PF expõe plano de golpe de militares e retoma debate sobre impunidade nas Forças Armadas
Práticas autoritárias enraizadas no aparelho militar brasileiro são herança direta da ditadura empresarial-militar de 1964.
Por Redação
A Polícia Federal (PF) desvendou nesta semana um plano envolvendo militares do Exército e um policial federal na tentativa de realizar um golpe de Estado no Brasil no final de 2022. As investigações apontam que o grupo pretendia envenenar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSD) e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. A operação, batizada de Contragolpe, resultou na prisão de cinco integrantes do grupo, entre eles o general da reserva Mário Fernandes, ex-secretário-executivo do governo Bolsonaro e figura central na articulação do plano. Segundo a PF, os envolvidos monitoraram os passos das autoridades desde novembro de 2022 e participaram de reuniões estratégicas para planejar o golpe, incluindo um encontro na casa do ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto.
De acordo com as investigações, as ações planejadas incluíam não apenas assassinatos de autoridades, mas também a desestabilização das instituições, com ataques ao sistema eleitoral, produção de desinformação e tentativas de manipulação de estruturas do Estado em benefício próprio. Esse caso não é uma exceção na história recente do Brasil. Ele reflete a continuidade de práticas autoritárias enraizadas no aparelho militar brasileiro, herança direta da ditadura empresarial-militar de 1964. A conivência histórica de setores das Forças Armadas com movimentos golpistas se manifestou novamente durante a intentona fascistóide de 8 de janeiro de 2023, quando militares e policiais assistiram complacentes à invasão das sedes dos Três Poderes por extremistas bolsonaristas.
Ainda que o alto comando militar, até onde se sabe, não tenha dado ordens explícitas para o golpe, sua permissividade consciente e o silêncio em momentos decisivos indicam que a estrutura atual das Forças Armadas continua sendo um obstáculo para a classe trabalhadora no Brasil. Após a tentativa de golpe de 8 de janeiro, a punição de golpistas tem sido seletiva e insuficiente. Enquanto pequenos depredadores foram presos, figuras do alto escalão militar e seus financiadores seguem sem responsabilização efetiva. No Senado, projetos de lei, como o de autoria do general Hamilton Mourão, tentam garantir anistia aos envolvidos.
Esse cenário remonta ao pacto de silêncio da transição democrática dos anos 1980, que concedeu anistia a agentes da ditadura. É imprescindível romper com essa tradição de impunidade para garantir que militares golpistas sejam afastados e julgados, sem privilégios ou tribunais militares que funcionam como escudos corporativistas. A estrutura militar ainda carrega vestígios da doutrina de “Segurança Nacional” e promove uma burocracia hostil à soberania popular.
É necessário o desligamento de militares golpistas, o julgamento de crimes contra civis por tribunais populares e a revogação de benefícios e privilégios herdados da ditadura empresarial-militar. Apenas uma agenda clara de expurgo militar pode impedir que o Brasil seja refém de novas tentativas autoritárias. O governo, o Judiciário e os movimentos sociais devem avançar na responsabilização dos golpistas. É hora de dar um basta à impunidade histórica e romper definitivamente com o legado autoritário que ainda assombra o Brasil.