'Onde estão as nossas direções? Um chamado à responsabilização das direções partidárias' (L. Queen)

Espero que as direções tomem suas responsabilidades para si e tratem de conduzir e organizar o debate e a disputa ideológica da melhor maneira, se posicionando e saindo do pântano, respeitando a responsabilidade que lhes foi conferida pelo Partido – ainda que de maneira provisória e excepcional.

'Onde estão as nossas direções? Um chamado à responsabilização das direções partidárias' (L. Queen)
Imagem: Sede (abandonada) do Partido Comunista da Bulgária.

Por L. Queen para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

Camaradas, faz um tempo que alguns camaradas vêm cobrando posicionamento das direções partidárias nas tribunas de debate. Recentemente esse pedido passou a ser atendido, ainda que de maneira insuficiente. A recente polêmica eleitoral nos trouxe tribunas de diversos camaradas que são direções nacionais e estaduais de nosso partido. O camarada Ivan Pinheiro escreveu a sua tribuna, o camarada Jones Manoel também. Os camaradas Milhouse e Ju Sieg nos presentearam com a sua bem escrita tribuna a respeito da legalização do Partido, com a qual eu concordo em muitos pontos.

Antes dessa polêmica, a questão da unificação do CR do PCB-RR com a CR da UJC em SP também nos trouxe tribunas importantes dos camaradas Tavares e Machado, que criticaram a decisão do CR de unificar os trabalhos. 

Tudo isso é bom, mas ao mesmo tempo me faz refletir sobre uma tendência observável: a de que as direções partidárias se omitem de discutir com a base o que é consenso entre si ou que é resolvido em suas instâncias. Aparentemente, as polêmicas citadas acima surgiram através de disputas dos organismos de direção que não foram sanadas internamente (ou que foram sanadas da maneira como certos camaradas julgaram inapropriado). 

É óbvio que considero importante que as polêmicas da direção sejam discutidas pela base. Mas existem diversos outros debates da construção deste congresso que nem sempre passam por polêmicas abertas e que a intervenção das direções seria igualmente fundamental, levando em conta a experiência e acúmulo desses militantes. Quero trazer dois aspectos sobre o posicionamento das direções nas tribunas de debate que não foram levados em consideração plenamente e que julgo fundamental para superarmos nosso amadorismo: 1) o compartilhamento de acúmulos e 2) o direcionamento ideológico.

1. O Compartilhamento de Acúmulos

Neste sentido, a tribuna 'Agitação, propaganda e poder popular: para onde estamos indo?' do camarada Jones Manoel traz um questionamento importante. Cito o seguinte trecho:

A segunda consequência é a ausência brutal de formulação sobre o trabalho de massas revolucionário (ou o famoso “trabalho de base”). Já cansei de repetir que é muito difícil achar livros e textos marxistas atuais que buscam teorizar sobre finanças, agitação e propaganda, recrutamento, trabalho comunitário, atos de rua, segurança etc. Existe um certo fetiche pelo “grande debate”. Todo mundo tem algo a dizer sobre a história das experiências socialistas, alguma questão da teoria marxista, polêmicas da formação social brasileira e da estratégia ou o que a esquerda tem que fazer. Mas na hora de debater, concretamente, como criar uma associação de moradores, uma batalha de rap ou organizar as mulheres de uma comunidade, a tendência é o silêncio e a ausência de contribuição.  

Tenho acordo total com a afirmação do camarada e, por isso, me assusta profundamente que nossas direções partidárias não estejam contribuindo quase em nada para estes debates. As direções geralmente se alçam a estes cargos por suas capacidades práticas e teóricas enquanto militantes. É justo de se supor que as direções possuam mais experiência que a média dos militantes da base, que tenham mais conhecimento prático, teórico e de organização. Assim, existem inúmeros acúmulos que não são compartilhados pelas direções, o que faz com que o Partido permaneça no mais completo amadorismo. Isso cria uma dependência do Partido para com essas figuras, pois se as perdemos (seja por qual o motivo), perdemos não só um importante trabalho que o militante possui, mas a experiência que ele nunca compartilhou.

