'Por que não discutimos a China?' (Davi Venâncio)

Não podemos esquecer que a crise não é só interna, mas sim uma crise do movimento comunista mundial, e que para sermos certeiros em nossas posições mediante essa crise, é indispensável discutir a China e os demais países socialistas que atuam em nosso tempo.

'Por que não discutimos a China?' (Davi Venâncio)
"O problema não é a divergência de visões em si, mas a não existência de uma visão unificada do partido a respeito da China."

Por Davi Venâncio para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Componho a militância da UJC há pouco tempo, portanto não me precipitei em fazer algum tipo de análise nas resoluções do partido e nem mesmo irei tentar contribuir para a tribuna com meus entendimentos e leituras sobre a temática. No entanto, é inaceitável deixar essa questão de fora das tribunas de debates – inclusive, foi por não ver nenhuma contribuição sobre essa discussão que decidi enviar  a minha, mesmo que superficial e pouco esclarecedora. Minha intenção é fomentar o debate, incentivar outros camaradas a dissertarem sobre essa questão e, principalmente, fazer com que no processo da reconstrução revolucionaria do PCB a pauta da China não seja deixada de lado; minha contribuição é para que criemos um consenso sobre este problema e para que possamos avançar e tomar decisões certeiras neste momento de crise do movimento comunista mundial.

O que venho notando no partido há um tempo - inclusive antes mesmo de ingressar na UJC – é que não existe um consenso do partido sobre a China. Há uma falta de leitura, discussões e, sobretudo, uma falta de consenso a cerca desta discussão. O PCB não sabe o que é a China, não discute suas relações com o imperialismo – Nem sequer sabemos definir se a China é ou não é um País imperialista. É importante entender que, no processo de reconstrução revolucionaria, se quisermos ser certeiros no que diz respeito a crise do movimento comunista mundial não podemos deixar de fora a discussão sobre a China e suas contradições.

Não podemos deixar a “visão do partido” sobre a China a mercê das leituras e entendimentos individuais de cada militante. É claro que não há problema em divergências sobre a discussão da China, mas antes de tudo, é necessário se criar um consenso sobre a China que englobe todo o complexo partidário. Se pergunto ao militante “A” se a China é ou não imperialista a resposta que obtenho é totalmente contrária se faço essa mesma pergunta ao militante “B”.  O problema não é a divergência de visões em si, mas a não existência de uma visão unificada do partido a respeito da China.

Alguns questionamentos sobre a China

Sem tomar posição e nem trazer reflexões superficiais sobre a China, pois creio que me falta muita reflexão a respeito do tema – inclusive culpo isso não só a mim, mas a falta de discussão dentro do partido – quero levantar aqui alguns dos questionamentos que mais vejo divergência dentro da militância e/ou que não vejo nem se quer alguma discussão sobre isso:

  1. Qual é a estratégia Chinesa hoje, afinal?
  2. A China falhou em Extinguir a burguesia enquanto classe ou isso faz parte da Estratégia Chinesa?
  3. A China realmente quer o fim da burguesia enquanto classe?
  4. Seria a China um país imperialista?
  5. As empresas Chinesas que atuam fora da china beneficiam qual classe social? (E se beneficia o proletariado Chinês de alguma forma, isso acontece com o proletariado mundial ou só o proletariado Chinês importa?)
  6. A aliança da China com países imperialistas – incluindo apoio em conflitos e causas com caráter imperialista, como no caso da Guerra entre Rússia e Ucrânia – significa um giro a direita do Partido Comunista Chinês?

A falta de discussão sobre a China e sua relação com o Giro do PCB no MCI

O que, na minha visão enquanto militante da UJC, não podemos deixar de fora é o entendimento de que essa “não discussão” e a falta de um entendimento coletivo do PCB sobre a China tem uma relação sobre nosso giro a direita dentro do movimento comunista mundial. Por mais que não diretamente, mas a falta de discussão que deveria ser levantada e coordenada pela direção do Partido colabora, em algum nível, a decisões e posições comprometedoras dentro do movimento comunista internacional. O giro a direita começou quando não houve um entendimento concreto, objetivo e coletivo sobre a China e o imperialismo

Não se sabe o que o PCB pensa, como um todo, da aliança do partido comunista da Coreia Popular com o imperialismo russo, por exemplo, e é esse tipo de problema que jamais poderemos deixar de fora se quisermos reconstruir um partido pautado no enfrentamento da atual crise do movimento comunista mundial.

Espero que os camaradas com mais leituras sobre o assunto dissertem mais sobre a questão da China e o MCI, e que, principalmente, não deixemos de fora esse tipo de problema no processo de reconstrução revolucionária do PCB.  Não podemos esquecer que a crise não é só interna, mas sim uma crise do movimento comunista mundial, e que para sermos certeiros em nossas posições mediante essa crise, é indispensável discutir a China e os demais países socialistas que atuam em nosso tempo.