'Por que ninguém fala sobre finanças?' (Camarada Chima)
Se não temos fundos eleitorais, nem dinheiro vindo de burguês, muito menos uma estrutura digna de avanço, criemos nós mesmos o nosso próprio fundo de investimentos profissionalizado através de um departamento financeiro.
Por Camarada Chima para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Camaradas, saudações!
Escrevo essa pequena contribuição para a tribuna de debates do XVII Congresso Extraordinário do PCB apontando algo muito sério: até agora foram debatidas questões organizativas, políticas e formativas, porém até o momento que eu escrevo essa tribuna, nada foi falado sobre finanças (pilar essencial para o aprofundamento da nossa reconstrução revolucionária).
Isso não é só preocupante, como é um sintoma do que tenho visto nas nossas fileiras: sabemos citar Lenin, Marx e Engels, mas não sabemos conceitos básicos de finanças. Esse fenômeno não parece ser facilmente explicado, mas para mim é muito claro como o “bom trabalho” realizado nas fileiras da UJC, onde milito, significa para a dirigência, nas entrelinhas, “bom trabalho político ou organizativo”. Na sua grande maioria, as figuras de direção me parecem advir de direções locais políticas ou organizativas. Isso obviamente por si só não explica tudo, mas já é um bom sinal de como as finanças são tratadas dentro da UJC.
Relembro aqui a todes um momento marcante da etapa estadual do Congresso da UJC em SP: fomos votar as questões referentes à finanças e o pleno não sabia a diferença entre despesa, custo, lucro e receita. E está tudo bem: ninguém é obrigado a saber. Mas como podemos pensar estrategicamente finanças, quando conceitos tão básicos não são ensinados à base? O mais bizarro aconteceu depois: aos gritos, figuras de direção foram à frente do pleno defendendo o aumento do repasse dos núcleos para a CR, insinuando posição de superioridade em pensamento leninista em relação aos que defendiam redução do repasse. O suposto aumento do repasse foi aprovado. Logo em seguida foi aprovado o destaque de que o repasse seria sobre o lucro, não sobre a receita (como era feito antes do IX Congresso da UJC), o que não fez sentido algum, pois veja bem: o lucro é menor do que a receita. Ou seja, as mesmas figuras que se esgoelavam sobre o aumento do repasse, não compreenderam que podiam talvez estar reduzindo o repasse para a CR. Vejamos o seguinte exemplo:
Simplificando, supomos que um núcleo só tem vendas entre as entradas de caixa em um mês. Digamos que foram comprados 10 bótons, com custo unitário de 2 reais cada. Ou seja, nosso custo total foi de 20 reais. Vamos vender esses bótons por 4 reais cada, ou seja, se vendermos tudo teremos 40 reais. Isso significa que o nosso ponto de equilíbrio (o momento onde a receita é igual ao custo) é de 10 bótons. Vendo 10 bótons, terei 20 reais de receita, 20 reais de custo, lucro = zero. Ou seja, se o núcleo vendesse 10 bótons, seu repasse sobre o lucro seria de 0 reais no mês. Mas se o repasse fosse feito sobre a receita, considerando 30% de repasse sobre a receita, com uma receita de 20 reais temos que 30% de 20 reais = 6 reais. Ou seja, teríamos um repasse de 6 reais para a CR. Apenas a partir do 21o bóton, começaríamos a ter lucro e consequentemente repasse sobre a resolução atual. Ainda que a opção de repasse sobre o lucro seja aparentemente mais saudável para os núcleos, não atende o apelo em aumentar o repasse para a CR colocado perante o pleno. Esse é apenas um dos exemplos de falta de formação e entendimento sobre finanças inclusive entre as nossas dirigências. Gosto de fazer um paralelo com Keynes, economista reacionário que estudou o gerenciamento da demanda agregada e do pleno emprego no século XX, falando abertamente que era preciso entender o capitalismo pois, se não bem gerenciado, seria tomado de assalto pelos comunistas. Eu falo de maneira contrária e irônica a Keynes: precisamos entender o capitalismo e como é feita a escolha de investimento, para tomar de assalto os burgueses.
