'Partido dos Palmares, por que não?' (Abel Alves)
O partido não se deve chamar Palmares, por mais justo que seja a tentativa de trazer o movimento comunista a realidade brasileira, esse nome poderá não trazer ao partido a imagem que realmente almeja ou então ele terá de repensar suas prioridades e figura.
Por Abel Alves para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Em vista recente aos debates abertos, a respeito do novo nome do RR, surgiu um famigerado que estourou a bolha dos debates e chegou em peso nas redes sociais. O Partido dos Palmares. Esse nome foi capaz de dividir e questionar alguns militantes do movimento, de por que sim ou por que não? Devido ao estouro de bolha o tópico chegou até a figura do autor desta tribuna, ele - ou eu no caso - que em suma nem é do RR e que se motivou a escrever esse material em recordação aos tempos que se escreviam críticas construtivas entre figuras, partidos e movimentos.
O título desta tribuna é apelativo e contraditório de forma proposital, a fim de chamar a atenção para o texto e buscando a contribuição no debate. A resposta - ao menos a minha resposta pessoal, obviamente de minha análise e que corresponde igual a de alguns colegas meus, esses sim do RR - de forma direta é de que não, o partido não pode ser chamado de Partido dos Palmares, Partido Comunista dos Palmares ou qualquer outro nome promovido por Nicolas CF. Isso de forma alguma deve servir de ataque a Nicolas ou a qualquer um que pense semelhante dele, afinal tudo o que foi feito fora apenas a exibição de uma ideia, algo justo.
Mas por que não chamar Palmares? Respondendo diretamente ao ponto central das discussões: É necessário compreender inicialmente que todo nome representa os ideais e o projeto de algo ou alguém, por essa linha é possível compreender que o autor do texto base 'O novo nome do partido deve ser Palmares' usou da visão de uma necessidade, a necessidade de “abrasileirar” o movimento comunista, além de que o nome Palmares daria junto a concepção de resistência. Dentro dessa ótica Nicolas não está ao todo errado, mas ao mesmo tempo é necessário que se vejam todos os lados deste cubo. Como escrito no início desse parágrafo “É necessário compreender inicialmente que todo nome representa os ideais e o projeto de algo ou alguém, [...]”, portanto é válido lembrar que o nome Palmares é atrelado a um movimento e a uma resistência histórica desse país, a luta do povo preto, por essa lógica CF apresenta seu ponto alegando que, parte de “abrasileirar” esse movimento significa se conectar com a classe trabalhadora desse país, que em sua maioria é negra. O problema desta lógica é que ela que irreleva essa consequência da ideia de se associar o partido ao movimento negro, afinal isso então deveria trazer aos debates do partido como pauta principal qual movimento? A imagem, os líderes provisórios, as lutas, as tribunas, os materiais, as candidaturas, tudo o que engloba o partido deveria estar ligado a imagem de qual movimento? O nome, por um exemplo, de Partido Comunista dos Palmares comunica a imagem de que é um partido comunista do movimento negro e aí cabe o questionamento: Esse partido será integralmente ligado ao movimento negro?
Dentro desse mesmo debate, a questão de “abrasileirar” o movimento comunista, que reforço é um debate extremamente válido e uma necessidade extremamente válida, me levou a refletir sobre por que não o Partido Comunista de Pindorama? Porque assim como era visto que Palmares se ligaria diretamente ao movimento negro, o Pindorama então irá se ligar diretamente ao movimento originário. Veja, o ponto não é que o RR não lutará por negros ou por originários, mas sim se o RR lutará integralmente por essas pautas, o nome é uma das comunicações centrais de um partido ou movimento, pois então um nome dúbio ou de difícil interpretação pode confundir justamente aqueles que você quer atrair. É justo e necessário sim que se pense em um nome e um partido que dê uma cara nova ao movimento comunista no Brasil e que não seja dependente da antiga imagem européia, mas para isso será necessário que vocês, camaradas do RR, debatam profundamente sobre qual será essa a imagem e o nome. Dentro de tudo isso, quando é dito a respeito das figuras, se é necessário entender que as “figuras” trabalhadas neste texto são das lideranças provisórias e quadros militantes da Reconstrução Revolucionária, que são em partes pessoas brancas, não negando a existência de quadros não brancos nesses meios. Não pensem nessa menção como uma menção voltada prioritariamente para a identidade, também é, mas prioritariamente voltada para o “entender” da comunicação, como pode o Partido dos Palmares ter em suas representações pessoas majoritariamente brancas. O que isso comunica? Voltamos ao dúbio? De certo modo já seria estranho ao olhar do todo, mas justamente com a proposta de Palmares não seria somente estranho, mas também hipócrita.
Voltando ao início, foi comentado nesta tribuna da repercussão que o trabalho de Nicolas CF teve nas redes sociais, o perceptivo de toda a situação foi a reação social de diversos camaradas ao atacar o indivíduo e não a ideia, ao atacar Nicolas por um perfil de identidade e não a ideia, ao atacar um efeito e não a causa. Dentro da concepção de quem escreve neste momento, a falta de olhar aprofundado nesse debate que CF e outros podem ter tido não são diretamente suas culpas, mas são sim uma abertura de reflexão para rever como o partido tem tratado a questão racial e suas formações. O debate sobre raça e racismo é extremamente profundo e por isso se faz passível a ideia de que o ocorrido possa ser fruto justamente do não aprofundamento do tema. O ataque não deve ser a Nicolas, mas sim a uma sociedade que não tem em seu seio, como um mínimo, a abertura para o aprofundar esse debate, elemento esse que aparenta sempre ter sido um dos pilares do RR, a comunicação e o diálogo.
Concluo essa tribuna reforçando aqui os pontos principais apresentados: O partido não se deve chamar Palmares, por mais justo que seja a tentativa de trazer o movimento comunista a realidade brasileira, esse nome poderá não trazer ao partido a imagem que realmente almeja ou então ele terá de repensar suas prioridades e figura; além de que dentro de debate como esses o ataque não deve ser direcionado ao ser e sim a ideia e raiz que gerou essa ideia como seu fruto. É necessário compreender as relações sociais e as relações que nos trouxeram a este tópico, assim como será justo rever como tem sido tratada a pauta racial nas formações dos militantes. Encerro esse texto por aqui, de maneira mais informal, na esperança de ter contribuído com um debate de um dos partidos nos quais vejo de fato o engajamento na luta pela transformação dessa sociedade.