‘Onde está Wally?: Dimitrov e Thalmann à procura da classe média revolucionária’ (Contribuição anônima)

Para bater nos democratas sem fazer coro com os fascistas é necessário entender que o fascismo é um movimento de massas, em cujas fileiras estão a pequena e media burguesia, estas camadas não possuem um papel revolucionário, mas sim reacionário e fascistoide.

‘Onde está Wally?: Dimitrov e Thalmann à procura da classe média revolucionária’ (Contribuição anônima)
A pequena-burguesia é vacilante e seus projetos de poder se alternam entre a lei (democracia) em tempos de paz e a repressão (fascismo puro) em tempos de desordem.

Contribuição anônima para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

O movimento comunista não pode negar a importância do surgimento do movimento de massas do Capital: o Fascismo.

Lenin e os Bolcheviques não travaram a luta de classe no contexto da reação fascista à crise capitalista, travaram a luta contra o czarismo moribundo, que tinha a sua disposição certas camadas do campesinato (centenas negras).

Por isso pode-se fazer um corte entre o que foi o movimento comunista antes e depois do surgimento do fascismo. Antes do fascismo, os comunistas são os "maximalistas", intransigentes, sectários, depois do surgimento do fascismo, os comunistas são meramente os protagonistas de uma aliança pega-tudo com os setores populares e democráticos, das camadas pobres, médias e até da grande burguesia progressista, uma "aliança arco-íris", mas completamente vazia de programa.

Esta tática democrática e popular, como resposta ao fascismo, foi popularizada pelas teses de Dimitrov, que colocam o fascismo como a ditadura do Grande Capital, oprimindo tanto as camadas médias quanto o proletariado, portanto a luta contra o fascismo se torna uma luta do povo inteiro e da nação contra os "banqueiros" e imperialistas.

Logo a história demonstrou que seria necessário ultrapassar Dimitrov, começou-se a falar no Dimitrovismo como um desvio de direita, justamente, não tardaram os críticos a ecoarem a velha acusação:

"Ultra-esquerdistas! Como ousam não rebaixar o programa do Partido para conciliar com as classes médias e com os democratas? Querem repetir os erros do ultra-esquerdista Thalmann? Este Thalmann que bateu tanto nos democratas até empoderar os nazistas?"

O fantasma de Thalmann assombra a todos, mas por razões erradas, o democrata médio pensa que Thalmann era um sectário, um esquerdista.

Demonstrarei que Dimitrov e Thalmann são propagadores de desvios de direita, possuem a mesma concepção do que é o fascismo (Ditadura do Capital Financeiro) e que divergem apenas na tática de como destruí-lo.

Ao passo que Dimitrov enfatiza a aliança com os democratas para bater no Capital Financeiro e nos fascistas, Thalmann enfatiza a aliança com os fascistas para bater no Capital Financeiro e nos Democratas.

Thalmann se alia com os fascistas "revolucionários" contra os social-democratas/liberais e o grande capital. Dimitrov, percebendo a burrice tática, faz justamente o contrário, se alia com os social-democratas/liberais contra os fascistas e o grande capital.

Ambos são duas faces da mesma concepção errônea, de postular o fascismo meramente como Ditadura do Grande Capital, ambos atribuem um papel progressista e revolucionário para as classes médias frente ao Capital Monopolista, a única divergência é em localizar onde está a pequena-burguesia revolucionária, para Dimitrov ela se organiza com os liberais e os democratas, já para Thalmann ela se organiza com os fascistas, por isso a necessidade doentia de Thalmann de bater na social-democracia para disputar o coração e mentes da pequena-burguesia fascista, sonhando poder convertê-los.

Thalmann não é um "ultra-esquerdista", é meramente um Dimitrov do avesso. Como poderia Thalmann ser um ultra-esquerdista, sendo que os esquerdistas históricos da esquerda italiana sempre denunciaram a tese do social-fascismo? Estaria Thalmann à esquerda de Bordiga e Pannekoek? Não, o desvio de Thalmann é o mesmo desvio de Dimitrov, enxergando um papel revolucionário das classes médias, o único problema é que Dimitrov e Thalmann lutam para descobrir onde estão as classes médias revolucionárias, se estão organizadas com os fascistas ou com os democratas.

Para bater nos democratas sem fazer coro com os fascistas é necessário entender que o fascismo é um movimento de massas, em cujas fileiras estão a pequena e média burguesia, estas camadas não possuem um papel revolucionário, mas sim reacionário e fascistóide.

Cai por terra a tese do social-fascismo, que postula que o fascismo nasce de apenas um setor das classes médias (democratas), postulo que o fascismo enquanto resposta à crise do Capital nasce da classe média como um todo, nas suas ambiguidades e divergências, pois a pequena-burguesia é vacilante e seus projetos de poder se alternam entre a lei (democracia) em tempos de paz e a repressão (fascismo puro) em tempos de desordem. O fascismo é um monstro de duas cabeças, quando a lei não serve para controlar as massas, vem o terror puro para instaurar a ordem sem lei.

Contra Thalmann e Dimitrov, postulo a necessidade de uma resposta proletária contra a lei burguesa representada por um setor das classes médias (democratas), e contra o terror puro e simples, representada por outro setor das classes médias (fascista), entendo que estes dois setores divergem no projeto de dominação, mas no fim do dia, um saca a bola para o outro bater, por isso não proponho que os democratas são mais perigosos que os fascistas (Thalmann), nem proponho os fascistas como sendo mais perigosos que os democratas (Dimitrov). Isto não significa dizer que são a mesma coisa, mas que representam momentos diferentes do mesmo processo de exploração, o terror legalizado (fascismo) e da lei terrorista (democracia).

Um programa socialista de combate ao fascismo necessita de um projeto tático e ideológico:

Projeto mínimo: Atacar ferozmente o fascismo e a repressão como sendo expressão do setor mais reacionário das classes médias.

Projeto máximo: Atacar a Democracia Burguesa e demonstrar como o setor mais pacífico das classes médias se coadunam com os reacionários, primeiro em nome da defesa da lei, depois em nome da defesa da ordem através do terror.

BATER PRIMEIRO NOS FASCISTAS PARA QUE NÃO CRIEM ASAS, DEPOIS BATER NOS DEMOCRATAS PARA QUE NÃO CRIEM MAIS FASCISTAS.

Evitar a todo custo atacar primeiro os democratas, visto que assim se atrai a antipatia da população, além de acenar para os fascistas à questão da democracia como problema, é preciso mostrar para o povo que o problema é o fascismo, e depois guiar pela mão para que entendam que o fascismo nasce da democracia burguesa e do sistema representativo.

Alguns grupos de esquerda fazem justamente o papel de acenar para os fascistas, criticando a "corrupção" a "roubalheira", acenam para o fascismo e para os setores mais reacionários e moralistas da classe média, proponho quebrar as pernas ideológicas destes setores, nunca falar em moralismo, atacar ferozmente o fascismo, e contra os democratas, demonstrar que estes mascaram o terror fascista ou coadunam com eles.