Quais são as variáveis centrais na decisão de investimento do burguês? São duas: eficiência marginal do capital (o quanto a máquina que ele comprar lhe retornará em dinheiro) e a taxa de juros (o quanto ele ganha aplicando no título da dívida do governo). Simplificando: o burguês sempre compara qual é a melhor opção: ou eu aplico em algo que me rende um dividendo seguro, ou eu compro uma máquina para minha fábrica que vai me render X reais em um ano. É por isso, por exemplo, que uma alta taxa de juros tendencialmente prejudica a industrialização do país: o burguês brasileiro, que já não é industrial, prefere com uma taxa de juros alta aplicar na bolsa ao invés de construir fábricas.
Assim como o burguês, a nossa decisão passa por uma escolha, ou seja, um custo de oportunidade. Esse conceito é importantíssimo: quando gastamos 100 reais para trazermos a nossa assistência para uma reunião de núcleo, temos um custo contábil de 100 reais, porém temos um custo de oportunidade maior: deixamos de comprar 100 reais em bótons, que poderiam ser vendidos e gerar ainda mais dinheiro. Indo além do exemplo, é importante entender de que o burguês pensa em taxas, não em volumes. A eficiência marginal do capital é o que desenha a taxa de lucro que ele terá. O burguês não se importa com o volume do seu lucro, mas sim com a sua TAXA de lucro, pois é a variável que mostra a eficiência da aplicação do seu dinheiro.
Primeiramente, minha leitura é de que nós temos dinheiro, escasso, e quando gasto, ele tem um alto custo de oportunidade. Aqui faço um balanço simples sobre uma decisão tomada na UJC há pouco tempo: foram gastos dezenas de milhares de reais para fazer uma estrutura própria para a militância no Conune, sobre a ótica de gerar mais conforto para os militantes durante o congresso de 2023. Veja bem, eu queria que a gente pudesse pagar um hotel de 5 estrelas para os meus camaradas em Brasília, mas é fato de que essa é uma tarefa, por nossas condições concretas, de alto nível de perrengue (reconhecido pela militância). Não sei se já existiu uma balanço sobre esse gasto, mas o repassado pelos militantes do meu núcleo é de que o perrengue vivido foi o mesmo, em formas diferentes. Ou seja, o aporte que as CRs realizaram nos núcleos, pegando dinheiro emprestado, gastando mais do que deveriam, poderia ter sido focalizado em um projeto de renda, com retorno financeiro para nossa organização. Peço para que não se atentem ao exemplo em específico, mas que pensem quantas decisões que temos na nossa organização que minam nossa capacidade de construir uma rede de comércios e negócios, como o deliberado pelo IX congresso da UJC. Esse é um fenômeno presente na juventude, mas que tenho certeza que é presente em todo o nosso complexo partidário. Fazemos decisões sem pensar no custo de oportunidade. Precisamos encarar a realidade: sim camaradas, para construirmos um partido com capacidade financeira de longo prazo, capaz de dirigir a classe trabalhadora para nossa vitória, teremos que fazer algumas escolhas inclusive contrárias ao pensamento mais comum em nossas fileiras. Alguns podem me apedrejar, mas não estou certo de que gastar 3, 4 ou até 5 mil reais quase todo ano para gerir um DCE grande seja necessariamente uma oportunidade inadiável de se viver, pois isso tem um enorme custo de oportunidade em geração de renda para a UJC. São montantes que poderiam render ainda mais dinheiro, adiando as vezes a nossa disputa em 2 ou 3 anos de um DCE, mas com mais estabilidade financeira para realmente dirigir os estudantes. Fora de que trabalho político no movimento estudantil pode ser feito fora do DCE, muitas vezes com ainda mais qualidade.
