Plataforma Mundial Anti-Imperialista: coordenação oportunista e anticomunista
A PMAI nega a obra de Lênin, e as organizações que a integram se afastaram do marxismo-leninismo e dos objetivos históricos da classe operária. Esses desvios as levam a declarar Estados capitalistas como “anti-imperialistas”.
Via Orientación Comunista, Órgão Central do Partido Comunista Argentino (PCA)
O Movimento Comunista Internacional está passando por uma clara crise, que se agravou com o início da guerra imperialista entre Rússia e Ucrânia, além dos debates sobre o imperialismo e a questão chinesa. Em meio a esses debates, em 2022, em Paris, é lançada a chamada “Plataforma Mundial Anti-Imperialista”, que mais adiante desmascararemos seu caráter oportunista e anticomunista. O curioso dessa plataforma são as organizações que a compõem: por um lado, organizações praticamente inexistentes, como uma de suas impulsionadoras, a organização sul-coreana Partido Democracia Popular; pela Argentina, o quase inexistente Partido de Libertação (PL); também organizações como Vanguarda Espanhola e sua correspondente Vanguarda Venezuelana, de origem falangista e fascista; assim como partidos comunistas e operários que caíram no pântano do reformismo e do oportunismo, como o Partido Comunista da Bolívia, o Partido Comunista Italiano, o Partido Comunista da Argentina, o Novo Partido Comunista da Iugoslávia; e outras organizações sem qualquer tipo de inserção e meramente cartorárias, como a Unificação Revolucionária da Grécia e a Plataforma pela Independência do mesmo país, que têm uma política de agressão e ataque constante ao partido irmão, o Partido Comunista da Grécia (KKE), especificamente pela internet, já que não têm qualquer relevância na política grega.
O que chama a atenção nas organizações que participam deste fórum é que várias estão em rumo à liquidação, como é o caso do PC da Bolívia ou do PC da Argentina, que, além disso, expulsaram de suas fileiras todo militante revolucionário; também as organizações que se articulam na PMAI costumam ter como política: o seguidismo à burguesia local, a aliança com essa mesma burguesia, uma política reformista e, no plano internacional, suas posições costumam ser de alinhamento a um dos lados imperialistas, como ocorreu na guerra russo-ucraniana; e, por fim, mas não menos importante, todas essas organizações coincidem em atacar o Partido Comunista da Grécia, organização comunista de linha revolucionária mais forte da Europa, e uma das maiores do mundo, com uma estratégia revolucionária clara, com vocação de poder, que luta em todos os fronts possíveis, que tem grande inserção nas massas gregas e que, para o Partido Comunista Argentino, é um farol e um exemplo a seguir. Com essas características, podemos começar a ver o caráter oportunista e anticomunista da Plataforma Mundial Anti-Imperialista (PMAI) e das organizações que a compõem.
Em primeiro lugar, a Plataforma Mundial Anti-Imperialista parte de um “erro” teórico e de um mau uso da expressão imperialismo e anti-imperialismo, o que a coloca no campo do oportunismo. Por não se basear na ciência do marxismo-leninismo, a PMAI caracteriza como imperialismo apenas os EUA e a OTAN, que claramente são imperialistas, mas o traço agressivo e expansionista não é a totalidade da teoria leninista do imperialismo. Lênin, o gênio estrategista da revolução mundial, explica muito bem em suas obras que o imperialismo é a fase monopolista do capitalismo e, como afirma em seu Imperialismo, fase superior do capitalismo, o capitalismo monopolista é a antessala da revolução social do proletariado. Esse capitalismo, diferentemente do capitalismo pré-monopolista, é um capitalismo parasitário, em decomposição e agonizante.