O camarada Theo Dalla já publicou uma tribuna com contribuições valiosas respondendo à tribuna do camarada Jones e colocando algumas questões fundamentais sobre a prática da nossa atuação frente aos movimentos sociais em seu estado. Recomendo profundamente a leitura da tribuna “Rio Grande do Sul: inércia, esquerdismo e um caminho para sair da lama”.

Quero destacar um trecho da tribuna para ilustrar a questão do direcionamento prático e do compartilhamento de acúmulos. Vejamos:

Em 2017, com 18 anos, por iniciativa própria iniciei um diálogo com os trabalhadores da CEEE que estavam na luta contra a privatização. Era um dia que nossa militância foi mobilizada para ir à Assembleia Legislativa pois teria uma votação num tema de territórios quilombolas, mas a sessão foi cancelada. Ficamos na Praça da Matriz, em frente a Alergs, e havia um grupo de servidores da CEEE com camisetas contra a privatização. Nossa militância estava sentada num banco, conversando entre si, ignorando a existência daqueles sindicalistas. Incrédulo, fui conversar com eles, ouvir a situação, as demandas, já que meu Partido nada dizia.

Com certeza muitos de vocês já se viram nesta situação, certo? Eu já vivi isso. Militantes sentados, conversando entre si, enquanto pessoas de outros movimentos sociais, sindicatos e categorias de trabalhadores passam ao redor. A despeito de ser um absurdo que militantes não estejam militando nos espaços necessários para isso, já vi isso acontecendo diversas vezes. Sempre que acontecia com militantes do meu núcleo, enquanto fui secretário Político, eu fazia questão de chamar os camaradas de lado e dizer a eles que deviam se dedicar a conhecer as pessoas, conversar com elas, ouvi-las, saber o que elas pensam, estabelecer laços de confiança e solidariedade. Enquanto o trabalho militante envolve conhecer as pessoas, o trabalho da direção é também dizer o que os militantes devem fazer, como se portar perante a nossa classe e ser o exemplo. Por esse motivo também sempre me dispus a, nos espaços de trabalho de base, tratar militantes e independentes mais ou menos da mesma forma, atribuindo responsabilidade e direito de crítica a todos (mais sobre isso, talvez em uma futura tribuna).

Se eu sou capaz de olhar meus camaradas e identificar que estão todos parados, não fazendo nada, é meu trabalho enquanto direção apontar para eles e dizer “façam alguma coisa”, e mais do que isso, é preciso demonstrar e dizer “façam isso, assim, dessa forma”.

O dizer “façam isso, assim, dessa forma” é um dos grandes problemas de nosso Partido. Parece que, por mais que tenhamos muita gente que sabe “fazer isso, assim, dessa forma”, poucos realmente dizem como “fazer isso, assim, dessa forma”. 

Muito se diz sobre fazer trabalho de base, trabalho de massas, mas pouco é dito sobre como fazer isso. Poucos documentos nos trazem acúmulos sobre isso. Um exemplo concreto: em 2023 no núcleo Unicamp realizamos uma campanha de eleição de DCE. A nossa assistência, o camarada Gabriel Tavares, pouco ajudou no momento prévio à campanha (por muitos motivos, incluindo sobrecarga). Dessa forma, tivemos que correr, em cima da hora, para conseguir assinaturas para a nossa chapa, porque descobrimos que era através da quantidade de assinaturas de cada força que se mediria o peso de cada força dentro da chapa para a divisão de trabalhos, responsabilidades e cargos. 

Longe de eu concordar com essa abordagem baseada em assinaturas (no fim, acabamos levando outros pontos, polemizando com as outras forças e conseguimos realizar uma divisão dos cargos dentro do DCE de maneira mais justa e menos pautada em assinaturas), é um absurdo que a assistência não tenha de modo algum falado a respeito disso para nós. Como não estávamos contando com a necessidade de se conseguir mais assinaturas que as outras forças, deixamos isso para o fim, achando que precisaríamos apenas de colocar no documento da chapa as assinaturas daqueles nossos militantes que participariam efetivamente da chapa e da gestão. Não fazíamos ideia de que assinaturas são contabilizadas pelas forças como uma medida para saber quem tem mais peso entre a base dos estudantes.