Sobre a taxa de lucro: esse é outro conceito que faz muita falta no entendimento dentro das nossas fileiras. As tarefas geralmente tocadas dentro dos núcleos da UJC possuem taxas de lucro ou margens de lucro baixas. Mesmo quando possuem taxas de lucro altas, são feitas em pouco volume, ou demoram muito tempo para dar o retorno necessário, o que não consegue suprir nossas necessidades. Relato aqui o que eu vivi desde o ano passado como secretário de finanças no núcleo Unicamp, frente a disputa eleitoral de DCE que se colocava no horizonte. A concepção que existia em todo o núcleo não era baseada na taxa de lucro, era baseada apenas em “boas ideias”. Ou seja, frequentemente as pessoas me paravam dando ideias falando com grande convicção de como aquilo daria muito dinheiro, ou me cobrando por eu não ter aplicado uma ideia que ela achava boa no passado. O mais engraçado é que a palavra de ordem era “precisamos torar em finanças”, sem nunca falar de maneira veemente em “torar nas questões organizativas ou políticas”, revelando um certo caráter eleitoreiro. Só que em todas as ideias, não eram calculadas diversas questões. Cito aqui o exemplo de uma política deliberada em pleno: venda de livros dentro da Unicamp, pois os calouros compravam muitos livros no começo do semestre. Mesmo meio receoso, realizei junto a comissão de finanças a tarefa ao longo do tempo. Aproveitamos a presença de um camarada do Partido que tem uma editora, que estava lançando um livro na Unicamp, pegamos presencialmente 5 livros com ele, sem precisar pagar frete e com o compromisso de pagarmos a parte dele depois da venda dos mesmos. Resultado: depois de muitas e muitas horas conseguimos vender 2 livros dentro do campus em um dia, com uma taxa de lucro baixa. Outro livro foi vendido no Conune, mas até agora não recebemos o repasse desse dinheiro da CN, que centralizou as nossas vendas no congresso. E temos aqui outros dois livros que para serem vendidos, com valor considerável, com certeza precisaremos deixar um militante umas 2 horas por dia, umas 2 vezes na semana por uns 2 meses, para com sorte conseguir vendê-los. Ou seja, é uma tarefa que na cabeça do militante dá muito certo, mas que se gasta MUITAS horas para se realizar, além de dar muito pouca margem ou taxa de lucro. Esse é apenas um dos tantos exemplos entre as finanças dentro do complexo partidário, em que me parece sempre ficarmos no mesmo: além da cotização e circulismo, fazemos rifa, vendemos livros, vendemos doces, vendemos bótons, vendemos (quando muito) camisetas, muitas vezes compradas pelos próprios militantes. Todas essas tarefas circunscrevem o problema acima descrito.
Em matéria de diversificação, poucas iniciativas estaduais ou até nacionais fogem do usual. Algumas partem no sentido de fazer uma vendinha de itens online, mas que também se gasta muito tempo em criação, gestão e retorno muito incerto, geralmente caindo no esquecimento da própria militância. Aqui na Unicamp tentamos avançar e ir além: nos inscrevemos para participarmos das feiras de quinta-feira que acontecem na praça do ciclo básico da Unicamp, onde acontecem vendas de refeições, doces, salgados e até artesanatos. A ideia era não vender algo com foice e martelo, mas sim algo como alimentos ou até verduras em parceria com o Acampamento do MST Marielle Vive, nos aproximando ainda mais do nosso excelente trabalho dentro do acampamento. Entretanto me deparo com enormes entraves: não tínhamos barraca, nem mesa para a exposição, ou ideia concreta de um produto para fazermos semanalmente e vendermos lá. A ideia era pagar um camarada ou um aproximado que fosse ficar na barraca trabalhando, ou seja, seria realmente algo profissionalizado, que daria inclusive um renda para alguém da organização que precisasse de uma ocupação profissional. A barraca e a mesa eram inviáveis, pois custavam juntas quase 2 mil reais. O aluguel diário de uma barraca seria de alto custo, necessitando também de algum fornecedor de um produto ou comida artesanal. A tarefa no fim não saiu do papel, mesmo nós conseguindo sermos aprovados para a participação na feira, por um simples motivo: era um risco enorme por questões organizativas. Mesmo pagando alguém para realizar as vendas, nos dias em que essa pessoa não pudesse comparecer à barraca não teríamos ninguém para assumir a posição. Caso faltassemos, seríamos expulsos da feira. Ou seja, em última instância, essa tarefa poderia sobrecarregar em níveis absurdos camaradas que tivessem que substituir a pessoa que faltou ao trabalho (geralmente secretários), com o risco de perdermos nosso ponto comercial. Isso revela um enorme problema: não temos um apoio de maior porte, além do núcleo, que chegue e efetivamente consiga dirigir um projeto que ande no sentido de profissionalizar a militância. Ou seja, muito se fala em profissionalização, pouco se debate em como efetivamente fazer isso, especialmente nos níveis de base.
