro Movimento Estudantil.
Nota: Desde a metade final do ano passado tento juntar uma série de textos de todo tipo que elaborei durante minha atuação no ME, minha atuação majoritária durante a militância, e unificar num documento. Principalmente esse ano não consegui dar seguimento a esse esforço por diversos problemas. Uma das minhas intenções desde que saiu o Caderno de Teses era elaborar uma seção sobre movimento estudantil, pois acho que é muito ruim que não consigamos expressar nele uma das frentes que juventude tem maior acúmulo em todos os sentidos. Não acho que essa é uma questão de princípio, mas espero que outros camaradas que conheço e sei da enorme capacidade de elaborar sobre consigam ter elaborado textualmente a síntese das nossas experiências enquanto UJC. Já consegui ler algumas boas tribunas e outras muito baixas sobre o tema. Ainda assim mantive esse ponto onde vou compartilhar alguns rascunhos dos tópicos que pretendia abordar para que pelo menos seja conhecida de onde parte as concepções que defendo sobre o ME, assumindo as consequências de causar confusão por argumentos ou pensamentos inconclusos, além de erros de portguês por falta de revisão.
3.1 A relevância do ME, sobretudo nas universidades e escolas públicas:
Recorrem a estatística do baixo acesso ao ensino superior no Brasil, e o crescimento das vagas em instituições privadas em detrimento das públicas, geralmente combinada com as constatações sobre o desprestígio que o ME com o estudante médio, principalmente das entidades gerais para concluir que por isso o ME seria menos importante pra juventude que outras frentes. As conclusões não poderiam ser mais falsas.
Se a maioria da juventude não está na universidade, é difícil afirmar que estará em tão grande quantidade nas frentes alternativas que são propostas, nas universidades públicas o ME brasileiro guarda um acúmulo de décadas de lutas de todos os tipos, o mesmo nas escolas públicas, e essas irrefutavelmente acessadas pela maioria dos jovens. Esses espaços de educação também continuam sendo muito relevantes para aproximar e cooptar jovens para a luta revolucionária, experimentá-los nas lutas e formar dirigentes para a classe em outros setores.
Vivemos um período de extremo desarme de todos os instrumentos de lutas dos trabalhadores, o ME sofre com as consequências do neoliberalismo, reformismo e cooptação de suas lideranças pelo governo e de sua base pela ideologia dominante, mas ainda possui uma rede que consegue influenciar a aproximar milhares de estudantes através da luta coletiva por suas demandas. Tanto que o ME esteve como fagulha, e até assumindo a dianteira, de quase todas as principais movimentações da classe trabalhadora pelo menos nos últimos 15 anos.
É regra pra todo movimento popular e social o seu enfraquecimento, pensar que as propostas proletárias terão mais tração em outra frente de juventude por ser mais proletarizada é engano de quem não conhece a composição atual dos locais de estudo e quem não conhece ao igual reacionário e reformismo que precisará ser encarado, salvo algumas poucas experiências, geralmente minoritárias em cada movimento.
Instituições privadas de ensino superior e básico não são locais de educação, são comércios com espaços de convivência para onde se empurra à classe trabalhadora, neles a atuação deve ser principalmente de fora pra dentro, para que o “ensino privado” deixe de existir o acesso a educação seja efetivado para todos, movimento contrário ao que somos empurrados hoje: que é de privatizar direta ou indiretamente as instituições públicas e copiar o modelo empresarial.
3.2 Concepção de ME classista:
Intrinsecamente onde os estudantes se organizam por suas demandas imediatas. Não há um ME revolucionário, há revolucionários atuando no ME para aproximar os estudantes da luta do proletariado.
Portanto, o ME que devemos apresentar como proposta é um ME classista, que entende que o antagonismo de classe não é remediável e é aliado em todos os momentos da luta do proletariado contra a burguesia e pelo fim da exploração.
Para isso se efetivar temos que apresentar uma proposta de ME: Democrático, isto significa estimular a mais ampla base a participar, mesmo os setores mais atrasados, buscando combater as outras tendências(reacionárias, reformistas, esquerdistas) com o crescimento de nosso trabalho e influência, arrastando a maioria em defesa das nossas propostas, só realizável com um trabalho de base incansável. Independente, sustentado na auto-organização estudantil em todo o momento e não em reitorias, direções, governos e etc. Combativo: que dá centralidade à luta com ações diretas(marchas, piquetes, paralisações, greves e etc) em detrimento das lutas de gabinete, porque entende que as vitórias não são dadas, e sim conquistadas; Solidário, que significa não se fechar em si mesmo, rejeitando o corporativismo e colaborando ativamente com as lutas dos trabalhadores.
Em cada luta parcial devemos lutar pelas vitórias, e aproveitar os processos para aprender a travar lutas mais decisivas, e escancarar as contradições do sistema que vivemos.