Assim, nos últimos momentos saímos atrás de militantes, ex-militantes e aproximados que poderiam assinar o documento. Como esperado, tivemos a menor quantidade de assinaturas da chapa, mesmo que tivéssemos muito mais militantes orgânicos que o Juntos, por exemplo.

Para além disso, durante o período de eleição propriamente dito nós estávamos completamente despreparados. Ninguém do secretariado havia participado de uma eleição de DCE antes e a assistência (aqui, já era outro camarada quem estava nos assistindo), novamente, não pôde nos dar qualquer orientação efetiva sobre o processo. Não nos enviaram modelos de planilhas para organizar a distribuição dos militantes pelo campus, não nos disseram como geralmente se fazia essa distribuição, nem qual era o papel exato da “central” eleitoral de cada chapa, não nos disseram de antemão qual o papel de cada secretário neste processo. Eu tive que ir catando por ai informações, lendo antigos documentos no email do núcleo, lendo e relendo o estatuto do DCE e o regimento eleitoral, etc. E ainda assim, muitos aspectos da disputa eleitoral não foram apreendidos. Dessa forma, o primeiro dia de eleição estava fadado a ser o mais completo caos. 

Foi necessário que dois militantes da CR da UJC-SP se deslocassem da capital para Campinas e participassem do processo eleitoral conosco, ensinando na prática ao secretariado o que ele deveria fazer. Longe de dizer que isso foi ruim, na verdade foi um dos momentos mais formativos da minha militância e sem dúvida alguma esse intercâmbio de militantes precisa ser feito com mais frequência. Eles participaram do primeiro dia de eleição conosco, e entramos em diversos atritos, muitas vezes por desconhecimento do secretariado a respeito do processo eleitoral.

Os camaradas da CR tiveram que dar um esporro no secretariado para que acordássemos e, depois, nos explicaram detalhadamente o que deveríamos fazer. Fico me perguntando, se tivessem nos dito antes sobre o que foi dito no final daquele primeiro dia, talvez não tivéssemos nos sobrecarregado tanto e tivéssemos tido um resultado melhor.

Por outro lado, a capacidade de síntese dos camaradas da CR de fato nos ajudou profundamente a entender o que deveríamos fazer, de forma que os dois dias restantes da eleição trabalhos como na mais completa precisão, calma e segurança – surpreendendo os próprios camaradas da CR. O fato é, nós não sabíamos o que fazer, mas o secretariado do núcleo à época sabia trabalhar muito bem em conjunto. Todos tínhamos um entrosamento e uma seriedade grande com o nosso trabalho. Só não tínhamos a menor ideia do que deveríamos fazer.

O problema aqui é o amadorismo em relação à preparação para o processo. Não há sequer um documento explicando o que é uma “central eleitoral”, o que é a “comissão eleitoral”, quais militantes devem estar inseridos em cada uma delas, como realizamos a distribuição e divisão dos camaradas por institutos e campi, como prevenir fraudes da UJS, como prevenir as atitudes estúpidas do Correnteza que tensionam sem o menor motivo com outras forças e queimam o filme da chapa com a base dos estudantes, etc. Além disso, eleição de DCE é algo que ocorre todo ano em toda universidade, camaradas. Não houve, nos meus 3 anos de militância, um único curso de formação sobre processos eleitorais em universidades, formação de chapa, disputa entre chapas e intra-chapa. 

E é dever das direções garantir isso para a base! Se os militantes da direção não podem, eles próprios, escrever sobre um assunto e produzir tais materiais, que deliberem como tarefa para que alguém o faça! Se não for possível, que façam uma reunião de formação a respeito. Se eles não podem dar a formação, que destaquem algum camarada que possa fazer! Mas é importante que as direções se dediquem também a gerar e armazenar esses acúmulos organizativos e políticos. E, num geral, são as direções que possuem esses acúmulos de maneira mais profunda, como pudemos observar com clareza na atuação dos camaradas da CR que nos ajudaram na eleição de DCE. Até porque enquanto um núcleo da UJC realiza uma única eleição de DCE por ano, a CR de UJC/SP acompanha dezenas de processos.

