Por que os comunistas não votarão nessas eleições americanas?

É por reconhecer a importância das eleições burguesas que se deve analisar onde é possível participar nelas, em conflito com os governos Republicano e Democrata, expondo a disputa entre frações burguesas nos EUA.

Por que os comunistas não votarão nessas eleições americanas?
Eleitora americana vota em Milwaukee, Wisconsin, 2020. Reprodução: Reuters / Bing Guan

Por CWPUSA (Plataforma Comunista dos Trabalhadores dos EUA)

Em 5 de novembro, são realizadas as eleições para Presidente dos Estados Unidos. Já ouvimos repetidamente as propostas de ambos os candidatos dos dois principais partidos burgueses: Donald Trump, dos Republicanos, e Kamala Harris, dos Democratas. Não há espaço para ilusões, pois eles deixaram suas intenções bem claras sobre o que farão se forem vitoriosos. Tanto Trump quanto Harris se comprometeram como representantes dos monopólios. As eleições presidenciais em nosso país são moldadas por uma agenda de repressão, exploração, militarismo, xenofobia, nacionalismo, guerra, racismo e cosmopolitismo – todos produtos do modo de produção capitalista. Reafirmamos que as eleições, por si só, não podem resolver os problemas enfrentados pela classe trabalhadora. Nosso objetivo só pode ser alcançado pela tomada revolucionária do poder, que desmantelará o sistema social atual e estabelecerá o poder dos trabalhadores.

Como marxistas-leninistas – comunistas científicos – reconhecemos a importância das eleições burguesas. É por isso que devemos direcionar nosso foco de análise e, onde possível, participar nelas, para intervir de forma mais eficaz, intensificar o conflito com os governos Republicano e Democrata e expor claramente que as eleições burguesas não podem nos proporcionar um futuro melhor; que são, em última análise, uma disputa aberta entre frações burguesas nos EUA.

As duas principais frações burguesas – a fração ‘liberal’, representada pelos Democratas, e a fração ‘conservadora’, representada pelos Republicanos – disputam ferozmente para determinar quem garantirá o poder executivo nos próximos quatro anos. Ambos os candidatos avançam projetos moldados pelos interesses da classe dominante. As únicas diferenças significativas são suas posturas em relação ao acesso ao aborto e à guerra imperialista na Ucrânia. No entanto, até mesmo em relação aos direitos ao aborto, devemos notar que foram revogados sob um congresso e presidência controlados pelos Democratas, sem esforço significativo para revertê-los. Quanto à guerra na Ucrânia, Trump ‘promete’ retirar o apoio dos EUA ao regime de Zelensky para acabar com o conflito, enquanto Harris se compromete a manter esse apoio e continuar a guerra. Apesar disso, ambos prometem apoio inabalável ao Estado assassino de Israel em sua contínua matança do povo palestino, assim como os recentes ataques ao Líbano.

Nenhum dos lados oferece soluções significativas para os problemas dos jovens, das mulheres, para as crises urgentes de baixos salários, altos preços, infraestrutura em colapso, condições de trabalho precárias, saúde e educação cada vez mais mercantilizadas, deslocamento causado por grandes proprietários de terras e grandes firmas de investimento, destruição ambiental pelos monopólios de energia e mais – tudo isso refletindo a crise geral do capitalismo em decadência. Ambas as candidaturas apenas nos aproximarão de um conflito global generalizado e garantirão dura repressão aos protestos sociais. Em última análise, eles competem para demonstrar quem melhor pode preservar o status quo opressor.

Esse fenômeno não é novo. Por mais de um século, Republicanos e Democratas se alternaram como as forças principais na sustentação do capitalismo neste país, garantindo a paz social que permite aos monopólios expandirem seus lucros. Suas alternâncias repetidas permitem que eles nos reprimam e extraiam todo o lucro da classe trabalhadora. Tal é a crise do sistema bipartidário que enfrentamos hoje, e não podemos nos iludir pensando que um sistema “multipartidário” resolveria esse problema.

Após os fracassos dos democratas e da administração Biden, os Republicanos avançam, alegando que irão ‘drenar o pântano’, apenas para estabelecer outra administração completamente capitalista. Podemos refletir sobre a administração anterior de Trump, que nomeou figuras como o ex-CEO da ExxonMobil, o filho de um ex-sócio-geral da Goldman Sachs, o CEO da WL Ross & Co, e outros representantes de bancos e monopólios para cargos-chave. O pântano nunca foi drenado; ele apenas ganhou tubarões. Em vez de fazer qualquer mudança significativa, Trump e os Republicanos apenas visam alinhar-se ainda mais com os setores mais reacionários da burguesia, travando uma “guerra cultural” contra o que rotulam como “marxismo” de Harris e da “cultura woke” dos Democratas. É claro que esses rótulos são flagrantemente falsos, na realidade são um pretexto para atacar aqueles de nós que são verdadeiros comunistas, bem como os trabalhadores e o povo.

O anticomunismo mais evidente de Trump não pode nos distrair da condenação dos corajosos manifestantes e estudantes: “Harris = Trump”.

Harris é uma belicista, uma ferramenta dos monopólios e dos bilionários que a apoiam. Ela é uma hipócrita, abandonando suas políticas “progressistas” em saúde enquanto concede bilhões de dólares em munições e ajuda a Israel e à Ucrânia. Enquanto isso, milhões de pessoas em todo o território dos EUA enfrentam furacões, inundações, incêndios florestais, quedas de energia e taxas de seguro exorbitantes, forçando muitos a abandonarem suas casas. Ela tem laços profundos com executivos de alto escalão nos monopólios de tecnologia e outros setores importantes do capital dos EUA, sendo a “presidente do Vale do Silício”. Além disso, sua retórica sobre a necessidade de “defender a democracia” parando Trump é meramente uma homenagem à burguesia, disfarçando os monopólios que controlam a política e a economia como se fossem “o povo”.

É por isso que a Plataforma Comunista dos Trabalhadores incentiva a classe trabalhadora e as forças populares a não votarem. Nenhuma fração da burguesia pode resolver os problemas enfrentados pelo povo dos EUA, nem sequer proporcionar qualquer alívio temporário. Apenas tomando o poder e levando a bandeira vermelha da emancipação à vitória a classe trabalhadora poderá resolver essas questões fundamentais. A solução reside no socialismo.

Verdadeiros comunistas não podem apoiar qualquer setor da burguesia. Nossa análise concreta da situação revela que não há mal menor. Recusamos aceitar uma vida de miséria, a perda de mais direitos e a enganação descarada. Não podemos escolher quem irá nos explorar de uma forma ou de outra. Nossa tarefa como comunistas é construir, dentro da classe trabalhadora, uma ferramenta política e arma para a luta anticapitalista – um Partido Comunista.

Nós, comunistas, visamos opor-nos a qualquer fração da burguesia no poder, seja Democrata ou Republicana. Hoje, devemos focar em reconstruir uma força de combate para enfrentar as condições anticomunistas e anti-operárias que prevalecem neste país. A Plataforma Comunista dos Trabalhadores mais uma vez convoca a reconstituição do Partido Comunista em nosso país. Esse é o único caminho para os trabalhadores e o povo.