'Os erros da ala direita que não podemos repetir' (G.L.R.)

Escrevo, e me disponho a construir a RR com tudo que posso oferecer, na profunda esperança de que conseguiremos reerguer o PCB do mormaço que se encontra desde o século passado.

'Os erros da ala direita que não podemos repetir' (G.L.R.)
"Não podemos reproduzir o mesmo erro da direita, porque ninguém da base nunca soube a linha de Mauro Iasi, Sofia Manzano, etc"

Por G.L.R., para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Desde que todo esse debate sobre o nosso Partido foi desencadeado pelos camaradas do CC, muitos de nós fomos tomados por um sentimento misto de tristeza, frustração, mas também expectativa. Expectativa porque, se você é militante da nossa organização há bastante tempo em um estado como São Paulo, você sabe que a maior trava para nosso avanço coletivo, o maior atraso do nosso trabalho e a maior causa de afastamento e da quebra dos melhores quadros, não é falta de disciplina ou algum espantalho que levantam, mas sim, a própria organização. Ou melhor, o espírito de cúpula e o burocratismo que toma as direções da nossa organização.

São Paulo é um exemplo claro disso, e tenho certeza que outros estados possuíam situações similares. Aqui, ser um militante de base, seja da UJC ou dos coletivos, é saber que quando você sobe uma crítica, você está pisando em cacos de vidro. Aqui, ser um militante é ver vários camaradas “importantes” na nossa organização em um ato, ou representando nosso Partido em uma mesa, e saber dos casos de assédios, dos casos de racismo, sem poder fazer nada, porque se fizer, quem vai ser perseguido e tomar um PD é você. Aqui, é normal você ver um(a) excelente camarada, referência em seu local de atuação, que se fecha cada vez mais em relação a militância porque está “queimado(a) com o Partido”. O que temos em São Paulo não é, e nunca foi, uma organização leninista. Temos um círculo de seita que tomou as direções da nossa organização, que não tem nenhum respeito pelo centralismo democrático, que escolhe a dedo quem dos coletivos e da UJC vai receber a graça divina (ou melhor, a graça do CR) de ser recrutado para o Partido.

Em São Paulo, é importante reiterar, nunca fomos um partido comunista. Apesar dos esforços imensos dos militantes de base, que hoje infelizmente estão divididos nos dois lados da disputa partidária, a estrutura burocrática do PCB-SP nunca nos deixou ser, de fato, um partido leninista. Somos um círculo, quase uma seita. Temos mecanismos democráticos de debate e de eleição de quadros que representam as bases, mas esses mecanismos são minados pela prática do CR de perseguições e seletividade. Afinal, é muito injusto termos uma das maiores referências políticas no estado de São Paulo expulsa de sua instância de direção — fazendo a disputa interna, sem expor publicamente suas opiniões —, enquanto “quadros”, ou melhor, burocratas conhecidos por situações de opressões, se mantém lá, apesar da pressão da UJC e dos coletivos. Se nosso partido tivesse uma cara, em SP ela seria, infelizmente, de velho, branco, machista e racista.

Por isso, muitos de nós, apesar das frustrações, ficamos com a expectativa do que de produtivo poderia sair de toda essa situação. Seria, finalmente, o momento de podermos levantar nossas cabeças, sem medo de perseguição, e expulsar das nossas fileiras os camaradas assediadores que a CR passa pano? Seria, finalmente, o momento de pormos em cheque o modus operandi das direções e avançarmos na construção de uma organização verdadeiramente revolucionária? Seria, finalmente, o momento de superarmos a desunião do complexo partidário, de superarmos o escanteamento dos coletivos, de darmos vida ao PCB? Seria, depois de muito esforço de muitos militantes, finalmente o momento de profissionalizarmos nossa militância e de construir um partido verdadeiramente leninista? Acredito que pode ser esse momento, mas não necessariamente o é, só depende de nós.

