'Por uma maior definição política: algumas críticas à condução do PCB-RR' (P.A.)

Por P.A. (UJC-SP) para Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Camaradas, aderi à RR junto de todo o meu núcleo com muita empolgação. Inclusive, desde que comecei a me apropriar da disputa interna do PCB, anseio por um momento em que a luta interna avançasse a tal ponto. O que vejo como muito positivo, temos a possibilidade de nos livrarmos de diversos oportunistas e de diversos entraves ao nosso trabalho, o que permitirá um avanço enorme ao movimento comunista brasileiro. Exatamente por isso que algumas coisas vêm me preocupando na condução desse processo pelos camaradas que estão dirigindo a RR.

Temos aqui a oportunidade de redesenhar esse partido. É evidente que o CC não vai abrir mão de nada, e não haverá XVII Congresso por dentro das estruturas do PCB “formal”. Inclusive, como já foi dito mais de uma vez — pelo camarada Landi, se não me engano — é possível que desse XVII congresso saia uma decisão de que o melhor caminho é uma reunificação com o PCB (o que, a meu ver, seria uma derrota retumbante, trágica). Digo isso, pois, a não ser que decidamos nos reunificar, do ponto de vista mais prático, pragmático, o XVII será o espaço de desenhar uma nova organização, com um novo estatuto, resoluções etc. Muito pode mudar em tudo o que estamos acostumados em termos de organização do trabalho, da polêmica, da linha política, da estrutura interna etc.

Desta maneira, coloco aqui algumas críticas. Visto que eu não estou por dentro das instâncias provisórias de direção, não tenho todos os detalhes  tenho impressões, além disso, não tenho soluções formuladas a tudo que criticarei, então essa tribuna não terá grandes formulações propositivas. Ainda assim, acho positivo pontuar essas críticas.

Quem são as direções do PCB-RR?

Muitos camaradas alinhados ao CC ou “não-alinhados” comentaram em tom “conspiratório” que as direções do PCB-RR estão escondidas, fazendo as coisas por baixo dos panos “assim como criticam no CC” etc. Não sou de fazer falsas equivalências, as acho argumentos fracos e entediantes, entretanto, é fato que em momento algum o PCB-RR nomeou suas direções. Sabemos de camaradas que eram direções de grande escopo que foram expulsos e que aderiram ao PCB-RR e conseguimos supor quem são as direções nacionais desse processo, não é um exercício imaginativo muito complexo. Entendo a necessidade de sigilo que houve até a publicação do manifesto, mas acho prejudicial a manutenção desse sigilo agora, pois mantém um clima de indefinição entre os que aderiram e os que estão indecisos, portanto, peço fortemente que, o mais rápido possível, as direções do PCB-RR nomeiem publicamente algumas direções de maneira oficial, ainda que provisórias até o XVII Congresso, tanto no âmbito nacional como no estadual, garantindo mais legitimidade ao processo todo.

Defesa de linhas

Camaradas, sabemos que figuras nacionais que foram expulsas do CC aderiram ao XVII congresso, e sabemos que esses camaradas defendem pontos políticos específicos para a construção de um partido revolucionário. O manifesto em defesa da RR do PCB é um documento muito bom, apresenta uma análise crítica e autocrítica muito completa e importante para basear uma posição de oposição ao CC, entretanto, com o avanço das adesões a RR começam a fazer falta duas coisas: 1) alguns pontos propositivos mais bem estruturados sobre o que as direções do PCB-RR querem que seja aprovado no XVII Congresso e; 2) Que os camaradas que aderiram ao XVII Congresso que eram do CC e de CRs e os camaradas que dirigem o PCB-RR (estejam eles em alguns casos nesses três grupos ou não) publiquem suas opiniões, suas defesas individuaisem tribunas. Isso é essencial para construir um XVII congresso vitorioso.

Na minha opinião, se esse congresso não aprovar polêmica pública ou um jornal nacional impresso e digital, teremos sofrido uma derrota enorme. Existem diversos outros pontos sensíveis assim. Muito se fala, por exemplo, em profissionalização dos nossos trabalhos, seria importante que algumas formulações mais concretas nesse sentido, sejam elas gerais ou específicas, começassem a aparecer por parte da direção provisória enquanto tal e por parte dos camaradas da direção, individualmente.