E sobre isso não há um pio das direções nas tribunas. Por acaso o debate na base só precisa ser feito quando não há consenso entre as instâncias de direção? Os militantes da base são o desempate das polêmicas da direção? Onde estão as direções no seu trabalho de ser o exemplo, ensinar e orientar (dirigir) a militância?

Vejamos: os camaradas Cauê e Gabriel Landi possuem experiência em organizar empresas partidárias. Posso estar errado, mas ao que me consta o camarada Cauê possui pelo menos três empresas que realizam trabalho para o Partido de alguma forma e contribuem para a profissionalização de militantes, Estrela Vermelha, Classe Esquerda e Ruptura Editorial (me corrijam se estiver errado). O camarada Landi também tem sua editora de livros, LavraPalavra. São, até onde me consta, as experiências financeiras públicas mais avançadas do Partido. E onde estão as contribuições destes camaradas a respeito disso? As contribuições do camarada Cauê seriam particularmente importantes para o acúmulo a respeito das questões financeiras. O camarada é o nosso case de sucesso de tarefas de finanças!

(Para além disso, resta-nos definir o que são estas empresas para o Partido. São empresas do Partido? Se queremos coletivizar os meios de produção, que comecemos pelas empresas de nossos camaradas! Onde está este debate? A tribuna dos camaradas Gus e Pedro, “Regulação e submissão total da linha editorial dos canais privados de comunicação nas redes sociais ao Partido!” já aponta para essa tão necessária discussão, que não vem sendo feita.)

O camarada Ivan Pinheiro, por outro lado, é um militante que esteve no movimento sindical, no MR-8 e mais um monte de coisa durante a ditadura. Experiência é o que não falta para um senhor de mais de 70 anos, que militou toda sua vida. E ainda assim, a única tribuna que o camarada escreveu até agora foi para defender sua posição frente a uma polêmica não resolvida na CNP. Conte-nos, camarada, como era a organização clandestina do MR-8 na época da ditadura, como funcionava a profissionalização e especialização da militância? Como vocês faziam trabalho de base em meio à ditadura empresarial-militar? Como se escondiam da polícia e dos patrões para falar com os trabalhadores? Como era realizado o trabalho sindical?

O camarada Jones, é um exímio orador e debatedor (entre muitas outras coisas, claro). Quem já viu o camarada ao vivo ou em uma entrevista sabe disso. Quem também acompanha o canal do camarada a um tempo sabe que ele estuda discursos e debates de grandes figuras políticas, técnicas de oratória e de intervenção no debate para mudar o foco da discussão. Seria vital a todo militante que soubesse disso tudo, se pudéssemos em cada região ou cidade ter mil militantes com a capacidade de oratória do camarada Jones, deveríamos ter. E ainda assim, esses conhecimentos que o camarada possui são pouco compartilhados de maneira sistemática, restando, ao militante que quer aprender, assistir às milhares de horas do conteúdo do camarada para tentar pegar nas entrelinhas as técnicas de oratória e debate que o camarada usa.

Na citada polêmica do estado de SP sobre a unificação dos CRs, temos ainda dois militantes com vasta experiência. O camarada Tavares foi nosso candidato à deputado, além de ter feito parte da gestão do CONUEE. Conte-nos, camarada, como funciona essa entidade estudantil? Como são feitas as disputas e quais as dificuldades que encontramos lá dentro? Quais os tensionamentos com as outras forças e partidos? Qual o status quo do CONUEE em SP? Como funciona uma campanha eleitoral? O camarada também é um exímio agitador, então nos conte, camarada, como você prepara as suas falas públicas, o cancioneiro para atos? Como se porta perante as massas?

O camarada Machado, ao que me consta, foi secretário Político do núcleo USP, um núcleo enorme e com diversos trabalhos políticos importantes. Como funcionava a coordenação destes trabalhos, camarada? Como foi a gestão do DCE compartilhada com o PCR e Juntos!? Como foi feita a disputa do CRUSP contra essas mesmas forças que compunham a nossa própria gestão de DCE? Como o seu núcleo conseguiu respaldo da base do CRUSP, mesmo com a atuação ridícula e oportunista do restante do DCE da USP, tanto criticado pelos moradores do CRUSP?

