Opinião | Esboço para uma análise do proletariado brasiliense
Camaradas, escrevo esse pequeno ensaio para aprofundar os estudos da economia política de nossa localidade. É um incentivo para que todos os camaradas do partido reflitam sobre sua região e comecem, também, a promover estudos sobre o modo de produção capitalista em Brasília e demais regiões.
Por Gabriel Xavier
Camaradas, escrevo esse pequeno ensaio para aprofundar os estudos da economia política de nossa localidade. É um incentivo para que todos os camaradas do partido reflitam sobre sua região e comecem, também, a promover estudos sobre o modo de produção capitalista em Brasília e demais regiões. No mais, ressalto que não é uma reflexão exaustiva e, por certo, todos os erros e debilidades que apresento aqui devem ser duramente criticados e retificados.
Composição do proletariado no Distrito Federal
Sem mais delongas, vamos apresentar alguns dados estatísticos sobre o mercado de trabalho no Distrito Federal e sua composição interna. Assim, utilizei inicialmente os dados informados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), que apresenta a principal deficiência de contabilizar apenas empregados formais, com carteira assinada, portanto, uma análise ainda parcial da economia política em nossa localidade.
Atualmente o Brasil registra 46,3 milhões de trabalhadores formais, sendo que o DF contribui apenas com 2,0% desse total, com 936 mil empregados com carteira assinada, um contraste com outras regiões como São Paulo, que detém 14,1 milhões, ou 30,5% do total nacional.
Conforme os dados apresentados no gráfico a seguir, os segmentos que apresentam maior volume de empregados formais no DF são: comércio varejista (13,9%), com 130,4 mil; atividades de atenção à saúde humana (12,6%), com 118,2 mil e construção civil, obras de infraestrutura e serviços especializados para construção (7,9%), com 73,7 mil. No total, esses três agrupamentos representam 34,4% dos assalariados formais no DF, ou 322,2 mil trabalhadores.
Em conjunto, segundo os dados do Produto Interno Bruto (PIB), a economia do Distrito Federal registrou um volume de R$ 287 bilhões, sendo que apenas R$ 10 bilhões fazem parte do setor industrial. Aqui, por certo, há ressalvas no sistema de contas nacionais do IBGE, mas não deve mudar muito o quadro desenhado, em especial no sentido de que os trabalhadores diretamente relacionados com a produção de mercadorias, como metalurgia, extração mineral, agropecuária, indústria de automóveis, fabricação de eletrodomésticos, alimentos industrializados, geração de energia elétrica, etc, são poucos em relação aos trabalhadores que estão apenas indiretamente vinculados à produção de valor, como bancários. Entretanto, há algumas exceções importantes, como a construção civil, ainda mais dentro da perspectiva de que o volume total do proletariado empregado na construção civil deve ser maior em vista da elevada taxa de informalidade deste segmento.
Em seguida, em linha com as resoluções do XVII Congresso Nacional, são considerados esses os setores estratégicos: setor de transporte (incluído, aqui, o setor rodoviário e ferroviário, o setor portuário e aeroportuário); o setor energético (abrangendo petróleo, gás e derivados); o setor da Tecnologia da Informação (TI), telecomunicações, telemarketing; o setor de saneamento, limpeza, serviços de asseio; a construção civil; a saúde; a mineração; os setores dinâmicos da indústria de transformação (papel e celulose, alimentos e bebidas, metalúrgica e química) e o ramo bancário.
Portanto, até agora, com os dados apresentados, o setor de TI, construção civil, saúde e o ramo bancário possuem contingente significativo da massa de assalariados no Distrito Federal. Em conjunto, o setor estratégico de transportes, somando-se os modais terrestre, aquaviário, aéreo, armazenamento e atividades auxiliares dos transportes, correios e outras atividades de entrega, contabiliza um total de 51,0 mil trabalhadores, ou 5,4% do total, segundo os dados do CAGED.
Contudo, os outros setores estratégicos são menores: telecomunicações e telemarketing (1,2%), com 10,8 mil; saneamento, limpeza e serviços de asseio (0,8%), com 7,2 mil; setor energético (0,2%), com 2,2 mil. O gráfico acima apresenta essa distribuição dos setores estratégicos entre o proletariado brasiliense.