Assim, o ME é força auxiliar em todos os momentos, e isso significa na pré-revolução lutar pelas demandas estudantis ao passo que luta ao lado dos trabalhadores impondo derrotas ao inimigo de classe na frente econômica e política, e no momento insurrecional os estudantes devem se aliar a vanguarda do proletariado para, em ofensiva, derrubar o velho poder.
Devemos construir as entidades de base ou disputá-las com oposições, em aliança com estudantes ou organizações que compartilhem conosco essas concepções básicas de ME classista. Devemos disputar a UNE, a UBES, e entidades gerais, atrelando isso à disputa geral de hegemonia dessas posições para todo o ME. Atualmente é o campo reformista a principal força no ME e em primeiro plano a direção majoritária da UNE, em segundo plano as forças socialistas igualmente reformistas.
Não devemos abrir mão dos nossos objetivos, nem dá nossa concepção, mas nossas reivindicações devem se adaptar ao momento da luta que vivemos, sendo nossas principais bandeiras nesse momento: Acesso universal ao Ensino Superior Público; Fim das instituições privadas de ensino; Revogação do NEM e implantação de ensino integrado entre educação, cultura, ciência e técnica; Poder de decisão igualitário entre todos os setores que constroem a educação, incluindo comunidade e movimentos populares; Assistência estudantil possibilidade dedicação exclusiva durante os anos de educação formal; Garantia de investimento 100% público para educação; 0% de desemprego para os estudantes formados.
4. Pensando alto sobre a UJC.
Camaradas, esse é um dos pontos que gostaria de ter reflexões mais lapidadas, sinto que falhei em não dedicar tempo suficiente para esse debate, a ponto de eu não está seguro de todas as posições que irei compartilhar, mas sinto que é necessário, para além das atas, que seja compartilhado as posições dos membros da atual CN da UJC sobre as propostas existentes para o futuro da juventude.
Primeiro, acredito que a estrutura organizativa que incorpora completamente as bases da UJC ao Partido é a que melhor responde às necessidades imediatas de nivelar atuações, sistematizar e manter acúmulos e dar pernas às atuações principais. Nesse modelo a principal tarefa duma coordenação da UJC é organizar o trabalho específico de juventude, ao passo que dá suporte às demais atuações.
Segundo, estou de acordo que a principal frente de atuação da UJC, enquanto tal, deve ser no movimento estudantil, esse será o trabalho específico de juventude, e com uma frente voltada à Lazer e Cultura, com trabalho principalmente de promoção de atividades como forma de organizar e debater junto à juventude.
Terceiro, me preocupa que há um debate recheado de autoproclamação sobre quem tem a legitimidade de reivindicar a UJC. É fato a UJC foi força motriz das posições revolucionárias no racha nacionalmente, assumindo um papel central em assumir a reconstrução revolucionária do Partido Comunista como sua e que herdamos a maioria dos seus organismos e trabalhos, sendo a maioria dos organismos relevantes que ficaram com o velho partido aqueles que já eram reconhecidos pelos seus desvíos de direita. Também não nego a necessidade da luta contra o oportunismo a todo momento. Mas não vejo como relevante a disputa nesse momento sobre quem tem o direito de se chamar juventude comunista. O essencial é construir o necessário para ser vanguarda, e ser reconhecido como tal, mais do que atrair simpatizantes ao nome. Não vejo problema nenhum também que duas juventudes diferentes compartilhem o mesmo nome, há algumas dezenas de juventudes com nomes diferentes que nem onde realizam trabalho conseguem ser diferenciadas na consciência média das bases, fora que dá pra agrupar várias com nomes com bastante semelhança, mas a inflexibilidade em largar qualquer aspecto da UJC faz que nosso trabalho possa ser confundido com o da nossa irmã gêmea reformista, nesse sentido acredito que que devamos: (i) Fazer uma identidade visual nova, com referência nos elementos encaminhados pelo Congresso para o Partido; (ii) Adotar o uso da sigla, sempre que possível, junto à sigla que também represente o Partido, algo como “UJC/RR”.
Sobre (i) ainda: é estranha a enorme semelhança do símbolo da UJC com os das juventudes dos reformistas PCP e PCPE. Tentei verificar com alguns camaradas mais antigos se sabiam da origem tinha alguma inspiração na JCP, ou ambas uma inspiração em comum, mas nenhum soube responder.
Notas e referências:
[1] https://emdefesadocomunismo.com.br/manifesto-em-defesa-da-reconstrucao-revolucionaria-do-pcb/
[2] https://emdefesadocomunismo.com.br/caderno-de-teses-xvii-congresso-extraordinario/
[3] https://emdefesadocomunismo.com.br/quais-sao-as-principais-questoes-que-devemos-resolver-no-xvii-congresso/ (Também estou de acordo com o que ele desenvolve enquanto questões secundárias.)