'Para escrever a História' (William Fogo)
E apenas agindo de forma mais rápida possível, direta e acertada que vamos impor as medidas que transformarão a sociedade brasileira, feita por e para a maioria do nosso povo. A verdadeira construção do poder popular.
Por William Fogo para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Nunca existirá uma receita para se fazer uma revolução, nem mesmo o capitalismo deixará de existir espontaneamente. Esses são processos imprevisíveis que muitas vezes surgem de fatos isolados. Construir as condições para um processo revolucionário exige robusto trabalho prático e teórico anterior da militância organizada em conjunto com os diferentes setores da classe trabalhadora, representando os interesses das parcelas mais oprimidas pelas injustiças diárias do capitalismo brasileiro. Porém, temos o dever e a responsabilidade de tensionar o início de uma reação incontrolável que transformará radicalmente toda a realidade que nos cerca, não nos limitando somente ao acaso de dirigir a construção de um mundo novo.
As contradições do capitalismo se acumulam em níveis insuportáveis, mas são difusas e abstratas para a maioria da nossa classe. Perante essa constatação, é preciso definir focos de atuação de forma estratégica para que os diversos interesses, nas mais distintas frentes de ação, sejam sempre os interesses da maioria explorada da sociedade. Devemos fazer uma defesa intransigente das necessidades dos nossos enquanto expomos a crítica radical de tudo que existe hoje. Que sejam nas lutas de cada sindicato popular, nas assembleias de bairro, pelo fim da guerra as drogas, que seja com a juventude lutando por melhorarias na educação, pela luta por direitos e liberdade das pessoas LGBTQIAP+, pela ampliação do SUS, pelo passa livre no transporte, pela construção de moradia, pelo fim da crise humanitária das pessoas sem teto nas metrópoles, que seja pelo aumento dos salários, que seja pela diminuição do tempo de trabalho, pela legalização do aborto, pela demarcação de terras indígenas, pela reforma agrária popular, etc. E talvez seja impossível estar totalmente a par de todas, mas que possamos ter entendimento, integrar e construir elas o máximo possível sempre.
Simultaneamente, precisamos apontar as limitações das propostas dos campo social-democrata e social-liberal e, principalmente, desnaturalizar o capitalismo e questionar cada vez mais o poder da burguesia, fazendo contraposição frontal e diária aos representantes de discursos oportunistas, conservadores, reacionários e liberais de instituições como as Polícias Militares, Poder Judiciário, alto comando das Forças Armadas, União Brasil, Partido Liberal (PL), Partido Novo, Progressistas (PP), PSDB, Partido Novo, Republicanos, Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), MBL, Instituto Millennium, Instituto Mises Brasil, Instituto Liberal, Students for Liberty Brasil, RenovaBR, ou burgueses que são acionistas de empresas porta-vozes dos parasitas da classe dominante, como Grupo Globo, Grupo Folha, Grupo Estadão, Grupo Bandeirantes, Editora Abril, ou das empresas que sustentam todo o sistema capitalista brasileiro e especulam e lucram com as nossas desgraças diárias como Itaú Unibanco, Bradesco, Santander, XP Investimentos, BTG Pactual, B3, as empresas que destroem os nossos biomas e os territórios indígenas como a Vale, JBS, BRF, Marfrig, Cargill, Bunge, além de outras empresas privadas nacionais e estrangeiras como Amazon, JPMorgan Chase, Coca-Cola, Apple, SaudiAramco, Goldman Sachs, Ford, Microsoft, Nestlé, ExxonMobil, Bank of America, Facebook (Meta), BHP, Bayer, Samsung, P&G, McDonald's, Walmart, Unilever, Royal Dutch Shell, Volkswagen, Johnson & Johnson entre dezenas de outras que roubam as riquezas que produzimos há décadas para o centro do sistema capitalista, mantendo nossa dependência e se aproveitando do nosso subdesenvolvimento.
Organizar o máximo possível de pessoas - e não a maioria - criando uma preparação teórica e prática, em uma conjuntura desfavorável é um fator maior de dificuldade para a construção da revolução e da tomada do poder. Contudo, devemos planejar a nossa atuação, preparar a militância em seus diferentes contextos para agir com rapidez em cenários dinâmicos, mantendo a nossa linha política e a unidade de ação. Deste modo, podemos nos antecipar aos comportamentos de outros atores que buscam a manutenção do poder vigente e da ordem atual das coisas, assim como de agentes externos imperialistas que intervirão quando seus investimentos forem ameaçados.
