'Pela volta dos "aparelhos" do partido' (Carlos Chaves)

Por Carlos Chaves para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Com essa tribuna quero retomar um acúmulo logístico muito usado por nosso partido mas também por outras organizações e pela classe trabalhadora no geral que avalio ser de grande potencial para o avanço do PCB nos diversos Brasis, especialmente no Brasil profundo.

Sobre a necessidade de uma sede incrível

Eu sei camaradas, sei que o momento é de crise, incertezas e que mal temos recursos para o cumprimento de algumas tarefas básicas mas, a despeito disso, coloco como horizonte que devemos nos organizar, a médio prazo, financeira, logística e organizativamente para que, pelo menos, toda capital uma sede. E que essa sede não seja apenas um espaço com estrutura precária para armazenamento de materiais para atos mas sim, que seja um instrumento vivo de nossa organização no sentido de socialização (de acúmulos e afetos) mas também espaço para realização de finanças, lançamentos de livros, organização da cultura, etc.

Nesse sentido, defendo uma concepção de sede que vá além da que tivemos nos últimos anos na organização, que era um certo "contentamento com a mediocridade devido à constante crise", a lógica era a seguinte: tudo está difícil, nossa organização e o capitalismo como um todo está em crise, logo, é o que tem pra hoje. Dessa forma, seguimos tendo uma sede muito aquém das necessidades da maioria dos núcleos, não conseguimos ter um local centralizado para logística de produtos internos na maioria dos Estados e o pior, não nos planejamos para que fosse feito.

A necessidade de uma sede limpa, com toda estrutura (eletricidade, encanamento, acomodação) funcionando vai além da simples organização, tem funções políticas e ideológicas, de identificação de nossa base e recrutamentos com um espaço onde se sintam minimamente confortáveis e acolhidos, da demonstração dos comunistas como pessoas capazes de organizar de forma superior (no sentido de planejamento, execução, acolhimento de críticas) inclusive os espaços materiais e não somente as ideias. Leve o tempo que levar, deverá estar em nossos planos a criação de sedes que não sejam simplesmente improvisos, espaços precários para guardar materiais inutilizados… Sedes que realmente sejam expressão de nossa identidade comunista, que possam servir para tarefas, etc.

Mas apenas sede NÃO BASTA!

Pela volta dos "aparelhos" do partido

Na história do partido, principalmente durante a ditadura, nas entrevistas de quem foi perseguido e sobreviveu ou nos registros de outros há a menção de "casas aparelhos" do partido, essas casas tinham um papel essencial de abrigar militantes e materiais nos períodos em que o partido encontrava-se na ilegalidade. Voltando mais no tempo também encontram-se registros de jornais, gráficas, editoras que seriam aparelhos do partido, ou seja, organismos não formalmente do partido mas que contribuíram com sua difusão, logística, propaganda e funcionamento.

Até pelas diferentes funções alguns desses aparelhos eram tocados diretamente por militantes enquanto outros, de menor complexidade, podiam ser de "amigos do partido", outra prática que infelizmente foi se perdendo. Atualmente o partido atua como um círculo voltado para dentro, com poucas ramificações, com praticamente nenhuma indicação de atividades e/ou tarefas que pessoas que estão buscando contribuir mas não são (ainda) militantes possam executar, quando muito sugerimos que as pessoas façam circulismo mas o compromisso de um "amigo do partido" pode ir muito além da simples transferência monetária.

Por que criar aparelhos mesmo na legalidade do partido?

Uma pergunta que naturalmente surge é: por que ter aparelhos se o partido é legal?

Uma primeira resposta é: o partido é legal por enquanto. Nossa história mostra que sempre que ameaçamos o poder a ilegalidade do partido é facilmente conseguida pela burguesia, e é no período da legalidade que devemos nos preparar para a atuação na ilegalidade.