Em matéria de tarefas tocadas pela dirigência, temos grandes problemas também. Um exemplo são as festas feitas ano passado, sob iniciativa da CR da UJC de SP, onde cidades foram escolhidas para que fossem realizadas festas da juventude do partido. É uma boa ideia, porém a falta de comunicação com a base foi o grande erro. Coloco aqui o que aconteceu em Campinas: sem conversa com o núcleo, foi descido que faríamos uma festa universitária chapa branca, chamada posteriormente “Menines vestem vermelho”. Aí já foi colocado o primeiro problema: em locais universitários as festas podem dar muito lucro, mas ninguém vai em festa chapa branca. Todo estudante universitário vai ou em festas de cursos/CAs/Atléticas específicas, ou vai em festas conhecidas e famosas há muitos anos. Não era o caso da nossa festa. Não deu outra, tivemos até um considerável número de pessoas aparecendo, maioria militante ou amigos de militantes, porém com prejuízo no final.
Ou seja, salvo todos os problemas feitos pelo núcleo na organização do evento, a direção errou muito em não conversar com a base. O prejuízo no final foi jogado nas costas do núcleo da Unicamp. Em um dia estávamos meio apertados no caixa e recebemos a informação que tínhamos que tomar cuidado, uma vez que tínhamos a dívida da festa “em nossa conta”. Outra iniciativa da direção estadual é a confecção dos materiais, como camisetas e bandeiras, como tarefa financeira. Já são meses e meses sem recebermos o material que pedimos, pois temos a informação de que o fornecedor das camisetas faliu. Ou seja, é uma tarefa que hoje se apresenta aparentemente inoperante, com problemas de organização e operacionalização.
Camaradas, aqui coloco a crítica de que as assistências da UJC não assistem os núcleos financeiramente. As discussões trazidas e apoiadas por eles são sempre relacionadas com questões políticas e organizativas. Quando existe uma assistência em relação a finanças, é mais uma replicação do que o próprio militante fazia no seu núcleo de base, voltando nas tarefas simples e que sempre fazemos.
Essa é a história recente de finanças na UJC e o que me parece de todo o complexo partidário: tarefas simples demais, que rendem pouco e quando conseguimos sair do normal batemos em entraves organizativos da nossa própria base. Visto tudo isso, não consigo pensar em uma alternativa que não seja a criação de um departamento financeiro para a gestão de um fundo soberano do partido e de assistência na implementação de projetos financeiros em todo o Brasil. Na minha visão, esse departamento seria formado por militantes com boa bagagem em finanças, além de militantes que realmente trabalhem com isso.