Eu cito estes camaradas porque são camaradas que eu conheço minimamente o trabalho. Mas há inúmeros outros militantes nas direções regionais ou nacionais com importantíssimos acúmulos que, infelizmente, não são compartilhados! Vamos lembrar que muitas vezes essas direções são eleitas pelo Partido justamente por seu trabalho prático e experiência. Se esses camaradas não compartilham suas informações e acúmulos, não se dedicam a elevar o nível de organização do Partido com seus conhecimentos, eles estão efetivamente concentrando poder em suas mãos, criando uma dependência do Partido em relação a eles e travando os avanços dos trabalhos do Partido. 

Claro, não podemos pensar que as direções vão precisar de escrever sobre tudo o que sabem, nem que somente elas vão escrever tribunas. Mas as cobranças que o camarada Jones fez em seu escrito citado acima, a meu ver, recaem em militantes mais experientes e, num geral, sobre as direções. E mesmo que elas mesmas não possam escrever sobre esses assuntos, que destaquem militantes, comissões, etc, para realizar este trabalho! Existe uma enorme cobrança dos militantes de base por formação e informação, as tribunas de debate são um primeiro meio para efetivar isso.

As direções, num geral, estão se eximindo de orientar a militância a respeito das tarefas que devem ser realizadas e isso, para além de mero compartilhamento de acúmulos, nos leva ao meu próximo ponto, que é o direcionamento ideológico do Partido.

2. O direcionamento ideológico

O direcionamento ideológico não se separa por completo da direção prática e do compartilhamento de acúmulos. Um exemplo já citado sobre isso é a questão das assinaturas para a disputa interna da chapa do DCE. Não recebemos a orientação a respeito das assinaturas e, por isso, não conseguimos debater com qualidade as implicações políticas da adoção deste método para medir a influência de cada força perante a base. Se tivéssemos sido informados mais cedo dessa necessidade das assinaturas, poderíamos ter conseguido mais assinaturas, mas poderíamos também ter disputado internamente na chapa com melhor qualidade a mudança deste critério! Não houve sequer esse direcionamento para que discutíssemos o próprio fundamento do critério adotado com as outras forças, mesmo após termos informado esta movimentação à assistência. Vejam como o compartilhamento de acúmulos é fundamental também para a solidez ideológica do Partido. Não foram poucas as vezes que descobrimos coisas a respeito do processo do eleição de DCE através das outras forças. Isso tira a nossa capacidade de inferir politicamente nessas lutas, de nos orientarmos e abre brechas para que os nossos rivais (mesmo aqueles intra-chapa) explorem nossas fraquezas. 

No sentido da direção ideológica, a já citada tribuna do camarada Jones levanta um debate fundamental que não vinha sendo feito: quais são as mediações táticas que iremos adotar para nos inserir nas lutas da nossa classe? Dessa forma, o camarada identificou um problema de nosso Partido, identificou uma correta tendência aos “grandes debates” e chamou a militância para debater os problemas reais e as mediações táticas. O camarada pautou o debate interno e tenta direcionar a disputa ideológica para aquilo que considera mais fundamental neste momento, coisa que até agora vi poucos camaradas dirigentes fazendo (para além daqueles debates que não são consensuados nas instâncias de direção e ‘precisam’ que a base apoie um dos lados em disputa para que a questão se resolva – isso é uma crítica, inclusive, a essa postura).

Camaradas dirigentes, vocês precisam tomar em suas mãos a responsabilidade que lhes foi conferida pelo restante do Partido! 

O nosso Órgão Central está ai para isso! É também (mas não somente) através dele que as direções devem propor os debates centrais para cada momento da luta. Apesar disso, os pronunciamentos do OC são poucos e nem sempre delineiam os caminhos a serem debatidos, a não ser que haja um impasse nas instâncias de direção. As posições pessoais dos camaradas dirigentes não são conhecidas, a não ser que haja um impasse nas instâncias de direção. E, camaradas, isso é uma crítica séria à maneira como estão sendo conduzidas as disputas. A base dos militantes serve apenas para resolver impasses das direções? A opinião das direções só surge à público quando é necessário vencer uma disputa maior?

