'Pela expulsão do PCB!' (Joel Rogrep)

Um partido não tem os recursos do aparelho estatal para promover uma reeducação forçada contra o individualismo e a mesquinharia sob os quais fomos criados. Mais do que isso, tais inclinações ideológicas só podem ser superadas plenamente em um outro modo de produção.

'Pela expulsão do PCB!' (Joel Rogrep)
"Entender esta cisão como uma expulsão daqueles que renegaram princípios organizativos revolucionários faz com que este laço de trabalho, que por hora se chama Reconstrução Revolucionária, seja compreendido não como uma reivindicação frente ao velho PCB e seus seguidores, mas como uma admissão dos nossos limites em reeducar aquelas e aqueles que não conseguiram assumir por completo a radicalidade do marxismo-leninismo."

Por Joel Rogrep para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Construir um partido revolucionário requer arregimentação, formação, mas também depuração. A depuração é a retirada de pessoas de dentro da organização. Falar nestes termos frente à ínfima quantidade de pessoas que adentram aos partidos leninistas pode soar despropositado. Mas tão importante quanto o crescimento numérico é a possibilidade de realização do trabalho no sentido necessário.

Um partido, mesmo um partido leninista, não é mais que um subconjunto da sociedade, onde todos seus membros foram e são formados sob as condições infraestruturais neoliberais e, portanto, tem sua capacidade de pensamento, sua subjetividade, acossadas pela ideologia do seu tempo.

A possibilidade de formação praxiológica, que apresenta uma teoria de maneira advertida da ação que ela pressupõe e apresenta uma prática advertida do seu embasamento em uma visão específica do que é a realidade, encontra seu limite nas possibilidades materiais do partido em oportunizar que uma pessoa ponha em questão de maneira materialista suas convicções.

Um partido não tem os recursos do aparelho estatal para promover uma reeducação forçada contra o individualismo e a mesquinharia sob os quais fomos criados. Mais do que isso, tais inclinações ideológicas só podem ser superadas plenamente em um outro modo de produção.

Tudo o que um partido pode fazer é manter-se aberto a receber e dialogar com as posições sintomáticas de seus membros enquanto estes supõem que o partido concentra um saber e um poder sobre o que a pessoa deseja, que detém algo fundamental para a realização do seu próprio desejo de libertação. Depois que alguém desvincula-se ou mostra-se indisposto a vincular-se aos princípios organizativos e o projeto político do partido, que já não supõe o partido como detentor de um saber fundamental nem assume para si a responsabilidade de trabalhar na construção deste saber e passa a agir contrariamente ao métodos e princípios partidários, não resta alternativa que não a expulsão desta pessoa.

Não é justo exigir que uma organização política, um conjunto de trabalhadoras e trabalhadores, seja sempre capaz de orientar e reorientar toda e qualquer pessoa independentemente das condições materiais que esta organização dispõe. A lógica anti-punitivista encontra sempre seu limite nas condições materiais de responsabilização da pessoa que erra.

Nesse sentido, entendendo que a militância que permanece vinculada aos detentores formais da legenda do PCB ou abandonaram ou nunca se vincularam ao marxismo-leninismo. É fato que não fomos nós os expulsos, mas sim eles. Entender esta cisão como uma expulsão daqueles que renegaram princípios organizativos revolucionários faz com que este laço de trabalho, que por hora se chama Reconstrução Revolucionária, seja compreendido não como uma reivindicação frente ao velho PCB e seus seguidores, mas como uma admissão dos nossos limites em reeducar aquelas e aqueles que não conseguiram assumir por completo a radicalidade do marxismo-leninismo.

Fundar um novo laço de trabalho, mais fiel aos aprendizados das experiências revolucionárias, requer não abrir mão de depurar o partido sempre que necessário. Mas tão importante quanto não cair numa relutância covarde, que deixe de aplicar princípios por medo da pecha de sectarismo autoritário, é reconhecer quais são nossas possibilidades em promover uma educação revolucionária através dos nossos princípios organizativos em favor da valorização da responsabilização em detrimento da punição.