Estando minimamente preparados, devemos "dar a cara a tapa" e, concomitantemente, estarmos munidos de táticas defensivas. Basta eles "acertarem o primeiro tapa" que a razão deles começará a se desfazer (nunca para todos, pois o combate à ideologia da classe dominante é algo que precisa de um enfrentamento constante e profundo que não cabe discutir nessa tribuna). Esse é o momento em que as cortinas caem e a contradição do verdadeiro papel das PMs são expostas. Esse é o momento de tensionar a disputa, intensificar a presença, nos informar e controlar as narrativas frente aos ataques, difamações e resistências desse conflito.
Para sermos vanguarda e conduzir um processo revolucionário é essencial conquistar as ruas e a legitimidade do povo, sabendo que isso nunca ocorrerá de forma automática. Para isso, precisamos nos comunicar com as massas, usar as brechas da sociedade burguesa, calcular os custos de desafiar o poder estabelecido, sem nos expor irresponsavelmente. Também é sumariamente importante estar junto de forças aliadas do campo revolucionário previamente estabelecidas. E se elas não estiverem lá, nós precisamos estar. Assumindo a responsabilidade de convocar e organizar assembleias, atos e manifestações e atuar para além delas.
Para isso devemos ser insubordinados e irredutíveis em relação ao nossos opressores. Não podemos fazer reuniões com a Polícia Militar ou com órgãos de justiça para entregar um roteiro da manifestação, descrevendo horário, local, trajeto e nome das entidades e militantes envolvidos. Eles já possuem essas informações, se não tiverem eles conseguem extrair por outras formas, não precisando de justificativas legais para minar, reprimir e até mesmo tentar se infiltrar em nossas fileiras para tentar deslegitimar nossas ações. Esse é o momento de agirmos e nos preparar na clandestinidade, prezando pela nossa preservação e a continuidade da luta. Temos que saber o que fazer em caso de repressão de manifestação pacífica, temos que saber o que fazer em casa de atuar na defensiva, temos que saber o que fazer em uma contraofensiva definitiva - que não recuará enquanto os inimigos da nossa não deixarem o poder.
Em meio a um cenário de conflitos abertos, de brutalidade policial e da criminalização dos movimentos revolucionários, haverá o momento de combate direto nos ambientes urbanos e rurais contra as forças de segurança da burguesia como contra Batalhões de Choque, Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (ROCAM), Batalhão de Ações Especiais da Polícia (BAEP), Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (ROTA), Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE), Comando de Operações Especiais (COE), Polícia do Exército (PE) e por fim até mesmo parcelas das Forças Armadas. Eles levarão alguns dos nosso para a prisão, vão nos torturar e até mesmo irão nos assassinar covardemente como geralmente fazem desde os tempos coloniais. A questão é que sempre estivemos sob ameaça constante caso saíssemos da linha, seja de forma direta ou indireta.
E apenas agindo de forma mais rápida possível, direta e acertada que vamos impor as medidas que transformarão a sociedade brasileira, feita por e para a maioria do nosso povo. A verdadeira construção do poder popular. Por isso, devemos forçar um avanço, uma superação, dentro das atuais condições históricas e materiais no nosso país. Essas que levarão a uma série de reações em cadeia, de novos processos imprevistos que determinarão mutuamente a realidade material e, consequentemente, a transformação da realidade. Que desestabilizará o poder hegemônico da burguesia. Essa revolta que buscará superar as injustiças históricas de uma sociedade que nós coloca uns contra os outros.
Temos a oportunidade de sermos as vozes que reverberam os ecos daqueles que lutaram pela liberdade antes de nós. Vozes que foram sufocadas brutalmente pela escravidão, pela fome ou pela repressão, mas que continuam a ressoar e gelar a espinha de cada explorador. As vozes dos indígenas, as vozes de Palmares, dos malês, dos cabanos, da balaiada, dos abolicionistas, dos marinheiros que não aceitavam mais as chibatadas, dos caboclos do contestado, dos trabalhadores grevistas e dos que lutaram contra a ditadura militar. Apenas assim poderemos aproveitar as raras oportunidades históricas que se abrem sem avisar ou anunciar. Sejamos os escritores da nossa própria História. História que será escrita no ritmo do samba, do funk, do forró, do axé, do brega, do sertanejo e do carimbó. Tudo ao mesmo tempo em uma tempestade perfeita!