Lênin nos ensina que todos os países estamos inseridos na pirâmide imperialista mundial – ainda que o PC (AP) do Chile, em sua intervenção na PMAI, o negue –, com maior ou menor grau de desenvolvimento, com desigualdades, mas todos os países ocupam um elo dessa pirâmide, já que todos os países capitalistas na era do imperialismo, que têm uma base econômica monopolista, encontram-se na etapa imperialista. A PMAI nega a obra de Lênin, e as organizações que a integram se afastaram do marxismo-leninismo e dos objetivos históricos da classe operária. Esses desvios as levam a declarar Estados capitalistas como “anti-imperialistas”, como Rússia, China, Venezuela ou mesmo países árabes claramente exploradores, como é o caso do Irã, apenas porque se enfrentam contra um determinado centro imperialista, como os EUA, ou um bloco capitalista adversário aos EUA. Isso não significa que sejam anti-imperialistas. A PMAI tira o sentido de classe do termo, distorce a teoria de Lênin e pretende confundir a classe operária, buscando alinhá-la ao campo de uma fração imperialista, como o eixo Rússia-China, afastando-a da luta pela conquista do poder e pelo derrubamento do capitalismo. Se o único critério para a Plataforma Mundial Anti-Imperialista for considerar que qualquer Estado capitalista que se oponha aos EUA em um conflito ou disputa entre Estados ou monopólios é “anti-imperialista”, isso demonstra um desconhecimento da teoria marxista-leninista e/ou uma intenção oportunista e anticomunista de se posicionar sob o Estado burguês enfrentado à OTAN-EUA: uma canalhice!
Nesse sentido, pode-se observar uma parte da intervenção de Jorge Kreyness, do Partido Comunista da Argentina (PCdeA), no último encontro em Atenas, em que dizia:
“Hoje é muito interessante observar como alguns países cujos governos não respondem total ou parcialmente ao mandato do grande capital financeiro estabelecem vínculos de novo tipo entre si e, a partir de seus particulares processos de construção, alguns deles com grandes avanços em desenvolvimento e democracia integral e outros com diversas contradições com os principais centros de poder opressor. Esses espaços conseguem impor limites à voracidade do imperialismo e constituem uma alternativa global. Não necessariamente como vanguarda de um novo modelo de sociedade, embora em alguns casos avancem com estratégias socialistas firmes e mais que exitosas.”
Deveríamos acreditar que Kreyness desconhece os clássicos do marxismo-leninismo ou que conscientemente se posiciona de maneira aberta ao lado de Estados capitalistas, já que, por um lado, afirma que há países com “democracias integrais” ou que não “respondem total ou parcialmente ao mandato do grande capital financeiro” e que conseguem frear o imperialismo. Claramente, essa é uma posição oportunista, pois, repetimos, todos os países estamos inseridos na pirâmide imperialista e, portanto, os países capitalistas enfrentados aos EUA não representam nenhuma “alternativa global”; apenas representam os interesses de certos monopólios e defendem o modo de produção vigente, como Rússia, Irã, Venezuela, Nicarágua, Brasil e demais países que não se alinham ao centro imperialista estadunidense.
Por isso, a posição do Partido Comunista de Argentina é antileninista e busca posicionar a classe operária sob determinados monopólios e sob o poder burguês de certos Estados capitalistas. Por outro lado, também nos resta a dúvida sobre quais seriam os países que “avançam com estratégias socialistas firmes e mais que exitosas”, segundo Jorge Kreyness, porque claramente não estão à vista.
Também vemos que a PMAI, ao se afastar do marxismo-leninismo e, como já anunciamos, adotar uma posição contrária à teoria leninista do imperialismo, faz igualmente uma caracterização errônea sobre os blocos em disputa e sobre as alianças interestatais. Jorge Kreyness resume isso bem quando diz em sua intervenção em Atenas:
“A esperança de um mundo habitável, de paz e segurança para todos, de bem-estar compartilhado, reside hoje nas lutas populares, no papel dos trabalhadores, na construção de forças políticas revolucionárias em cada país e entrelaçadas, e na ampliação e fortalecimento de âmbitos como o BRICS e outras instâncias de buscas semelhantes.”
Claramente, dessa postura oportunista podemos observar várias questões que caracterizam a Plataforma: vemos como depositam sua confiança e esperança em uma aliança interestatal imperialista como é o BRICS; não depositam sua confiança na luta pelo socialismo nem no derrubamento do capitalismo e na instalação da ditadura do proletariado.
Sua esperança reside em determinados monopólios (chineses, russos, indianos e outros capitais que não sejam estadunidenses ou vinculados a esse bloco). Depositam também sua esperança no governo da Rússia, abertamente anticomunista, capitalista e repressivo – além de imperialista. Olham ainda para a Índia, onde a classe operária vive em condições paupérrimas, sob superexploração e na pobreza, e onde os sistemas de saúde desmoronam. E, por fim, colocam esperança no Brasil, um país capitalista em que 67,8 milhões de pessoas vivem na pobreza e 12,7 milhões na extrema pobreza, marcado por uma pobreza estrutural de 40% e por um sistema de saúde no qual a classe operária morre na porta dos hospitais por não ser atendida.
