'Por um projeto político de disputa pela Hegemonia!' (Gabriel Andrade)

Camaradas, venho através desse texto tentar provar a necessidade de centros de pensamento organizados da classe trabalhadora conscientizada para a estratégia de conscientização revolucionária ao restante da classe trabalhadora.

'Por um projeto político de  disputa pela Hegemonia!' (Gabriel Andrade)
"O Partido Comunista deve ser, também, um aparato de contra-hegemonia da classe trabalhadora e deve lutar para que esta classe conquiste a Hegemonia Cultural na sociedade e a Revolução deve ser, além de um empreendimento de libertação econômica e social, a forma que esta nova cultura proletária tem de se perpetuar e de se expandir."

Por Gabriel Andrade para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Camaradas, venho através desse texto tentar provar a necessidade de centros de pensamento organizados da classe trabalhadora conscientizada para a estratégia de conscientização revolucionária ao restante da classe trabalhadora.

Segundo pensadores como Antonio Gramsci, a luta de classes deve ser travada, também, na cultura e nas mentes das pessoas, deve-se haver um processo de cooptação, onde o pensamento da classe trabalhadora pare de ser pautado pela burguesia, que possui a Hegemonia Cultural, mas que a classe trabalhadora liberte sua mente dos preconceitos da sociedade burguesa e lute pelo poder da sociedade. A cultura proletária deve se criar a partir da crítica da sociedade burguesa e deve ser uma cultura que faça a classe trabalhadora tomar consciência de si, de sua história e de sua potencialidade histórica, além de libertar suas mentes de uma estrutura de crenças que favorece a perpetuação do poder nas mãos da classe dominante.

No Brasil, por exemplo, que possui uma cultura herdada da colonização e da escravidão, a redescoberta da cultura negra e da história negra, que foi tentada se enterrar, pelos  invasores, é essencial para a criação de uma cultura proletária, já que o proletariado  brasileiro, em sua maioria, descende de negros escravizados e a burguesia brasileira, em  sua maioria, descende dos senhores, proprietários de terra e proprietários de escravizados e o capitalismo brasileiro é uma continuação direta da colonização e da escravidão, continuação direta no sentido de não ter havido uma mudança radical na estrutura de classes da sociedade.

A cultura proletária deve ser uma cultura de crítica e contestação aos valores e às normas da sociedade burguesa, uma cultura que torne revolucionária a mente do proletariado, que o conscientize, mas eu sinto que é vazio bradar “temos que disputar as mentes e a cultura!” se não apresentamos um projeto político prático de militância para isso, por esse motivo, venho aqui propor os Núcleos de Pensamento Proletário (NPP/ nome provisório), que seja organizado pela militância da juventude e dos sindicatos, movimentos e/ou partidos políticos de esquerda radical (entendendo que nossa organização não poderá, sozinha, alcançar a revolução, como afirma o Manifesto do PCBRR), que possuiria o intuito de trazer debates, leituras coletivas, que estimule o pensamento crítico da classe trabalhadora e o pensamento revolucionário, que conscientize a classe trabalhadora de seu papel na história e a faça questionar a sociedade burguesa e os preconceitos que a classe dominante lhe impõe, em cidades pequenas poderiam ser municipais e em cidades grandes poderiam  se dividir por bairro, em um processo de comunicação e aprendizado mútuo entre elas. O intuito desses espaços seria massificar o conhecimento e a consciência de classe e disputar a Hegemonia na sociedade que vivemos.

Acredito que temos a noção de que um dos instrumentos que legitima a perpetuação da classe dominante no poder é que ela não possui apenas o poder político, o aparato, mas que ela também possui o poder ideológico sobre as massas, a Hegemonia, de certa forma, controlando o que chamaríamos de inconsciente da sociedade e acredito, também, que compreendemos que, para uma revolução acontecer na realidade, também deve ser feita uma revolução no pensamento da classe trabalhadora, que ele passe a ser pautado por si e pelos seus interesses, não mais pelos interesses da classe dominante, que se expressam, na cultura, através de diversas formas: racismo, machismo, LGBTfobia, aceitação do discurso meritocrático, empatia com o patrão, com políticos burgueses, aporofobia vinda da própria classe trabalhadora, entre outras.

O Partido Comunista deve ser, também, um aparato de contra-hegemonia da classe trabalhadora e deve lutar para que esta classe conquiste a Hegemonia Cultural na sociedade e a Revolução deve ser, além de um empreendimento de libertação econômica e social, a forma que esta nova cultura proletária tem de se perpetuar e de se expandir.

Camaradas, devo ressaltar que os Núcleos de Pensamento Proletário foi apenas uma ideia de como a disputa pela Hegemonia na sociedade deve ser tocada por nós, comunistas, e espero que, se possuam ideias que entendam ser melhores que a que eu propus para disputar o espaço espiritual e intelectual das massas, não tenham receio em expressá-las!

Gostaria de encerrar este texto com duas citações do camarada Antonio Gramsci, a primeira, em seu texto sobre a Revolução Russa: “A Revolução contra O Capital” onde  ele afirma que o pensamento marxista:

“Põe sempre como fator máximo de história não os fatos econômicos brutos, mas o  homem, a sociedade dos homens, daqueles que se aproximam, se entendem entre si e, por meio desses contatos (civilização), desenvolvem uma vontade social coletiva, compreendem os fatos econômicos e os julgam, e os adequam à própria vontade” – Odeio  os Indiferentes, editora Boitempo, página 88.

E a segunda de seu texto: “Socialismo e Cultura”, onde o autor diz:

“É através da crítica da civilização capitalista que se forma ou está se formando a  consciência unitária do proletariado: e a crítica quer dizer cultura, e não evolução  espontânea e natural. Crítica quer dizer precisamente aquela consciência do eu que Novalis definia como meta da cultura. Um eu que se opõe aos outros, que se diferencia, e que, tendo criado para si mesmo uma finalidade, julga os fatos e os eventos não só em si e para si, mas também como valores de propulsão ou de repulsão. Conhecer a si mesmo  significa ser si mesmo, ser o senhor de si mesmo, diferenciar-se, elevar-se acima do caos,  ser um elemento de ordem, mas da própria ordem e da própria disciplina diante de um  ideal.” – O leitor de Gramsci, editora Civilização Brasileira, página 56.