'Polêmica e antipatriarcalismo' (Joel Rogrep)
A finalidade desta ideologia patriarcal não é outra que não a manutenção do regime hierárquico de opressão, que oscila sazonalmente do pai bom para o pai mau enquanto o genocídio negro segue igual.
Por Joel Rogrep para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Um dos sintomas da despolitização realizada pelo pseudo-humanismo — que afirma-se retoricamente pela vida e privatiza presídios — é a domesticação de falar-se sobre política. Literalmente o debate sobre política passou a ocorrer cada vez mais dentro do domicílio, do restrito campo esquerdo das universidades e menos nos espaços públicos. O resultado desta despolitização foi a tomada da política pública pela dinâmica doméstica de poder: radicalmente assimétrica, patriarcal e dotada dos mais asquerosos traços ideológicos.
Para além do tabu do senso comum, condensado no ditado “religião, futebol e política não se discutem”, falar abertamente sobre política foi cada vez mais recalcado pela chantagem mítica-patriarcal que diz que se mostrarmos as falhas do pai/líder, suposto detentor da moralidade e saber supremos, os inimigos virão e acabarão com toda a aldeia. A finalidade desta ideologia patriarcal não é outra que não a manutenção do regime hierárquico de opressão, que oscila sazonalmente do pai bom para o pai mau enquanto o genocídio negro continua igual.
Ver a divergência entre os iguais como perda de força frente ao inimigo é uma ideologia burguesa. Como bem colocou Marx no livro A ideologia alemã: "as ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes”. Tomar o debate franco, guiado pela racionalidade, como algo que diminuiria a coesão de um grupo requer necessariamente partir do pressuposto de que o exercício da racionalidade levará necessariamente ao desmantelamento daquele modo de coexistência. O desmantelamento do regime burguês é a perda de coesão entre a burguesia e a classe trabalhadora e não a perda de coesão da classe trabalhadora consigo mesma.
Urge a criação, em cada território, de espaços de organização e incentivo de polêmicas a fim de reacender o pensamento crítico radical ao espaço público, à classe trabalhadora.
Em favor da polêmica que emancipa e qualifica posicionamentos!
Contra o monolitismo patriarcal!