Uma segunda resposta, para mim, até mais importante é: há muito potencial perdido, os aparelhos já existem, eles só não são devidamente planejados, o partido não incide sobre eles para garantir seu funcionamento adequado, gerando desvios.

Consolidação de uma política de aparelhos do partido

1 - Sondagem: O primeiro passo deve ser saber TUDO o que está disponível por sua militância, começaremos pela sistematização dos círculos internos, depois poderemos expandir para círculos mais amplos, etc.

• Quantos camaradas possuem uma garagem sem uso em suas casas?
• Quantos camaradas possuem quartos ou casas não ocupadas que podem receber camaradas?
• Quantos camaradas possuem espaços de armazenamento que podem ser usados?
• Quantos camaradas possuem terrenos ou salas não utilizadas?
• Quantos camaradas possuem empresas? Quais os ramos de atuação? Há formas de cooperação entre outras empresas de outros camaradas do complexo?

2 - Avaliação: Após a realização dessa sondagem inicial, devemos destacar camaradas, por regiões, para avaliar os diversos potenciais aparelhos, fazer registros, pensar sobre possíveis usos dos espaços, identificar a dinâmica de horários de utilização (p.e.: entrada e saída, viabilidade de transporte, etc).

3 - Classificação: O camarada destacado para executar a avaliação deverá produzir sínteses para que a instância correta possa pensar em seus usos. Essa instância deve classificar os diversos locais como aparelhos legais ou ilegais, restritos ou públicos.

4 - Funcionamento: definidas as funções dos diversos aparelhos, deverá ser combinada e produzida documentação sobre o funcionamento de cada aparelho, em conjunto com o proprietário e outros camaradas, questões como: possíveis aluguéis, tempo para realizar reserva, telefones para contato, etc, devem constar explicitamente nessa documentação, é ela que será enviada a militantes que precisem usar o aparelho em algum momento.

5 - Balanço: a cada 3 meses deverá ser realizado um balanço entre o proprietário do aparelho e algum camarada do partido, buscando reavaliar os termos de uso, dinâmica etc.

6 - Prospecção: A cada 3 meses devem ser sondadas todas as instâncias do partido na busca por mais aparelhos, pensando na renovação de quadros que há na organização e nas mudanças de dinâmica de vida des camaradas

Por que investir tempo e organização em aparelhos e não somente em propriedades diretas do partido?

O primeiro ponto para responder essa questão é: dinheiro, no caso, a falta dele. É óbvio que seria ideal que em cada bairro houvesse uma sub-sede do partido, um centro de distribuição de panfletos profissional e bem organizado, mas enquanto isso não se concretiza, ter os aparelhos pode permitir com que os trabalhos sejam executados mesmo com gastos consideravelmente menores.

Potencial de ramificação para "o fundo dos Brasis", por muitos motivos bem todo local vai poder abrigar uma sede do PCB-RR, isso não deve signicar que não devemos nos planejar para, no mínimo, termos locais onde possam ser realizadas reuniões, guarda de alguns materiais, etc. Conseguir sondar os possíveis aparelhos do partido pode ser o passo inicial de trabalho em diversos locais que queremos atuar, especialmente na periferia. Sabendo onde podemos ter jornais armazenados, materiais para lambes, panfletos etc… É possível planejar de forma muito melhor as tarefas.

Criação de uma relação mais positiva entre militância/base com o partido, atualmente nossa relação é bastante negativa, sempre vamos em resgate ao Partido mas não há nenhum mecanismo de reconhecimento no sentido oposto, das necessidades materiais que os militantes possam ter e em como o partido pode contribuir para solucionar de forma que seja bom para ambos (p.e.: um militante pode ter um cômodo em sua casa que não consegue usar de forma adequada por um problema de goteira, infiltração de água, etc, o partido pode propor a utilização do cômodo como aparelho e contribuir com a reforma).

Peço que mais contribuições sobre o tema sejam enviadas, se tiverem críticas fiquem a vontade também.