Então nos perguntamos: onde se colocam as organizações que compõem a PMAI? Quais são seus objetivos? Sem dúvida, seus objetivos não são a tomada do poder nem o socialismo, mas sim beneficiar certos capitalistas “anti-imperialistas” – sim, ainda que isso seja um oxímoro. A linha política da PMAI e das organizações que a compõem é extremamente grave para a classe operária, pois, em nome do socialismo, do comunismo e do anti-imperialismo, buscam confundi-la para colocá-la em um papel passivo, como vagão atrás da burguesia.
Por outro lado, a Plataforma Mundial Anti-Imperialista, devido ao seu afastamento do marxismo-leninismo e da teoria leninista do imperialismo, faz uma caracterização equivocada e oportunista sobre a situação internacional e sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia: posiciona-se ao lado dos monopólios russos e chineses nesse conflito pelas rotas de transporte, pelos mercados, pelos recursos naturais e pela mão de obra barata, caracterizando a Rússia como “anti-imperialista” e “antifascista”, quando já explicamos anteriormente as características do imperialismo e por que a Rússia não é anti-imperialista. Ao mesmo tempo, recorre ao uso equivocado do conceito de antifascismo, já que a luta contra o fascismo é abertamente a luta contra o capitalismo que o engendra – e Putin não tem nenhum interesse em erradicar o capitalismo, muito pelo contrário. Um claro exemplo disso é parte de sua Declaração, em sua última reunião em Atenas, que diz:
“Que não importa quem dispare o primeiro tiro em qualquer escalada das guerras que estão sendo incubadas na Coreia do Sul e em Taiwan, os exércitos da RPDC e da China lutarão em uma guerra de autodefesa e libertação nacional.”
Claramente, a Plataforma se antecipa a uma possível escalada bélica entre China e Taiwan, como parte da etapa de guerra generalizada que estamos vivendo e que se acentuará, para colocar a classe operária sob a falsa bandeira da libertação nacional, quando, na realidade, a China, como país capitalista e imperialista, busca apenas maior rentabilidade de seus lucros às custas da exploração da classe operária chinesa e da exploração em países principalmente africanos – e a PMAI quer colocar a classe operária sob uma das frações imperialistas, que, nesse caso, seria a China.
A Plataforma tenta agrupar o que há de mais oportunista no Movimento Comunista Internacional e, somada a outras forças marginais, aproveita a crise do Movimento e a introdução da ideologia burguesa em boa parte dos Partidos Comunistas para arrastar a classe operária junto com os centros imperialistas como Rússia-China ou blocos imperialistas como os BRICS, afastando-a de seu objetivo imediato, que é a revolução socialista.
Por fim, pode-se observar seu caráter oportunista e anticomunista no Programa da Plataforma Mundial Anti-Imperialista, onde primeiro afastam o anti-imperialismo da tomada do poder e da destruição do sistema; no geral, omitem toda linguagem revolucionária, não falam de socialismo nem de comunismo, não enunciam qual é o objetivo imediato da classe operária, que é a revolução socialista. Em seu Programa, a única coisa que mencionam é que os trabalhadores devem apoiar a Rússia, a China e todos os seus países satélites nessa guerra contra o imperialismo estadunidense.
Cabe também mencionar que nesse mesmo Programa cometem vários erros teóricos graves, como, por exemplo, afirmar que a Rússia de Putin é a continuação da URSS e, por isso, não poderia – segundo eles – ser caracterizada como expansionista ou imperialista, mas sim como detentora do direito à autodefesa.
De nossa perspectiva marxista-leninista, devemos enfrentar a Plataforma Mundial Anti-Imperialista, que leva adiante uma política oportunista, anticomunista e claudicante, que busca apenas atrasar qualquer processo revolucionário e se posicionar ao lado da burguesia; e devemos abrir caminho para a coordenação dos revolucionários, com a herança da III Internacional e de seus grandes quadros que engrandeceram o MCI, centrados nos princípios do marxismo-leninismo e que sirvam para fortalecer os destacamentos de vanguarda em cada país.