'Os desvios de direita na nossa política de ME' (F. Martins)
A decisão da UJC de retornar para a disputa da UNE em 2017 foi uma decisão correta naquela conjuntura. Entretanto camaradas, não podemos deixar que os saldos que obtivemos disputando as eleições das entidades estudantis se tornem uma defesa acrítica dessa tática.
Por F. Martins para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.
Camaradas, escrevo essa tribuna na esteira das polêmicas congressuais em torno das entidades estudantis e das várias críticas e tribunas que vem sendo apresentadas nesse debate.
Primeiramente um breve balanço histórico. A decisão da UJC de retornar para a disputa da UNE em 2017 foi uma decisão correta naquela conjuntura. A decisão foi tomada com base no balanço do fracasso da construção de uma UNE paralela, e por uma análise da conjuntura do pós golpe de 2016, onde se abriu uma nova janela para uma radicalização à esquerda do ME. A disputa das eleições da entidade naquele momento, garantiu uma visibilidade maior para nossa organização e a partir disso vimos o ingresso na Juventude de toda uma nova geração de militantes que hoje são centrais no processo de reconstrução revolucionária do partido.
Entretanto camaradas, não podemos deixar que os saldos que obtivemos disputando as eleições das entidades estudantis se tornem uma defesa acrítica dessa tática. É comun hoje na nossa organização que todas as críticas a nossa política de entidades estudantis seja classificada como “abstencionismo”, criando uma falsa dicotomia entre Disputar X Se abster das eleições como uma forma de reafirmar a linha tirada em 2017 e justificar todas as contradições que estão postas no agora.
O camarada Fabrício Lima, na sua tribuna: “A UBES é um fim ou um meio?, faz uma boa crítica aos desvios eleitoreiros que temos cometido. Dedicamos uma quantidade descomunal de recursos financeiros e humanos para a disputa dessas entidades, mesmo sendo de conhecimento geral que esses processos são brutalmente fraudados pelo campo democrático popular. Além das fraudes, temos que analisar que a forma das eleições de entidade favorece muito o campo majoritário. Essas organizações(UJS,PT,JPL,etc..) trabalham com uma forte política de liberação de militantes no ME e formam seus militantes como operadores de tarefas, que fazem de tudo para garantir o máximo de votos para sua organização. Já na nossa organização, liberação de militantes praticamente não existe e nossos militantes são incentivados a formular politicamente o espaço em que atuam, o que, apesar de ser a forma correta de militância, nos deixa com uma carga de trabalho maior em relação a majoritária. Na majoritária os militantes trabalham panfletando, enquanto nossos militantes formulam e panfletam depois do trabalho. Não disputamos nas mesmas condições, o que faz com que o critério quantitativo e eleitoreiro de número de delegados intensifiquem a sobrecarga e as quebras da nossa militância.
Outro problema, é que majoritariamente, as entidades estudantis no Brasil estão reféns da espontaneidade das lutas econômicas dos estudantes. Lutas essas, que apesar de importantes, estão, majoritariamente, desvinculadas do mundo do trabalho, o que cria um isolamento das lutas do ME com as demais lutas da classe trabalhadora. Se analisarmos as últimas grandes mobilizações nas universidades, são lutas para reverter ( um pouco) o sucateamento que as políticas neoliberais causaram nos últimos anos. Naturalmente, esse foco nas questões da universidade e o horizonte político rebaixado que essas lutas apresentam não mobilizam o proletariado brasileiro, única classe que seria capaz de impor derrotas reais às políticas neoliberais da burguesia.
Essa desvinculação, também se apresenta quando debatemos o papel do MUP e do MEP na na construção da nossa política. A universidade ou escola popular, são a expressão da ditadura do proletariado sobre as instituições de ensino. Não podemos nunca dissociar essas bandeiras da necessidade de tomada do poder pela classe trabalhadora e da construção do socialismo. Quando essas bandeiras são agitadas apenas para construir lutas por permanência, ou para a disputas de entidades gerais, esvaziamos seu conteúdo ideológico e nos afastamos dos nossos objetivos estratégicos.
E a realidade é que hoje nossa organização pouco tem debatido essas questões, pelo contrário, a recente orientação de girar todos os militantes da região metropolitana da capital para participar da caravana da UNE é uma prova evidente de como nossa política prioriza trabalhos de ME sobre o trabalho de setores estratégicos do proletariado, como apontado em crítica feita pela CL Fundão da ZO. Não é aceitável que uma organização que diz lutar pela hegemonia do proletariado continue a agir dessa forma.
É imprescindível que nosso congresso nacional se debruce sobre essa questão. É um erro acreditar que as resoluções do último congresso da UJC são válidas na atual conjuntura. Precisamos com urgência iniciar um amplo debate na nossa militância sobre como construir uma política proletária para o movimento estudantil.
Subordinar o ME a nossa política de setores estratégicos
Novamente camaradas, essa tribuna não tem intenção nenhuma de agitar por um “abstencionismo no ME”. As universidades têm um papel muito importante na construção da nossa política. Nenhum outro espaço nos permite agitar nossas bandeiras e falar da nossa organização tão livremente quanto às universidades públicas. Temos que continuar usando essa liberdade a nosso favor, mantendo uma forte presença ideológica nesses espaços, por exemplo, aprofundando e expandindo nossa política de calouradas, fazendo com que mais estudantes conheçam a nossa linha política. As universidades também são um excelente espaço para tarefas financeiras, que são importantíssimas para o financiamento do partido.
Quando pensamos em nossa atuação não podemos nos basear apenas nas lutas econômicas do momento, ou na simples necessidade de disputa com outras organizações. A pergunta que devemos nos fazer é: “Como nossa atuação na universidade está fortalecendo nossa política de setores estratégicos ?”. E a partir disso, pensar quais lutas econômicas e quais disputas de entidade avançam nesse sentido.
Também é imprescindível que, em regiões onde só temos atuação dentro da Universidade, essa atuação seja usada para expandir os trabalhos para fora da Universidade. Com as células universitárias trabalhando em conjunto com os comitês locais na sua região, para que seja possível expandir diferentes frentes de atuação em setores estratégicos.
Longe de esgotar o debate, espero que essas críticas avancem para a superação das contradições que estão impostas e que nosso novo partido assuma seu papel de vanguarda na luta da hegemonia do proletariado também dentro das universidades.