Operação Escudo: Polícia Militar invade enterros e intimida familiares de vítimas na Baixada Santista
O objetivo da Polícia Militar com essas ações é amedrontar a população para que não denunciem a carnificina que está ocorrendo nas áreas periféricas das cidades e a operação possa continuar sem resistência na região da Baixada Santista.
Por Redação
"Respeito pelo sentimento da família!” - gritou um dos familiares à Polícia Militar do Estado de São Paulo (PM-SP), presente no enterro para intimidar os familiares de Emerson Emerson Rogério Telascrea. Aos 33 anos, foi assassinado no último dia 15 de fevereiro, durante a 7ª Operação Escudo.
Emerson foi alvejado por um tiro de sniper a mais de 60 metros de distância enquanto segurava uma xícara de café. Em seguida, caído no chão e implorando para não ser morto, foi executado por outros policiais com mais quatro tiros à queima roupa.
Para além dos assassinatos, a população das periferias da região também sofre com torturas, perseguições e ameaças. O mesmo tipo de intimidação aconteceu nos enterros de outras vítimas da chacina: durante os sepultamentos de Jefferson Ramos Miranda, 37, e Leonel Andrade, 36, amigos de infância, torturados até a morte no meio da rua, no dia 09 de fevereiro, viaturas da PM-SP circularam pelo cemitério, com um helicóptero sobrevoando a área no momento do sepultamento.
Após o enterro de Peterson Xavier Nogueira, 32 anos, assassinado em 27 de fevereiro, os familiares foram submetidos à revista por seis policiais militares como relatado por uma das testemunhas: “Ele [Peterson] não é ser humano? Não pode ter um enterro digno? Os policiais estiveram no enterro e ainda queriam revistar todo mundo. Eles obrigavam as pessoas a levantar a blusa para ver se estavam com arma. Ficaram lá, como se estivessem fazendo escolta. Pedi: 'pelo amor de Deus, respeite o luto da família'. Mas os policiais não respeitaram”.
O objetivo da Polícia Militar com essas ações é amedrontar a população para que não denunciem a carnificina que está ocorrendo e a operação possa continuar sem muita resistência.
Com 46 assassinatos registrados oficialmente até o momento, a operação na Baixada Santista é uma das maiores chacinas na região. Iniciada após a morte do policial militar Marcelo Augusto da Silva, na rodovia dos imigrantes em janeiro deste ano, a Sétima Operação Escudo já dura cerca de três meses.
Somada aos assassinatos ocorridos em janeiro deste ano, o número de assassinatos por forças policiais no litoral paulista aumentou cinco vezes em relação ao mesmo período do ano passado.
Além dos assassinatos, a operação conta com outras ações criminosas das forças policiais como a invasão forçada a domicílios e tortura. Tais ações são legitimadas pela justiça brasileira. No último dia 03 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, afirmou não haver ilegalidade na entrada de agentes policiais a domicílios. Para o ministro, qualquer flagrante permite a busca domiciliar, independentemente da expedição de mandado judicial.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) afirmou que todos os casos de morte em confronto policial são rigorosamente investigados com acompanhamento do Ministério Público e do Poder Judiciário. Porém, tais investigações podem não ter consequências para as forças policiais. Foi o que ocorreu durante a chacina da 6ª Operação Escudo, também na Baixada Santista, que deixou 28 mortos, entre julho e setembro de 2023. Apesar de dois policiais se tornarem réus por terem obstruído as filmagens das câmeras corporais e adulterado o local da execução de Rogério de Andrade Jesus, o processo não resultou na prisão de nenhum dos assassinos. Além disso, para garantir maior impunidade na operação, o governador do estado, Tarcísio de Freitas, trocou, de uma só vez, 34 dos 63 coronéis da cúpula da Polícia Militar, no último dia 21 de fevereiro. Os cargos mais importantes da instituição são agora ocupados por agentes que passaram pelo batalhão das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (ROTA), todos alinhados com a linha política do atual secretário de Segurança Pública do estado, também ex-policial da ROTA, Guilherme Derrite.
Com intenso apelo publicitário promovido pelo Governo do Estado de São Paulo, de ser “A Grande Cruzada” contra o tráfico de drogas, a operação escudo é uma política de aniquilação da classe trabalhadora nas periferias. Com a implementação desta operação, o estado burguês busca consolidar um poder político e econômico que apodere-se dos setores estratégicos que hoje são dominados pelo crime organizado, principalmente nos setores relacionados ao porto, assassinando quem estiver pelo caminho.
A privatização do Porto de Santos, o maior porto da América Latina, onde entra e sai mais da metade dos produtos e mercadorias do nosso país, é a motivação política por trás da operação. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que já declarou a intenção de privatizar todo o Porto, tem um claro obstáculo nessa empreitada. O domínio dos setores estratégicos do Porto de Santos, que hoje pertencem a facção, colocam-se diretamente em contradição com a entrega do porto para a iniciativa privada. Nesta disputa, da qual a classe trabalhadora nada tem a ganhar, é a própria classe trabalhadora mais precarizada, residente dos locais mais instáveis da região, que sofre diretamente com essa disputa. É o ajudante de pedreiro e pai de três crianças, é o coletor de recicláveis, é o garoto de 14 anos, todos assassinados pela polícia.
É a nossa classe morrendo, dia após dia, no meio de uma briga que não nos interessa.