'Pelo acesso a nossa história: pela ampliação de nosso passado' (Gus R.)
Somente conhecendo nosso próprio passado, nossa história, que poderemos desnaturalizar as estruturas que temos hoje e poder finalmente avaliar qual é a sua real serventia, avaliar as formas em que atuamos e finalmente conhecer o que devemos mudar em nós.
Por Gus R. para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Camaradas, escrevo essa tribuna trazendo um ponto que pouco vi ser discutido até o momento: a necessidade de termos fácil acesso à nossa história e ao nosso desenvolvimento ideológico ao longo das décadas enquanto Partido Comunista.
Desde que me radicalizei e optei por pesquisar um pouco da história do PCB para a minha pesquisa de conclusão de curso, me deparei com um problema que já imaginava que teria: o difícil acesso à documentação do partido e de sua história.
Pensei que esse seria o caso com a documentação durante o período ditatorial, onde em decorrência da situação extraordinária (ou nem tanto, visto a nossa longa história de ditaduras), seria compreensível a perda de documentos de nossos congressos, conferências, cartas e etc. Também imaginei que, ao menos em nosso antigo site, ainda sobre o domínio do PCB-TSE/Xandão/CC, ou seja, lá qual for sua nova (ou velha) face, teríamos o amplo acesso a maioria de nossa história.
Como se pode imaginar, me surpreendi em ambas situações, pois no Marxists há uma lacuna gigantesca na nossa documentação, possuindo apenas algumas poucas de nossas resoluções congressuais, e dentro do próprio site oficial do partido não há quase nenhuma documentação de antes de 2007, contando apenas com alguns documentos cá e lá.
Apesar de aparentar que levanto esse questionamento a partir de um problema individual, acadêmico e que talvez não seja relevante ao todo, camaradas, lhes pergunto: Por que não devemos aprender a nossa história?
Reconhecemos que o partido, durante boa parte de sua vida, foi marcado profundamente por análises “etapistas” de nossa realidade, se apropriando de forma completamente acrítica das análises da Comintern (que quando não o fez, foi diretamente interferido por ela) e do antigo Partido Comunista da União Soviética.
Sabemos que desde a tentativa de dissolução do partido na década de 90, só continuamos a existir pela aliança entra as tendências da reconstrução revolucionária e aquelas ditas “pcbistas”. Também sabemos que o fruto de nossa cisão hoje, se deu justamente pelas contradições já inconciliáveis dessas duas alas frente aos nossos desafios atuais.
Apesar disso, lhes pergunto se realmente sabemos quais foram os sinais disso? Realmente sabemos de que forma essas tendências, análises etapistas ou rebaixadas se traduziram em nossa política? Realmente somos capazes de entender quais foram nossos erros?
De que forma podemos compreender como nascemos enquanto movimento comunista, senão pela leitura de nossos primeiros passos? De que forma podemos entender a nossa incapacidade (ou até falta de preocupação) em analisarmos a realidade brasileira do passado e de hoje, senão pela leitura de nossa política? De que forma podemos entender qual foi o debate, a luta interna travada no nosso seio, sem termos acesso às tribunas, às nossas conferências, ou quaisquer outros documentos importantes nossos?
Camaradas, como podemos querer corrigir nossos erros e querermos avançar, sem termos um estudo de fato de nossa própria história? Como podemos entender o que gerou nossos erros, acertos, equívocos ou faltas sem termos acesso ao que nos fez o que somos hoje?
Não importa sob qual sigla, símbolo ou nome lutemos, porém, nos importa profundamente conseguirmos entender como chegamos aqui, de que modo nosso passado realmente influenciou e influencia na forma que somos hoje. Nos importa entender nossas limitações, nossos erros, os vícios que nunca superamos e os acúmulos do nosso passado que nunca de fato repassamos.
Somente conhecendo nosso próprio passado, nossa história, que poderemos desnaturalizar as estruturas que temos hoje e poder finalmente avaliar qual é a sua real serventia (como é o caso da UJC e o debate de sua dissolução), avaliar as formas em que atuamos e finalmente conhecer o que devemos mudar em nós.
Por essa razão, eu faço um pedido: que finalmente ampliemos o acesso à nossa história, que finalmente tenhamos a capacidade de facilmente encontrar os documentos que nos marcaram e constituíram, pois somente poderemos construir o novo, quando entendermos o que constitui o velho.