Foi um momento acalorado de formulação e debate, animou a juventude como eu nunca vi antes. E o CC, tomado em seu orgulho e em seu complexo de superioridade, típico de professores universitários, não soube transformar isso em ganhos para o Partido. A verdade é que, com um CC desse, não precisamos nem de inimigos para minar o Partido Comunista. O CC optou por transformar o debate em cisão, por mais que a grande maioria dos militantes não quisessem isso. Afinal, não consigo ver outra coisa senão burrice na posição dos nossos grandes intelectuais quando eles, no período mais acalorado dos últimos anos, com o terreno para o debate e para o avanço do nosso partido mais fértil do que nunca, escolhem fechar os debates. Podem falar que militantes da UJC e dos coletivos não são militantes do Partido, mas, precisamos ser sinceros, se isso fosse verdade o Partido não existiria. Teria 10% do seu tamanho e olhe lá. Posição injusta falar para pessoas que passaram os últimos anos dando a vida pela construção do nosso Partido, que elas não podem discutir os rumos do seu Partido.

Por isso, eu reitero, quem tornou possível o surgimento da RR, e, mais que isso, quem rachou o partido e jogou metade da militância para a RR, foi o próprio Comitê Central. O maior exemplo disso é o posicionamento recente da UJC-SP. Nos posicionamos a favor do XVII Congresso, qual a resposta do CR? Expulsa todo mundo. E assim eles perderam a UJC, dar tiro nos pés é a maestria dessas “ótimas” direções. Já a UJC-RN, pelo que eu acompanhei, se posicionou a favor do XVII Congresso, mas não foi expulsa. Pelo contrário, irão ter espaços de discussão junto ao PCB para debater os rumos da nossa organização. O que deveria ter sido a orientação para todos os estados.

Entretanto, camaradas, temos que tomar cuidado para não cometer erros similares. O PCB-RR, até o momento, tem muitos problemas que estão afetando inclusive aqueles que o apoiam. Entendo que muito disso se dá pela própria falta de unidade e de forma organizativa clara. É tudo muito novo e recente e acho que ainda não existem sínteses fechadas sobre o que fazer. Entretanto, ainda acho importante tocar nesses pontos para podermos solucioná-los, e faço isso de forma fraterna como alguém verdadeiramente preocupado com o futuro do PCB.

Acho que o principal ponto é que tudo ainda está muito escuso. Qual é nosso objetivo? Qual o nosso plano de ação? Diferentes pessoas têm diferentes opiniões. Iremos construir um congresso do partido nós mesmos, à revelia do CC? Ou iremos pressionar para que o CC ceda? Ou iremos construir uma nova organização e já sabemos disso? Eu, como militante de base, sem contato quase nenhum com os camaradas que estão organizando essa luta, não sei o que pensar. Me parece que já existem caminhos claros de ação, mas não estão socializados com a militância. Isso gera um clima de desconfiança e de frustração. Isso pode fazer com que militantes se sintam “massa de manobra”. As tribunas são um ótimo espaço para superarmos isso, mas faltam contribuições dos militantes que estão organizando a disputa. A conjuntura mudou, não é mais a mesma da época do texto do Ivan Pinheiro. Desde lá, muitos militantes foram expulsos e/ou estão sendo perseguidos. Qual nossa tática? Se mantém a mesma? Faltam orientações. Por isso convido os(as) camaradas, principalmente do CC e dos CRs que foram expulsos, a contribuírem. Vocês ainda são direções, mas não sabemos o que vocês estão pensando e também queremos fazer parte da reconstrução revolucionária. (Não podemos reproduzir o mesmo erro da direita, porque ninguém da base nunca soube a linha de Mauro Iasi, Sofia Manzano, etc)

Escrevo, e me disponho a construir a RR com tudo que posso oferecer, na profunda esperança de que conseguiremos reerguer o PCB do mormaço que se encontra desde o século passado.

Venceremos camaradas!

Camarada G.L.R, São Paulo