A composição do proletariado na região sudoeste
A partir daqui procuro desenvolver uma análise limitada da região onde atualmente reside grande parte do nosso proletariado, a saber, o sudoeste do Distrito Federal (Gama, Ceilândia, Sol Nascente/Pôr do Sol, Recanto das Emas, Samambaia, Taguatinga, Riacho Fundo I, Riacho Fundo II, Arniqueira, Águas Claras, SCIA/Estrutural e Vicente Pires).
Essas regiões administrativas (RAs) apresentam uma população total de 1.573.278, o que representa por volta de 52,3% da população do DF. Portanto, é imprescindível o estudo de como essa população está relacionada com a produção mercantil em nossa região, quais relações de produção mantém com o modo de produção capitalista e a qual fração de classe essas pessoas pertencem.
Nesse sentido, dentro da população economicamente ativa do DF (14 anos ou mais), o Plano Piloto é o principal local de trabalho para 517,4 mil pessoas, ou 40,7% do total (1,3 milhão). Dentro dessa estatística, a região do Plano Piloto representa um local relevante para os moradores da região sudoeste, sendo o local onde trabalha 39,5% de sua população. O gráfico a seguir apresenta a distribuição por RA do quantitativo de pessoas que trabalham no Plano Piloto.
Ainda, o gráfico 4 apresenta a distribuição por região administrativa da porcentagem da população onde o trabalho principal é no Plano Piloto.
Breve análise do setor estratégico de construção civil
Existem enormes diferenças na renda per capita do nosso proletariado brasiliense. Com um nível ponderado para todo o DF em R$ 3.001,53, há uma amplitude desde o Lago Sul, com o maior patamar em R$ 10.979,13 até o SCIA/Estrutural, com apenas R$ 695,37. Abaixo segue a distribuição por RA, com os destaques em vermelho para as que estão na região sudoeste.
Em conjunto, uma análise das relações de trabalho e a ocupação que a pessoa exerce na economia política do DF ajuda a entender o modo de produção capitalista em nossa localidade. Um exemplo significativo é o setor da construção civil e o ramo bancário, importante eixo da economia do DF.
Apesar de dentro da estatística do Produto Interno Bruto (PIB), o segmento de construção apresenta um valor de apenas R$ 4,9 bilhões em 2019, ou 1,7% do total, entretanto, certamente há impactos indiretos no segmento de atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados, que obteve uma magnitude de R$ 40,3 bilhões no mesmo ano, ou 14,7% do total da economia do DF. Nessa toada, a interligação entre os setores se dá pelo mercado de crédito, em especial sobre o financiamento imobiliário, que representa um dos principais eixos na economia política de nossa região.
Há uma leve divergência nos dados do CAGED e da IPE-DF, com o total de trabalhadores da construção civil em 73,7 mil no primeiro e 75,2 mil no segundo, mas não apresenta ser algo relevante, em especial de que os dados do CAGED são de agosto de 2024 e do IPE-DF de 2021.
Dito isso, é um fato marcante a concentração de trabalhadores da construção civil na região sudoeste, uma vez que, do total do segmento, a região acumula 39,5 mil operários, o que representa 52,5% de todo o DF. Abaixo segue a distribuição por RA.
É importante ressaltar a proporção que esses trabalhadores da construção civil ocupam do total de cada RA. Há locais como SCIA/Estrutural com uma importância de 16,1% do total, assim como Sol Nascente/Pôr do Sol, com 9,7%; Recanto das Emas, com 8,8%; Riacho Fundo II, com 8,3%; Samambaia, com 7,4% e Ceilândia, com 7,0%. Enquanto há uma parcela menor em Gama, com 2,6%; Taguatinga, com 2,6% e Águas Claras, com 2,0%.
Neste sentido, há uma conclusão clara aqui, caso o nosso partido queira aprofundar a nossa inserção nessa categoria estratégica, é necessário maior capilaridade na região sudoeste.