O por quê um fundo soberano do partido? Essa ideia decorre de outro amadorismo em finanças: misturamos o fluxo de caixa das instâncias, com o ativo não-circulante da organização. Ou seja, misturamos o dinheiro da nossa sobrevivência, com a nossa capacidade de investir. Esse fundo soberano poderia ser criado a partir de cotizações das instâncias para o seu crescimento e manutenção, além da criação de metas financeiras que serão alcançadas a partir de atividades específicas feitas pela base, com o objetivo de ser usado apenas para investimentos em projetos financeiros do partido. Ele funcionaria como um fundo de investimentos, que aumenta com a própria gestão do mesmo, através de suas aplicações. O departamento financeiro é que seria o gerenciador desse fundo, que deve contar com uma estrutura altamente financeirizada. Sim camaradas, em um capitalismo altamente financeirizado é preciso saber aplicar nosso dinheiro em fundos de investimento privados, em criptomoedas (um dinheiro que pode ser usado em transações que não podem ser descobertas e que fique claro para todos a importância disso), em ativos fixos (imóveis), em apostas online, no jogo do bixo, etc, e gerenciar esse fundo como um banco gerencia seus fundos, através de especialistas. Isso não é se iludir que faremos dinheiro especulando (talvez faremos sim), mas é pelo menos, camaradas, uma oportunidade de nos protegermos da inflação, coisa que não fazemos hoje!! É saber que esse fundo precisa estar preparado e organizar nossa profissionalização financeira, para na hora de um fechamento de regime não ficarmos sem dinheiro, vide nosso camarada Glauber Braga que neste momento está com uma dívida milionária na sua conta bloqueada no Banco do Brasil, por uma ordem judicial.
Experiências práticas do Brasil é que me conduzem na ideia em sentido da criação do fundo e do departamento. Uma das experiências mais notórias que podemos nos espelhar no Brasil é o crime organizado. Pode chocar muita gente, mas enquanto não entendermos como uma parcela da classe trabalhadora conseguiu em menos de 30 anos criar as maiores organizações ilegais do mundo, inclusive tendo em suas fundações várias palavras de ordem muito alusivas ao poder popular, não faremos nenhuma revolução, camaradas. Aqui trago a experiência organizativa financeira do Primeiro Comando da Capital, a maior experiência de crime organizado da história no país. É uma organização que não apenas criou uma ideologia do “fazer o certo pelo certo” nas quebradas em todo o Brasil, mas entendeu que sua força estaria na dinâmica de fraternidade (como os Maçons), diferente do Comando Vermelho que tem como filosofia o total controle sobre suas áreas. O PCC, através dessa estrutura de fraternidade, consegue instigar a atividade localmente, dando o aporte para tudo aquilo que os aliados do comando realizam no local. Por exemplo, se alguém no espaço de atuação do PCC quiser de forma independente realizar uma assalto, ele poderá realizar esse assalto inclusive com empréstimo de armas do comando, tendo que devolver o armamento após o furto, sofrendo consequências caso estrague ou perca a arma. O comando acaba sendo mais um apoio externo dos territórios à atividade ilegal, do que necessariamente quem decide o que será feito. Seu comando é mais ideológico do que repressivo. Tanto que em pouquíssimos lugares o uso ostensivo de armas é realizado nos territórios do PCC. Sendo assim, a criação de um departamento partidário com um fundo próprio de dinheiro é muito mais efetivo em instigar a realização de tarefas mais dispersas com aderência na realidade local, como em uma fraternidade igual o PCC, do que o limbo que vivemos hoje em tarefas que descem no supetão ou tarefas da base que são muito simplistas.