Por outro lado, há inúmeras polêmicas que surgiram nas tribunas que as direções pouco se dedicaram a debater. Como resolver de maneira satisfatória as questões de opressão dentro do Partido? Qual a postura do Partido sobre a questão LGBTQIA+ no MCI (sim, estou falando do KKE)? O que os camaradas pensam sobre o fim da UJC (sobre isso me parece que apenas militantes da UJC debateram nas tribunas)? A questão da segurança, a questão da organização do Partido por locais de trabalho, do nome do partido, de seus símbolos, a questão da formação política... Nada ou muito pouco sobre essas questões vem sendo debatido pelas direções.

Há também pouca organização de como essas discussões se dão. Alguns camaradas falaram em suas tribunas sobre a organização das tribunas por assuntos. O que o OC pensa sobre isso? O que os militantes da direção individualmente pensam sobre isso? Há alguma medida sendo realizada para melhorar a organização destes debates? 

Por exemplo, a questão do debate sobre o nome do Partido. Não há uma lista de nomes sugeridos em nenhum lugar, de forma que devemos ler todas as tribunas sobre o assunto para ver quais as opções e os argumentos favoráveis a cada uma dessas opções – mas também não podemos filtrar as tribunas pelo assunto “nome do partido”, de forma que fica impossível acompanhar a discussão. Não seria possível criar uma lista, com um link fixado no cabeçalho do site, com cada sugestão enviada nas tribunas, com uma síntese de sua justificativa e o link para a tribuna em questão? A questão dos símbolos também poderia ser melhor organizada de outra forma, eu imagino. Uma comissão poderia ser montada para fazer esse trabalho de desenvolvimento da identidade visual do Partido, criando algumas opções para serem debatidas e deliberadas em uma futura conferência. Eu penso que isso seria uma melhor opção, já que desenvolver uma identidade visual e símbolos é um trabalho que exige estudo profissional e conhecimento técnico, além de que um trabalho coletivo de criação de identidade visual é provavelmente mais eficiente do que um trabalho individual.

Mas os camaradas da direção do Partido pouco estão influindo na organização do debate, seja pelo apontamento das prioridades de discussão em dado momento, ou pela organização do processo de debate propriamente dito, ou ainda pela síntese e crítica das diversas posições envolvidas. 

Não existe o direcionamento prático, nem ideológico, por parte das direções individualmente, nem do Órgão Central enquanto sintetizador da linha partidária. Os militantes estão cansados; a cada dia mais militantes se afastam, se desligam, mais trabalhos políticos são abandonados ou paralisados e as direções pouco se conectam com a base, pouco as orientam. 

Vejo muitos camaradas divagando seriamente no Twitter sobre questões como a abolição do tempo (não é camarada Gabriel Landi?), mas não os vejo escrevendo tribunas para defender palavras de ordem, táticas no movimento sindical, no movimento estudantil, na luta por moradia, para contribuir sobre finanças, organização, mercado editorial, direcionamento ideológico das disputas, etc. É bastante frustrante ver nossas direções queimando o nosso filme em discussões ridículas na internet e não escrevendo tribunas sobre assuntos sérios nas tribunas do Partido. É essa a responsabilidade de vocês para com o Partido? É esse o trabalho de disputa ideológica que deve ser feito agora em nosso partido? O Twitter é realmente o melhor espaço para isso?

A camarada Vic Pinheiro escreveu uma tribuna a respeito disso a qual eu concordo completamente. Considero que precisamos levar a sério o quão contraproducente e irresponsável são essas discussões no Twitter, que mal serve pra fazer agitação, quem dirá realizar disputa política do Partido. 

Por hoje é isso, camaradas. Espero que as direções tomem suas responsabilidades para si e tratem de conduzir e organizar o debate e a disputa ideológica da melhor maneira, se posicionando e saindo do pântano, respeitando a responsabilidade que lhes foi conferida pelo Partido – ainda que de maneira provisória e excepcional.