Se esses pontos não forem debatidos e colocados as claras, o PCB-RR rapidamente virará um grupo que só se pauta pela negativa ao PCB-CC, por isso, reitero o pedido de que desça o mais rápido possível um documento com propostas sistematizadas (não precisa ser uma documento de teses pré-congressuais, que demoram a serem escritas, mas um documento delineando alguns pontos básicos a serem defendidos já serve nesse momento), além disso peço encarecidamente que os camaradas Ivan Pinheiro, Gabriel Lazzari, Gabriel Landi, Jones Manoel, Ana Karen, Gabriel Colombo e tantos outros camaradas que tem um papel muito grande em nossa disputa interna se coloquem nas tribunas defendendo de maneira firme suas posições, construindo desde já os debates do XVII Congresso, para que ele seja um espaço bem definido que avance a revolução brasileira o máximo possível e para que não fique um clima de suspeita, indefinição, como se tivessem camaradas querendo dirigir as coisas nas escuras sem dizer o que defendem (e de modo algum acuso os camaradas citados disso, só digo que a falta dos posicionamentos que elenquei aqui geram esse tipo de confusão). Não podemos cair no erro de querer manter uma unidade “neutra de opiniões” nas direções do PCB-RR porque o momento é delicado, é essencial que as posições apareçam e as divergências também.

Transparência

Entendo que desde o lançamento do manifesto, o PCB-RR deve estar passando por um certo caos organizativo interno, muitas pessoas aderindo, muitas tarefas a serem tocadas sem uma estrutura organizativa própria bem consolidada por se tratar de uma organização provisória. Entendo também, como já disse, a necessidade de sigilo que houve até a publicação do manifesto e que, em alguma medida, ainda possa ser que haja. No entanto, camaradas, há milhares de militantes por todo o país que desejam aderir de fato à RR, não só em declaração, que querem tocar trabalho nesse sentido, que querem estar em sua estrutura e que querem saber o que está acontecendo. A maioria dos camaradas estão perdidos, sem saber quais devem ser os próximos passos, quais são as orientações, quem e o que está sendo decidido etc, de modo que muitos estão recorrendo às conversas de bar para se manter minimante informados (não traço aqui nenhum paralelo com a falta de circulação de informações no PCB-CC que, por anos, forçou conversas por fora das instâncias entre militantes). Dessa maneira, acho essencial alguma forma 1) mais rápida de integrar o mar de militantes que adere a RR em suas estruturas; 2) que haja uma maior publicização do que está sendo decidido e do que está por decidir pela direção nacional (e estaduais) provisória e de que caminhos se pretende tomar até o congresso.

Periodicidade das tribunas

Outro problema que vejo é o ritmo de publicação de uma tribuna por dia, que a meu ver é um conta gotas do debate. Entendo que há ressalvas de que, se soltarmos 15 tribunas por dia, o grosso será perdido e não será lido, mas uma por dia é muito devagar, ao ponto de que passa a impressão de que as tribunas não têm de fato um papel de debate, mas sim de exposição de textos pra dizer que está havendo um debate. Além disso, essa quantidade diária deixa o debate em um ritmo muito devagar, demoram a aparecer os principais pontos de divergência. Por isso, peço encarecidamente que os camaradas reavaliem essa periodicidade e passem a publicar 3, 4 ou 5 tribunas por dia.

Conclusão

Se essas questões não forem resolvidas o mais rápido possível, corremos sério perigo de que o PCB-RR sofra uma debandada de centenas, milhares de militantes que aderiram a RR em oposição ao CC, militantes esses que, se não começarem a ser integrados e a saber onde estão entrando e o que aqui é de fato defendido (mesmo que não haja consensos entre as direções em uma série de temas), perderão a confiança e a empolgação com a RR e ficarão ao relento. Entendo que os camaradas devem estar lotados de tarefas, entendo que devem estar faltando braços, mas é exatamente por isso que faço o esforço de delinear alguns pontos que vejo como prioritários de serem resolvidos o mais rápido possível.

O PCB-RR é, a meu ver, um dos momentos mais positivos da história do movimento comunista brasileiro, encabeçado e composto por camaradas que representam o melhor do Marxismo-Leninismo em nosso país nas últimas décadas (camaradas que respeito profundamente e que são minha referência do que é ser comunista), é um movimento que tem um potencial astronômico, mas acho que, sem a correção dessas coisas que aponto aqui (e de outras que com certeza deixei passar) corremos sérios perigos.