Nesse sentido, os membros desse fundo é que poderiam, através da assistência de cada organismo, propor, debater e ajudar, inclusive financeiramente, na implementação de atividades financeiras em diversos lugares do Brasil. A ideia é olhar para um lugar específico e propor juntos aos núcleos o que fazer, ou então receber propostas de projetos locais e prestar ajuda para o demandante. Por exemplo, esse seria o organismo que poderia sentar com o núcleo de Foz de Iguaçu e estudar a possibilidade de comprar itens no Paraguai e vendê-los como tarefa financeira em uma lojinha em São Paulo para o próprio núcleo. Esse seria o grupo que poderia estudar como núcleos perto de fronteiras poderiam vender itens do outro lado da fronteira em dólares, e gerar um aumento de receita através do câmbio. Esse é organismo que poderia analisar financeiramente uma empresa estatal e aplicar dinheiro em ações dessa empresa. Esse é o organismo que poderia ter camaradas que entendam sobre mineração de criptomoedas e realmente minerem criptoativos. Esse é o fundo que na possibilidade da criação de um comércio em algum local, iria viajar (assim como os assistentes viajam para eleições de DCE ou de Sindicato) para ajudar um núcleo na compra, construção e gerenciamento de um ponto comercial, além de toda a questão burocrática envolvendo as prestações de conta para o governo. Esse é o organismo que poderia ajudar um núcleo a criar um ecommerce, e como apoio, pagar uma agência para fazer o tráfego pago dessa página, gerando efetivamente vendas foras do nosso círculo de conhecidos. Esse é o organismo que poderia fazer apostas em jogos de futebol ou no jogo do bixo com o dinheiro do fundo, visando retorno. Esse é o organismo que poderia estudar a viabilidade financeira de diversas tarefas, dar aporte financeiro para núcleos e coordenações, na criação de uma fonte de renda para o local de maneira profissionalizada e ligada à base. Resumindo, é nesse organismo que vai se concretizar a escolha do burguês nas nossas fileiras: sentar com um núcleo de base e estudar a viabilidade financeira de um projeto grande, que poderia ser feito localmente, comparando a taxa de lucro esperada versus a taxa de juros.
É apenas através da escolha do burguês que iremos profissionalizar nossas finanças, pois é assim que se dá por seguinte a acumulação do capital. Assim como Marighella via na guerrilha o gérmen do Exército de Libertação Nacional, vejo no departamento financeiro o gérmen do braço armado do nosso partido. E é a partir do braço armado que podemos falar sobre o elefante branco na sala: a atividade ilegal. Camaradas, as atividades com maiores taxas de lucro são exatamente as atividades ilegais. São tarefas que além de grande taxa de lucro, conseguem ser realizadas com menos militantes, em menor espaço de tempo. Enquanto não avançarmos sobre a aplicação concreta desse tipo de tarefa, não teremos uma verdadeira robustez financeira. Sei que acúmulos sobre isso existem dentro do complexo partidário, mas da minha experiência própria sei que muitas dessas tarefas, ainda que muito raras e pequenas, caem geralmente na divisão racial do trabalho, onde os brancos não se dispõem a realizá-las. Isso demonstra além de uma falta de camaradagem, a revelação da enorme quantidade de piás de prédio que existem entre principalmente os brancos nesse partido: pessoas que amam a imagem de Guevara (mas que jamais fariam tarefas como ele fez), amam ficar famosinhas nos círculos comunistas no twitter, amam postar fotos mostrando como são amigos dos dirigentes famosos e bonitos, mas que no limite do enfrentamento ao direito burguês se acovardam e são racistas. Ou seja, a criação de um setor do partido que possa potencializar atividades desse gênero, passa anteriormente por um debate profundo sobre treinamento em segurança, treinamento com armas, divisão racial e de gênero do trabalho, além do combate ao personalismo dentro das nossas fileiras.
Resumindo, se não temos fundos eleitorais, nem dinheiro vindo de burguês, muito menos uma estrutura digna de avanço, criemos nós mesmos o nosso próprio fundo de investimentos profissionalizado através de um departamento financeiro. A forma como isso será aplicado ou até o controle das instâncias sobre esse organismo é algo a se debater. Mas eu realmente não vejo outra alternativa camaradas, que não seja esta. Essa história de aumentar o repasse para a instância acima não significa nada, nada mesmo, em profissionalização de finanças. Não ousem usar esse argumento, para defender um ponto que hoje tenho acordo, mas que não é nem de perto alguma resposta para o desafio financeiro do partido que vai dirigir as massas na tomada do poder.
Viva o marxismo-leninismo!
Viva a União da Juventude Comunista!
Viva a Reconstrução Revolucionária do PCB!